segunda-feira, 16 de maio de 2011

Governo revisará lei de informática, diz Mercadante

Para ministro, lei atual é insuficiente perante os desafios do País, como, por exemplo, a falta de incentivos para o setor de software 

11 de maio de 2011 | 14h 11
Renata Veríssimo, da Agência Estado
BRASÍLIA - O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, informou que o governo fará uma revisão abrangente da lei de informática. Segundo ele, do ponto de vista do governo, a lei é insuficiente perante os desafios que o País tem nessa área. Ele disse que, por exemplo, não existem incentivos para o setor de software. "Esse é um setor que gera muito valor agregado, competitividade e exportação de serviços."
Segundo Mercadante, a lei de informática atualmente é muito mais um fator de isonomia entre o polo industrial de Manaus e o resto do País do que propriamente uma lei de fomento aos investimentos. "Nós queremos mais ousadia nesta área, porque há uma grande expectativa em relação ao Brasil. Já somos o terceiro mercado mundial de venda de computadores", destacou. Ele informou que no ano passado foram vendidos 13,5 milhões de computadores, quantidade que deve subir para 17 milhões de unidades em 2011.
Mercadante destacou, ainda, a realização da Copa do Mundo e da Olimpíada no Brasil, que podem alavancar esse mercado. Outro ponto destacado pelo ministro foi o início do programa de banda larga nas escolas, através do qual serão atendidos 69 milhões de alunos. O ministro disse que "a indústria toda está de olho nisso". Segundo ele, o governo pode direcionar as políticas de incentivo para quem produzir e investir no Brasil.

Fórum Nacional discutirá novos papéis de Brasil, China e Índia


Organizado pelo ex-ministro Reis Velloso, encontro inclui trabalho que prega ''ajuste fiscal inteligente'' para o País

15 de maio de 2011 | 0h 00
Fernando Dantas / RIO - O Estado de S.Paulo
O Brasil precisa fazer um "ajuste fiscal inteligente", que inclua medidas na área da Previdência e da assistência social, racionalização da política de pessoal, e recuperação da capacidade de planejamento de investimentos de infraestrutura, entre outras providências. Esse diagnóstico e conjunto de recomendações está no trabalho dos economistas Raul Velloso e Marcos Mendes, que será apresentado na quarta-feira no 23.º Fórum Nacional.
Organizado pelo ex-ministro do Planejamento João Paulo Reis Velloso desde 1988, o Fórum Nacional de 2011 será aberto na segunda-feira à tarde com a sessão A Competição do Século: China ou Índia? Ou China, Índia e Brasil?, que reunirá o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e Edmund Phelps, Prêmio Nobel de Economia.
Na abertura do fórum, na sede do BNDES, onde o encontro tradicionalmente é realizado, Reis Velloso fará uma apresentação sobre o tema em debate. Também participarão da mesa redonda nomes como Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho de Administração do Grupo Gerdau; e o ex-ministro do Desenvolvimento Luiz Fernando Furlan, copresidente do Conselho de Administração da Brasil Foods.
Na terça-feira de manhã, no debate Visões de Brasil Desenvolvido: as Instituições, estarão presentes os ministros Antônio Palocci, da Casa Civil, Aloizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia, e Moreira Franco, da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência. Outros participantes são Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e Glauco Arbix, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Um destaque do fórum de 2011 é apresentação na quinta-feira de Sonia Rocha, professora da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, de Paris, sobre "O ciclo virtuoso de melhorias do bem-estar social e o fim da extrema pobreza".
O Fórum Nacional de 2011 se encerrará na quinta-feira à tarde com a sessão O Sentido da Vida - A Busca da Felicidade, que tem como convidado especial o filósofo e escritor Gilberto de Mello Kujawski. Também participarão dessa sessão, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, e o senador Cristovam Buarque (PDT/DF).
O Fórum Nacional, associação de cerca de cem dos principais economistas, sociólogos e cientistas políticos do País, é organizado pelo Instituto de Altos Estudos (Inae). Reis Velloso é presidente do Fórum Nacional e superintendente-geral do Inae. 

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A América Latina e o exemplo da Índia

08 de maio de 2011 | 0h 00
Mac Margolis - O Estado de S.Paulo
Que tal uma casa nova por R$ 486? Parece piada. Nem uma porta decente sai por essa bagatela na maioria dos lugares. Só não conte isso a Vijay Govindarajan e Christian Sarkar. Ano passado, quando a dupla de professores da Escola Tuck, de administração, da Universidade de Dartmouth, lançou em seu blog o desafio de criar uma casa por US$300, a resposta foi impressionante.
Quem encarou o desafio, porém, não foram apenas ordens caridosas, mas dezenas de gabaritados profissionais nas áreas de design, arquitetura e engenharia. Que será que viam nesse concurso de valores tão pífios? A economia de amanhã, afirma Govindarajan.
Nos últimos anos, América Latina comemora a forte queda da pobreza. Graças ao aquecimento das economias e programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, milhões de pessoas estão ultrapassando a linha da pobreza. A classe média emergiu e, no seu cangote, seguem as classes de baixo. Melhor para a justiça social e para a economia.
Hoje, as empresas sabem que cidadania dá dinheiro. Há mais de uma década, o indiano C.K. Prahalad apontou para as oportunidades enterradas no fundo da pirâmide.
Os pobres que, se imaginava, possuíam apenas os seus sonhos de fato se revelaram consumidores importantes, engordando, vintém a vintém, os lucros das empresas. Dos sem teto aos sem telefone, tornou-se feroz a disputa por essa nova clientela das classes C, D e E - o "pré-sal" da economia, como diz o economista Marcelo Neri.
Como atender a base da pirâmide sem afundar a empresa? A resposta: inovação frugal. Termo cunhado por Carlos Ghosn, CEO da Renault, a inovação frugal é a arte de fazer mais com menos.
São serviços, máquinas, bens de consumo, até casas que são funcionais, atraentes e fáceis de construir e usar. Inventos resistentes, enfim, que saem a preços módicos.
Nesse quesito, a América Latina tem muito a aprender com a Índia. Com suas poderosas empresas de software e também a miséria abjeta, os indianos aprenderam a navegar entre extremos sociais. Os empreendedores nativos abraçam estratégias inusitadas para cortejar clientes que pouco interessavam à multinacionais ocidentais.
É que, anos atrás, pobres agricultores do Punjab inventaram uma máquina de irrigação móvel, montada sobre rodas, e a batizaram de "Jugaad". A metáfora pegou. Hoje ela significa a arte de improvisar soluções com recursos limitados, uma espécie de quebra-galho sistematizado.
Parece oximoro, mas há diversos exemplos. É o GE MAC 400, aparelho de eletroencefalograma portátil, desenvolvido pela General Electric da Índia, que realiza exames ao custo de US$ 1 por pessoa, já certificado em 113 países.
Há a Godrej Chottukool, uma minigeladeira que usa baterias. Outra é o Swach, um purificador de água que aproveita a energia da casca de arroz, em vez da eletricidade. A fabricante é o Grupo Tata, o mesmo do Nano, carro de US$2 mil, um upgrade do velho riquixá.
A adversidade é a mãe da inovação. Onde não tem banco, clientes recorrem a caixas eletrônicos móveis, dispositivos que cabem na palma da mão e permitem fazer transferências, depósitos e pagamentos - agência bancárias virtuais.
Puxados pela Índia, e agora China, os países emergentes viraram laboratórios de inovação. Das 500 maiores empresas da lista da Fortune, 98 já têm centros de pesquisa e desenvolvimento na China e 63 na Índia. O que levou a inovação aos países do "Sul" foi um forte caldo de cultura e circunstâncias: populações continentais, prioridade para educação (sobretudo tecnológica e científica) e abertura econômica (tardia, mas firme, no caso da Índia).
Na América Latina, a inovação tem seu charme, mas não tantos adeptos. "Apesar de algumas ilhas de excelência, a inovação não aflora na economia brasileira", concluiu, duramente, um estudo da Economist Intelligence Unit.
Parte do problema é o vício educacional, o país que privilegia advogados e médicos em detrimento de engenheiros e cientistas, com consequências para a economia. A Toyota, sozinha, registrou em 2009 mais patentes que todas as empresas do setor privado brasileiro naquele ano.
Clientes em potencial, a América Latina têm. No Brasil, onde 16 milhões moram na miséria, faltam 5,5 milhões de casas. Na Argentina, 2,5 milhões. O déficit habitacional colombiano cresce 140 mil casas por ano. Quem sabe os latinos podem imaginar uma casa de US$300? Quem ganhar o concurso de Dartmouth, que termina dia 31, leva US$ 25 mil - e a senha para a economia do futuro.
É COLUNISTA DO "ESTADO", CORRESPONDENTE DA "NEWSWEEK" NO BRASIL E EDITA O SITE WWW.BRAZILINFOCUS.COM