O procurador-geral, Rodrigo Janot, compara o processo de delação a um “rastilho de pólvora”: basta um começar a falar.
Zuenir Ventura, O Globo
Sem ironia, pode-se afirmar que nunca antes na história deste país houve uma sexta-feira como a da semana passada, quando a Polícia Federal prendeu duas dezenas de altos executivos de nove das maiores empreiteiras brasileiras, acusadas de pagar propinas milionárias a servidores da Petrobras. Para o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima foi “um dia republicano”, havendo até quem propusesse comemorar a República no dia 14, e não mais no 15 de novembro. Para outros, foi o “dia do juízo final”. Na verdade, foi a vez dos corruptores e, se não for o início de novos costumes, é pelo menos uma operação inédita que abre um precedente de exemplar valor simbólico.
Além da devida execração pública — fotos 3 x 4 no jornal e imagens na televisão sendo conduzidos por policiais —, houve episódios emblemáticos como o do suspeito Sérgio Mendes, que voou a caminho da prisão no seu próprio jatinho, porque achou constrangedor para um vice-presidente e herdeiro da Mendes Júnior ser conduzido em avião da polícia. Ele aceitou o conselho do seu advogado: “Você vai ser criticado por dois dias, mas não vai ser algemado.”
Outro, o presidente da Queiroz Galvão, Ildefonso Colares Filho, entregou-se após ter se escondido em hotéis de até R$ 2.600 a diária. Presos, tiveram que dormir em colchões no chão da carceragem da polícia paranaense. Quando é que esses personagens poderiam imaginar viver experiências reservadas exclusivamente aos prisioneiros comuns?
A partir de sexta-feira, acontecimentos se precipitaram como numa avalanche. Graça Foster admitiu que há meses fora informada por empresa holandesa do pagamento de propinas na estatal que ela preside. O atual diretor de Abastecimento foi acusado de receber comissões de empreiteiras. A própria Petrobras pediu abertura de ação contra seu ex-presidente Sérgio Gabrielli, e 14 outros envolvidos na compra de Pasadena, que deu prejuízo de quase US$ 800 milhões.
O procurador-geral, Rodrigo Janot, compara o processo de delação a um “rastilho de pólvora”: basta um começar a falar. Sendo assim, a vez dos políticos ainda está para chegar. Segundo ele, a Justiça não é mais “a dos 3 pês: puta, preto e pobre”.
Na Austrália, ao receber a notícia das prisões, a presidente Dilma vangloriou-se de ser esta “a primeira vez que o governo está investigando a corrupção no país”, como se o mérito fosse seu, e não do Ministério Público e da polícia, órgãos do Estado. Dela pode-se cobrar que, mesmo tendo sido chefe da Casa Civil, ministra de Minas e Energia e presidente do Conselho de Administração da Petrobras, não desconfiou da lama que ali corria e onde até um clube de malfeitos funcionava com sócios VIPs e tudo.
Enquanto isso, o vice Michel Temer, como presidente interino, decretava: “O governo está tranquilíssimo.”
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