sexta-feira, 3 de junho de 2022

É isto um democrata?, editorial OESP

 Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

03 de junho de 2022 | 03h00

Há poucos dias, diante de simpatizantes reunidos em um teatro da capital paulista, o ex-presidente Lula da Silva decretou o fim do PSDB, com ar de deboche. “Um senador do PFL disse uma vez que era preciso acabar com a ‘desgraça do PT’, o Jorge Bornhausen. O PFL acabou. Agora, quem acabou foi o PSDB”, disse o eterno candidato petista à Presidência.

Eis aí a natureza de Lula em seu esplendor. O chefão petista diz e repete que pretende ser líder de um amplo movimento suprapartidário para nada menos que “salvar a democracia”, mas, quando está entre os seus, deixa claro o que entende por “democracia”: um regime em que o PT governa sem oposição.

Um genuíno democrata, especialmente quem se arvora em líder insubstituível de uma formidável “frente ampla” pela democracia, jamais celebraria o fim de um partido. E não é o fim de um partido qualquer, mas um que desde sua fundação, em 1988, legou à sociedade brasileira um vistoso conjunto de conquistas civilizatórias como poucos partidos jamais farão. O PT de Lula sempre negou todas essas conquistas.

Mais tarde, talvez advertido por assessores sobre a gravidade dessa agressão gratuita, especialmente no momento em que tenta atrair o apoio de lideranças tucanas para sua candidatura, Lula tentou contemporizar, afirmando que o Brasil “era feliz quando a polarização era entre PT e PSDB”. Segundo o petista, tratava-se de uma relação “civilizada”. Nada mais distante da realidade.

Quando estiveram na oposição, os petistas pediram o impeachment do tucano Fernando Henrique Cardoso e sabotaram os esforços para estabilizar a economia, resumidos no Plano Real. Em São Paulo, são inesquecíveis as imagens da agressão física cometida por militantes petistas contra o então governador de São Paulo, Mário Covas, em junho de 2000. “Eles (os tucanos) têm de apanhar nas ruas e nas urnas”, disse à época o prócer petista José Dirceu. O Brasil não era feliz e sabia.

Uma vez no poder, Lula inventou que havia recebido uma “herança maldita” dos governos tucanos, criando um inimigo para levar a culpa por todos os problemas e, de quebra, excitar a militância petista contra qualquer forma de oposição. Não há malandragem discursiva capaz de mudar essa história – que, de resto, está na gênese do esgarçamento das relações sociais que culminaram com a desmoralização da política como meio de concertação democrática no Brasil. Triunfou o vale-tudo.

Fosse Lula um candidato nanico, nada disso teria muita importância. Mas o petista é o líder das pesquisas de intenção de voto e aparece hoje como favorito para vencer a eleição de outubro, razão pela qual tudo o que diz sinaliza o que potencialmente está por vir. E a perspectiva é sombria.

O perigo de uma eventual vitória de Lula não se manifesta somente nos momentos em que reafirma sua vocação autoritária. Preocupa igualmente sua visão tacanha de mundo. Em vários momentos, Lula parece que está disputando a direção de um centro acadêmico, não a Presidência da República.

Num discurso constrangedor, disse que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, “nunca fez um discurso para dar 1 dólar para quem está morrendo de fome na África” enquanto destina US$ 40 bilhões à Ucrânia para “comprar armas”. Imagine-se o regozijo da militância petista, para quem os Estados Unidos são o que há de pior no mundo, mas o pior ainda estava por vir: na sequência, Lula prometeu cancelar a privatização da Eletrobras e ainda sugeriu que as empresas privadas querem se apropriar não só da energia, mas “das águas dos nossos rios”.

Num mesmo fôlego, Lula – que se apresenta ao País como “democrata” e que se pretende “moderno”, em contraste com o atraso bolsonarista – exercitou o mais retrógrado antiamericanismo, demonstrou profunda ignorância sobre a agressão criminosa da Rússia contra a Ucrânia, ameaçou romper contratos de privatização e, de quebra, caracterizou investidores privados como piratas insaciáveis dos recursos naturais do País.

Esse é o Lula – irredutível demagogo e incorrigível autoritário – que quer ser visto como o redentor do Brasil. 

PSDB e Márcio França conversam sobre possível aliança diante de impasse entre PT e PSB - FSP

 

SÃO PAULO

Diante do impasse eleitoral no qual esbarram PT e PSB em São Paulo, tucanosMárcio França (PSB) e mesmo aliados de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm discutido planos de aproximação entre os três para as eleições de 2022.

No estado, o PT não abre mão de lançar Fernando Haddad, assim como França, líder do PSB, tem reafirmado que não desistirá de sua pré-candidatura.

Na segunda-feira (30), França, Rodrigo Maia (PSDB, secretário de Projetos e Ações Estratégicas do Governo de SP) e Paulinho da Força, presidente do Solidariedade (que compõe a coligação petista) encarregado de tentar ampliar o arco de alianças de Lula até a centro-direita, se encontraram e discutiram formas para construir uma aliança capaz de aproximar Lula, França e Rodrigo Garcia (PSDB-SP).

Márcio França (PSB), pré-candidato ao Governo de SP
Márcio França (PSB), pré-candidato ao Governo de SP - Eduardo Anizelli-2.jun.2018/Folhapress

Segundo relatos, uma das fórmulas debatidas no encontro foi a de lançar França como candidato ao Senado na chapa de Garcia, com a liberdade para que o pessebista mantenha seu apoio a Lula no âmbito nacional.

Com isso, o atual governador se beneficiaria da saída de França da disputa e o ex-governador teria o apoio do PSDB no estado e de Lula nacionalmente.

De quebra, Lula e Garcia passariam por uma aproximação indireta em São Paulo, por meio de França, possivelmente tornando o cenário mais difícil para o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Para o entorno de França, no entanto, a equação é muito mais vantajosa para Garcia do que para o pessebista. O tucano se livraria de um concorrente na disputa pelo governo e França ganharia em troca somente o apoio do atual governador numa candidatura ao Senado.

Rodrigo Garcia (dir.) durante evento de filiação ao PSDB
Rodrigo Garcia (dir.) durante evento de filiação ao PSDB - Zanone Fraissat-14.mai.2021/Folhapress

Ainda que considerem uma negociação difícil de ser concretizada nesses termos, eles dizem que não custa nada conversar em um contexto em que as tratativas com o PT estacionaram.

França diz ao Painel que, se Garcia estiver disposto a optar por Lula, acredita que o movimento será "útil para ele próprio e para o país."

"Sempre estou disposto pelo Brasil. Pro Brasilian Fiant Eximia [pelo Brasil façam-se grandes coisas]. Um governador de São Paulo é sempre um agente político importante. Suas decisões têm repercussão. João Doria já é um passado triste a ser esquecido. Na barca da Democracia cabe sempre mais um", continua França.

O pessebista diz, no entanto, não acreditar que Garcia esteja preparado para essa decisão.

"Decisões assim, fortes, como fez Alckmin, são pra protagonistas. É hora de separar os homens dos meninos", conclui.

Você mudaria seu voto por um desconto de R$ 1 no litro de gasolina?m VTF, FSP

 O desespero é grande entre os políticos aliados de Jair Bolsonaro. Os regentes do governo, os primeiros-ministros desse semiparlamentarismo aloprado, querem agora aprovar um decreto de calamidade, um instrumento legal que liberaria gastos do governo quase em geral, com exceção marcante de reajustes para servidores públicos.

Os regentes são os líderes do centrão, Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, e Ciro Nogueira (PP-PI), senador licenciado e ministro da Casa Civil. A medida desesperada ainda é improvável e poderia parar na Justiça. Paulo Guedes, ministro da Economia, é contra, mas já teve de engolir decisões dos regentes do centrão.

Um objetivo da liberação de gastos e do rombo no teto de gastos seria arrumar dinheiro para bancar parte do preço dos combustíveis —para subsidiar diesel e talvez gasolina. Mas o céu é o limite.

Fila em posto de gasolina em Santo André - Rivaldo Gomes - 12.mar.2022/Folhapress

O governo federal está praticamente na mão dos regentes desde o trimestre final do ano passado. Eles e turma estavam mais confiantes em vitória de Bolsonaro, com Auxílio Brasil, inflação menor e algum crescimento da economia além da miséria que vemos desde 2017. Por vários motivos, não deu certo.

subida de Lula da Silva (PT) nas pesquisas deixou essa gente mais nervosa e irritada (tem havido gritos e "ultimatos" em conversas entre regentes e certos grupos do governo).

Como são muito toscos, ignorantes e, para usar um eufemismo, irresponsáveis, não têm escrúpulo de aprontar qualquer medida economicamente alucinada. A dúvida agora é descobrir quanto poder essa gente tem de quebrar o governo de modo ainda mais desavergonhado do que de costume a fim de ganhar uns votos, de resto incertos. Você mudaria seu voto se o preço da gasolina ou do diesel baixasse R$ 1 (um real) por litro?

Caso passasse, o decreto do estouro da boiada de gastos indevidos mal direcionados espalharia estilhaços bastantes para garantir inflação mais alta logo mais adiante e um começo de governo ainda mais miserável para quem vier a ser eleito em outubro.

Apesar de aloprado, um golpe político descarado nas contas e na decência públicas, o plano do decreto de calamidade passou a ser admitido até em público, como em entrevista de Nogueira à CNN Brasil. Outras tentativas de baixar o preço de combustíveis ou da conta de luz estão ainda encalacradas.

Entre as mais importantes: 1) a implantação da nova regra de cobrança de ICMS sobre diesel, objeto de disputa entre governo e estados; 2) o projeto de lei que reduz o ICMS sobre combustíveis em geral, eletricidade, telecomunicações e transportes; 3) o plano de cobrar mais imposto das petroleiras a fim de bancar algum tipo de subsídio qualquer (seja por meio de compensação para o ICMS menor ou uma gambiarra qualquer). Esse plano durou menos de uma semana e está quase morto; 4) Mudar a direção da Petrobras, colocá-la no cabresto e/ou mudar o estatuto da empresa a fim de conter novos reajustes.

Ainda que algum desses truques ou medidas venha a ser implementado e, ainda por cima, funcione (que os preços caiam para o consumidor final), não devem ter efeito antes de julho.

Por mais aloprados que sejam, dificilmente vão baixar o preço de gasolina ou diesel em, digamos, mais de R$ 1 (um real) por litro. Para tanto, seria necessário um subsídio de cerca de R$ 100 bilhões em um ano (o Auxílio Brasil custa R$ 89 bilhões por ano).

Afora economistas e alguns outros suspeitos de sempre, pouca gente está ligando para as ameaças do golpe fiscal dos regentes do centrão (que poderia contar com a maioria larga dos votos da Câmara). Mas faz muito vivemos não o tempo da imaginação no poder e, sim, do inimaginável.