Projetos arquitetônicos ou pequenas reformas que contemplem a economia de água minimizam o consumo e geram consequências estruturais, como a redução de enchentes e conforto térmico nas residências
A arquitetura sustentável tem como objetivo, durante todo o processo de produção e pós-construção, minimizar os impactos da obra na natureza. Por isso, ela reduz o máximo possível os resíduos e busca otimização e diminuição do consumo de recursos, como água e energia. Mas quem pensa que essa tecnologia é inatingível se engana. Apesar de uma casa ou apartamento planejados desde o início com a proposta de serem sustentáveis sejam o ideal, algumas pequenas mudanças e uma reforma podem mudar completamente a forma como se dá o consumo de recursos na sua casa. Considerando que essas mudanças resultarão na redução de gastos como água e eletricidade, o retorno se dá em alguns meses em casos de menor investimento. Uma peça que é um pouco mais cara pode resultar em uma economia anual muito grande - colocando na ponta do lápis, podemos perceber que pequenos ajustes podem gerar grande economia, não só de dinheiro, mas principalmente de recursos não precificáveis.
Uma gestão da água ambientalmente correta visa a redução do consumo de água potável, aumento da eficiência do uso da água, crescimento da reciclagem e do reúso, além da minimização do desperdício e de riscos como poluição e inundação. Ao desenvolver um projeto arquitetônico, muitas questões são levadas em consideração. Garantir a acessibilidade ao sistema hidráulico e à monitoração do consumo é fundamental na detecção e controle de vazamentos em tubulações. Soluções eficientes para a gestão de demanda e oferta de água são fundamentais para otimizar a quantidade de água consumida para os diferentes usos. Para isso, os recursos disponíveis, como águas subterrâneas, águas pluviais, águas de reúso e águas potáveis são analisados. Em cima disso, é possível desenvolver estratégias para a aplicação das fontes existentes, considerando os riscos associados.
Reformas e projetos para economizar água em casa fazem parte de uma gestão responsável dos recursos hídricos no ambiente doméstico. Muitas são as medidas disponíveis para atingir esses objetivos. O estabelecimento de um sistema de setorização do consumo de água, a utilização de medidores individuais de consumo, o monitoramento para limitar desperdícios e vazamentos, além de tecnologias que propiciam uma otimização do consumo. Algumas delas são:
1. Instalar de sistemas de monitoramento
Sistemas de monitoramento do consumo permitem que o usuário controle seus gastos, gerando uma conscientização além da prevenção de possíveis crises. Sistemas que monitoram os níveis de caixa de água, como o Aquametrix, garantem que o usuário tenha ciência dos recursos disponíveis e assim planeje melhor seu consumo. O sistema disponibiliza informações sobre seu reservatório e também fornece avisos para que o usuário se mantenha ciente da situação em que se encontra. O Aquametrix envia alertas, avisando que está acabando a água, possibilitando medidas preventivas. Medidores que podem ser instalados em diferentes cômodos da casa, que detectam a quantidade utilizada em chuveiros e torneiras e que informam sobre possíveis vazamentos também são uma ferramenta muito útil no controle do consumo e na minimização de perdas. Relógios hidráulicos individuais são uma uma medida para a redução de consumo em condomínios (para saber mais sobre o Aquametrix, clique aqui).
2. Buscar limitação no uso da água potável
Uma das principais medidas a se tomar é evitar o uso de água potável. Diversas estratégias podem ser delimitadas para atingir esse objetivo, como o uso de equipamentos que diminuem a vazão de água ou que proporcionem o consumo de águas pluviais e de água cinza para atividades que não necessitam de água potável. As águas utilizadas para alimentação, higienização corporal, piscina e sauna precisam ser potáveis. Contudo, para irrigação de jardins, lavagem de pisos, descargas, etc., pode ser empregada água de reuso ou pluvial (saiba a diferença entre água pluvial e água de reúso aqui). Alguns cuidados devem ser tomados no projeto arquitetônico, para garantir a independência total dos sistemas, impedindo a mistura de águas por manobras de válvulas, tubulação pintada na cor padrão conforme a norma específica e sempre sinalizando com placas as torneiras com água não potável.
3. Aproveitar de águas pluviais
O aproveitamento de água da chuva propicia uma grande economia de água potável, além de ajudar a conter enchentes. Para realizar um projeto que inclui esse aproveitamento na rede hidráulica, é necessário um cálculo que quantifique o volume possível de coleta com base em análises históricas da precipitação média do local. Com base nisso, será determinada a área de coleta e armazenamento. A água pluvial é coletada em áreas impermeáveis, como telhados de edificações e estocadas em reservatórios independentes.
A norma NBR 15527:2007: Água da Chuva - Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis determina os requisitos para o aproveitamento de água de chuva de acordo com sua aplicação. Após o descarte dos primeiros minutos de chuva, ocorre a filtração, cloração etc. Para ser armazenada em uma cisterna, a água passa por um processo de filtragem para remover elementos que podem comprometer a qualidade da água.
Essa água é armazenada em um sistema completamente independente da água vinda das estações de tratamento, e o projeto deve prever os pontos de abastecimento onde ela será utilizada, como torneiras de jardins, descargas, espelhos d’água, irrigação etc. As descargas sanitárias podem representar cerca de 30% a 40% do total da conta mensal de água. Da pra imaginar a economia gerada pelo uso de água pluvial para essa função?
Cisternas externas também são úteis e mais simples de instalar. Podem ser adicionadas sem a necessidade de uma reforma. A água pode ser utilizada para irrigação de plantas e jardim, lavagem de carros, garagens, canis etc. Saiba mais sobre essas cisternas aqui.
4. Reutilizar água cinza
As águas cinzas são efluentes de chuveiros, banheiras, cozinhas, lavatórios, tanques e máquinas de lavar roupas. O processo pelo qual essa água passa é parecido com o da água pluvial. Ela é armazenada e filtrada, e depois é distribuída para os pontos de uso. Segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), ela também pode ser reutilizada para irrigação paisagística, combate ao fogo, descarga de vasos sanitários, sistemas de ar condicionado, lavagem de veículos, de quintais, etc.
5. Utilizar equipamentos de baixo consumo de água
A redução do consumo também pode ser alcançada com a instalação de dispositivos hidráulicos que controlem vazões e pressões, tais como torneiras e chuveiros com restritores de vazão, registros reguladores de vazão, torneiras com arejadores, bacias sanitárias com volume de descarga reduzido, sistema de duplo acionamento de descarga, lavatórios com torneiras de fechamento automático, etc.
Diversos fabricantes de metais sanitários oferecem produtos que gastam menos água sem prejudicar seu desempenho. É muito fácil de encontrar nos catálogos os dispositivos citados.
6. Instalar bacias sanitárias e dispositivos de descarga
A quantidade de água potável desperdiçada em descargas é absurda. Não é razoável que a mesma água utilizada para consumo humano sirva para eliminar dejetos. Apartamentos que utilizam descargas pela coluna de água podem gastar até 20 litros de água cada vez que são acionadas. Se não for viável utilizar água pluvial ou de reúso na descarga, algumas outras medidas podem ser adotadas para reduzir esse consumo.
As bacias sanitárias com volume de descarga reduzido (VDR), são conjuntos caixa acoplada que funcionam com volume reduzido de água por descarga. Elas possuem volume diferente de acordo com o fabricante, país e região. No Brasil, capacidade é de seis litros, nos EUA, de nove a seis litros e na Europa, de nove a três litros.
Muitas marcas já possuem descarga acoplada com botão de acionamento duplo, permitindo ao usuário a escolha entre dois volumes de água de descarga. O volume maior é igual ao volume útil da caixa, e o menor é igual a 50% deste volume e deve ser utilizado quando houver na bacia somente dejetos líquidos. A utilização desse simples dispositivo pode significar economia de de até 75% se comparados com produtos tradicionais.
Alguns modelos de vasos com pias acopladas já estão sendo comercializados no mundo. A invenção reutiliza a água da pia para as descargas. Confira aqui outras invenções malucas para economizar água.
7. Instalar torneiras que economizam água
O arejador é um dispositivo que pode ser instalado em torneiras e ajuda consideravelmente na economia de água, chegando em níveis de 25% a 50% de água a cada uso. Ele aumenta a quantidade de ar na saída da água, e dessa forma, há a redução do volume de líquido sem perda da sensação de pressão.
Outro dispositivo com essa função é o pulverizador (spray tap) de vazão constante. Ele é instalado na saída da torneira e transforma o jato de água em um feixe de pequenos jatos semelhante a um chuveirinho. O spray tap é capaz de reduzir a vazão para valores entre 0,06 litros por segundo e 0,12 l/s.
Já os restritores de vazão são pequenos anéis que podem ser instalados nas torneiras que controlam a quantidade de água. Existem kits com vazão entre seis litros e 14 litros por minutos. A instalação é muito simples: basta fechar o registro geral, desenroscar a torneira e posicionar o anel na saída de água, entre o cano e base da torneira. Reguladores de vazão ou redutores de pressão fazem sentido em locais destinados a lavagens com manuseio de peças, como cozinhas e lavabos, mas não são ideais para máquinas de lavar ou torneiras de jardim.
Além dos dispositivos de controle de vazão e pressão, exitem alguns que utilizam a regulação por meio de temporizador mecânico ou automático, que liberam o líquido por tempo ou volume pré-determinado.
A torneira com sensor infravermelho é uma opção. Ela só é acionada quando as mãos são percebidas pelo sensor - o fluxo cessa quando as mão são retiradas do campo.
As torneiras de fluxo determinado são muito comuns em estabelecimentos comerciais. Elas consistem em uma torneira com botão que, uma vez acionado, libera um fluxo determinado de água, fechando-se após um tempo determinado.
8. Instalar chuveiros que economizam água
O chuveiro elétrico é mais econômico, pois na maioria do casos a água tem aquecimento imediato. Já duchas com aquecimento individual a gás ou solar por vezes demoram para oferecer água quente. A estimativa da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) é de que, nesses sistemas, 15 litros são gastos só para que a água fique quente. Além disso, os chuveiros elétricos normalmente têm menor vazão.
Dispositivos redutores de vazão também podem ser instalados independentemente da forma de aquecimento (integrado ou não). Uma boa opção é escolher chuveiros de baixo fluxo também, que economizam na quantidade de água e, se o chuveiro for elétrico, na quantidade de energia também.
9. Instalar biodigestores residenciais para tratamento de esgoto
O biodigestor residencial é um sistema que funciona como miniestações de tratamento de esgoto. Ele possui sistema de tanque séptico e filtro biológico. O tratamento ocorre através da biodegradação dos resíduos pela ação de bactérias. Essas bactérias se alimentam dos dejetos, reduzindo dessa forma, a carga orgânica presente no esgoto de forma significativa. Ele ajuda a tratar os efluentes da sua residência, que são poluídos principalmente por excretas humanas. Assim, a água de esgoto produzida pelos moradores da casa é tratada e devolvida sem dejetos. Biodigestores residenciais têm capacidade de reduzir, em média, 82% da DQO (quantidade de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica biodegradável).
10. Colocar piso drenante no quintal
Se estiver pensando em construir ou reformar, opte por pisos drenantes para áreas externas. Eles drenam a água da chuva e assim ajudam a minimizar o acúmulo de poças e enchentes. Os pisos porosos são capazes de drenar e ela não se perde para a rua, penetrando no solo e ajudando a irrigar profundamente as plantas de seu jardim. Além disso, são antiderrapantes e podem ser utilizados em jardins, calçadas e garagens. Eles têm uma boa relação entre custo e benefício e absorvem até 90% da água sobre sua superfície. Existem pisos drenantes feitos de pneu reciclado, que podem ser utilizados em calçadas, beiras de piscina e áreas de recreação infantil.
Optar por gramados em vez de cobrir tudo com cerâmicas é uma boa opção e proporciona diversos efeitos positivos. Eles evitam alagamentos, e oferecem conforto térmico, visto que as cerâmicas refletem calor para dentro da casa.
11. Escolher plantas da sua região para o jardim
Com plantas nativas você evita que seja necessário regá-las demais. Assim você economiza água, pois elas podem crescer majoritariamente com as águas das chuvas.
Confira no vídeo um projeto de casa sustentável desenvolvido pela arquiteta Alice Martins.
Em alguns municípios do Brasil, como em São Carlos, o IPTU Verde garante desconto sobre o imposto para imóveis que considerem em seu projeto a sustentabilidade. Vale lembrar que mesmo que muitos desses processos sejam caros, podem ser vistos como um investimento que tem retorno em longo prazo. Além disso, minimizam seu impacto no meio ambiente e colaboram para a diminuição de prejuízos em diversos níveis, como na prevenção de enchentes. E aí? Vale a pena testar?
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