Folha de São Paulo
O que têm em comum a Operação Lava Jato, a reunião da Opep de quinta-feira (27) e o acordo EUA-China sobre emissões de gases do efeito estufa? Todos contribuem para empurrar o Brasil a uma trajetória de desenvolvimento mais limpo do que a delineada com o entusiasmo em torno do pré-sal.
É de supor que a investigação da Polícia Federal sobre as falcatruas na Petrobras esteja conturbando ainda mais sua administração. Ela já vinha sobrecarregada pela contenção artificial dos preços da gasolina e pela queda contínua na rentabilidade e no preço de suas ações.
Isso para não falar do excesso de atribuições na exploração do pré-sal, como ter de operar todos os blocos licitados. O investimento necessário já esteve calculado em US$ 240 bilhões. Não é bolinho, menos ainda para uma empresa sob estresse financeiro e investigada em mais de um país por corrupção graúda.
Parece improvável, diante disso, que a Petrobras mantenha o ritmo projetado de exploração do pré-sal.
Pior fica a coisa com o preço do petróleo em baixa. Assim ele deve continuar, ao menos no curto prazo, com a decisão dos países produtores de não reduzir a produção.
O valor chegou perto de 70 dólares por barril. A extração do pré-sal, para compensar, precisa que ele permaneça acima dos cem dólares.
Há males que vêm para bem, contudo, como reza o clichê.
O pré-sal, no fim das contas, lançou o país num frenesi de desenvolvimentismo carbonizante que fez Lula enterrar seus planos grandiosos para biocombustíveis (etanol e biodiesel) mais rápido do que sepultou o Fome Zero. Em lugar de fomentar energias renováveis –eólica, solar, biomassa–, o Planalto promoveu a miragem de enriquecer o país com o ouro negro (e não desperdiçou a chance de meter a mão nele com fins eleitorais –e outros).
Esse percurso é a contramão da rota que outros países, mais atentos para o imperativo de combater a mudança do clima, tentam traçar para a economia mundial. Aí se encaixa o acordo para redução de gases do efeito estufa fechado entre Barack Obama e Xi Jinping.
Os EUA se comprometem a cortar, até 2025, 26% a 28% do nível de poluição que lançavam em 2005 na atmosfera da Terra. A China assumiu meta mais modesta, impedir que suas emissões continuem crescendo a partir de 2030.
Nos dois casos, isso significa abrir mão menos do petróleo que do carvão e substituí-lo por gás natural na geração de energia. São todos combustíveis fósseis, verdade, mas o gás natural contribui menos para o aquecimento global que o carvão.
O objetivo de impedir que a temperatura global aumente mais que 2°C neste século dificilmente será alcançado sem redução também do consumo de petróleo.
A Agência Internacional de Energia prediz que a demanda pelo produto deve começar a cair em 2040, e com ela desabarão também os preços, sobretudo diante da competição crescente oferecida pelas fontes renováveis.
Trocando em miúdos: não há razões apenas ambientais, mas também econômicas, para rever os planos megalomaníacos para o pré-sal. O investimento bilionário, afinal, pode acabar morrendo na praia, ou melhor, a 3.000 m no fundo do mar.