09/02/2017 - Estadão
BRASÍLIA - O governo brasileiro se movimenta para aproveitar possíveis oportunidades no comércio internacional de commodities, após a chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Um dos alvos é o México, que compra anualmente cerca de US$ 30 bilhões em alimentos dos EUA. Segundo o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, o Brasil está se preparando para exportar carne processada, soja e milho ao país.
Com receio de que o fornecimento de alimentos pelos EUA seja prejudicado pela discórdia, entre os países em torno do tema da imigração, o México se aproximou do Brasil nos últimos meses. “Na viagem que fiz em janeiro à Europa, havia lá 80 ministros de Estado da Agricultura. Falei com 17 deles. Muitos têm preocupações relacionadas aos EUA”, afirmou Blairo, em entrevista ao Broadcast Agro, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. Blairo disse que já tinha se encontrado antes com o ministro José Eduardo Calzada, em dezembro, em Cancún, quando o mexicano sinalizou interesse em ampliar o diálogo. Eles se encontrarão de novo nos dias 20 e 21, em São Paulo, para debater sobre o agronegócio.
De acordo com Blairo, já há representantes do país verificando os frigoríficos brasileiros para a compra de carne processada. Uma das vantagens do Brasil, segundo o ministro, é que as negociações com o México não partirão do zero. “Já temos há alguns anos um protocolo comercial, que nunca evoluiu porque o México não queria. Agora, eles querem e precisam. E no comércio, quando dois países querem, as coisas andam bem”, afirmou o ministro.
Além da carne processada, os mexicanos estão interessados na soja e no milho produzidos no Brasil. Este ano, a safra projetada é de 215,3 milhões de toneladas de grãos – um recorde histórico, conforme os números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No caso da soja, serão 103,8 milhões de toneladas, outro recorde.
“Não sei mais quem os EUA estão incomodando com tanta força. Mas a União Europeia, que é um grande parceiro, também está intranquila. O bloco tem um comércio muito grande com os EUA. O importante é estar atento”, disseBlairo.
Açúcar e café. De olho no mercado europeu, o Brasil também fez uma proposta formal à Argentina para incluir o açúcar na pauta de produtos do Mercosul. Assim, será possível negociar a venda à União Europeia em condições mais vantajosas. O problema é que a Argentina, que também é produtora, teme que o açúcar brasileiro, mais competitivo, invada suas fronteiras.
Segundo Blairo, foi proposto à Argentina uma blindagem contra o açúcar brasileiro, que inclui o estabelecimento de limites para exportação ao país vizinho e taxação de 35% – a alíquota máxima permitida no Mercosul. “O que o Brasil quer é o apoio da Argentina, e não o mercado do país”, afirmou. O ministro disse ainda que o tema foi colocado na reunião com o presidente argentino, Maurício Macri, que esteve no Brasil esta semana.
Além disso, Maggi confirmou que a importação do café do tipo conilon – usado na indústria brasileira – deve ser anunciada amanhã. Será importada 1 milhão de sacas de café.
“Já temos protocolo, que nunca evoluiu porque o México não queria. Agora, eles querem e precisam. E quando dois querem, as coisas andem bem.”
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