O primeiro leilão do país para colocar na rede de distribuição o biogás gerado no processo de tratamento sanitário de dejetos orgânicos será realizado em abril pela Sabesp.
Apesar de o Brasil ainda ter um grande déficit sanitário em sua rede de coleta e tratamento de esgoto - apenas 52,5% dos domicílios contam com o serviço, conforme levantamento realizado pelo IBGE em 2008 -, o país começa a desenvolver projetos de utilização de resíduos na geração de energia a partir do gás metano liberado por bilhões de litros de detritos orgânicos.
Iniciativas antes restritas a experiências acadêmicas entram agora em uma fase de exploração comercial, a exemplo do que acontece em países asiáticos e europeus, como China, Dinamarca e Alemanha, que têm o biogás como fonte de suas matrizes energéticas.
É com esse viés, ao mesmo tempo econômico, de desenvolvimento tecnológico e adequação técnica de processos que envolvem as engenharias civil, elétrica e química, que a Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (Sabesp) lançará em abril um edital de concorrência para receber uma usina térmica em sua Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Barueri, na Grande São Paulo.
A meta da empresa do governo paulista é, até 2016, fornecer mensalmente 30 milhões de metros cúbicos (m³) de biogás gerados nos tanques de biodigestão da maior unidade de tratamento sanitário da América do Sul - onde a cada segundo deságuam 7 mil litros de esgoto.
"Já tivemos algumas experiências prévias e agora vamos dar um grande salto", diz o assessor de meio ambiente da Sabesp, Marcelo Morgado.
Da academia para o mercado
O arranque comercial do biogás dado pela Sabesp foi ensaiado entre entre 2002 e 2005, com o projeto experimental Energ-Biog, coordenado pelo Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio) - com R$ 150 mil em recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
O experimento foi responsável pela instalação de uma microturbina para geração de energia a partir da queima do metano resultante do processo de secagem da massa orgânica do esgoto recebido na ETE Barueri. O gás resultante do lodo processado pelo equipamento produzia modestos 30 quilowatts para abastecer a ETE.
Hoje, a estação produz 3 megawatts (MW) com 35 mil m³ de biogás gerados diariamente. Economia significativa para os 11 MW consumidos pela unidade todo mês. Contudo, como maior compradora individual de energia de São Paulo - cerca de 1,9% de toda eletricidade consumida no estado -, a estatal diz ser mais viável negociar a compra do insumo no mercado livre. Daí querer ser fornecedora de biogás para a cogeração, o que pode lhe render o caixa necessário para cumprir a meta de atender todos os 365 municípios de sua rede com água e esgoto tratado até 2018.
"A venda do biogás será uma forma de explorar o potencial energético da estação de tratamento e ser remunerado por isso", aponta o assessor.
A estratégia pode servir de modelo a outras ETEs país afora via uma Sabesp que, com seu projeto de gestão de valor agregado, quer vender tecnologia em saneamento. "Estamos abrindo a janela de novos negócios", indica Morgado.
Para Marco Seidenberg, engenheiro da superintendência de novos negócios da Sabesp, o potencial enérgico da ETE Barueri é de 9 gigawatts.
"O volume vai depender da tecnologia adotada pela empresa que vencer a concorrência", diz.
O custo do projeto ainda está sendo avaliado - deve incluir a construção de um gasoduto, da termoelétrica e de equipamentos.
"Depois do processo térmico, a energia poderá ser conectada à rede da AES Eletropaulo e ser transferida até o destino", explica Seidenberg.
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