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A economia brasileira parece por enquanto um barco pequeno com o leme quebrado, com perdão pela metáfora clichê. Está meio à deriva, a depender do vento que vai soprar. Nem há muito que fazer, nem disposição para fazê-lo por parte do governo. Até 2015.
A política econômica americana e a política eleitoral brasileira são os ventos. O leme emperrou devido aos excessos dos últimos anos no Brasil (consumo, crédito), pela falta de manutenção (mudanças institucionais, "reformas") e porque, enfim, ficou carcomido: os instrumentos de política econômica (gastos, juros) estão meio prejudicados.
Na ausência de catástrofes ou de uma inesperada disposição do governo de arriscar sua sorte na eleição (consertando o barco), é difícil enxergar novidade importante até 2014. Ficamos a discutir quantos anjos cabem na cabeça de um alfinete (décimos de taxas de juros, ou disso ou daquilo), o que provoca o torpor único do enfado.
Dos movimentos dos juros nos EUA depende o grosso do movimento do preço do dólar e parte relevante das nossas taxas de juros. Mais ou menos rápida, mais ou menos tumultuada, a depreciação do real e os juros em alta vão nos tomar alguns décimos de crescimento já miúdo, e nada podemos fazer a respeito.
Verdade que bancões americanos e europeus começam a dizer que "o pior já passou". Isto é, que as taxas de juros de longo prazo nos EUA vão continuar a subir, mas sem os saltos e coices de junho e agosto.
Há controvérsia grande a respeito do assunto, porém. Além do mais, o Brasil ainda é colocado no grupo dos países mais sujeitos a coice. A mudança da política monetária americana chamou a atenção para alguns de nossos problemas que estavam meio esquecidos, como o deficit externo.
Quanto à política econômica brasileira, o governo aparentemente desistiu, lá por maio, do caminho que tomara desde o final de 2011, mas não tomou rumo novo na vida.
Em parte, a quase paralisia se deve à prudência, pois o mundo está turbulento. Em parte, se deve à campanha eleitoral próxima. Em parte, se deve à falta de instrumentos para agir: estão quase esgotadas as mágicas de crédito, gasto e desoneração tributária. Não é possível reprimir a alta de juros.
Tão cedo não haverá reviravolta no crescimento dos países grandes a ponto de fazer diferença para nós até 2014, por aí. A China não levou o tombo previsto em algumas casas de apostas, mas vai crescer mesmo menos e de um modo que não demanda muito mais da nossa produção, dizem os entendidos. A melhoria americana, francamente, é muito modesta (os EUA crescem em torno de 1,7% neste ano) e, por ora, não tem refrescado o nosso comércio externo, dizem as estatísticas.
A desvalorização do real em tese tende a estimular nossas exportações, mas tais mudanças não acontecem de pronto e, enfim, o mercado mundial não é lá comprador.
Parece óbvio que não virão novidades do setor privado. As privatizações de estradas, ferrovias, aeroportos podem ser uma espécie de canja para uma economia resfriada. Melhor que sejam um sucesso, mas não vão fazer diferença tão cedo.
Por ora, fica a impressão entre tediosa e desesperançada de que nos resta só esperar o Fed do mês, o Natal, o Carnaval, a Copa e a eleição.
Vinicius Torres Freire está na Folha desde 1991. Foi Secretário de Redação, editor de 'Dinheiro', 'Opinião', 'Ciência', 'Educação' e correspondente em Paris. Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve às terças, quintas e domingos, no caderno 'Mercado'.
Vinicius Torres Freire está na Folha desde 1991. Foi Secretário de Redação, editor de 'Dinheiro', 'Opinião', 'Ciência', 'Educação' e correspondente em Paris. Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve às terças, quintas e domingos, no caderno 'Mercado'.
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