domingo, 19 de março de 2017

ECONOMIA MARCOS LISBOA 'Setor privado cavou essa crise', diz Marcos Lisboa, presidente do Insper, oESP


Foto: CLAYTON DE SOUZA/ESTADAO
Marcos Lisboa, presidente do Insper: 'A indústria automotiva tem proteção faz 70 anos, há algo errado nisso'
Avisando que se encontra num momento de perder amigos, o presidente do Insper, Marcos Lisboa, não poupou o setor privado de responsabilidade pela crise pela qual passa a economia brasileira. De acordo com ele, que falou para empresários ligados à Câmara de Comércio Francesa, é injusta a tentativa de se querer responsabilizar apenas o governo pela agenda econômica que levou o País à crise atual. "É injusto dizer que essa agenda é só do governo, o setor privado a apoiou", disse o economista.
De acordo com Lisboa, quando o governo reduziu a taxa de juros (a Selic chegou a 7,25% ao ano), o setor privado aplaudiu a decisão em praça pública. Ainda de acordo com ele, é uma profunda injustiça dizer também que o governo não deu incentivo à produção, ao investimento. "Deu as proteções que o setor pediu. O setor privado apoiou essa a agenda do governo", disse.
Ninguém, de acordo com Lisboa, que fez questão de salientar que não tem nenhum apreço pelo atual governo, dá R$ 450 bilhões de crédito a uma taxa de 4,5% ao ano pelo BNDES sem estimular o investimento. Para ele, o governo incentivou o setor de máquinas, caminhões e promoveu desonerações para a indústria. Só que, de acordo com ele, os investimentos não foram feitos.
Segundo Lisboa, o problema de Brasília é o Brasil que pede proteção e o governo sensível a uma agenda de proteção. "A indústria automotiva tem proteção faz 70 anos, há algo errado nisso", disse o presidente do Insper. Para ele, quando a Fiesp apoia a intervenção do governo no setor elétrico, é um equivoco. Lisboa arrancou risos da plateia ao dizer que não está podendo mais se aproximar da Avenida Paulista porque é também contra a cobrança de contribuições dos empresários para o Sistema "S".
Não se vê, de acordo com ele, nenhuma prestação de contas destes serviços, assim como também não há nenhuma fiscalização de resultados dos sindicatos patronais e de trabalhadores. "O setor privado cavou essa crise", fuzilou o economista.
Lisboa deu como um exemplo de distorção na economia brasileira a legislação que regulamenta o PIS/Cofins, que tem, nas palavras dele, cerca de 1.800 páginas pela imensas quantidade de exceções. "É impressionante essa quantidade de distorções que o Brasil vai concedendo. A sociedade tende a acreditar que todo mundo tem direito a tratamentos diferenciados. E essa agenda aumentou depois de 2008", criticou o presidente do Insper.
E, de acordo com Lisboa, essa agenda foi um retrocesso da economia e a sociedade brasileira que tem participação nisso quer agora dar proteção para a indústria siderúrgica. "Toda política de proteção vai gerar custos para alguém na sociedade. Lisboa, que preside uma instituição de ensino, criticou também a política educacional brasileira, que caminha na contramão de muitos outros países. Para o economista, enquanto outros países privilegiam o ensino fundamental, o Brasil privilegia a universidade.

Num momento de crise, questionou Lisboa, para que manter a gratuidade da Universidade de São Paulo (USP) para meia dúzia de ricos?

NASSIF: CARNE FRACA PROVA QUE O BRASIL EMBURRECEU



Por Luis Nassif, no jornal GGN
A Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, traz uma comprovação básica: o nível de emburrecimento nacional é invencível. O senso comum definitivamente se impôs nas discussões públicas. E não se trata apenas da atoarda que vem do Twitter e das redes sociais. O assustador é que órgãos centrais da República – como o Ministério Público, a Polícia Federal, o Judiciário – tornaram-se reféns do primarismo analítico.
Como é possível que concursos disputadíssimos tenham resultado em corporações tão obtusamente desinformadas, a ponto de não ter a menor sensibilidade para o chamado interesse nacional. Não estou julgando individualmente delegados ou procuradores. Conheço alguns de alto nível. Me refiro ao comportamento dessas forças enquanto corporação.
Tome-se o caso da Operação Carne Fraca.
A denúncia chegou há dois anos na ABIN (Agência Brasileira de Inteligência). O delator informou que a Secretaria de Vigilância Sanitária no Paraná tinha sido loteada para o PMDB. Levantaram-se provas de ilícitos em alguns frigoríficos.
Por outro lado, há uma guerra fitossanitária em nível global, em torno das exportações de alimentos. Se os delegados da Carne Seca não fossem tão obtusos, avaliariam as consequências desse bate-bumbo e tratariam de atuar reservadamente, desmantelando a quadrilha, prendendo os culpados.
Mas, não. O bate-bumbo criou uma enorme vulnerabilidade para toda a carne exportada pelo país. Os anos de esforços gerais para livrar o país da aftosa, conquistar novos mercados, abrir espaço para as exportações ficaram comprometidos pelo exibicionismo irresponsável desse pessoal.
Ou seja, havia duas formas de se atingir os mesmos resultados:
1.     Uma investigação rápida, discreta e sigilosa.
2.     O bate-bumbo de criar a maior operação da história, afim de satisfazer os jogos de poder interno da PF.
As duas levariam ao mesmo resultado e a primeira impediria o país de ter prejuízos gigantescos, que pudessem afetar a vida de milhares de fornecedores, o emprego de milhares de trabalhadores, a receita fiscal dos impostos que deixarão de ser pagos pela redução das vendas – e que garantem o salário do Brasil improdutivo, de procuradores e delegados.
Qual das duas estratégias seria mais benéfica para o país? A primeira, evidentemente.
No entanto, o pensamento monofásico que acomete o país, não apenas entre palpiteiros de rede social, mas entre delegados de polícia, procuradores da República, jornalistas imbecilizados é resumido na frase-padrão de Twitter: se você está criticando a Carne Fraca, então você é a favor de vender carne podre.
Podre se tornou a inteligência nacional quando perdeu o controle de duas corporações de Estado – MPF e PF – permitindo que fossem subjugadas pelo senso comum mais comezinho. E criou uma geração pusilânime de donos de veículos de mídia, incapazes de trazer um mínimo de racionalidade a essa barafunda, permitindo o desmonte do país pela incapacidade de afrontar o senso comum de seus leitores.
Veja bem, não se está falando de capacidade analítica de entender os jogos internacionais de poder, a geopolítica, o interesse nacional, as sutilezas dos sistemas de apoio às empresas nacionais. A questão em jogo é muito mais simples: é saber discernir entre uma operação discreta e outra que afeta a imagem do Brasil no comércio mundial.
No entanto, essa imbecilidade, de que a destruição das empresas brasileiras contaminadas pela corrupção, permitirá que viceje uma economia mais saudável, é recorrente nesse reino dos imbecis. E se descobre que a estultice da massa é compartilhada até por altos funcionários públicos, regiamente remunerados, que se vangloriam de cursos e mais cursos aqui e no exterior. O sujeito diz asneiras desse naipe com ar de sábio, reflexivo. E é saudado por um zurrar unânime da mídia.
Discuti muito com uma antiga amiga, quando mostrava os impactos dessas ações nos chamados interesses nacionais e via mão externa, e ela rebatia com conhecimento de causa: não são conspiradores, são primários.
Imbecil é o país que se desarma completamente, Judiciário, mídia, organizações que se jactam de ter Escolas de Magistratura, de Ministério Público, de Polícia Federal e o escambau, permitindo mergulhar na mais completa ignorância institucional.

Maggi critica PF e diz que insinuar papelão misturado à carne é 'idiotice', OESP



Ministro da Agricultura afirma que ficou claro em áudio que se tratava de embalagem, e não que o material seria misturado, como indicou a polícia


Lorenna Rodrigues, Tânia Monteiro e Ligia Fomenti ,
O Estado de S.Paulo
19 Março 2017 | 19h49

Foto: Beto Barata/Presidência da República
Coletiva do Ministério da Agricultura
Blairo Maggi concedeu entrevista coletiva após reunião com Temer e embaixadores

BRASÍLIA - O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, criticou a “narrativa” da Operação Carne Fraca pela Polícia Federal. Maggi reclamou que o Ministério da Agricultura não foi consultado e disse que poderia ter esclarecido pontos que foram considerados irregulares pela PF, mas são práticas do setor. “Em função da narrativa é que se criou grande parte dos problemas que temos hoje”, afirmou. Após a entrevista, Maggi disse que não ficaria “batendo boca” com a PF via imprensa.
Ele citou um áudio sobre papelão e disse que ficou claro que se tratava de embalagem, e não que o material seria misturado à carne, como indicou a polícia. “É uma idiotice. As empresas gastaram milhões de dólares para conquistar mercados, e vão misturar papelão?”, questionou.
Maggi também citou outro áudio que mostra um dono de frigorífico adquirindo carne de cabeça de porco para usar em linguiça. “Carne de cabeça de porco pode ser utilizada em determinados percentuais, em determinados produtos. Está no regulamento”, completou.
Maggi disse que o governo respeita as investigações, mas que questionou a PF porquê o Ministério da Agricultura não estava presente nas investigações. “Por que não estavamos presentes para dizer que cabeça de porco pode ser utilizada ou que ácido ascórbico é vitamina C?”, afirmou. De acordo com o minsitro, a PF explicou que a Agricultura era parte da investigação, por isso não foi consultada, mas que a investigação agora terá o apoio técnico da pasta.
Maggi disse estar preocupado com a repercussão da operação em relação aos mercados importadores. “Uma atuação forte de países impedindo o recebimento de mercadorias significaria crise muito grande, por isso nosso apelo a embaixadores e os esclarecimentos de que estamos trabalhando muito fortemente para resolver esses assuntos”, acrescentou.
De acordo com o ministro e representantes do Itamaraty, não houve suspensão de importação por nenhum país e não houve referência a isso na conversa com os embaixadores. O presidente Temer também não abordou a questão na conversa com o presidente dos EUA, Donald Trump, ontem por telefone.
O Ministério da Agricultura se comprometeu a informar os nomes de empresas investigadas que exportaram nos últimos meses, quais os produtos e por onde as mercadorias circularam. “Os levantamentos iniciais que nós temos é que pouquíssimas empresas tiveram movimentação nos últimos 60 dias”, completou.
Maggi disse ainda que serão verificadas os motivos para trocas de fiscais em determinadas plantas, apontadas pela PF como indicativos de corrupção. Uma das acusações é que fiscais que começavam a “apertar” a fiscalização eram trocados de locais. De acordo com o ministro, há mais de um ano já não é possível trocar os fiscais sem cumprir uma série de regras.
Outro ponto que será verificado é saber se toda a cadeia ligadas aos frigoríficos suspeitos estão sendo alvo de fiscalização e se todos os procedimentos estão sendo cumpridos.
“Poderíamos tomar medida mais drásticas de interditar todas as plantas, mas efeito na cadeia seria muito grande”, afirmou.