terça-feira, 16 de abril de 2013

Esperando a verdade, por Vladimir Safatle



Desde o início, as suspeitas em relação à possibilidade de bom funcionamento da Comissão da Verdade eram muitas. Número reduzido de membros, tempo escasso, foco amplo: esses eram apenas alguns dos problemas levantados por vários críticos. Hoje, parece claro que as críticas não estavam erradas.
Com sete membros, mas funcionando realmente com cinco, a comissão sente a falta de mais participantes. Um ano depois de sua instalação, amplos setores da sociedade civil ainda esperam o acesso às informações que poderiam fornecer uma história mais honesta dos atentados contra a humanidade e do governo criminoso instaurado no Brasil durante 20 anos.
A comissão mostrou, por exemplo, como a presença de empresários em locais de tortura era uma constante. Mas queremos uma visão clara de como funcionava o aparato civil-militar na ditadura. Quais foram as empresas que financiaram a Operação Bandeirantes, responsável por alguns dos crimes mais brutais da ditadura? Até onde foi a participação das empresas na formação do aparato repressivo?
Vimos também quão plausível é a possibilidade de presidentes como João Goulart e Juscelino Kubitschek terem sido assassinados pela Operação Condor. Seria a primeira vez na história do Brasil que descobriríamos governos que tramaram a morte de ex-presidentes. Mas qual foi a verdadeira participação do Brasil nessa internacional do terror? Como se deu a linha de comando?
Responder a tais questões tem razões muito claras. O Supremo Tribunal Federal tentou quebrar o trabalho da Justiça de transição no Brasil ao impedir que a Lei da Anistia deixasse de encobrir torturas, assassinatos, estupros e ocultação de cadáveres, perpetrados por agentes do Estado. O trabalho da Comissão da Verdade, no entanto, seria fundamental para os grupos de direitos humanos levarem o Brasil para as cortes internacionais, assim como para forçar o Estado brasileiro a fazer um verdadeiro dever de memória.
Nesse aspecto, é bom lembrar como a memória dos que lutaram contra a ditadura é cotidianamente insultada, enquanto o Estado permitir a existência de monumentos, logradouros, estradas e cidades que homenageiam ditadores e criminosos. É ainda pior quando livros de história para nossos alunos apresentam páginas a respeito da "revolução" de 1964.
A revelação constante de fatos pela Comissão da Verdade, em vez da proposta incompreensível de deixar tudo para um relatório final, seria importante por alimentar a mobilização e aumentar a pressão social contra a letargia do Estado brasileiro em respeitar sua própria história.
Vladimir Safatle
Vladimir Safatle é professor livre-docente do Departamento de filosofia da USP (Universidade de São Paulo). Escreve às terças na Página A2 da versão impressa.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Loucos de antigamente


José de Souza Martins - O Estado de S.Paulo
O prédio do Hospício de Alienados ainda está lá, no Parque Dom Pedro II, erguido em taipa socada, vazio e abandonado, à espera de que num dia destes um temporal o ponha abaixo. Entristece as noites paulistanas como fantasma de outros tempos, assombra nossa consciência e nossa desmemória. Mulheres e homens que ali penaram e ali morreram ainda sussurram em seus corredores e cômodos os lamentos de sua solidão e de seu abandono, prisioneiros que foram de sua própria mente. Considerados loucos, foram ali confinados até o fim de seus dias.
"De músico, poeta e louco, todos têm um pouco", diz o refrão popular. Mas, só há pouco mais de 150 anos é que aqui em São Paulo os loucos passaram a ser considerados propriamente loucos, isto é, doentes. Até então, louco era considerado criminoso e colocado na cadeia, junto com ladrões e assassinos. Antes disso, no século 18, loucura era crime contra a religião. Coisa de hereges, de dissidentes e pactários, gente que fizera pacto com o diabo e ficara endemoninhada. Um sapateiro e traficante de escravos, Antonio da Costa Senra, imigrado dos Açores, foi aqui preso em 1782 e enviado para a Inquisição, em Lisboa, para eventualmente ser queimado vivo, porque se considerava enganado por Deus, que o fizera pobre em vez de fazê-lo rico. Dizia coisas sem nexo contra a religião. Era suspeito de ter vendido a alma a satanás em troca de riqueza.
Só em 1851 ganhou corpo a consciência de que loucura é doença e de que os loucos precisavam ser separados dos condenados. Alugou para isso o governo um sobrado na Rua de São João, esquina da Rua Aurora, contratando um médico para tratar dos enfermos. Prédio acanhado e impróprio, foram os loucos transferidos, em 1862, para o casarão ao pé da Rua da Tabatinguera, onde estivera antes o Seminário de Educandos, à beira do Rio Tamanduateí. Com adaptações, é o casarão que lá existe até hoje. Recebia pobres e ricos, escravos e livres, adultos e até crianças consideradas loucas! Muitos, trazidos do interior. Louco era o demente, isto é, o sem mente, e as consideradas pessoas de "miolo amolecido", diziam os diagnósticos da medicina de então, o "miolo mole", da linguagem popular de ainda hoje.
Ali morreu de meningite o poeta abolicionista Paulo Eiró, em 1871, que enlouquecera de amor por uma prima que se casara com outro. Mas ali morreu, em 1876, também louco, seu irmão, o padre Casimiro Antonio de Matos Sales, que fora coadjutor de Santo Amaro e político liberal. Morreram relativamente moços e foram sepultados no Cemitério da Consolação. Em versos de amor, Paulo Eiró dissera: "Pobre! Não chegará à primavera: aguarda sem gemidos, sem um grito, que uma réstia do sol da eterna esfera te arranque ao sonho aflito".
O Hospício foi transferido para uma fazenda no Juqueri, em 1903.

Mais três parques Eólicos são inaugurados na Bahia


 
Manu Dias/GovBA
Secom/GovBa
Três parques eólicos implantados pela empresa Brennand Energia na zona rural de Sento Sé, norte da Bahia, foram inaugurados nesta quinta-feira (11), pelo governador Jaques Wagner e o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra.
Já em funcionamento, a energia elétrica produzida pelo parque, no total de 90 MV, chega às residências, indústrias e demais consumidores através de uma linha de transmissão com 58 quilômetros de extensão, ligando as referidas unidades a uma subestação coletora e, de lá, até à subestação de Sobradinho, juntando-se, assim, ao Sistema Integrado Nacional, que é operado na região pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – Chesf.
O governador Jaques Wagner disse que, na região atingida pela seca, a implantação da tecnologia dos parques eólicos é uma oportunidade para geração de emprego e renda e faz do estado um destaque internacional. "A Bahia tem grande potencial para produzir energia a partir do vento. Com os parques eólicos existentes no estado e os projetos que estão em implantação, a Bahia vai se consolidar como maior produtora de energia eólica da América Latina." Ainda segundo Wagner, o potencial de ventos do estado equivale à produção da usina de Itaipu, maior hidrelétrica do país.
A energia gerada a partir dos ventos é vista pelo ministro Fernando Bezerra como uma forma de minimizar os efeitos da seca. "Quantos mais o vento é usado para produzir energia, menos quantidade de água será necessária para essa finalidade, deixando-a disponível para o consumo humano, animal e para a agricultura".
Outros parques
Já foram inaugurados parques eólicos também em Caetité, considerado o maior da América Latina, e em Brotas de Macaúbas, que pode produzir energia suficiente para iluminar uma cidade do porte de Vitória da Conquista.