segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Dá até para beber, diz Lula sobre biodiesel da Petrobras; veja vídeo, FSP

 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que biodiesel refinado produzido pela Petrobras "dá até para beber", durante discurso em Moçambique, nesta segunda-feira (24), em visita oficial em que se reuniu com o presidente do país africano, Daniel Chapo.

"Há muito tempo a gente está tentando introduzir o biodiesel no mundo, e os fabricantes de motor sempre recusam, inventando um monte de coisa. Não existe mais isso. Com um agravante: a Petrobras está agora refinando o biodiesel já misturado 100% com o diesel. Sai um biodiesel melhor do que o qualquer outro, dá até para beber, Haddad [Fernando Haddad, ministro da Economia]. Os carros bebem, e bebem muito", brincou Lula, sem explicar qual era exatamente o produto ou a mistura a que se referia.

Dois homens sentados em cadeiras de madeira com estofado claro, separados por uma mesa pequena com duas garrafas de água, em um ambiente com parede de mármore branco. À esquerda, a bandeira do Brasil; à direita, a bandeira de Moçambique. Acima deles, um brasão dourado fixado na parede.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao lado do líder moçambicano, Daniel Chapo, em Maputo - Amilton Neves/AFP

O presidente brasileiro lembrou de ter sugerido produzir biocombustíveis, com investimento brasileiro, na África, no seu primeiro mandato.

"Quantas vezes eu tentei convencer os empresários brasileiros, quando nós decidimos, em 2003, fazer o biodiesel, quantas vezes eu conversei com empresários, 'vamos tentar fazer na África', mas é difícil. É difícil, porque me parece que as pessoas têm medo de arriscar", disse.

Além disso, Lula sugeriu que a Petrobras explorasse gás natural em Moçambique.

"O Brasil precisa muito de gás. E Moçambique tem muito gás. Nada impede que a dona Petrobras mande sua engenharia de perfuração vir aqui se reunir com a empresa de vocês para saber aonde e quando a gente vai poder assinar um acordo e aonde e quando a gente vai começar a tirar gás", disse Lula.

No último dia 15, Brasil e Moçambique comemoraram 50 anos do estabelecimento de relações diplomáticas. Em março do ano seguinte, em 1976, o governo brasileiro abriu sua embaixada em Maputo —a representação moçambicana em Brasília foi aberta em 1998.

Segundo o governo brasileiro, Moçambique é o maior beneficiário de recrusos da Agência Brasileira de Cooperação em áreas como saúde, agricultura e educação, entre outras. O comércio bilateral foi de US$ 40,5 milhões em 2024, sendo US$ 37,8 milhões em exportações brasileiras, principalmente de carne de aves, e US$ 2,7 milhões em importações.

Lula saiu do encontro de líderes do G20, em Joanesburgo, na África do Sul, direto para Maputo, a capital de Moçambique, no domingo (23). Na visita oficial de um dia, ele recebe nesta segunda o título de doutor honoris causa da Universidade Pedagógica de Maputo.

Dora Kramer, STF virou joguete dos Poderes, FSP

 O Supremo Tribunal Federal é um lugar sério demais para se brincar de diversidade. Ali, o jogo tampouco permite que o dono da banca se dê ao dever de observar preceitos relativos às profundidades do saber jurídico.

Tudo indica serem essas as ideias que motivam o presidente Luiz Inácio da Silva (PT) na escolha de suas indicações ao STF.

Dois homens de terno, um mais velho com cabelo e barba grisalhos e outro mais jovem com cabelo escuro, sentados lado a lado em mesa com documentos e copo de água. Ao fundo, brasão da República Federativa do Brasil em destaque.
Presidente Lula (PT) conversa com o seu indicado ao Supremo, o advogado-geral da União, Jorge Messias - Rafa Neddermeyer - 21.out.25/Agência Brasil

O critério é abertamente o da fidelidade pessoal. Assim como foi com Jair Bolsonaro (PL) e talvez como venha ser adiante, os presidentes da República assumindo opção preferencial por nomear advogados de defesa para a corte suprema.

As garantias da Constituição não lhes bastam nem interessam. Importa o compromisso de cada um com as conveniências do governante, que, mesmo quando fora do poder, terá um juiz supremo para chamar de seu pelo maior tempo possível. Daí os indicados serem cada vez mais jovens. Nunca se sabe o que reservam os dias de amanhã.

A independência e o prestígio do Supremo Tribunal Federal não entram na conta. Indiferença compartilhada por alguns juízes da corte, que entram no embate manifestando suas preferências como se a eles coubesse tal julgamento.

A prerrogativa da indicação é do Executivo e a análise, em tese de competência, tarefa do Senado. Os representantes desses Poderes, contudo, não cumprem a contento suas missões. O presidente escolhe sob a ótica da subordinação e os senadores coreografam o gesto da submissão aos julgadores por foro especial.

Em alguns casos, como ocorreu na nomeação de André Mendonça e como agora com Jorge Messias, parlamentares dão-se ao desplante de fazer do Supremo joguete na rinha política.

Tais distorções fazem do Legislativo um mero carimbador no lugar de examinador detido das regras constitucionais de conduta ilibada e notório saber jurídico.

A visão de que a vontade do mandatário está acima da lei reveste o potencial de recusa em ofensa pessoal e evidência de fragilidade do chefe da nação. Ao que se pode chamar de má-formação institucional.

Prisão de Bolsonaro dificulta avanço de Messias rumo ao STF, Juliano Spyer, FSP

 Na sexta-feira, o ministro André Mendonça anunciou que abraçaria a campanha do também evangélico Jorge Messias ao STF. No sábado, a convocação de uma vigília de orações levou à prisão preventiva de Jair Bolsonaro. Esses eventos estão em rota de colisão?

Dois homens de terno se abraçam no centro de uma mesa de conferência. Ao fundo, há um logotipo circular da CONAMAD com mapa do Brasil. À esquerda, um homem sorri e observa a cena. À direita, um homem mais velho está sentado, olhando para frente. Uma mulher com câmera fotografa a cena de costas.
Jorge Messias e André Mendonça se cumprimentam em evento da Convenção Nacional das Assembleias de Deus Ministério de Madureira (Conamad) - Reprodução/Instagram


Desde que Messias surgiu como provável substituto de Barroso, lideranças evangélicas debatem a quem ele seria leal como ministro do Supremo. A Lula ou à Bíblia? Quando julgar temas sensíveis à pauta conservadora —por exemplo, sexualidade na infância—, de que lado ficará?

Gestos como o de Mendonça respondem à pergunta. Messias seguirá a orientação de Jesus: "Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Em outras palavras: acompanhar Lula na política e seguir a Bíblia nos costumes.

Isso é uma má notícia para o ramo cristão do bolsonarismo, presente como células políticas dentro da maioria das igrejas evangélicas do país.

Dois homens de terno apertam as mãos em frente a estantes cheias de livros em uma biblioteca. Ambos sorriem e estão em ambiente interno com móveis de madeira.
Lula e Jorge Messias no Palácio do Planalto - Ricardo Stuckert - 20.nov.25/Divulgação /PR

O bispo Samuel Ferreira, líder do Ministério Madureira da Assembleia de Deus, foi atacado após visitar Lula no Planalto no mês passado. Ele precisou ir a público explicar o motivo do encontro: defender a indicação de Messias.

Mendonça e Ferreira pertencem a denominações muito distintas —uma ligada à elite evangélica, outra aos segmentos populares. Ainda assim, ambos afirmam que Messias é antes evangélico e que atuará como tal nas pautas de costumes.

Mesmo alguém próximo ao bolsonarismo, como a senadora Damares Alves, disse —ainda que sem declarar apoio— que Messias é "um bom menino". Já o principal nome da direita gospel, o pastor Silas Malafaia, que raramente perde chances de se pronunciar, preferiu não comentar quando questionado pelo canal Pleno News.

A própria atitude de Mendonça tornou explícita sua hierarquia de lealdade. Ao se oferecer para articular a aprovação de Messias no Senado, ele sinaliza: sua prioridade é a fé. Mendonça é primeiro evangélico e depois bolsonarista.

Entre cristãos antipetistas, prevalece a avaliação de que Messias é a opção "menos pior" entre os nomes que Lula poderia propor. Mas, com a escolha, Lula iguala o feito de Bolsonaro ao indicar um evangélico ao Supremo. E a oposição perde o argumento de que o presidente privilegia religiões de matriz afro.

Os grupos nos extremos do debate político saem enfraquecidos caso Messias seja confirmado. Progressistas terão no tribunal um conservador de 45 anos, com décadas de atuação pela frente. Já a extrema direita perderá o argumento de que é impossível ser evangélico e ser de esquerda.

Outro vencedor, se a indicação for confirmada, será o próprio STF, criticado por parecer partidário. "Espero que Messias ajude a fazer a diferença em um STF vingativo, polarizado e político", disse um pastor em off.

Até a prisão de Bolsonaro, a indicação de Messias servia como um referendo ao nome proposto por Lula.

Agora, a oposição pode ajustar o discurso e alegar que a escolha fortalecerá a posição de Alexandre de Moraes na corte. E André Mendonça passará a enfrentar pressão redobrada.