sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

'Brasileiro viajando é canibal', diz ministro da Educação a revista, FSP

Ricardo Vélez Rodríguez defende educação moral e cívica ao ensino básico

SÃO PAULO
Para o novo ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, educação moral e cívica deve ser base do ensino brasileiro.
Em entrevista concedida a revista Veja, Vélez Rodríguez usou como exemplo adolescentes que viajam. "O brasileiro viajando é um canibal. Rouba coisas dos hotéis, rouba assentos salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo. Esse é o tipo de coisa que tem de ser revertido na escola". 
O ministro complementou que na disciplina o aluno irá aprender o que é ser brasileiro e quais são os heróis nacionais. "O PT tentou matar todos eles", disse. "Carla Camurati [cineasta] colocou dom Joãozinho [dom João VI] como um reles comedor de frango, sem nenhuma serventia. Ele era um grande estadista, um grande herói".
Vélez Rodríguez disse ainda que doutrinas ideológicas devem ser reservadas apenas ao ensino superior. "O dever do professor universitário é ensinar aos alunos todos as posições ideológicas e colocar entre parênteses o seu ponto de vista, para não induzir o aluno a adotar o ponto de vista do mestre".
Na cerimônia de posse do novo presidente do Inep no dia 24 de janeiro, Vélez Rodríguez disse em discurso ser necessário espécie de "revisão" da história do Brasil e disse que o país tem intercalado alguns momentos de "volta ao esquema centralizador", como o da ditadura militar, que, para ele, foi “querido pela sociedade brasileira”.

Papelão, FSP

Posição moralmente sustentável no caso Lula teria sido a de autorizar a viagem desde o início

Foi um papelão o que a Justiça fez com Lula por ocasião do enterro de seu irmão Genival Inácio da Silvamorto na terça-feira (29/1). Na primeira e na segunda instâncias, o sistema negou ao ex-presidente a permissão para acompanhar a inumação. A poucos minutos do sepultamento, o STF autorizou-o a viajar a São Paulo para encontrar só a família numa unidade policial. O petista não gostou dos termos e desistiu.
Temos aqui vários problemas. 
O primeiro é da Lei de Execuções Penais. Ambiguamente redigida, ela não esclarece se a permissão é simples possibilidade ou direito líquido e certo. Mas isso não importa tanto. A posição moralmente sustentável aqui teria sido a de autorizar a viagem desde o primeiro pedido. Por razões antropológicas, a sociedade confere elevado valor aos rituais ligados à morte e não cabe à Justiça questionar isso quando a própria lei reconhece essa excepcionalidade do luto. 
O argumento da PF de que a ida de Lula ao cemitério criaria insuperáveis dificuldades logísticas e representaria risco não convence. Se a PF não é capaz de organizar uma operação de escolta envolvendo preso que não pode ser qualificado como perigoso, então é melhor entregar de vez a gestão do sistema penitenciário ao PCC.
Lula inegavelmente prevaricou no plano ético. As relações promíscuas que estabeleceu com empreiteiros, que o cercavam de agrados, são incompatíveis com o que se espera de um político probo. A Justiça viu nessas ligações não só deslizes éticos mas também crimes e o sentenciou após devido processo legal.
Pessoalmente, não creio que a sanção para delitos que não envolvam violência física, seja tráfico de drogas, seja corrupção, deva ser a cadeia, mas o fato é que o ex-presidente foi condenado e precisa cumprir a pena, ou a credibilidade da Justiça vai para o ralo. Outra coisa que compromete a confiança no sistema é as pessoas verem nele traços de parcialidade, ou, pior, de desumanidade.
 
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Futuro robótico, FSP



Um estudo sobre o futuro do emprego no Brasil estimou que, até 2026,54% dos postos de trabalho, ou 30 milhões de vagas formais, podem ser perdidos para softwares e robôs. A pesquisa, feita por um grupo da UnB (Universidade de Brasília), avaliou o risco a que estão submetidas 2.602 ocupações.
Embora a precisão desse tipo de trabalho sempre esteja comprometida pelas contingências do futuro, pode-se ter maior certeza quanto à tendência geral: a substituição, em larga escala, de mão de obra humana por automação.
Se no início da revolução tecnológica a ameaça existia apenas para pessoas que executavam trabalhos manuais e pouco qualificados, agora o espectro da obsolescência cerca também profissões prestigiadas e bem remuneradas. A engenharia química e até algumas especialidades médicas aparecem na lista das carreiras em perigo.
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Não é que corram risco de extinção —caso de taquígrafos e cobradores de ônibus—, mas devem perder parte das funções para programas de software que se valem do aprendizado de máquina. Eles já conseguem fazer certos diagnósticos de forma muito mais rápida e precisa que o médico, por exemplo.
No longo prazo, a superautomação não é necessariamente má notícia. Máquinas que produzem sozinhas não são em princípio uma ameaça, e sim o sonho da libertação do trabalho, que daria a cada um a oportunidade de dedicar-se apenas àquilo de que realmente gosta. 
O problema é a transição do mundo atual para um em que as necessidades materiais da humanidade já não dependeriam tanto do trabalho. Os desafios são enormes.
Como sustentar o exército de gente que vai perder o emprego? A renda mínima universal pode ser a solução, mas não há como ignorar os obstáculos no caminho. De onde os Estados sacariam recursos? Quais atividades seriam tributadas? Dá para um país fazer isso sozinho ou teria de haver coordenação global?
Garantir aos indivíduos uma fonte de renda é apenas parte da história. O trabalho hoje não só garante o salário do mês, mas, em muitos casos, também ajuda a formar a identidade individual. Como lidar com os aspectos psicológicos de uma realidade pós-emprego?
O historiador israelense Yuval Harari alerta em seus livros para o risco de uma distopia, na qual bilhões de terráqueos que perderam sua relevância econômica, suas identidades e seus valores se convertem numa massa de destituídos que se dedica a tarefas como consumir drogas cada vez mais poderosas.
Saberemos evitar esses cenários?