sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O que esperar quando se espera, por Vinicius Torres Freire

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A economia brasileira parece por enquanto um barco pequeno com o leme quebrado, com perdão pela metáfora clichê. Está meio à deriva, a depender do vento que vai soprar. Nem há muito que fazer, nem disposição para fazê-lo por parte do governo. Até 2015.
A política econômica americana e a política eleitoral brasileira são os ventos. O leme emperrou devido aos excessos dos últimos anos no Brasil (consumo, crédito), pela falta de manutenção (mudanças institucionais, "reformas") e porque, enfim, ficou carcomido: os instrumentos de política econômica (gastos, juros) estão meio prejudicados.
Na ausência de catástrofes ou de uma inesperada disposição do governo de arriscar sua sorte na eleição (consertando o barco), é difícil enxergar novidade importante até 2014. Ficamos a discutir quantos anjos cabem na cabeça de um alfinete (décimos de taxas de juros, ou disso ou daquilo), o que provoca o torpor único do enfado.
Dos movimentos dos juros nos EUA depende o grosso do movimento do preço do dólar e parte relevante das nossas taxas de juros. Mais ou menos rápida, mais ou menos tumultuada, a depreciação do real e os juros em alta vão nos tomar alguns décimos de crescimento já miúdo, e nada podemos fazer a respeito.
Verdade que bancões americanos e europeus começam a dizer que "o pior já passou". Isto é, que as taxas de juros de longo prazo nos EUA vão continuar a subir, mas sem os saltos e coices de junho e agosto.
Há controvérsia grande a respeito do assunto, porém. Além do mais, o Brasil ainda é colocado no grupo dos países mais sujeitos a coice. A mudança da política monetária americana chamou a atenção para alguns de nossos problemas que estavam meio esquecidos, como o deficit externo.
Quanto à política econômica brasileira, o governo aparentemente desistiu, lá por maio, do caminho que tomara desde o final de 2011, mas não tomou rumo novo na vida.
Em parte, a quase paralisia se deve à prudência, pois o mundo está turbulento. Em parte, se deve à campanha eleitoral próxima. Em parte, se deve à falta de instrumentos para agir: estão quase esgotadas as mágicas de crédito, gasto e desoneração tributária. Não é possível reprimir a alta de juros.
Tão cedo não haverá reviravolta no crescimento dos países grandes a ponto de fazer diferença para nós até 2014, por aí. A China não levou o tombo previsto em algumas casas de apostas, mas vai crescer mesmo menos e de um modo que não demanda muito mais da nossa produção, dizem os entendidos. A melhoria americana, francamente, é muito modesta (os EUA crescem em torno de 1,7% neste ano) e, por ora, não tem refrescado o nosso comércio externo, dizem as estatísticas.
A desvalorização do real em tese tende a estimular nossas exportações, mas tais mudanças não acontecem de pronto e, enfim, o mercado mundial não é lá comprador.
Parece óbvio que não virão novidades do setor privado. As privatizações de estradas, ferrovias, aeroportos podem ser uma espécie de canja para uma economia resfriada. Melhor que sejam um sucesso, mas não vão fazer diferença tão cedo.
Por ora, fica a impressão entre tediosa e desesperançada de que nos resta só esperar o Fed do mês, o Natal, o Carnaval, a Copa e a eleição.

Vinicius Torres Freire está na Folha desde 1991. Foi Secretário de Redação, editor de 'Dinheiro', 'Opinião', 'Ciência', 'Educação' e correspondente em Paris. Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve às terças, quintas e domingos, no caderno 'Mercado'.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A última e a próxima taxa do PIB


O Estado de S. Paulo - São Paulo/SP - OPINIÃO - 05/09/2013 - 02:05:00

Roberto Macedo * - O Estado de S.Paulo
O produto interno bruto (PIB) brasileiro é também avaliado trimestralmente. Sua última variação, do trimestre passado, mostrou aumento de 1,5% relativamente ao primeiro trimestre do ano. Para ter uma ideia da bondade dessa notícia, se a mesma taxa se repetisse por mais três trimestres, levaria a um crescimento de 6,14% em 12 meses, hoje considerado impossível por 100% dos economistas brasileiros e estrangeiros de olho neste país.
O resultado surpreendeu até o ministro Guido Mantega, que previa crescimento perto de 1% no trimestre. Dada a taxa 50% maior, ele se empolgou e disse: "O pior já passou. O fundo do posso foi superado (...)".
Infelizmente, o pior ainda não passou. Fundo de poço? Discordo, pois a economia não afundou em lugar algum. A taxa do PIB deste ano deve continuar positiva, ainda que medíocre, pois previsões mais recentes a calculam entre 2% e 2,5%. Nossa economia lembra mais um avião sem potência para voar mais alto e sujeito a turbulências ao passar pelas muitas nuvens ainda presentes no cenário econômico interno e no externo.
Antes de prosseguir, devo dizer que sou da turma do quanto melhor, melhor. Quem me lê ou ouve sabe que muitas vezes critico o governo federal e sua política econômica. Mas já me entusiasmei com ela, como no período em que buscou reduzir a taxa básica de juros e estes em geral. Mas, infelizmente, ele não sustentou essa política, expansiva da demanda, com política fiscal na direção contrária. Resultado: mais inflação e retorno a sucessivos aumentos da taxa básica de juros.
Também me entusiasmei quando a presidente anunciou, em agosto de 2012, um grande programa de expansão de rodovias e ferrovias via concessões ao setor privado, mesmo que turbinado por participações e financiamentos estatais. Contudo esse anúncio fez seu primeiro aniversário com lamentações pelo estado de saúde do programa, que ainda não deslanchou.
A próxima taxa do PIB, a deste trimestre, deverá vir perto do final de novembro, mas vários dados dos seus dois meses já passados, juntamente com outras percepções de grande número de analistas, indicam a perspectiva de turbulência nesse período.
Merece destaque a situação da indústria. Seu produto havia crescido 2% no segundo trimestre e contribuído fortemente para a referida taxa de 1,5% do PIB como um todo. Mas, conforme o IBGE revelou anteontem, a produção industrial caiu 2% em julho. Olhando taxas mensais do desempenho do setor, vi que oscilaram entre negativas e positivas perto de 2%. Neste ano foram positivas em janeiro, março, abril e junho; negativas em fevereiro, maio e julho. Soube ainda de sinais de acumulação indesejável de estoques na indústria, que pode ser prenúncio de menor ritmo de produção.
A agropecuária, que também atuou para a "salvação da lavoura" do PIB no segundo trimestre, com sua produção então subindo 3,9%, agora, neste terceiro, ingressou em período de entressafra agrícola. A agropecuária tem pequena participação no PIB, perto de apenas 5%. Mas o agronegócio, no total, tem cerca de 22%, com o que o impacto da agropecuária se expande, como na indústria. Por exemplo, a produção de tratores de rodas aumentou 18,3% e a de colheitadeiras, 19,4%, nos primeiros seis meses do ano relativamente a igual período de 2012, segundo a associação que reúne seus fabricantes, a Anfavea. Esse ímpeto deverá diminuir, pois a safra vindoura deverá ter crescimento menor que a de 2013, que foi recorde e comparada à de 2012, ano em que foi ruim.
Quanto à taxa de câmbio, teve sensível aumento e levará a um efeito inflacionário que o Banco Central provavelmente enfrentará com mais aumentos da taxa básica de juros. Ele restou como único guardião do poder aquisitivo da moeda, já que a área fiscal do governo atua na contramão. Além do aumento, a taxa cambial mostra-se volátil.
Se o leitor fosse um empresário ou consumidor afetado negativamente pela taxa de câmbio e pela de juros, como reagiria diante dessas circunstâncias? Por essa razão, além de outras, índices de confiança de consumidores e empresários mostraram queda nos últimos meses, com danos à disposição de investir e consumir.
Passando ao mercado de trabalho, há meses o formal mostra menor dinamismo na geração de empregos. E há o índice de desemprego do IBGE, que abrange também o informal das seis maiores regiões metropolitanas. Ora, taxas mensais desse índice para o conjunto dessas regiões ultrapassaram seus valores no ano anterior em junho e julho passados. Essa ultrapassagem não era observada desde 2009, quando a crise econômica mundial que eclodiu em 2008 mostrou seus efeitos mais fortes. Felizmente, as taxas de desemprego são hoje menores, mas a perspectiva não é mais de queda.
O que fazer? Há economistas que só se preocupam com a estabilização da economia diante de turbulências fiscais, inflacionárias e cambiais. Os que se preocupam também em fazê-la crescer, para aumentar a potência do avião a que me referi e fazê-lo voar mais alto, propõem que tudo seja feito para aumentar a taxa de investimentos da economia. Particularmente quando os estímulos que vêm de fora e da expansão do crédito interno são muito menores do que em meados da década passada.
Mas temos um governo federal que arrecada demais, investe pouquíssimo e está mais centrado em medidas populistas de cunho eleitoreiro. Assim, fica sem recursos e cabeça para mais investimentos públicos em infraestrutura física e social, esta como no transporte urbano de passageiros. Muito dos investimentos que faz não andam, e não consegue deslanchá-los mesmo convocando o setor privado para concessões e parcerias público-privadas. Enquanto não reverter esse caminho, o avião da economia continuará voando baixo e sujeito a turbulências como as que neste trimestre já se delineiam no radar.
*Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard), professor associado à FAAP e consultor econômico de ensino superior.

Brasil cai para 56º lugar em ranking de competitividade

Gustavo Porto - Agencia Estado
SÃO PAULO - A falta de infraestrutura básica, o pessimismo do empresariado e a deterioração macroeconômica estão entre os fatores que levaram o Brasil a cair, de 2012 para 2013, da 48ª para a 56ª posição dos 148 países analisados no Relatório Global de Competitividade, editado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF).
O documento, feito em parceria no Brasil com a Fundação Dom Cabral (FDC) e o Movimento Brasil Competitivo (MBC), foi divulgado nesta terça-feira, 3, e, com o resultado, o Brasil volta à posição de 2009.
O coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral e responsável pela análise dos dados brasileiros do ranking, Carlos Arruda, destaca dois pontos para a queda do Brasil na lista.
"O primeiro, é absoluto, como o pessimismo demonstrado pelos empresários. O segundo é relativo, como a melhora no quadro inflacionário entre 2012 e 2013, mas que foi menor que a de outros países", disse. "Ou seja, mesmo onde avançou marginalmente, o Brasil perdeu porque outros melhoraram", completou Arruda.
Criado na década de 1980, o relatório combina dados estatísticos nacionais e internacionais com os resultados de uma pesquisa de opinião com executivos. No Brasil, foram 2 mil entrevistados. O estudo avalia as condições oferecidas por um país para que as empresas nele operantes tenham sucesso no contexto nacional e internacional, promovam o crescimento sustentável e a melhoria nas condições de vida de sua população.
É o segundo resultado negativo em rankings de competitividade para o Brasil neste ano. Em outro levantamento, divulgado em maio pelo International Institute for Management Development (IMD), também em parceria com a Fundação Dom Cabral, o País ficou em 51º lugar entre 60 países avaliados.
A Suíça liderou a lista das economias mais competitivas pelo quinto ano seguido no ranking do WEF e, em 2013, foi seguida por Cingapura e Finlândia, assim como no levantamento anterior. Alemanha e Estados Unidos completam os cinco primeiros postos.
Dos cinco países dos Brics, a China (29ª) segue líder, seguida pela África do Sul (53ª), Brasil (56ª), Índia (60ª) e Rússia (64ª). Nos Brics, somente a Rússia melhorou a posição no ranking, subindo três colocações. O Brasil teve a queda mais brusca, África do Sul e Índia caíram uma posição e a China manteve a colocação de 2012.
Na América Latina, o Brasil ficou atrás, do Chile - que, na 34ª posição, lidera o ranking regional -, do Panamá (40ª), Costa Rica (54ª) e México (55ª). A Argentina foi o país do Hemisfério Sul que teve a maior queda, de dez posições, para 104ª. A Venezuela caiu para a posição 134. Segundo o relatório, os dois países apresentam um quadro crítico em seus fatores institucionais e macroeconômicos.
Setorialmente, o Brasil apresentou resultados decepcionantes em 11 dos 12 pilares para o desenvolvimento avaliados, principalmente no item "Eficiência do Mercado de Bens", onde recuou 19 posições, para a 123ª. Esse item avalia, por exemplo, questões regulatórias, como o impacto alfandegário nas exportação de bens e tarifas no comércio internacional. "Nas questões regulatórias, que é avaliação dos empresários, o Brasil ficou em 139º lugar em 148 países; nas tarifas internacionais, um dado estatístico, está em 126º lugar", explicou Arruda.
O melhor desempenho do Brasil nos itens avaliados e o único onde o País não perdeu posições do ano passado para cá é o "Tamanho do Mercado", ficando em nono lugar. No entanto, segundo Arruda, o dado positivo é ofuscado pelos outros indicadores. "Em todos os dados de infraestrutura básica, como estradas e portos, o País está entre os piores do mundo."