As novas tecnologias competem, cada vez mais, com a nossa necessidade de aprendizado
19/11/2016 | 21h00
Por Quentin Hardy - The New York Times
Quando lecionei na escola de ciências da informação na Universidade da Califórnia, era inacreditável o número de alunos assistindo programas de streaming de vídeo, navegando em sites de entretenimento ou em serviços similares em pleno horário de aula.
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Atualmente, nós vivemos em um mundo de telas, onde as distrações digitais competem com nossa necessidade de aprender. Mas será que realizar múltiplas tarefas ao mesmo tempo é uma boa ideia?
Não. Pelo menos é o que diz Clifford Nass, professor de Stanford, pioneiro na pesquisa sobre a interação dos humanos com a tecnologia. Ele realizou inúmeros estudos de pessoas que realizam ao mesmo tempo diferentes tarefas cognitivas, como falar ao telefone, digitar alguma coisa, assistir TV e trabalhar no computador.
Basicamente, o que Nass descobriu é que todo o trabalho é feito sem gerar bons resultados. O que acontece, na verdade, é que as pessoas passam rapidamente de uma atividade para outra e não que trabalham nelas simultaneamente. Com isso, nenhuma atividade recebe a atenção devida.
Por outro lado, é importante frisar que desempenho não é a mesma coisa que aprendizagem. Para Joo-Hyun Song, psicólogo que trabalha com o neurocientista Patrick Bédard na Brown University, quando as pessoas aprendem habilidades motoras com alguma distração, as duas tarefas são internalizadas. Isto gera um conhecimento mais aprimorado, particularmente se o indivíduo tem de lembrar fatos num ambiente não harmônico.
“Quando os pilotos de avião são ensinados sobre como agir em algumas situações de emergência, é muito melhor que eles aprendam com distrações em seu entorno”, afirma o psicólogo. É bom não cometer excessos. “Se consegue fazer uma prova ao mesmo tempo que está no Twitter, por exemplo, tudo bem. Mas seria muito melhor negociar com o seu professor. A propósito, meus colegas dizem que eu não deveria nem falar sobre esse assunto”, disse o professor.
Foco. Se você se distrai com facilidade, faça alguma coisa a respeito. Música calma pode ser a distração que uma pessoa inconstante precisa para manter o foco durante o tempo que precisar. Se o aluno tenta se concentrar totalmente, ele pode, paradoxalmente, criar uma distração ainda maior.
A aprendizagem analógica costuma funcionar melhor na maioria dos casos. Escrever notas à mão é melhor do que digitá-las num laptop, segundo um estudo feito em Princeton em 2014. As pessoas que tomam notas à mão usam menos palavras, mas lembram melhor os conceitos principais e mais necessários para seu aprendizado.
“As pessoas que tomam notas no computador estão apenas transcrevendo e aquelas que fazem anotações à mão tendem a ser mais seletivas com os conceitos”, disse Jonathan Zimmerman, professor na Graduate School of Education, na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. “Uma outra parte importante da aprendizagem é ordenar as coisas e neste caso você é melhor quando faz anotações”.
Navegar na internet é como ser fumante passivo. O Dr Zimmerman, como eu, costumamos ver alunos conectados a sites de entretenimento em plena aula, um desprendimento que, segundo o professor, prejudicava o estudante e a classe em geral.
Mesmo o fato de sentar ao lado de alguém realizando múltiplas tarefas em um laptop pode afetar o seu aprendizado e o seu desempenho, segundo um estudo canadense em 2012. Diante disto, disse ele, “proibi os alunos. E ninguém se queixou”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
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