segunda-feira, 9 de junho de 2014

Estrangeiros já são 2 mil em ocupações e engrossam atos às vésperas da Copa


DIEGO ZANCHETTA - O ESTADO DE S.PAULO
08 Junho 2014 | 02h 01

No prédio do antigo Cine Marrocos, na região central de São Paulo, 475 famílias pagam R$ 200 mensais ao Movimento dos Sem Teto do Sacomã (MSTS), criado em setembro de 2013 e responsável por sete ocupações. Dos sete andares, três estão reservados só para estrangeiros. Haitianos, o grupo mais numeroso, somam 52 famílias e ficam no segundo pavimento. Camaroneses e dominicanos estão logo acima, no terceiro. No quarto ficam peruanos, bolivianos e venezuelanos. Gays e travestis foram agrupados no quinto andar.
Às vésperas da Copa do Mundo, estrangeiros moradores de ocupações, incluindo imigrantes de Serra Leoa, por exemplo, que participaram de conflitos armados em seu país, estão escalados na linha de frente dos protestos de sem-teto marcados para acontecer na cidade a partir de terça-feira.
Atualmente, 17 movimentos de luta por moradia - entre eles Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Luta por Moradia Digna (LMD), Movimento Moradia Para Todos (MMPT) e Frente de Luta por Moradia (FLM) - pressionam vereadores a incluir no novo Plano Diretor proposta que reserva novos terrenos para a construção de conjuntos populares, até mesmo em áreas nobres e de preservação ambiental. Os atos prometem mais uma vez parar o centro, como vem acontecendo há três meses.
Para conseguir entrar em algum programa habitacional, como o Minha Casa Minha Vida, porém, o estrangeiro precisa ter pelo menos 5 anos de residência fixa e legal no Brasil, além de filho matriculado em escola, entre outras exigências. É essa esperança que move o haitiano Wadson Jean, de 34 anos. No País desde 2011, ele quer arrumar logo uma mulher e ter um filho. Jean mora no prédio do Cine Marrocos desde o fim do ano passado e já viveu em duas favelas. "Não perco um protesto", afirma o haitiano.
Os principais movimentos estimam que africanos e latinos representem hoje 10% dos moradores dos 50 prédios da região central que viraram ocupações desde outubro de 2012. Segundo a Prefeitura, são 20 mil moradores fixos nos edifícios - 2 mil são estrangeiros.
Africanos que perambularam nos últimos anos em favelas da zona leste encontraram refúgio nos prédios invadidos do centro, onde as mensalidades cobradas dos movimentos de sem-teto variam de R$ 30 a R$ 220, valores bem mais baixos do que o aluguel na periferia. O mesmo aconteceu com bolivianos e peruanos que moravam em cortiços e pensões na região central.
Os camaroneses também não param de chegar às ocupações. Sylvie Aristide Tchocgnia, de 30 anos, está no País desde 2012. Em seu apartamento de 30 metros quadrados no Cine Marrocos chama a atenção um longo sofá vermelho e dois tapetes aveludados verdes, com estampa de tigre. "Minha patroa que deu o sofá. Ela veio aqui. Nem acreditou na organização do prédio, na limpeza. Os tapetes eu trouxe de Garoua", relata a camaronesa, citando sua cidade natal.
Sylvie mora com a filha de 3 anos e trabalha na limpeza de uma galeria comercial da Rua São Bento. Antes, ela morou por 15 meses em uma favela no Jaçanã, na zona norte. "O pessoal nos bairros tem preconceito com a gente", diz.
Sonho. Os estrangeiros também ocupam andares inteiros no número 138 da Rua Marconi, no 10 da Avenida Rio Branco e no 908 da Avenida Ipiranga. Eles afirmam se sentir mais "confortáveis" com pessoas da mesma nacionalidade. Muitos dizem ter sofrido preconceito em outras áreas da cidade.
A divisão, segundo as lideranças, facilita a convivência das famílias e a divisão de tarefas. "São pessoas sofridas. Chegaram ao País sem condição de trabalhar ou alugar um imóvel. Eles se sentem mais amparados quando estão perto de parentes", afirma a líder Welita Caetano, de 29 anos.
Prestes a completar 5 anos de Brasil no dia 9 de setembro, o casal de peruanos Carmem Paredes, de 32 anos, e seu marido, Richard Torres, de 33, não deseja mais nada na vida além de uma casa própria. Eles moram com o filho, Luis Gustavo, de 4 anos, e nunca faltam em protestos do MSTS. "Quando não consigo ir, por causa do filho, meu marido vai. A gente não falta em nenhum. O próprio artigo 6.º da Constituição assegura moradia a todos os cidadãos do País, não diz que estrangeiro não pode", afirma Carmem, repetindo um mantra adotado pelos moradores de ocupações do centro.
O texto constitucional é repetido também pelos moradores de andares reservados a homossexuais e idosos. "Eu fiquei 15 dias acampado na frente da Prefeitura no ano passado, quando cortaram nossa luz. Eu vou para todo protesto. Todo mundo tem direito à moradia digna", diz Alessandro Feitosa, de 38 anos, que trabalha no Aeroporto de Cumbica e decorou seu quarto no Cine Marrocos com capas de gibis. Antes ele morava em um albergue na zona norte.

Inovação, competitividade, sobrevivência


JORGE J. OKUBARO* - O ESTADO DE S.PAULO
09 Junho 2014 | 04h 07

Os graves problemas enfrentados pela indústria de transformação nacional - que, além de perder fatias crescentes no mercado mundial, vê até mesmo seu espaço no mercado doméstico ser tomado por produtos importados - dão a dimensão da importância e da urgência de ações que lhe assegurem maior competitividade. Entre elas, inovação é a que mais tem sido mencionada no meio empresarial e nos gabinetes oficiais que tratam desse tema como prioridade. Daí a relevância do Fórum Estadão - Inovação, Infraestrutura e Produtividade, promovido na semana passada pelo Estado em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
As exposições feitas por representantes do governo, como o presidente da Finep, Glauco Arbix, e o secretário de Inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Nelson Akio Fujimoto, deixaram claro que tem crescido o volume de recursos oficiais para projetos privados de pesquisa e desenvolvimento, e que há procura por eles. É sinal de que as autoridades e pelo menos parte do empresariado estão preocupadas com a questão e interessadas em promover avanços nesse campo, essencial para dotar o setor produtivo de condições para competir com produtores estrangeiros, tanto no mercado interno como no externo.
A despeito dessa preocupação e desse interesse, os avanços têm sido pouco tangíveis, como demonstra a persistência da crise da indústria de transformação, cujo desempenho é mais sensível à competitividade do que o de outros setores. É claro que projetos inovadores - que resultem em transformações nos métodos de produção, nos produtos e nos sistemas de comercialização que criem ou expandam mercados - demandam tempo para produzir resultados. Mas o que o Fórum Estadão mostrou é que ganhos sensíveis de produtividade dependem de fatores que vão além de inovação e de dinheiro.
Os programas oficiais de apoio à pesquisa e desenvolvimento, por exemplo, precisam basear-se na definição clara dos setores que - por suas carências notórias, por sua capacidade de produzir respostas mais rápidas em termos de competitividade e crescimento ou por outros fatores - são prioritários, para neles concentrar o foco.
É preciso que haja profissionais qualificados para fazer avançar os projetos privados de pesquisa e desenvolvimento e torná-los eficazes para assegurar às empresas ganhos de produtividade e de competitividade. Há profissionais com esse perfil em alguns setores, mas outros carecem de pessoal adequadamente preparado. Em qualquer dos casos, o número deles é insuficiente. Trata-se de um problema que se estende a quase todo o setor produtivo, numa demonstração das deficiências e carências do sistema de ensino e da urgência de sua reformulação para atender às novas exigências do País.
Como o próprio título do Fórum Estadão sugere, há um vínculo entre inovação, produtividade e infraestrutura. Da inovação decorre, em geral, maior produtividade. Mas, para que os ganhos não sejam corroídos por outros fatores, como insuficiência ou alto custos de insumos e de meios para fazer os produtos alcançarem o mercado, é preciso que o País disponha de infraestrutura conveniente.
É preciso haver oferta confiável, e a preço competitivo, de energia, por exemplo. É preciso que o sistema de transporte seja eficiente. Problemas e custos inesperados do programa de energia do governo, o mau estado da malha rodoviária, a insuficiência de ferrovias e o atraso no programa de modernização dos portos mostram quanto ainda precisa ser feito nesse campo.
A comparação dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento nos países industrializados e no Brasil mostram quanto ainda precisamos investir para alcançá-los. A tarefa é basicamente da iniciativa privada - decerto com o apoio do governo -, mas qual será sua disposição de cumpri-la?
Investimentos em novos produtos ou processos nem sempre resultam em ganhos, mesmo que de médio ou de longo prazos. O risco de perda, não desprezível, reduz o interesse do investidor por esse tipo de aplicação. No Brasil, além disso, o empresariado industrial, em boa parte, acostumou-se a viver sob a proteção do Estado, que durante muito tempo lhe assegurou exclusividade no mercado doméstico. Sem necessidade de competir com produtores em geral mais eficientes, essa parcela do empresariado raramente se preocupou com questões como eficiência, produtividade, competitividade. A gravidade da crise da indústria tende a trazê-la à realidade.
Lamentavelmente, porém, o momento parece impróprio. O baixo crescimento econômico dos últimos anos e as previsões de que o ritmo de atividade se manterá baixo no futuro próximo desestimulam investimentos. Da mesma forma, a persistência da inflação em nível muito alto, nas proximidades do limite de tolerância da política de metas do Banco Central e às vezes o rompendo, alimenta o desânimo do empresariado constatado em diversas pesquisas das entidades representativas da indústria.
A proximidade das eleições, de sua parte, faz crescer as dúvidas sobre como será a condução da economia a partir de 1.º de janeiro de 2015, o que igualmente retarda a disposição de investir, sobretudo em projetos de risco como são os de inovação, pesquisa e desenvolvimento.
Se persistir a letargia do meio empresarial, no entanto, os problemas da indústria de transformação poderão se agravar, tornando-se ainda mais difíceis de solucionar. Nesse quadro, quem demonstrar mais disposição para melhorar desde já seu parque e seu sistema produtivo, ainda que a custo de algum risco, poderá obter resultados mais palpáveis que os demais quando, enfim, o quadro se tornar mais claro.
Ganhar eficiência tornou-se, para muitas empresas, questão de sobrevivência.
*Jorge J. Okubaro é jornalista, autor de 'O Súdito (Banzai, massateru!)'. Ed. Terceiro Nome.

Conpresp vai decidir se autoriza empreendimento em terreno do Parque Augusta


COM BRUNO RIBEIRO A pedido do prefeito Fernando Haddad (PT), o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico (Conpresp) vai decidir nas próximas semanas se autoriza o empreendimento que prevê três torres de 42 metros e uma área verde aberta à população no terreno onde moradores da região de Cerqueira César e coletivos do centro defendem a [...]

COM BRUNO RIBEIRO
A pedido do prefeito Fernando Haddad (PT), o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico (Conpresp) vai decidir nas próximas semanas se autoriza o empreendimento que prevê três torres de 42 metros e uma área verde aberta à população no terreno onde moradores da região de Cerqueira César e coletivos do centro defendem a criação do Parque Augusta.
O novo projeto da construtora Setin, em análise na Prefeitura, prevê três torres e um parque privado em 60% do terreno de 25 mil metros quadrados, localizado ao lado da Praça Roosevelt, na região conhecida como ’Baixo Augusta’, no centro. Nos 40% restantes do terreno a construtora manteria um parque aberto à população.
Para conseguir construir o empreendimento, a Setin quer que o Conpresp derrube uma resolução do conselho, de 2005, que proibiu torres de 42 metros de altura no local. Em contrapartida a construtora se compromete a construir um parque aberto com wi-fi, playground e espaços para bicicletário.
Apesar de o prefeito Fernando Haddad (PT) ter declarado o terreno de utilidade pública no final do ano passado, o que foi comemorado pelas associações de moradores da região e pelo coletivo Matilha Cultural, a Secretaria Municipal do Verde informou logo em seguida que o governo municipal não tem os R$ 120 milhões necessários para desapropriar o terreno. A Setin também argumenta ter, por lei, o direito de tramitar um novo projeto dentro do governo. O projeto anterior não previa parque aberto à população.
Em meio à polêmica, Haddad quer que o Conpresp se manifeste sobre o projeto e diga se o empreendimento pode ser executado ou não. O Conpresp informou que, como existe um projeto novo, o conselho terá de se manifestar. Segundo conselheiros ouvidos pela reportagem, a votação do novo projeto deve ocorrer antes do final do primeiro semestre.
QUEM SÃO OS 9 CONSELHEIROS QUE VÃO DECIDIR SE AUTORIZAM AS TRÊS TORRES NA ÁREA DO PARQUE AUGUSTA:
Câmara Municipal de São Paulo: Adilson Amadeu (PTB)
Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) – Marcelo Rossi de Camargo Lima
DPH – Nadia Somekh