sábado, 4 de junho de 2022

Hélio Schwartsman - Mundo não perderia nada se prefeituras fossem proibidas de contratar shows, FSP

 

Se a profissão de prostituta é a mais antiga do mundo, a de artista é a segunda mais velha. Desde tempos imemoriais, governantes e pessoas muito ricas financiavam bardos para enaltecer-lhes as glórias. Caio Cílnio Mecenas, uma combinação de político com pessoa podre de rica, conselheiro do imperador Augusto, apoiou tão entusiasmadamente artistas que seu nome gerou a palavra "mecenas".

O desafio dos Estados modernos é encontrar uma forma de financiar as artes e a cultura em geral sem recair nem em dirigismo estatal nem em favorecimentos. A solução ultraliberal para o problema é simplesmente proibir o poder público de apoiar artistas. Se suas produções não passam pelo crivo do mercado, é porque ninguém está interessado nelas e é melhor mesmo que não existam. Mas eu receio que não seja tão simples. Museus e orquestras sinfônicas, para citar só dois exemplos, são muito pouco rentáveis e dependem de verbas públicas para funcionar. E eu prefiro viver num mundo onde existam o Louvre e a Osesp a em um em que só haja "best-sellers" e "blockbusters".

Tenho críticas pontuais à Lei Rouanet, mas ela tem o mérito de tentar criar um mecanismo impessoal e republicano para a escolha dos artistas que receberão verbas estatais e estabelece algum tipo de fiscalização. O ideal seria que a Rouanet e congêneres financiassem apenas quem não consegue caminhar pelas próprias pernas na economia de mercado, mas não vejo como se possa estabelecer isso na prática. A diferença entre ser inviável e dar pouco lucro só pode ser constatada "ex post".

O que deveria ser banido da administração pública é a possibilidade de governantes contratarem diretamente artistas conhecidos para performances esporádicas. Essa é a receita perfeita para o favorecimento, o dirigismo político e até corrupção. Não penso que a humanidade perca grande coisa se prefeituras não puderem mais bancar shows de famosos.

Número de viajantes em voos internacionais salta de 160 mil para 1,15 milhão no mês, FSP

  EDIÇÃO IMPRESSA

SÃO PAULO

O mercado de voos internacionais, que enfrenta recuperação mais lenta dos abalos da pandemia, registrou em abril o maior número de viajantes em destinos internacionais desde março de 2020, de acordo com os novos dados da Anac.

O volume de passageiros transportados chegou a 1,15 milhão. No mesmo mês do ano passado, foram pouco mais de 160 mil pessoas que viajaram em aeronaves com destino ou origem no Brasil.

Em número de voos, a Anac registra 7.338 decolagens internacionais. Patamar semelhante já havia aparecido em janeiro (7.366) e março (7.379).

grupo de pessoas sentadas em aeronave
ONG Gerando Falcões fretou avião para levar 120 pessoas para conhecer projeto-piloto de erradicação de pobreza em favela - Divulgação/Latam
[ x ]

Também chama a atenção em abril a taxa de ocupação dos aviões, que ficou acima de 83%. Foi a maior do ano.

As rotas estrangeiras com maior movimentação de passageiros no mês, todas saindo de Guarulhos, foram para Buenos Aires, com 62.761 passageiros pagos transportados, Miami (53.781) e Madrid (51.491).

Ainda não resgata o cenário pré-pandemia, mas é um alento para o setor aéreo, que tem atravessado uma fase de turbulências com alta no preço dos combustíveis, mudança na política de bagagens e criação de taxa de poluição para aviões no município de Guarulhos, entre outras dificuldades decorrentes da pandemia.

Joana Cunha com Paulo Ricardo Martins e Gilmara Santos


Economistas estão alienados e presos a dogmas no Brasil, diz André Lara Resende, FSP

 Eduardo Sombini

O economista André Lara Resende é um dos críticos mais importantes dos dogmas da teoria econômica dominante e seu apego ao equilíbrio fiscal a qualquer custo e à diminuição do tamanho do Estado.

Para ele, a macroeconomia neoclássica, que orienta boa parte da produção acadêmica e do debate público no Brasil, se tornou um garrote ideológico, com ferramentas equivocadas e sem capacidade de formular políticas para promover a retomada do crescimento e a distribuição de renda.

Em seu livro recém-lançado, "Camisa de Força Ideológica: a Crise da Macroeconomia", Lara Resende percorre a história da teoria monetária e discute por que o fato de a moeda ser hoje um registro digital, não mais um metal com valor em si, transforma as possibilidades de financiamento do Estado.

Doutor pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, ex-diretor do Banco Central e um dos formuladores do Plano Real, o economista diz que países que emitem a própria moeda não têm, sob algumas condições, restrições financeiras.

O economista André Lara Resende, autor de 'Camisa de Força Ideológica', no campus da Universidade Columbia, em Nova York - Gilberto Tadday - 3.dez.15/Agência O Globo

O Estado pode sempre ampliar a base monetária para financiar investimentos e políticas públicas sem correr o risco de criar surtos inflacionários. No entanto, a perspectiva de se livrar das amarras da ortodoxia monetária deve vir acompanhada de controle e disciplina, diz, para tornar o Estado mais competente.

[ x ]

Neste episódio do Ilustríssima Conversa, Lara Resende criticou a fórmula de aumentar a taxa de juros para conter a alta da inflação, como vem acontecendo no Brasil nos últimos meses, discutiu o que pensa sobre a privatização de empresas estatais e explicou a ideia de o Estado assumir a função de empregador de última instância dos trabalhadores, da mesma forma que desempenha o papel de credor de última instância em crises financeiras.

Como é que se pode defender que o Estado está quebrado e não pode gastar com infraestrutura, educação, saúde, mas pode —e deve— aumentar a taxa de juros, como aumentou no Brasil em mais de dez pontos de percentagem? Com uma dívida de 85% do PIB, isso é 8,5% do PIB de transferência de gastos fiscais para os detentores da dívida pública, que são os agentes mais ricos e superavitário da economia

André Lara Resende

economista

PARA SE APROFUNDAR

André Lara Resende indica

Eduardo Sombini indica

  • "Trabalho Interno", de Charles Ferguson, vencedor do Oscar de melhor documentário de 2010 que aborda a crise financeira de 2008 e as medidas do governo federal americano para socorrer o sistema financeiro do país