Não há nova economia sem velha política. Se essa hipótese estiver correta, o pragmatismo que olha para o lado quando a Turma do Pudim fecha a torneira da Lava Jato é quase tudo, menos vão. Para os agentes econômicos, justifica-se apoiar o governo Temer por sua capacidade de aprovar reformas estruturais, restabelecer a confiança do consumidor e promover o equilíbrio orçamentário. Ele ruma ao sucesso? Depende de onde isso fica.
José Roberto de Toledo
13 Fevereiro 2017 | 05h00
Na contabilidade oficial brasiliense, tudo parece resolvido ou perto de sê-lo. No papel, o orçamento está equilibrado, a maioria do governo no Congresso é esmagadora e Michel Temer caminha para conquistar hegemonia também no Judiciário - principal fonte de instabilidade para seus antecessores. Controlar o Supremo Tribunal Federal será a cereja do bolo.
Os problemas só aparecem quando se teima em olhar para aquele quinhão de terra que circunda o Distrito Federal. No Brasil, as contas públicas continuam sendo um problema. A cada semana, ele se manifesta de maneira diferente. A mais recente é a subversão da Polícia Militar do Espírito Santo, cujas consequências são toque de recolher da população e assassinatos às centenas. Não por acaso, a crise policial militar ameaça se expandir para o vizinho Rio de Janeiro. O que esses estados têm em comum? A enorme dependência da economia do petróleo. Some-se desvalorização do preço do barril com a crise da Petrobras, e o buraco nas receitas fluminense e capixaba vai tão fundo quanto o pré-sal. E o lado da despesa? Basta lembrar que o Rio tem um ex-governador preso, e que o atual foi cassado pelo TRE-RJ.
Nada disso ocorreu de repente. Só não faz mais tempo que o PMDB domina a política fluminense do que o partido controla o Poder Legislativo em Brasília. A flor mais recente que desabrochou do canteiro de obras peemedebista no Rio foi colhida pela Lava Jato e é conservada em Curitiba, preventivamente. Isso depois de ter espalhado seu perfume por metade da atual Câmara dos Deputados. Alguém pode achar que é coincidência, perseguição - ou milagre.
Política e economia são dois lados da mesma moeda. Se um é velho, encardido e desvalorizado, impossível o outro ser lustroso, limpinho e forte. Até porque os métodos que alimentam o rolo compressor do governo no Congresso são os mesmos que, na era petista, batizaram escândalos na base do aumentativo. Os personagens, inclusive, são os mesmos - tirando os presos.
Como de hábito, quando o governo precisa acomodar uma insurreição em sua base no Senado ou na Câmara, nomeia o insurreto ou um seu indicado para algum cargo público - às vezes recria um ministério que acabara de fechar. A ânsia por ocupar essas funções, imagina-se, é para ajudar o PMDB a construir sua ponte para o futuro - ou várias, se o orçamento permitir.
A despeito disso, pelos indicadores de mercado, o governo Temer está dando certo. A Bolsa sobe, os juros e a inflação caem. A confiança do consumidor, aos soluços, ameaça crescer. Até a avaliação da atual gestão parece melhorar - afinal, sair do "péssimo" para o "ruim" não deixa de ser um avanço.
Em resumo, se o Brasil não atrapalhar, Brasília promete inaugurar uma nova fase de progresso à medida que a Lava Jato vira esguicho. Se tiver êxito, será a confirmação de que sem a velha política, a nova economia não existe. E a prova é para já.
Quem sabe após o gato Angorá subir à cobertura do Palácio do Planalto, e o novo ministro atravessar a praça dos Três Poderes para vestir a toga no Supremo as coisas engrenem de vez? Não é impossível. Vão se somar a uma equipe notória por entregar o que promete. Ninguém ganha apelido da Odebrecht de graça.
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