0/03/2009 - 11h03 Por Taís Carolina Seibt* |
Já dizia Jeffrey Immelt, Presidente da General Eletric (empresa fundada em 1879, por Thomas A. Edison), que “o verde da Ecologia traz o verde do Dinheiro. Estamos caminhando em um período em que a melhora ambiental levará à lucratividade”. A previsão torna-se realidade. Nada melhor do que atribuir à invenção energética - que completará 130 anos no dia 22 de Outubro de 2009 - uma das suas razões primordiais de descoberta e surgimento: a natureza. Apesar de a primeira lâmpada incandescente ter como atribuição o cientista Thomas A. Edison (1847-1931), sua idéia só foi possível graças ao político e pesquisador Benjamin Franklin (1706-1790) que, ao observar fenômenos elétricos ocasionados em noites de tempestades, percebeu que os raios eram descargas elétricas que vinham das nuvens, surgindo assim o primeiro pára-raios.
O surto da “febre verde” que teve início no final dos anos 80, ainda representa uma ameaça para uma grande maioria empresarial. Para outras se torna insignificante. No entanto, com as constantes ameaças geradas em torno do aquecimento e do escurecimento global, muitos empresários e industriais que se comprimem em conferências, seminários e congressos sobre leis ambientais, tecnologia da poluição, mercado de carbono, energias renováveis e auditorias ambientais, foram levados mais pela ansiedade sobre os custos de tomar uma decisão ambiental errada – um processo legal dispendioso, solicitações de projetos indeferidos, clientes furiosos – do que pelas oportunidades de acertá-las adequadamente e ainda lucrar com a prevenção.
A inclusão da problemática ambiental vem levando a um contínuo debate da questão em termos institucionais, em razão de que as medidas de proteção ecológicas não foram criadas para impedir o desenvolvimento econômico. A competitividade já não é mais encarada como apenas uma questão de preços, salários e taxas de câmbio. Essas referem-se a antiga visão econômica tradicional. No presente, a concorrência baseia-se no cenário da Terceira Revolução Industrial, onde o meio ambiente torna-se fator estrutural dentro do processo de globalização produtiva e financeira.
E se não foram criadas para barrar o crescimento da economia, torna-se necessário associar a relação ambiental ao desenvolvimento já que se tratam de posturas fundamentadas na compreensão de avaliações de custos/benefícios associadas a projetos de ordem financeira, onde a busca por formas integradas (sociais, ambientais e econômicas) levará a criação de conceitos que permitam a harmonização dessa dualidade.
A existência de iniciativas concretas de aplicação da sustentabilidade nos mostra que este conceito já começa a despontar como um dos principais norteadores das decisões de investimentos governamentais e privados. Uma resposta a esse fator imperativo foi o surgimento do ideal de desenvolvimento sustentável.
A expressão desenvolvimento sustentável tornou-se “palavra de ordem” após a publicação do Relatório de Brundtland, intitulado “Nosso futuro comum”, em Abril de 1987, pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas, estabelecendo que o atendimento às necessidades do presente não devem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem às suas. Do processo de amadurecimento do conceito de desenvolvimento sustentável iniciou-se a percepção de que existia a necessidade de uma perspectiva multidimensional, envolvendo economia, ecologia e política simultaneamente, já que somente o governo pode corrigir a injustiça ambiental. Pois é apenas o Estado que pode fixar quanto a sociedade deve valorizar o ambiente e em que medida este valor se insere em transações econômicas.
A política ambiental é inevitavelmente intervencionista. Sem a intervenção governamental, a Mãe Terra não pode ser integralmente protegida, já que se encontra ligada à distribuição social. Um dos aspectos ambientais que preocupam a população é o seu aspecto internacional. Cada vez mais, questões relacionadas ao meio ambiente substituirão as da defesa como prioridade das negociações internacionais. Em vez do deslocamento de exércitos e tropas, os diplomatas aprenderão a discutir a influência do dióxido de carbono no ar atmosférico, e a gravidade dos óxidos de nitrogênio na formação da chuva ácida. Os governos que desejarem ser verdes terão que convencer os cidadãos a aceitar os custos em benefícios dos eleitores de outros países.
Os custos das políticas verdes serão uma carga a mais aos setores empresariais e industriais, já que grande parcela das companhias apenas adotará a revolução eco-sustentável até o ponto em que os governantes ordenarem. No entanto, é preciso que o Estado realize suas funções de modo mais efetivo abrindo espaço para a lucratividade empreendedora, mas isso só ocorrerá se ambos compreenderem seu mútuo interesse na regulamentação ambiental.
O desafio é fazer com que o governo fixe padrões a um patamar em que os setores produtivos possam alcançar sem desestabilizar, potencializando a aliança verde entre os setores públicos e privados, criando incentivos à abertura de mercados mais amplos e competitivos em combate aos problemas ambientais. Tal fator será decisivo na redução de custos, já que aumentará a criatividade inventiva industrial com o desenvolvimento de tecnologias de eficiência energética, encontrando usos sustentáveis, reduzindo os montes de lixos no mundo e encontrando formas simples e confiáveis de contracepção.
O setor empresarial e industrial deve ter em mente que investir parte do capital em meio ambiente, significa obter até mesmo em dobro os retornos lucrativos do que foi aplicado, mesmo que em médio ou longo prazo.
Custos existem, mas seus benefícios financeiros em prol do planeta também. Em composição ao Patrimônio Líquido Meio Ambiente, o setor empresarial pode destinar certa parcela do seu Capital Social para aplicação em estratégias ambientais nas atividades de prevenção, recuperação, monitoramento e reciclagem. E, além disso, constituir com reservas para contingências ambientais, doações e subvenções.
Nos casos de contingências ambientais (perdas relacionadas a fenômenos naturais que afetam diretamente as operações e rentabilidade da empresa, como geadas, secas ou inundações), estes fatores podem refletir na estrutura patrimonial e na atividade operacional empresarial. Já a conta de doações e subvenções para investimento em meio ambiente refere-se ao registro de todos os elementos recebidos em incentivos governamentais em nível municipal, estadual e federal para aplicações em atividades sustentáveis classificando-se como Reserva de Capital.
Para o nascimento de empresas e indústrias eco-eficientes torna-se essencial, além da política e conscientização ambiental, a proteção das companhias contra críticas e não apenas contra as penalizações legais. E aí a auditoria ambiental vem a se tornar uma importante aliada. É a partir dela que se verificará o cumprimento das normas e o exame local ou das instalações que estão sendo compradas ou vendidas, garantindo que não ocorram implicações em qualquer surpresa em termos de responsabilidades, e ainda oferecerão uma base para subseqüentes melhorias. É dessa nova fase da Revolução Industrial, que desponta em razão da sobrevivência humana em meio a anunciadas catástrofes de cunho ambiental, que depende o futuro do Planeta. O mercado global e as políticas públicas ditarão as regras referentes ao futuro da Humanidade.
A neutralização de carbono através do reflorestamento de áreas degradadas com o objetivo de neutralizar as emissões de produções ou eventos durante certo prazo pelas pequenas, médias e empresas de grande porte tornar-se-á um fator decisivo para um novo ciclo de consciência, preservação e reconstrução ambiental, favorecendo a economia, a sociedade e a biodiversidade. O mercado de carbono será outro fator que influenciará nas moedas mundiais. Surge como um novo capital concorrente de investimentos globais, que tenderá a afetar e influenciar as Bolsas de Valores e o comércio como um todo. Não há dúvidas que o novo movimento verde baseado na eco-eficiência sustentável irá e já começa a impor custos às empresas. Entretanto, representa também o início de uma extraordinária oportunidade, talvez a mais abrangente já surgida no mundo industrial, para empreendimentos e criatividades. Prosperarão os que souberem tirar o máximo proveito da nova era eco-industrial.
* Taís Carolina Seibt é advogada ambiental e professora do MBA em Gestão Ambiental
(Envolverde/Revista Eco21)