quinta-feira, 4 de abril de 2013

Uma oportunidade histórica perdida?



18 de março de 2013 | 2h 04
José Goldemberg *
A História está cheia de exemplos de que uma escolha errada tem consequências funestas e uma escolha certa produz milagres. O grande desafio é fazer as escolhas certas - e o próprio conceito de "governar" significa escolher entre as opções disponíveis.

O governo brasileiro, em pleno regime militar, fez em 1975 uma escolha de grande sucesso, que foi lançar o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), o único combustível, existente até hoje, capaz de substituir a gasolina em grandes quantidades, com as características que todos desejam: ser economicamente competitivo e renovável, isto é, sem os problemas que caracterizam os combustíveis fósseis.

O programa sofreu muitos tropeços ao longo dos últimos 35 anos, mas sobreviveu. E chegou a substituir 50% da gasolina que seria consumida no País se ele não existisse.

As expectativas de expansão da produção de etanol da cana-de-açúcar no Brasil sempre foram bem fundadas. Ele poderia ser exportado para os Estados Unidos, onde o uso do milho para produzir etanol não tem as vantagens econômicas e ecológicas do nosso álcool de cana. Tampouco dispõem de tais vantagens os países da Europa, que usam beterraba e outros produtos e nos quais o etanol é mais caro. Não é de admirar, pois, que esses países tenham adotado medidas protecionistas que impediram a conquista do seu mercado interno pelo etanol brasileiro.

Sucede que as barreiras adotadas pelos Estados Unidos já caíram. E as europeias vão acabar caindo também, porque simplesmente não há condições geográficas e climáticas para produzir grandes quantidades de etanol na Europa. O Brasil poderia, portanto, ocupar o espaço deixado pelos Estados Unidos.

Com a tecnologia existente atualmente, somente etanol produzido da cana-de-açúcar, em países tropicais, pode atender às necessidades de combustível renovável. Novas tecnologias, as de segunda geração, poderão mudar esse quadro. Isso, contudo, levará alguns anos. Até agora os trabalhos nessas áreas estão sendo testados em diversas plantas-piloto, que não se mostraram ainda economicamente viáveis e em alguns casos, até mesmo tecnologicamente inviáveis.

Além disso, a produtividade em litros de álcool produzidos por hectare da tecnologia em uso no Brasil tem aumentado sistematicamente em cerca de 3% ao ano desde 1980, o que é realmente extraordinário. Novos ganhos de produtividade são ainda possíveis. Não é preciso esperar pela segunda geração para competir.

Há, pois, uma janela de oportunidade para o etanol do Brasil e de outros países com clima adequado e terra abundante, o que significa, principalmente, a África abaixo do Saara e alguns países da América Latina. Apenas para dar um exemplo, a União Europeia acaba de sobretaxar a importação de etanol dos Estados Unidos - cerca de 600 milhões de litros por ano - para proteger sua indústria. Essa sobretaxa não se aplica ao Brasil, que poderia facilmente conquistar esse mercado.

Os países da Europa e os Estados Unidos acabarão por se render à evidência: produtos tropicais são produzidos nos trópicos, mas podem ser importados e comercializados pelas empresas europeias e norte-americanas. Isso é verdade desde os tempos da Roma imperial, 2 mil anos atrás, quando o trigo consumido na Itália, produto essencial para o Império, era produzido no Norte da África, que na época era bem mais fértil do que é hoje. Parte da riqueza do Império Britânico veio da produção de chá na Índia - que não era produzido na Inglaterra, mas era comercializado pelos ingleses.

Isso é o que deve acontecer com o etanol da cana-de-açúcar. Existem no mundo mais de cem países produtores de açúcar (usando cana), a maioria na África e na América Latina, e eles poderiam com relativa facilidade usar parte da produção de cana para produzir etanol. Aos poucos isso está ocorrendo na Colômbia, em Angola, Moçambique e vários outros países. Neles é que existe uma grande oportunidade de expansão e o governo brasileiro precisa acordar para ela.

Quando houver muitos produtores, o etanol se transformará numa commodity, como é o açúcar, e contratos de fornecimento a longo prazo - que são raros hoje - passarão a ser a norma. Para não perder a oportunidade histórica de liderar a adoção do etanol da cana-de-açúcar como substituto da gasolina no mundo o governo brasileiro precisa, contudo, remover com urgência os obstáculos que estão asfixiando a sua produção, no momento, como o congelamento do preço da gasolina desde 2007, o que viola as mais elementares regras de uma economia de mercado.

Que a Venezuela, que é um grande produtor de petróleo, o faça, em nome de beneficiar sua população mais pobre, é até compreensível. Mas importar gasolina a preços internacionais de hoje e vendê-la a preços de 2007 é irracional. E a Petrobrás está pagando caro por isso.

O Programa do Álcool no Brasil já enfrentou outros percalços no passado, como o de não ser capaz de abastecer os carros usando etanol puro - em motores especialmente construídos para tal no nosso país -, o que quase destruiu o programa quando o petróleo baixou de preço. O desenvolvimento de motores flexfuel, cuja introdução no mercado foi entusiasticamente apoiada pelo governo do Estado de São Paulo, em 1973, resolveu, todavia, esse problema.

As dificuldades que o setor enfrenta agora, entretanto, são de âmbito nacional e só o governo federal pode resolvê-las. Ao fazê-lo, ele estaria tomando uma decisão histórica: hoje mais energia renovável é produzida como o etanol do que com qualquer outra opção - eólica, fotovoltaica, geotérmica ou solar.

O programa brasileiro de etanol não representa o passado, mas o futuro.
* José Goldemberg é professor da Universidade de São Paulo.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Trem rápido custará 22,5% menos que viagem de ônibus e tarifa deverá ser de R$ 18


overno do Estado de São Paulo - Taboão da Serra/SP - INVESTE - 01/04/2013 - 15:05:00



Obras para a implantação do sistema terão início em 2016
O trem expresso que ligará Sorocaba a São Paulo terá tarifa em torno de 22,5% mais barata que a cobrada atualmente com o transporte de ônibus, além de fazer a viagem em 40 minutos, ante os cerca de uma hora e vinte minutos em dias normais e sem congestionamento. A tarifa para quem pretender se deslocar de Sorocaba à capital por meio do trem regional custará R$ 18. Atualmente, para realizar uma viagem até a cidade de São Paulo por meio de ônibus o valor cobrado pela principal concessionária que atua nessa linha é de R$ 22. As obras para a implantação do sistema deverão ter início daqui a três anos por meio de Parceria Público-Privada (PPP), mas o Governo do Estado informou que fará essa linha mesmo que tenha que ser com recursos públicos. Um total de 14 empresas estão interessadas e deverão apresentar até o dia 23 de julho estudos e modelagem para a implantação do sistema de trens intercidades. Para especialistas, a implantação dos trens regionais tornará o sistema de transporte público mais competitivo, com ganhos em qualidade e custo ao usuário.
O valor previsto para o custo inicial da tarifa do trem rápido no trecho que ligará Sorocaba a São Paulo, num trecho de 90 quilômetros de via, foi divulgado pela Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional. O custo será o mesmo estimado para o trecho entre São Paulo a São José dos Campos. Apesar de uma economia de R$ 4 ante a viagem de ônibus atualmente, o preço da tarifa no trecho de Sorocaba será um dos mais caros, segundo o cronograma dos trens regionais. De acordo com o relatório da pasta de Planejamento e Desenvolvimento Regional, o trecho que ligará cidades da região do Grande ABC e a capital custará R$ 4, enquanto que o trecho Jundiaí-Campinas-São Paulo será de R$ 15. Mesmo valor para o trecho de Santos.
Ainda de acordo com o cronograma previsto pela Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional, deverão ser realizadas 22 mil viagens por ano no trecho previsto entre Sorocaba e São Paulo, o equivalente a 60 viagens por dia. Cada trem terá capacidade de 300 a 900 passageiros, todos sentados, e atingirá a velocidade máxima de até 180 km/h em alguns trechos.
O secretário de Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional, Júlio Semeghini, ressaltou que o governo trabalha com a prioridade de realizar a obra com investimentos por meio da iniciativa privada pelo instrumento de PPP. Porém, não descartou a realização com investimentos públicos caso não haja dificuldades em realizar tal procedimento. "Se optar por realizar o projeto pela obra pública, sem investimentos privados, o Estado analisa e compara os cenários pretendendo reduzir e anular os riscos de atraso na oferta de serviço e equipamentos públicos", ponderou. Em relação ao fato de o trecho São Paulo-Jundiaí ser considerado prioritário pelo Estado, o titular da pasta informou que o Estado aportou recursos na realização de estudos e projetos e busca financiamentos através das PPPs para esse trecho por ser aquele com os estudos mais adiantados e por atender a uma região com alta demanda de passageiros.
As interessadasUm total de 14 empresas manifestaram interesse em desenvolver estudos e modelagem para a implantação do sistema de trens intercidades, conhecido como trem rápido de passageiros, que ligará Sorocaba a São Paulo e mais oito cidades. As empresas terão prazo até o dia 23 de julho deste ano para a apresentação do projeto, que será analisado pelo Conselho Gestor de Parcerias Público-Privadas do Estado. Em novembro do ano passado, o consórcio formado pelo banco de investimentos BTG-Pactual e a Estação da Luz Participações (EDLP) havia se antecipado ao edital e apresentado uma Manifestação de Interesse por Parte de Agente da Iniciativa Privada (MIP). Caso não houvesse interessadas, quem deveria assumir a elaboração de projeto e execução das obras seria esse consórcio, o que não aconteceu.
Além do consórcio formado pelo banco de investimentos BTG-Pactual e a Estação da Luz Participações (EDLP), manifestaram interesse as empresas Concremat Engenharia e Tecnologia S/A, Construcap-CCPS Engenharia e Comércio S/A, Construtora Andrade e Gutierrez S/A, Construtora Ferreira Guedes S/A, Contern Construções e Comércio Ltda., CR Almeida S/A Engenharia de Obras, Empresa Global de Projetos Ltda., KPMG Structured Finance S/A, Mitsui & CO (Brasil) S/A, Planos Engenharia S/S Ltda., Prointec, S/A, Samsung C&T do Brasil Construtora Ltda. e ainda a Socicam Administração, Projetos e Representações Ltda.
O objeto do estudo é a construção da infraestrutura, a implantação de equipamentos e sistemas, a compra de material rodante, operação e manutenção de uma rede integrada de aproximadamente 431 quilômetros de linhas de trens intercidades. Pelo edital, a rede integrada de linhas ferroviárias de passageiros deverá abranger as cidades de Santos, Mauá, São Caetano, Santo André, Jundiaí, Campinas, Americana São José dos Campos, Taubaté e Sorocaba, e se conectará a uma estação central na cidade de São Paulo. Seriam quatro trechos de operação: São Paulo, Jundiaí, Campinas; São Paulo, ABC, Santos; São Paulo, Sorocaba; São Paulo, São José dos Campos.
Entre os estudos a serem apresentados pela eventual empresa interessada está a identificação das intervenções previstas e das necessidades de complementação de infraestrutura, com respectivos impactos nos investimentos a cargo do governo do Estado e ainda por parte da empresa privada; cronograma de obras; levantamento das áreas de influência do traçado proposto, identificação dos imóveis a serem desapropriadas e suas respectivas valorizações; estudos de impacto ambiental; taxa de renovação e fator de expansão.
O economista Flávio Augusto de Souza é taxativo ao comentar sobre os valores estimados para a tarifa do trecho entre Sorocaba e São Paulo pelo trem regional: "Uma economia de R$ 4 por viagem é muito significativa. Além disso, há ainda a vantagem do menor tempo gasto com o trajeto. Também será fundamental para estimular a competitividade, resultando em melhora da qualidade e de preço."

Economia de água fica longe de residenciais


1 de abril de 2013 | 8h01
Redação
Mateus Coutinho
ESPECIAL PARA O ESTADO
Adotar hábitos sustentáveis é um apelo que vai se tornando cada vez mais presente no dia a dia. Em casa, na rua ou no trabalho não faltam recomendações a respeito de descartar o lixo em locais adequados e economizar energia, por exemplo.
A adoção de tecnologias para economizar água em condomínios residenciais, contudo, ainda parece atrair poucas construtoras e moradores de São Paulo. Em março, comemora-se o Dia Mundial da Água. Poucas medidas são abraçadas nos projetos de novos empreendimentos – elas são mais comuns em edifícios comerciais, como no Alvino Slaviero, em fase final de acabamento na Avenida Faria Lima, que vai reutilizar água da chuva.
Com o consumo residencial na capital tendo se estabilizado nos últimos seis anos em 13 m³ (ou 13 mil litros) por família/mês, as principais ações para economia de água nos condomínios ainda estão limitadas ao uso de hidrômetros individuais. Importante para reduzir o consumo, a medida poderia ser complementada com outras tecnologias para propiciar economia ainda maior.
“Em São Paulo, não é obrigatório o uso de hidrômetro individual, mas as incorporadoras e a própria Prefeitura buscam conscientizar os moradores”, afirma o diretor da vice-presidência de administração imobiliária e condomínios do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Juraci Baena Garcia.
Ele afirma que a tendência dos novos empreendimentos é adotar o sistema individualizado, que pode trazer economia de até 15% de água, mesmo nos condomínios em que o consumo é baixo. Para a arquiteta Renata Marques, que atua com projetos residenciais e comerciais, o uso de hidrômetro individual, contudo, ainda não é um grande atrativo na hora de comprar um apartamento. “Muitas vezes, os moradores só percebem a economia quando começam a utilizar (o apartamento com hidrômetro individual), principalmente os que vêm de edifícios mais antigos. E então começam a valorizar isso”, diz a arquiteta.
Como em outras escolhas, mexer no bolso ainda é um dos argumentos mais importantes para convencer as pessoas a fazer economia de água. Essa ideia motivou o empresário Leonardo Lopes. Há 19 anos, ele começou a pesquisar e a desenvolver produtos para economizar e criou o Projeto Cura – Consumo e Uso Racional de Água.
Desde então, ele oferece um conjunto de melhorias para os edifícios conseguirem reduzir o uso da água. Como pagamento, ele recebe, por um período estipulado em contrato, metade do dinheiro que o cliente deixou de gastar na conta de água.
Sua empresa já atendeu mais de mil edifícios, mas apenas um residencial, e a explicação para esse é simples: como a água para uso comercial em São Paulo custa R$ 25 o metro cúbico e a residencial, R$ 4, os moradores não têm a mesma preocupação que empresários e comerciantes. “As pessoas não têm consciência ecológica, porque acham que a água é fácil de se obter. Já fui a prédios residenciais tentar convencer o pessoal a fazer um projeto e muita gente responde que não está nem aí”, conta Lopes.
Garcia, no entanto, vê a preocupação com a economia de água como uma tendência que vem sendo incorporada, segundo ele, a projetos comerciais e residenciais de diferentes níveis. Ainda assim, ele reconhece que, para as empresas, o consumo de água tem um apelo maior.
“O cliente comercial está preocupado com os custos do seu empreendimento, por isso vigia mais o consumo de água. Nos residenciais, a vigilância é menor, não por falta de consciência mas pela maneira de lidar com as despesas mesmo”, afirma.
O fato é que torneiras econômicas, reguladores de vazão nos chuveiros e descargas com fluxo menor não são baratos. “Para fazer as adequações, pode ser necessário um custo maior, mas ao longo do tempo a própria tecnologia vai barateando e vale a pena por vários motivos”, argumenta o diretor do Secovi.
Mais do que dispor de tecnologias modernas, a atitude de cada um é essencial. As recomendações são conhecidas: limpar calçadas com vassouras e fechar a torneira ao escovar os dentes são algumas delas.
Também é importante saber identificar vazamentos e acompanhar as leituras dos hidrômetros, ações que podem ser facilmente aprendidas por condôminos e funcionários.
A Sabesp oferece curso para interessados em aprender a identificar vazamentos e outros problemas de encanamento em prédios. Informações podem ser obtidas pelo telefone 0800 011 9911. O Secovi comercializa o Manual do Uso Racional da Água, com dicas e recomendações para síndicos, funcionários e moradores. Informações pelo e-mail  biblioteca at secovi.com.br.
Edifício de escritórios conquista certificação
Seguindo a tendência mundial de adotar iniciativas sustentáveis nos edifícios, a cidade vai ganhar mais um prédio com certificação LEED, principal selo para certificar construções consideradas sustentáveis.
Localizado na Avenida Faria Lima, o Edifício Alvino Slaviero vai contar, entre outros itens, com um sistema de captação e tratamento de água da chuva na cobertura e nos jardins. Essa água poderá ser reutilizada em vasos sanitários, na lavagem do prédio e na decoração (chafariz).
Dessa maneira, a economia anual de água na torre comercial de 12 andares poderá chegar a 60% ao ano, se comparada com outros edifícios do mesmo porte, segundo informações da empresa Brasilincorp, incoporadora responsável pelo edifício.
O diretor-executivo da companhia, Murilo Cerdeira, afirma que a busca por esse tipo de construção vem aumentando desde 2008. “Temos percebido essa demanda das multinacionais, que vem das matrizes europeias e americanas, onde essa preocupação é mais antiga.” Ele diz que a incorporadora planeja iniciar neste ano um projeto de condomínio residencial no Panamby com tecnologias sustentáveis.
Condomínios. Hubert Gebara, diretor do Grupo Hubert, lembra que o Estado de São Paulo, onde está o maior contingente da população consumidora do País, tem apenas 1,3% do total da água doce do território brasileiro. São 30 mil condomínios apenas na Capital, 35 mil na Grande São Paulo e 50 mil no Estado. “Praticamente todos têm algum tipo de desperdício de água.”
Cerca de 40% da carteira de condomínios do Grupo Hubert, 12.960 imóveis, conseguiu reduzir em torno de 30% a conta mensal de água. A diminuição foi registrada com a instalação de hidrômetros de medição individualizada nessas unidades. Segundo a administradora, esse resultado ajuda a diminuir a taxa do condomínio, porque água é a segunda maior despesa ordinária do rateio, respondendo com até 15% do total da taxa.