MÍDIA & MEIO AMBIENTE Por Simone Silva Jardim em 17/2/2009 | |
Tem ambientalista que aplaude com entusiasmo, mas dizer que todo o movimento é simpático aos esforços que várias companhias estão fazendo, mundo afora, para identificar a participação do carbono em sua cadeia de produção é exagero, e do grande. Em Bradenton, na Flórida, a PepsiCo, proprietária da marca de sucos Tropicana, contratou especialistas em cálculos matemáticos para saber quanto um saudável copo de suco de laranja da marca contribui para o aquecimento global. Foram mensuradas as emissões de todos os processos e tarefas que envolvem consumo energético, ou seja, desde o funcionamento da fábrica ao transporte do produto em caixas até o varejista. Os resultados mostraram que as maiores fontes de emissão de GEE eram as próprias plantações de laranja, por consumirem grandes quantidades de fertilizantes à base de nitrogênio. Só o tempo dirá Um parêntese. Em sua fabricação, o fertilizante requer o uso de gás natural, podendo se tornar um potente gás de efeito estufa quando pulverizado sobre os pomares. Quer saber o número que a PepsiCo acaba de divulgar? Para cada embalagem de aproximadamente dois litros de suco de laranja, é lançado o equivalente a 1,7 kg de dióxido de carbono na atmosfera. O suco de laranja perdeu a aura de produto saudável e ficará esquecido nas prateleiras? Não creio. O dilema posto é outro: a PepsiCo vai ou deve divulgar este número em suas próximas campanhas de marketing? O consumidor vai rejeitar o suco Tropicana, "iludindo-se" com outras marcas que não exibem esta informação no rótulo ou, pelo contrário, bebedores contumazes de suco de laranja vão privilegiar o produto da PepsiCo pela honestidade do fabricante em revelar este dado? Bolas de cristal não funcionam e só o tempo dirá o destino deste fato novo. Pisar em ovos Ao lado de empresas como IBM, Nike e Coca-Cola, só para ficar nesses exemplos, a Pepsico quer reduzir gastos com energia e outros insumos, pois em tempos de crise financeira, aguda e global, este é o único caminho para manterem os preços de seus produtos competitivos. Aquela outra razão, alardeada em discursos politicamente corretos e nos slogans e anúncios, "a de que são empresas que querem promover produtos de baixa emissão de carbono para agradar consumidores cada vez mais preocupados com o aquecimento global", é balela. Lá e cá, consumidores já deixaram bem claro em pesquisas de opinião que, em tempos de orçamento minguado, o preço é rei e dita a decisão de tirar ou largar um produto na gôndola do supermercado. E não é só isso. A mensuração de carbono, seja qual for a cadeia produtiva, ainda é como pisar em ovos. Os métodos hoje em uso são criticados por todos os lados – há os que vêem neles um puro "achismo" e outros um rigor fundamentalista. Vícios e auto-engano Os transgênicos não ficam do lado de fora desse campo minado. Aqui na Terra Brasilis, a consultoria Céleres foi contratada pela Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem) para investigar os benefícios econômicos que culturas geneticamente modificadas de soja, algodão e milho podem trazer ao país. Essas culturas consomem muitos "defensivos", como afirma a Abrasem, que são dissolvidos e pulverizados com grandes quantidades de água. Em dez anos – o estudo compreende o período entre as safras 2008/2009 e 2017/18 –, as referidas culturas transgênicas representariam uma economia "gorda" e sedutora demais: nada menos que 105 bilhões de litros de água deixariam de ser consumidos, volume suficiente para abastecer 2,4 milhões de pessoas ou, sob a ótica do "ecologicamente correto", uma economia de 2,1 milhões de toneladas de CO2 que deixariam de emporcalhar a atmosfera deste belo e frágil planeta Terra. Tomando por base que não há neutralidade no campo da ciência e que pareceres encomendados podem ceder à tentação dos vícios e do auto-engano, resta-nos exercer plenamente nossa capacidade de homo sapiens sapiens, tendo "sofia" suficiente para avaliar "laranjas carbonadas" e transgênicos com performance de blue chips. |
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
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