terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Usuários passam 1 bilhão de horas por dia no YouTube


A plataforma registra um aumento de 10 vezes na audiência desde 2012, impulsionada por algoritmos que personalizam as sugestões de conteúdo
28/02/2017 | 10h39
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 Por Redação Link - O Estado de S.Paulo
Segundo o YouTube, o algoritmo ajudou a plataforma de vídeos a crescer
Usuários do YouTube gastam, em média, 1 bilhão de horas por dia assistindo a vídeos na plataforma. O número, divulgado pelo jornal norte-americano Wall Street Journal nesta segunda-feira, 27, indica uma forte aproximação da plataforma em relação à audiência de televisões nos Estados Unidos, que é assistida 1,25 bilhão de horas diariamente.
"O conteúdo fica mais rico a cada minuto", afirma o diretor de produto do YouTube, Neal Mohan, ao jornal dos EUA. "Os algoritmos também estão fazendo um trabalho cada vez melhor e mais aprimorado ao escolher o conteúdo que os usuários gostam de verdade."
De acordo com o Google, responsável pela plataforma de vídeos, o primeiro bilhão de horas foi atingido no final de 2016, registrando um crescimento em mais de 10 vezes na audiência desde 2012, quando o site começou a investir nos algoritmos — inteligência artificial que reconhece o gosto dos usuários e faz sugestões personalizadas.
"Se você assistir a um bilhão de horas de vídeos no YouTube, seria preciso mais de 100 mil anos. Há 100 mil anos, por exemplo, nossos ancestrais estavam criando ferramentas de pedra e migrando para fora da África, enquanto mamutes e mastodontes vagavam por toda a Terra", disse a empresa, por meio de uma postagem no blog oficial.  "Se você passar 100 mil anos viajando à velocidade da luz,  você poderia viajar de uma extremidade da Via Láctea para a outra."
A marca chama a atenção, também, ao comparar com outros serviços na internet. O Facebook, por exemplo, afirmou que seus usuários passam 100 milhões de horas vendo vídeos por dia, enquanto o Netflix diz que seus assinantes assistem 116 milhões de horas de vídeos diariamente.

Emissoras se agitam na disputa digital, por Orlando Barrozo

O colega Mauricio Stycer publica na Folha de São Paulo deste domingo um resumo da verdadeira novela em que se transformou a transição brasileira para a TV Digital. Este é o link para o artigo. Há nos bastidores uma disputa interessante entre emissoras abertas e operadoras de TV paga, que vai além daquela outra que comentamos aqui alguns dias atrás. Basicamente, é um duelo 4×4: de um lado, Record, Band, Rede TV e SBT; de outro, Claro/Net, Sky, Oi e Vivo.
As redes querem fazer valer seu direito de cobrar para ceder o sinal transmitido pelas operadoras – algo que nem a Globo pleiteia (porque não precisa). O assunto está no Cade, mas agora, com a proximidade do switch-off em São Paulo, ganha novas proporções. Toda operadora é obrigada, por lei, a oferecer os canais abertos a seus assinantes, sem cobrança adicional, mas até isso hoje está sendo questionado.
O faturamento das emissoras vem caindo ano a ano, e não há sinal de que vá se recuperar tão cedo. A audiência da TV aberta, como se sabe, nunca mais voltará a ser aquela de dez anos atrás. A própria Globo sofre com essa mudança de comportamento do telespectador. Mas, ao contrário das demais, investe em novas tecnologias, compra de direitos, exportação de seus conteúdos e no fortalecimento da Globosat, seu braço para o segmento de TV paga e multimídia.
O problema das redes abertas é que a maior parte de suas grades hoje está tomada pelo aluguel irregular de espaço, principalmente às igrejas e aos canais de televendas. Acabaram desenvolvendo uma interessante versão do velho dilema do ovo e da galinha: com programação sofrível, afastam os telespectadores; sem audiência, não têm publicidade e não podem melhorar sua produção. Investem quase nada em conteúdos próprios e contam com a conivência da Anatel e do Ministério das Comunicações (há limites para alugar horários a terceiros).
Nenhuma emissora admite que se, por exemplo, a Net tirar de seu guia de programação a Rede TV, poucos assinantes irão perceber! Mas essa é a realidade.


Globo vs Netflix: começo da batalha

Em entrevista à Folha de São Paulo, na semana passada, o diretor-geral da Globosat, Alberto Pecegueiro, deixa claro que a Netflix é o inimigo a ser batido. Enquanto a maioria das operadoras trata o assunto apenas em off (algumas sequer admitem mencionar o nome do site americano), a Globosat – que fornece os conteúdos às operadoras – não esconde a natureza da batalha. Segundo Pecegueiro, está para sair uma versão VoD do Telecine Play, que irá oferecer justamente o tipo de programa em que a Netflix fraqueja: filmes recentes. Seria um acordo com as produtoras de Hollywood, que assim ganhariam muito em exposição, reduzindo sua dependência em relação à Netflix (mais detalhes aqui).
Até hoje, a Globosat mantinha o discurso de que jamais iria bater de frente com as operadoras. Net/Claro, Vivo/GVT e Oi respondem pelo grosso do faturamento da programadora, que detém alguns dos canais de maior audiência e/ou apelo comercial (SporTV, Multishow, Telecine…). Quase todos esses canais já podem ser acessados online, gratuitamente, mas apenas pelos assinantes de uma operadora. Agora, a ideia é deixar que qualquer um acesse, pagando à própria Globosat uma assinatura mensal baixa, como acontece na Netflix. Ao jornal, Pecegueiro diz que a Globosat não vai “atropelar” a aliança que mantém com as operadoras.
Será curioso ver o modelo proposto pela Globo, que já lançou o Globo Play (para conteúdos da rede aberta – leiam aqui) e que prevê serviços de VoD similares em esportes (Premiere), shows (Multishow) e até séries nacionais, conteúdos que a Globo domina como poucas redes no mundo. Curiosamente, a entrevista saiu às vésperas da estreia de 3%, primeira série produzida pela Netflix no Brasil. Semanas atrás, o fundador da empresa americana, Reed Hastings, deu entrevista à própria Folha de SP citando suas negociações para exibir conteúdo da Globo. “Eles não licenciam conteúdo para a Netflix, nos vêem como concorrentes, o que é justo”, disse ele. “É como dois times competindo”.
Esse campeonato está apenas começando.

EDITORIAL ESTADÃO A Cracolândia, de novo


O confronto entre usuários de drogas e policiais militares (PMs), na quinta-feira passada na Cracolândia – que deixou oito feridos, dos quais seis policiais –, deixou claro mais uma vez aquilo que qualquer observador atento já sabia, até porque tudo acontece ali à vista de todos, isto é, que muito pouca coisa mudou naquela região, apesar dos esforços feitos nos últimos anos pela Prefeitura e pelo governo do Estado. Tanto na recuperação dos dependentes como no combate ao tráfico quase não se avançou.
A situação é sempre tão tensa na Cracolândia que basta um incidente mínimo – ou mesmo uma simples suspeita a respeito – para desencadear um conflito. Desta vez, tudo começou quando PMs abordaram dois suspeitos na Rua Helvétia e foram atacados por um grupo de dependentes inconformados com essa ação corriqueira. Eles partiram para cima dos PMs com paus e pedras. No auge do conflito, estima-se que chegou a cerca de 300 o número de usuários de drogas enfrentando os PMs, que haviam recebido reforço da Força Tática. Ergueram barricadas e atearam fogo a sacos de lixo.
A PM reagiu, como não poderia deixar de fazer, com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. O fato de seis dos oito feridos serem PMs não deixa dúvida sobre em quem deve cair a responsabilidade pelo conflito. Os outros dois eram jornalistas. Um PM e um jornalista foram atingidos por tiros disparados, pelo que se apurou, por integrantes do chamado “fluxo”, que é a aglomeração dos dependentes.
A secretária municipal de Desenvolvimento Social, Soninha Francine, criticou a ação da PM em rede social, segundo o jornal Folha de S.Paulo: “Inadmissível a polícia tacar bombas dentro da Tenda Helvétia. Seja qual for o fato que motivou a entrada da PM, a ação em si foi absurda”. Que a secretária reveja ou não sua posição depois de se informar melhor sobre o que ocorreu – o que seria desejável –, a verdade é que sua primeira reação corresponde inteiramente ao politicamente correto, que consiste em achar que a polícia deve ser sempre condenada por excessos, quer ela os tenha cometido ou não.
Quem pensa assim esquece – embora isso seja elementar – que a polícia é paga e armada pela sociedade para manter a ordem pública. E que quando atacada, como foi o caso, tem de se defender, sob pena de se desmoralizar e, claro, deixar de cumprir seu dever. Não há dúvida de que seus eventuais excessos têm de ser punidos com rigor, mas daí a achar que ela deve ser sempre considerada suspeita de fazer isso vai uma enorme distância.
Sobre isso não deveria pairar dúvida, porque a polícia tem um papel fundamental a cumprir na Cracolândia. Esse incidente mostrou que o que se deve reprovar no governo do Estado, que comanda a PM, é justamente sua ação tímida no combate ao tráfico de drogas naquela região, juntamente com a Polícia Civil. É público e notório que se vende droga ali a qualquer hora do dia e da noite. Sem repressão competente e continuada ao tráfico não será possível avançar na solução do problema.
Outra coisa que ficou igualmente evidente no confronto de quinta-feira é que na outra ponta do problema – a assistência médica e social aos dependentes, voltada para seu tratamento e recuperação – a situação também não melhorou grande coisa. O “fluxo” não só continua onde sempre esteve, como seus integrantes se mostram dispostos a enfrentar a polícia para manter seus hábitos e a ação de seus fornecedores.
O prefeito João Doria, que ensaia seus primeiros passos e já anunciou que pretende atacar o problema, deve estar atento a essas realidades. Qualquer solução passa necessariamente por uma combinação de assistência aos dependentes e combate ao tráfico. Não há muito o que inventar. Nos dois casos, o avanço depende de estreita colaboração entre os governos municipal e estadual. Como Doria e o governador Geraldo Alckmin não se cansam de proclamar sua perfeita sintonia, essa é uma boa oportunidade a ser aproveitada.

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26.02.17 | Setor de turismo de cruzeiro investe para reduzir impacto ambiental







São Paulo – Eficiência energética, gestão de resíduos e combustíveis limpos estão entre as iniciativas para aumentar a pegada ecológica da atividade

Divulgação
Tiago Reis, para o Procel Info
São Paulo - A temporada de cruzeiros marítimos está a todo vapor no Brasil. Somente no período do Carnaval, entre 24 de fevereiro e primeiro de março, são esperados o atracamento de 14 transatlânticos no Porto do Rio de Janeiro, com mais de 50 mil pessoas desembarcando na cidade durante os dias de folia. Já no Porto de Santos e de Salvador, são esperadas outras dez mil pessoas, o que faz deste um dos períodos mais movimentados para o turismo de cruzeiro no país.

A temporada oficial 2016/2017, que vai de novembro a abril, deve transportar mais de 380 mil turistas em 108 roteiros que vão passar pelas cidades de Rio de Janeiro, Búzios, Ilha Grande, Angra dos Reis e Cabo Frio (RJ), Santos e Ilha Bela (SP), Ilhéus e Salvador (BA), Recife (PE), Maceió (AL), Porto Belo (SC) e Fortaleza (CE). Ao todo, sete navios, de quatro armadoras (empresas donas dos navios de cruzeiro) navegarão pela costa brasileira oferecendo aos seus hóspedes todo tipo de conforto que esses 'hotéis flutuantes' podem proporcionar.

Mas com o crescimento desse tipo de atividade, aumenta também as preocupações com o impacto ambiental. Com uma mega estrutura, que em alguns casos pode ser comparada a de uma cidade, essas embarcações transportam em média três mil pessoas, mas em alguns casos, sua capacidade pode passar dos oito mil ocupantes, entre passageiros e tripulação. Grandes obras de engenharia e com vários recursos tecnológicos, esses navios tem altura superior a de um prédio de 15 andares, pesando mais de 100 mil toneladas, com mais de 300 metros de comprimento. Com embarcações e temporadas cada vez maiores, questões como gestão de resíduos, água e esgoto, energia, poluição dos oceanos e emissão de gases de efeito estufa ganham cada vez mais evidência.

Segundo a CLIA Abremar Brasil (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos) as principais companhias armadoras estão intensificando a prática de eco-friendly (produto amigo do meio ambiente) em suas operações. A entidade informa que é tendência em todo o mundo a adoção de estratégias que minimize o impacto ambiental da atividade. Soluções como reciclagem, reutilização, uso consciente de água, energia e combustível já é uma prática comum nas embarcações mais modernas e essas atitudes também estão presentes nas embarcações que trafegam pela costa brasileira.

“O compromisso ambiental das companhias de cruzeiros marítimos é honrado com as estratégias mais inovadoras. Não só porque é a coisa certa a ser feita, mas também porque essa saúde dos mares, praias, rios e dos destinos em geral é fundamental para o sucesso da nossa atividade. E a CLIA (Cruise Lines International Association) tem avançado com o aconselhamento e o consentimento de seus integrantes, todos interessados em políticas destinadas a melhorar a proteção do ambiente, o que, em muitos casos, até superando as exigências das melhores práticas legais existentes”, explica Marco Ferraz, presidente da CLIAAbremar Brasil.

Os números dessas 'cidades flutuantes' impressionam. Em média, cada navio de grande porte consome três toneladas de combustível por hora, quase cinco toneladas de carne (bovina, suína, peixe e frango) por dia além da produção de mais 40 mil refeições diárias. Para o seu funcionamento, os navios necessitam de 40 mil kW de potência para a propulsão dos motores e outros 10 MW de energia para o acionamento dos serviços de bordo, como iluminação, climatização e refrigeração. Também, numa viagem de sete dias, são produzidos cerca de 950 mil litros de esgoto humano e águas cinzas.

A CLIA Abremar informa que as armadoras, quando estão no Brasil, cumprem todas as legislações e convenções internacionais, além de atender os requisitos sanitários da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A entidade revela que todos os navios que trafegam pelo litoral brasileiro estão equipados com sistemas avançados de tratamento de água, descarte e reciclagem de lixo, tratamento de efluentes, segurança ambiental, para que nenhum tipo de lixo seja despejado nos oceanos.
Aumentar a eficiência energética e o uso de combustíveis mais limpos estão entre as prioridades das companhias de cruzeiros

“Graças a esses esforços, alguns navios já conseguem reaproveitar 100% de seus resíduos gerados, seja por doação, reciclagem ou convertendo-os em energia. Nos navios, a reciclagem por passageiro é 60% maior do que a reciclagem feita por uma pessoa em terra”, completa Ferraz.

Outro ponto que está recebendo a atenção das armadoras de navios é a questão da gestão de energia. Quanto maior o tamanho da embarcação, maior o consumo de energia. Para evitar um aumento da demanda, e consequentemente reduzir os níveis de poluição, já que a energia a bordo é produzida por meio de combustível fóssil, a eficiência energética tornou-se prioridade. A adoção de motores eficientes, iluminação de LED, equipamentos eficientes estão entre as principais soluções adotadas pelo segmento.

A MSC Cruzeiros e a Royal Caribbean, duas das principais companhias que atuam no setor, tem adotado uma série de medidas para reduzir o consumo de energia em suas operações. A MSC passou a utilizar dispositivos para economizar energia, desde a otimização dos aparelhos de ar condicionado até os sistemas de monitoramento das cabines. A postura em busca da sustentabilidade rendeu a empresa as certificação ISO 50.001, para a gestão de energia de três embarcações, e a ISO 14.001, pela gestão ambiental de suas operações, ambas auditadas pela Bureau Veritas.

Já a Royal Caribbean tem investido nos últimos anos em melhorar e eficiência energética em alto mar de seus navios. Para isso, em 2016 a companhia anunciou que vai passar a utilizar gás natural liquefeito (GNL) e unidades de células de combustível nas novas embarcações da empresa. Essas medidas reduzirão drasticamente a emissão de gases de efeito estufa. Os novos navios devem entrar em operação a partir de 2022. Segundo Michael Bayley, presidente e CEO da Royal Caribbean International, a nova classe de cruzeiros vai trazer uma série de inovações para a indústria náutica tornando essa atividade mais segura, confiável e eficiente em termos energéticos.

Além da modernização das embarcações, a Royal Caribbean também investiu em soluções para reduzir a demanda de energia. Entre elas, está a adoção de equipamentos de bordo como TVs, cafeteiras, fornos e máquinas de lavar louça com alto nível de eficiência, iluminação econômica em toda a frota, instalação de películas nos vidros para reduzir a transmissão de calor do sol e a utilização do ar-condicionado e a otimização do sistema de climatização, que reduziu em aproximadamente 10% o consumo de energia dos equipamentos de aquecimento, ventilação e ar-condicionado. O design do casco e dos propulsores e o consumo consciente da água potável produzida em alto mar, também ajudaram a reduzir o consumo de energia.

“As linhas de cruzeiro colocam alta prioridade na eficiência energética como parte de seu programa de proteção ambiental. Os investimentos incluem inovações, como motores eficientes em termos energéticos, revestimentos do casco para reduzir a fricção e o consumo de combustível, economia de energia com luzes LED, aparelhos modernos e com maior eficiência, e reutilização de água quente ou fria, que circulam pelas cabines para aquecê-las ou esfriá-las, reduzindo o uso de ar condicionado”, destaca Ferraz.

As armadoras, segundo o dirigente, também estão atuando junto com cientistas e pesquisadores para que novas soluções sejam implementadas para reduzir os impactos ambientais do turismo de cruzeiro. Entre as novas tecnologias em estudo, está a de melhorar a utilização do vento a favor e de elevar o nível das fontes de energia mais limpas como forma de reduzir a emissão de CO2. Para Ferraz, com essas iniciativas e uma maior transparência das companhias, com a divulgação e cumprimento das normas ambientais, a navegação de cruzeiro vai conseguir mostrar para a sociedade que essa atividade econômica utiliza de forma equilibrada e sustentável os rios e oceanos que navegam contribuindo para a preservação do meio ambiente marinho e das comunidades de destino. “Oceanos bonitos e destinos atrativos e saudáveis são pontos chave para o turismo e deles depende nossa sobrevivência”, conclui.

Netflix é apenas mais um canal, diz seu CEO


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017 , 20h14
O Netflix está presente em 50% das residências nos EUA e, no entanto, a base de assinantes de TV a cabo naquele país permanece estável. Na opinião do fundador do Netflix, Reed Hastings, as operadoras norte-americanas de TV por assinatura estão agora se dando conta de que o serviço de streaming não gera um impacto negativo sobre seus negócios. "Somos mais uma fonte de entretenimento, como HBO. Somos mais um canal", afirmou durante a sua participação no Mobile World Congress, em Barcelona, nesta segunda-feira, 27.
Ele tampouco demonstra preocupação com a chegada de outros players de streaming de vídeo, como Amazon Prime e YouTube Red. "Eles não querem nos matar, querem apenas servir o consumidor", comentou. E previu: "Em dez anos o consumo de vídeo será todo na Internet e o Netflix responderá por uma parcela pequena disso."
A pirataria também não é um problema. Hastings acredita que o preço baixo da assinatura do Netflix desestimula os piratas.
Redes móveis
Sobre a qualidade das redes móveis, que por vezes representa uma barreira para o serviço de streaming, Hastings respondeu que o caminho é aperfeiçoar cada vez mais os codecs do Netflix para permitir a transmissão dos vídeos em velocidades baixas. Hoje, já é possível assistir ao Netflix com velocidade a partir de 500 Kbps. E seu sonho é conseguir baixar para 200 Kbps.
Formatos
Embora não descarte produções de vídeo na vertical no futuro, Hastings frisou que o foco da empresa está em contar boas histórias, independentemente do formato. E, se aparecerem novas tecnologias, o Netflix vai aprender com elas e se adaptar, seja realidade virtual ou lentes de contato como as imaginadas na série Black Mirror.
Por fim, Hastings foi questionado sobre o futuro da inteligência artificial. Nessa parte, brincou: "Daqui a 20 anos teremos inteligência artificial muito desenvolvida. Será que a inteligência artificial servirá para nos entreter ou nós é que vamos entreter a inteligência artificial?"
Parcerias
A Netflix tem buscado mostrar aos operadores de telecomunicações que pode ser uma parceira importante na oferta de conteúdos diferenciados e de qualidade, e nesse sentido se coloca muito mais como mais um canal de produções exclusivas do que como uma rede de distribuição de conteúdos pela Internet. A presença de Reed Hasting no Mobile World Congress em Barcelona se deu nesse sentido.

Empresa laranja recebeu da Fundação Butantã fortuna 26 mil vezes maior que seu capital social, OESP


Instituto Butantan. Foto: Rafael Arbex/Estadão
Instituto Butantan. Foto: Rafael Arbex/Estadão
O Ministério Público de São Paulo descobriu na investigação sobre rombo milionário na Fundação Butantã que a conta bancária de uma microempresa de eletrônicos que funcionou na Vila Nova Cachoeirinha foi usada para receber uma fortuna 26.600 vezes superior a seu capital social, de R$ 10 mil. Ao todo, foram depositados na conta da Sunstec Comércio de Eletrônicos-ME R$ 2,68 milhões entre 2005 e 2008.
O valor representa apenas uma parte da pilhagem de R$ 33,48 milhões contra os cofres da Fundação naquele período, por meio de uma incrível série de 340 furtos, segundo denúncia do Ministério Público que pede a condenação de onze investigados, o principal deles Adalberto da Silva Bezerra, então gerente administrativo da Fundação Butantã.
Em valores atualizados, calcula o promotor de Justiça Nathan Glina, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o rombo chega a R$ 55 milhões.
A investigação revela que a Sunstec teria sido usada como laranja para captação de recursos desviados. Os investigadores foram ao endereço declarado pela empresa, na Avenida Parada Pinto, Vila Nova Cachoeirinha, zona Norte da Capital, mas não encontraram nenhum vestígio da comércio de eletrônicos.
“No local encontrava-se um prédio comercial, no qual estão em funcionamento um escritório de advocacia, um escritório de contabilidade, uma vídeo locadora, uma loja de aparelhos de segurança e uma loja e fábrica de artigos em couro, cujo proprietário é filho do dono do referido prédio”, diz relatório anexado à denúncia da Promotoria.
“Informações colhidas no local revelaram que a empresa Sunstec ficou instalada por mais ou menos seis meses, e há mais de um ano não se encontra mais no local, e que um dos sócios era do ramo de consertos de aparelhos eletrônicos”, segue o documento. “Foi possível constatar, segundo informações do proprietário do prédio, que a Sunstec teria sido desfeita por desentendimento entre os sócios e dívidas.”
A conta da Sunstec, segundo o Ministério Público, foi aberta ‘de forma fraudulenta’ pelo então gerente administrativo da Fundação Butantã.
Desfrutando da confiança irrestrita dos superiores, Adalberto tinha acesso à senha da conta da Fundação. O Ministério Público sustenta que ele enriqueceu, formando um patrimônio de sete imóveis e doze veículos, entre eles uma motocicleta que custou R$ 107 mil à vista.
O promotor de Justiça Nathan Glina e seus colegas do Gaeco, Richard Gantus Encinas e Manoella Guz, descobriram que a Sunstec Eletrônicos ME ‘nunca prestou qualquer serviço para a Fundação Butantan que justificasse o recebimento das dezenas de milhões de reais a ela pagos por meio de transações bancárias favorecendo a conta aberta por Adalberto de forma fraudulenta’.
Com a quebra do sigilo bancário das contas de Adalberto e dos outros envolvidos na trama e da Sunstec, os promotores constataram que o dinheiro desviado era transferido para as contas pessoais do grupo.
A Promotoria apurou que de 2007 a até abril de 2008, em termos de verbas públicas federais, a Fundação Butantan recebeu R$ 329,96 milhões, ‘o que comprova que os furtos, na prática, se deram em prejuízo de verbas decorrentes de convênios que recebem dinheiro público na área da saúde para o desenvolvimento dos serviços do Instituto Butantan referentes a vacinas e medicamentos que deveriam ser fornecidos para serviços públicos relevantes, bem como o próprio funcionamento e higidez orçamentário-patrimonial daquela instituição’.
Interrogado na Polícia, Adalberto disse que ‘já ouviu falar’ da Sunstec Comércio de Eletrônicos Ltda, ‘não sabendo o nome dos sócios dela’.
Ele afirmou que fez depósitos em favor da micro, ‘após receber ordens superiores’. No entanto, não revelou a identidade de quem lhe teria ordenado a fazer tais aportes na conta da Sunstec.
“Adalberto fracionou depósitos em sua conta bancária de janeiro a agosto de 2007, que em sua totalidade representavam movimentação de recursos de R$ 822.280,75, incompatíveis com o patrimônio, a atividade financeira ou a ocupação profissional e a capacidade financeira presumida”, assinalam os promotores. A renda mensal declarada do ex-gerente administrativo era de R$ 14.628,27.
Ainda segundo a acusação, ele recebeu créditos da Sunstec, de julho a setembro de 2007 – seis recebimentos no montante total de R$ 370 mil. Também foi sacador em três movimentações atípicas da Fundação Butantã, uma no montante de R$ 130 mil, em 17 de agosto de 2004, outra de R$ 200 mil, em 6 de dezembro de 2004, e a terceira de R$ 225.720,00, em 20 de janeiro de 2005.
Entre setembro de 2007 e agosto de 2008 Adalberto recebeu da Sunstec Eletrônicos o montante de R$ 641 mil, que acrescidos de outros créditos somaram R$ 1,134 milhão.
O rastreamento da fortuna que Adalberto movimentou foi realizado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Em diligência realizada na Fundação Butantã, o Ministério Público verificou ‘não haver ali qualquer menção à empresa Sunstec Comércio de Eletrônicos Ltda- ME, a qual apesar de ter recebido, segundo informações do
Coaf referentes ao período informado, cerca de R$ 2.688.000,00 da Fundação Butantan, não constava nem mesmo dos lançamentos do livro-caixa da entidade’.
A investigação mostra que outros alvos da investigação do Ministério Público também foram destinatários de valores que passaram pela conta da Sunstec.
“Após a realização da quebra do sigilo bancário das contas dos denunciados e da Sunstec, este Grupo de Atuação Especial do Ministério Público conseguiu apurar que as subtrações praticadas contra a Fundação Butantan com abuso de confiança, concurso de agentes e fraude, por meio de transferências e depósitos bancários inicialmente para a conta aberta fraudulentamente em nome da empresa, eram em sequência transferidos para os denunciados que concorriam para a prática dos delitos disponibilizando suas contas, recebendo os valores subtraídos”, diz a denúncia.
A reportagem não localizou nenhum representante da Sunstec Eletrônicos. Na Receita Federal consta que a inscrição da empresa está inativa.
COM A PALAVRA, A SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
“A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo esclarece que o Instituto Butantan ajudou nas investigações do Ministério Público. À época, tanto a Presidência quanto a Superintendência da Fundação Butantan foram afastadas e substituídas. A nova gestão do Instituto e a própria Secretaria continuarão auxiliando nas investigações, tanto de problemas ocorridos no passado quanto dos de agora, em que uma auditoria encomendada pelo governo do Estado encontrou uma série de irregularidades de gestão na fundação e no instituto, ocorridas entre 2011 e 2015, na gestão de Jorge Kalil, e em que o Tribunal de Contas do Estado apontou o sumiço de R$ 8 milhões do Butantan em bens materiais.”

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TCU avalia veto a empresas investigadas na Lava Jato, OESP




Apesar de acordos de leniência do MPF, tribunal de contas pode decretar inidôneas construtoras suspeitas de conluio e impedir novos contratos com o governo


Fábio Fabrini ,
O Estado de S.Paulo
28 Fevereiro 2017 | 05h00
BRASÍLIA - Apesar dos acordos de leniência já firmados entre Ministério Público Federal (MPF) e parte das empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato, ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) avaliam decretar a inidoneidade das principais construtoras investigadas na força-tarefa. Com isso, as empresas ficariam proibidas de fechar contratos com a administração pública federal. 
De acordo com integrantes da corte ouvidos pelo Estado, processos que estão em fase adiantada de tramitação confirmam a ocorrência de conluio entre empreiteiras e de fraude em licitações na Petrobrás e na Eletronuclear, o que ensejaria a aplicação da sanção.

Foto: André Dusek|Estadão
TCU
Fachada do Tribunal de Contas da União (TCU), em Brasília
O TCU, além do próprio governo, é um dos órgãos públicos com a prerrogativa de declarar inidôneas pessoas jurídicas envolvidas em atos ilícitos. A Lei Orgânica do tribunal prevê que, nesses casos, aplica-se a proibição de participar de concorrências públicas e, em consequência, assinar contratos por até cinco anos.
Parte dos ministros sustenta que a corte deve levar a julgamento os processos em curso, independentemente de negociações entre empresas e o Executivo, que se arrastam há mais de dois anos, sem desfecho. Em vários casos, os delatores ligados a essas empresas já confessaram as fraudes em outras esferas de investigação.
A Lava Jato completa três anos em março. As principais empreiteiras do País foram implicadas na investigação. O governo ainda não puniu nenhuma das grandes empresas do setor nem recuperou recursos desviados, por meio de acordos de leniência – espécies de delações premiadas de pessoas jurídicas. O MPF também vem fechando acordos com as empreiteiras, como foi o caso, por exemplo, da Camargo Corrêa e da Odebrecht.
Resultados. O Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (CGU) abriu processos de responsabilização contra 29 pessoas jurídicas. Em cinco casos – nenhum com as maiores construtoras –, houve declaração de inidoneidade. Em outras três situações, os processos foram arquivados por falta de provas. Permanecem em curso 21 procedimentos – em 12 deles, são discutidos acordos de leniência.
A demora na tramitação permite que as empreiteiras fechem negócios com o governo e não cubram os prejuízos causados aos cofres públicos. Além disso, os prazos de prescrição continuam correndo.
Suspeitas. Um dos processos em que, segundo ministros do TCU, cabe decretar inidoneidade trata da participação de 16 empreiteiras em combinação de preços, quebra de sigilo de propostas, divisão de mercado, acerto prévio de resultados e consequente direcionamento de licitações em obras da Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. Nesse grupo, estão empresas como Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão.
O TCU constatou fraudes com base em material compartilhado com autorização da Justiça Federal em Curitiba e, em junho do ano passado, determinou que todas as empresas fossem ouvidas, o que já ocorreu. Os auditores trabalham agora no relatório a ser enviado ao relator, ministro Benjamin Zymler. Ele não se pronuncia sobre o mérito do processo, sob sigilo, mas informou que o assunto é tratado como prioridade.
Em outro caso, também em fase avançada de tramitação, o TCU identificou o envolvimento de sete empresas em conluio e fraudes à licitação de R$ 2,9 bilhões para a montagem eletromecânica da Usina de Angra 3, entre elas Odebrecht, UTC, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Camargo Corrêa. O processo está sob relatoria do ministro Bruno Dantas, que também não se manifestou.
Questionamento. O Estado enviou questionamentos ao Ministério da Transparência sobre a condução dos processos relacionados às empreiteiras implicadas na Lava Jato. A pasta informou que não iria respondê-los e acrescentou apenas que quatro acordos de leniência estão em estágio avançado. 
Divergências do governo com outros órgãos, entre eles o TCU e o MPF, sobre a forma de celebrar os acordos suscitam embates desde 2015, o que impacta a tramitação dos acordos. Outra razão é a instabilidade provocada pelas mudanças na legislação que trata do assunto, como a implementada pela ex-presidente Dilma Rousseff por meio da Medida Provisória 703. Essa norma alterou vários itens da Lei Anticorrupção. Vigorou de dezembro de 2015 a junho do ano passado, mas caducou.

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'Biografia individual se faz na política, não no Judiciário', diz Nelson Jobim, \oesp

O ex-ministro e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim afirmou, em entrevista ao Estado, haver “espetacularização” em certas condutas de integrantes da Operação Lava Jato, sem citar nomes. Entre as “arbitrariedades”, ele apontou a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em março de 2016 pela Polícia Federal, e a divulgação de áudios de conversas entre o petista e a presidente cassada Dilma Rousseff. “Você acha isso legítimo?”, questionou.


Nelson Jobim
 O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim 
Segundo Jobim, “tudo isso faz parte daquilo que hoje nós chamaríamos de ação-espetáculo”. Para ele, que foi ministro da Defesa dos governos Lula e Dilma, “o Judiciário não é ambiente para se fazer biografia individual. Biografia se faz em política”. 
Jobim é sócio do BTG Pactual, que, até novembro de 2015, era chefiado por André Esteves, que chegou a ser preso sob suspeita de obstruir a Justiça. Ao conceder entrevista ao Estado, o ex-ministro pediu para não falar sobre sua relação com o banco. Sobre a Corte que presidiu, ele considera que hoje desempenha papel de um Poder Moderador.
O foro privilegiado blinda agentes políticos?
Não se pode dizer que o foro especial seja um privilégio para a impunidade, senão você estaria dizendo que o Supremo julga a favor da impunidade. Hoje se faz um discurso imenso sobre o foro privilegiado, principalmente por parte do STF, porque a Corte acha que tem muito trabalho. Não é bem assim. Os ministros do Supremo não fazem a instrução, que é feita pelos juízes auxiliares. O que há é um aumento substancial de processos criminais, que cria uma situação de distorção e demora no Tribunal. 
Estudo da FGV mostra que apenas 1% dos réus é condenado.
Eu estive lá (no STF), eu sei como funciona. Essa pesquisa é meramente estatística. Ninguém examinou caso a caso para verificar a existência ou não de julgamento. Quando se fala que a condenação é menos de 1%, significa que tinha que condenar mais, independente do contexto. Cada processo é um processo independente. Isso (condenação) é muito bom para os outros, não para quem está ali dentro.
O sr. vê o STF mais politizado?
Não. O que ocorreu foi uma disfuncionalidade do processo político em termos dos entendimentos e soluções das controvérsias no âmbito político. Não se soluciona controvérsia no âmbito político sem recorrer ao Poder Judiciário. A Presidência da República, necessariamente, tem de ser um órgão moderador. Com os diversos movimentos sociais, sejam na área dos trabalhadores, dos empresários ou da politica, tu tens ene forças sociais e políticas e o presidente da República tem de ser o elemento não radicalizador. Os últimos governos foram radicalizadores e isso dá problema. A partir principalmente dos anos 2000, você começou a reduzir a capacidade do Congresso, da área política partidária de compor as suas divergências. E aí o que aconteceu? Passaram a eleger, digamos, o STF como órgão moderador da República. Quando se diz: ‘Ah, os juízes estão intervindo demais...’ Espera um pouquinho, estão intervindo demais porque eles são provocados para isso. Quem leva os processos? Em grande parte são os partidos políticos. O STF está fazendo a figura daquilo que foi no Império o imperador, e que foi na República o presidente da República. Você tem uma grande culpa do Supremo também porque quando se aprovou a cláusula de barreira (norma que restringe funcionamento parlamentar ao partido que não alcançar determinado porcentual de votos) houve uma decisão da Corte entendendo que aquilo fosse inconstitucional, porque proibia as minorias. O resultado dessa decisão está aí. Então não se pode atribuir culpa exclusiva aos políticos pelo fato de você ter uma plêiade de partidos. Houve uma decisão que permitiu isso.
Como avalia a interpretação de que hoje há mais interferência entre Poderes?
A Constituição de 1988 deu mais poder ao Judiciário. Mas é preciso não confundir ativismo judicial com voluntarismo. Quando há disfuncionalidade congressual, em que você não tem o processo decisório dentro do Congresso, se requer o uso da ambiguidade. No momento em que você faz uma norma ter vários sentidos, você como que elege o Poder que vai aplicar a lei, aquele que vai dar interpretação possível dentro do leque que a ambiguidade permite. Mas há também, digamos, uma tendência, um equívoco, em que alguns juízes acham que têm de fazer justiça e não aplicar a lei. Quem diz ‘não, eu não vou aplicar a lei porque o que julgo é ilícito’, de onde vem esse poder? Do concurso público que o transformou em juiz? Esa discussão do projeto das 10 medidas anticorrupção (projeto que está na Câmara a ser enviado para o Senado), que foi oferecido pelo Ministério Público, inclui posições de alguns promotores ridículas. Tinha absurdos completos em termos de atribuição de uma espécie de um poder sacerdotal para efeito investigatório.
A Lava Jato tem ferido os direitos das defesas, por exemplo?
Há exageros. Inclusive nas prisões que são feitas em Curitiba (sede da operação sob responsabilidade do juiz federal Sérgio Moro), em que as coisas vão se prolongando e resultam em delações. Outro exemplo, condução coercitiva. Ela só é admissível quando alguém se nega a ir em uma audiência em que foi previamente intimado. Mas não se admite que alguém que não foi convocado para depor seja levado coercitivamente para depor.
A do Lula foi arbitrária?
Sim, não tenha dúvida. Isso é muito bom quando você está de acordo com o fim, mas quando o fim for outro... O dia muda de figura quando acontece contigo. O que nós temos de deixar claro é essa coisa da exposição dos acusados. Vão pegar um sujeito em um apartamento e aparece gente com metralhadora, helicóptero. Tudo isso faz parte daquilo que hoje nós chamaríamos de ação-espetáculo, ou seja, a espetacularização de todas as condutas. O Judiciário não é ambiente para você fazer biografia individual. Biografia se faz em política. 
O sr. acredita em "desmonte" da Lava Jato?
Não, isso faz parte do discurso político. Evidente que quem está sendo perseguido vai querer fazer isso (desmontar), agora se afirmar que está acontecendo, é só discurso. Evidente que você tem de afastar a prática de violências de qualquer natureza. Nós não podemos pensar de que se algo foi malfeito, autoriza que seja mal feito também a forma de persegui-los.
Por exemplo?
A divulgação da gravação da presidente Dilma com Lula depois que havia encerrado o tempo de gravação, autorizado pelo próprio juiz que havia determinado a gravação. Você acha isso legítimo? Qual é a consequência disso? Esse episódio é seríssimo. Houve algum processo para verificar se houve algum abuso? Há um inquérito sobre isso? Que eu sabia, houve várias tentativas por parte dos interessados e que não aconteceu nada. Lembro bem que chegaram até a dizer: ‘Casos excepcionais requerem medidas excepcionais’. 
O sr. vai se relançar na politica?
Não, meu horizonte desapareceu. Olha, não se comprometa com o futuro. Não fui sondado. Estou fora de tudo. Qualquer coisa para (as eleições presidenciais de) 2018, tem de ter densidade eleitoral,  que é uma coisa que não se constrói dentro do tribunal. É bobagem. Toda pretensão que ministro do STF possa ter densidade eleitoral é bobagem.
Joaquim Barbosa?
Isso é para a classe média, que lê jornal. O grande eleitorado não se lembra de ministro.


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