quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Presidente da comissão de violência da Fmusp deixa cargo

Paulo Saldiva tomou a decisão após ouvir os relatos de estudantes sobre estupro, homofobia e machismo em festas da instituição

Hélvio Romero/Estadão
Após ouvir as denúncias das alunas, Paulo Saldiva, presidente da comissão de violência da Faculdade de Medicina deixou o cargo e disse que a universidade está "doente"
SÃO PAULO - O professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Fmusp) Paulo Saldiva deixou o cargo na instituição nesta semana. Presidente da comissão que investigava denúncias de violência na universidade, Saldiva tomou a decisão após ouvir os relatos de alunos sobre  estupro, homofobia e machismo em festas da instituição, em audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) nesta terça-feira, 11. 
"A falta de uma ação construtiva e pró-ativa da parte de todos nós, professores, fez com que os alunos da Fmusp fossem submetidos a situações inaceitáveis", afirmou pelo Facebook o professor, que era titular do departamento de patologia há quase 20 anos. Nesta semana, duas alunasrelataram terem sido estupradas em festas de alunos da Fmusp. Outros estudantes também afirmaram terem sido vítimas de homofobia e até racismo. O Ministério Público Estadual (MPE) investiga o caso há dois meses. No inquérito, são mencionados oito casos de estupro. 
VIOLÊNCIA NA USP
Márcio Fernandes/Estadão
Audiência pública foi feita na Alesp para denunciar casos de violência sexual na Faculdade de Medicina da USP e a existência de uma "cultura machista" nos trotes praticados contra calouros
Em entrevista à Rádio Estadão, Saldiva disse que a saída foi resultado de "um processo de longa reflexão de alguns anos" e que saíu da Fmusp com licença prêmio para desenvolver alguns projetos. "Fiquei surpreso. Os fatos que apareceram são absolutamente desconhecidos. Eu conhecia um lado (da Fmusp)que era muito mais prazeroso. Alunos brilhantes, atividade de cursinho para gente carente, atividades especiais na periferia com vários alunos", afirmou o professor.
Segundo o docente, os trabalhos da comissão de violência estão finalizados. Na quarta-feira, 12, a Fmusp anunciou a criação de um centro de defesa dos direitos humanos. "Temos de reforçar os conteúdos de respeito à dignidade humana. Vamos ter que nos transformar em um centro de referência para as outras unidades da USP". Para o professor, a Fmusp está "doente". "Assim como a gente adquire novos hábitos quando adoece, a faculdade está doente. Está precisando de ajuda. E os professores têm que atribuir a eles mesmos esta tarefa. É uma cultura institucional que precisa ser modificada".
Ouça a entrevista de Saldiva à Rádio Estadão:

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