sexta-feira, 1 de julho de 2022

‘Quero redefinir meu cérebro’: mulheres recorrem à terapia psicodélica para curar traumas, OESP NYT

 THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - TIJUANA, México - Nuvens de incenso rodavam pela sala mal iluminada enquanto sete mulheres se revezavam explicando o que as levou a se inscrever para um fim de semana de terapia psicodélica em uma vila no norte do México com vistas arrebatadoras do oceano.

Mulheres se reúnem em cerimônia de chá de cogumelo psicodélico em março em um retiro de terapia de veteranos no México.
Mulheres se reúnem em cerimônia de chá de cogumelo psicodélico em março em um retiro de terapia de veteranos no México. Foto: Meridith Kohut/The New York Times

Uma ex-fuzileira naval dos EUA disse que esperava se conectar com o espírito de sua mãe, que se matou 11 anos atrás. Uma veterana do Exército disse que foi abusada sexualmente por um parente quando criança. Outras veteranas disseram ter sido agredidas sexualmente por colegas de serviço.

Continua após a publicidade

A esposa de um especialista em desativação de bombas da Marinha engasgou ao lamentar que anos de missões implacáveis de combate tenham transformado seu marido em um pai ausente e disfuncional.

Kristine Bostwick, 38, ex-paramédica da Marinha, disse esperar que a participação em cerimônias com substâncias que alteram a mente a ajude a fazer as pazes com o fim de um casamento turbulento e talvez aliviar as enxaquecas que se tornaram um tormento diário.

“Quero redefinir todo meu cérebro”, ela disse durante a sessão introdutória de um recente retiro de três dias, enxugando as lágrimas. “Meus filhos merecem. Eu mereço.”

Um crescente corpo de pesquisas sobre os benefícios terapêuticos da terapia psicodélica gerou entusiasmo entre alguns psiquiatras e investidores de risco.

Medidas para descriminalizar psicodélicos, financiar pesquisas sobre seu potencial de cura e estabelecer estruturas para seu uso medicinal foram aprovadas com apoio bipartidário em conselhos municipais e legislaturas estaduais nos Estados Unidos nos últimos anos.

Grande parte do apelo crescente a tais tratamentos foi impulsionado por veteranos das guerras americanas no Afeganistão e no Iraque. Tendo se voltado para terapias experimentais para tratar transtorno de estresse pós-traumático, lesões cerebrais traumáticas, vício e depressão, muitos ex-militares se tornaram defensores efusivos de uma adoção mais ampla dos psicodélicos.

Os participantes de retiros psicodélicos costumam pagar milhares de dólares pela experiência. Mas essas veteranas e cônjuges de veteranos que viajaram para o México para tratamento no Mission Within estavam participando de graça, como cortesia do Heroic Hearts Project e do Hope Project. Os grupos, fundados por um patrulheiro do Exército e a esposa de um SEAL da Marinha, arrecadam dinheiro para tornar a terapia psicodélica acessível para pessoas de origem militar.

Samantha Juan, veterana do Exército que participou do retiro, brincando com Jack, um cão de serviço especialmente treinado para veteranos militares com transtorno de estresse pós-traumático.
Samantha Juan, veterana do Exército que participou do retiro, brincando com Jack, um cão de serviço especialmente treinado para veteranos militares com transtorno de estresse pós-traumático. Foto: Meridith Kohut/The New York Times

O Mission Within, nos arredores de Tijuana, é dirigido pelo Dr. Martín Polanco, que desde 2017 se concentra quase exclusivamente no tratamento de veteranos.

“Percebi desde cedo que, se concentrássemos nosso trabalho nos veteranos, teríamos um impacto maior”, disse Polanco, que disse ter tratado mais de 600 mil veteranos americanos no México. “Eles entendem o que é preciso para atingir o desempenho máximo.”

No início, ele disse, tratava quase exclusivamente os veteranos do sexo masculino. Mas recentemente, começou a receber muitos pedidos de mulheres veteranas e esposas de militares e começou a organizar retiros só para mulheres.

Com exceção dos ensaios clínicos, a terapia psicodélica é atualmente realizada na clandestinidade ou sob uma legalidade nebulosa. À medida que a demanda aumenta, alguns países da América Latina, incluindo Costa Rica, Jamaica e México, tornaram-se centros de protocolos experimentais e estudos clínicos.

No México, duas das substâncias que Polanco administra - a ibogaína, um psicoativo à base de plantas comumente usado para tratar o vício, e o 5-MeO-DMT, um poderoso alucinógeno derivado do veneno do sapo do deserto de Sonora - não são ilegais nem aprovadas para uso médico. A terceira, os cogumelos psicodélicos, pode ser tomada legalmente em cerimônias que seguem as tradições indígenas.

No momento em que as sete mulheres se reuniram em círculo para a cerimônia do cogumelo em um sábado recente, cada uma havia assinado um termo de isenção de responsabilidade. Elas preencheram questionários que medem o estresse pós-traumático e outras doenças psicológicas e passaram por um check-up médico.

Conduzindo a cerimônia estava Andrea Lucie, uma especialista chilena-americana em medicina mente-corpo que passou a maior parte de sua carreira trabalhando com veteranos americanos feridos. Depois de soprar sálvia queimada em xícaras de chá de cogumelos servidos em uma bandeja decorada com flores e velas, Lucie leu um poema de María Sabina, uma curandeira indígena mexicana que já conduziu cerimônias com cogumelos.

Os cogumelos que produzem psilocibina, uma droga psicodélica natural.
Os cogumelos que produzem psilocibina, uma droga psicodélica natural. Foto: Meridith Kohut/The New York Times

“Cure-se com amor lindo e lembre-se sempre, você é o remédio”, recitou Lucie, que é de uma família indígena Mapuche no Chile.

Depois de beber, as mulheres deitaram em colchões no chão e colocaram máscaras nos olhos enquanto uma música suave tocava em um alto-falante.

As primeiras agitações ocorreram cerca de 40 minutos após a cerimônia. Duas mulheres baixaram as máscaras e choraram. Uma riu e depois começou a gargalhar.

Então começaram os lamentos. Jenna Lombardo-Grosso, a ex-fuzileira naval que perdeu a mãe por suicídio, saiu da sala e se aconchegou com Lucie no andar de baixo.

Lombardo-Grosso, 37, soluçou e gritou: “Por que, por que, por que!” Mais tarde, ela explicou que os cogumelos tinham feito surgir episódios traumáticos de abuso sexual na infância.

Dentro da sala de cerimônias, Samantha Juan, a veterana do Exército que foi abusada sexualmente quando criança, começou a chorar e pegou seu diário. Foi sua terceira vez em um retiro administrado por Polanco, onde ela disse ter enfrentado uma vida inteira de memórias traumáticas que a levaram a beber muito e usar drogas para escapar de sua dor depois de deixar o Exército em 2014.

“Aprendi a ter empatia e bondade comigo mesma”, disse Juan, 37.

Seu objetivo neste retiro, ela disse, era fazer as pazes com uma agressão sexual que ela disse ter sofrido no Exército.

“Na jornada de hoje, o foco é o perdão”, disse Juan pouco antes de tomar os cogumelos. “Não quero mais esse tipo de angústia em mim.”

À medida que os efeitos dos cogumelos passavam, predominava uma sensação de calma. As mulheres trocavam histórias sobre suas viagens, contavam piadas e se perdiam em longos abraços.

O nervosismo voltou na manhã seguinte enquanto as mulheres esperavam sua vez de fumar 5-MeO-DMT, uma viagem que Polanco chama de “estilingue” pela velocidade e intensidade da experiência.

Naquela noite, Alison Logan, esposa de um especialista em neutralização de explosivos da Marinha que estava prestes a se divorciar, parecia abatida. As viagens, ela disse, trouxeram sua tristeza à tona, mas não forneceram insights nem senso de resolução.

“Parecia muita dor sem nenhuma resposta”, ela disse.

Mas as outras participantes disseram que suas doenças físicas desapareceram e seu humor melhorou.

Lombardo-Grosso disse que o retiro a ajudou a fazer as pazes com a perda de sua mãe e mudou sua visão de futuro de uma sensação de medo para uma de otimismo. “Eu me sinto inteira”, ela disse alguns dias depois de sua casa em Tulsa, Oklahoma. “Não falta mais nada.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Ruy Castro Te cuida, dom Pedro, FSP

 Alguém no Brasil teve a ideia de pedir emprestado a Portugal o coração de dom Pedro 1º para as supostas comemorações do Bicentenário da Independência, em 7 de setembro. Portugal, temerariamente, concordou, embora deva saber que há tempos o Brasil não tem se destacado no quesito coração. Seu presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, não parece ter um. Já debochou dos brasileiros mortos pela Covid, não está nem aí para os flagelados pelas chuvas e, entre um criminoso e a vítima, é coerente: opta sempre pelo criminoso. Fez isso há pouco, no assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips na Amazônia, e logo voltará a fazê-lo. O que leva no peito é um carregador de AR-15.

O coração de D. Pedro 1°, guardado em um recipiente de vidro desde 1837 na igreja Nossa Senhora da Lapa, em Porto (Portugal), tem o líquido que o preserva, à base de formol, trocado a cada 10 anos. - Venerável Irmandade Ordem da Lapa/Divulgação


O coração de dom Pedro, aconchegado há 188 anos num recipiente de vidro dentro, sucessivamente, de um vaso de prata, um estojo e uma urna, atrás de uma grade e de uma porta revestida com cobre, e tudo isso dentro de uma capela a cinco chaves na Igreja da Lapa, no Porto, será retirado de lá e trazido a saracotear pelo Brasil. Foi o que fizeram em 1972 com os ossos de dom Pedro, vindos de Portugal para o oba-oba dos 150 anos da independência, patriotada sob os auspícios do ditador Médici em meio a outros ágapes ufanistas.


Naquele ano, os ossos de dom Pedro foram chacoalhados pelas capitais do país —cada escala, uma apoteose à ditadura—, até seu destino final, o Museu do Ipiranga, em São Paulo. Não é improvável que, nesta nova excursão, seu coração seja levado a participar de motociatas, rodeios e shows de sertanejos, redutos favoritos de Bolsonaro.


Como sabemos, o patriota Bolsonaro está pouco ligando para o bicentenário. Já anunciou que fará de seu 7 de setembro uma arruaça contra as instituições, numa prévia do golpe contra sua derrota na eleição.

Esperam-se tumultos, invasões, quebra-quebras, tiros.

Alesp aprova Programa Estadual de Regularização de Terras, O Imparcial , PP

 Projeto visa à regularização de áreas do Pontal do Paranapanema, chamadas terras devolutas

Projeto visa à regularização de áreas do Pontal do Paranapanema, chamadas terras devolutas

Momento histórico. Foi aprovado nesta quarta-feira, durante a 29ª sessão extraordinária, o Projeto de Lei 277, sobre o Programa Estadual de Regularização de Terras, que autoriza a Fazenda do Estado a transigir e a celebrar acordos, judicialmente ou administrativamente, para fins de alienação, com vistas a prevenir demandas ou extinguir as que estiverem pendentes, em todas as fases dos seguintes processos: discriminatórios; reivindicatórios; e regularização de posses em terras devolutas. O PL, que recebeu 48 votos a favor, 15 contrários e duas abstenções, segue para a sanção do governador Rodrigo Garcia (PSDB).  
O advogado Renato Maurilio Lopes conta que participou junto com deputados na elaboração deste que visa à regularização de áreas do Pontal do Paranapanema, chamadas terras devolutas, para aqueles que possuem áreas até 2,5 mil hectares. “E vai abrir a possibilidade para que essas terras, ditas como devolutas, possam ser regularizadas, ou seja, os possuidores podem fazer a regularização, comprando a área do Estado de São Paulo, por até 40%, conforme o estágio que esteja a ação discriminatória dele. É um marco histórico para a região, um momento ímpar. Eu acho que é fundamental para trazer segurança jurídica e melhorar todos os índices de IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] da região. Eu vejo com otimismo, emocionado e feliz com essa lei, que vai propiciar uma vantagem imensurável ao Pontal do Paranapanema”, reflete o advogado.

Regularização fundiária

A proposta visa autorizar o Estado a celebrar acordos, judicial ou administrativamente, para regularizar a posse em terras devolutas. Busca implementar a regularização fundiária em propriedades acima de 15 módulos fiscais até o limite estabelecido pela Constituição Federal.
O deputado estadual Mauro Bragato (PSDB), coautor do projeto, aponta essa aprovação como mais uma etapa vencida na sua luta histórica pela regularização fundiária e pelo desenvolvimento do Pontal. “Um grande avanço nessa luta à qual meu mandato se dedica há décadas”, afirma o parlamentar. Além disso, a nova lei trará segurança jurídica aos proprietários de terra. Em muitos casos, vêm de dezenas de anos “batalhas judiciais” sem decisão definitiva sobre litígios, causando insegurança jurídica e gerando conflitos fundiários e prejuízos ao desenvolvimento econômico do Estado. O parlamentar finaliza, apontando que os objetivos primordiais do projeto são a busca pela segurança jurídica e, consequentemente, a melhoria da produtividade, da empregabilidade e da competitividade do agronegócio paulista.
Importante ressaltar, conforme o deputado, que a valorização da terra foi proporcionada, em grande parte, pelas benfeitorias realizadas por seus ocupantes históricos com vocação agropecuária, através de melhoramentos do solo, investimentos em tecnologia, pastagens, agricultura, isolamento e recomposição, destinando, ainda, grande parte das áreas à preservação permanente e à reserva legal.
São autores e coautores do PL os deputados Vinícius Camarinha (PSDB), Carla Morando (PSDB), Mauro Bragato (PSDB), Itamar Borges (MDB), Sebastião Santos (Republicanos), Reinaldo Alguz (União Brasil), Fernando Cury (União Brasil), Campos Machado (Avante), Coronel Telhada (PP), Jorge Wilson Xerife do Consumidor (Republicanos), Frederico d'Avila (PL), Carlos Cezar (PL), Altair Moraes (Republicanos) e Gil Diniz (PL).