Se a memória não me falha, era o incomparável H.L. Mencken quem dizia: quanto mais velho fico, mais admiro e anseio por competência —simples competência— em qualquer área, do adultério à zoologia.
Estou com ele. Admiro a coisa bem feita. Não interessa se é um livro, um filme ou a encanação de casa. A competência me comove, ainda que o espírito do tempo prefira a "genialidade".
Entendo. A genialidade absolve os medíocres. Se acreditamos que o gênio é inato, podemos desculpar nossa preguiça e nossos fracassos. "Não nasci gênio", diz o preguiçoso, para quem todo esforço é vão. A competência é silenciosa, solitária, difícil, gradual —e, ao contrário da genialidade, que muitas vezes depende do julgamento alheio, é mais fácil de avaliar. A noção de que algo "funciona" ou "não funciona" tem um imediatismo fulminante, sem máscaras, sem enganos.
O falso gênio pode enganar meio mundo; o falso competente não engana ninguém.
Por esse critério, como eram competentes os filmes de Rob Reiner! Neste final de ano, ao percorrer obituários, não consigo deixar de pensar no diretor americano, assassinado em casa juntamente com a mulher.
Há aqui uma tragédia humana. Mas há também uma tragédia cultural. Reiner não era um gênio do cinema —um Kurosawa, um Bergman, um Kubrick. Mas impressiona como, em vários gêneros, todos os seus filmes são bons.
O próprio adjetivo, "bom", é desarmante na sua simplicidade. Basta passar os olhos pelas "escolhas dos críticos" neste fim de ano: 2025 só trouxe obras-primas, revolucionárias, sublimes, magistrais, transcendentes, definitivas.
Infelizmente, faltam as obras boas. Como eram, invariavelmente, as obras de Rob Reiner.
Na comédia romântica, ajuda ter Nora Ephron como roteirista. Mas "Harry e Sally – Feitos Um para o Outro" também vive dos atores, da inteligência da direção, da segurança com que Reiner conta a história em oscilações constantes de tempo e espaço.
O mesmo vale para "Uma Noite com o Presidente". Ajuda ter Aaron Sorkin como roteirista, claro, mas o resto é puro Rob Reiner – aquele classicismo irônico, sem ser mera cópia, como se Frank Capra tivesse renascido para lidar com as ambiguidades do nosso século.
Nos filmes mais sombrios, Reiner também acertou. No The New York Times, Martin Scorsese prestou homenagem ao amigo —e elegeu "Louca Obsessão" como seu filme preferido.
Poderia ser o meu também: como esquecer Kathy Bates, a fã que salva seu escritor favorito de um acidente de carro para depois tiranizá-lo com requintes de maldade?
Em "Questão de Honra", Reiner vai mais longe, expondo em tribunal a violência e a impunidade dentro do Exército americano. É o melhor filme judicial dos últimos quarenta anos – ou seja, desde "O Veredicto", de Sidney Lumet, outro especialista da escola da competência (e dos tribunais).
Meus favoritos, porém, são o falso documentário "Isto é Spinal Tap" e o belíssimo "Conta Comigo", a melhor adaptação de Stephen King para o cinema.
Nesta virada do ano, espero rever alguns desses clássicos. E espero também, sem grande otimismo, que nas listas de 2026 haja algum livro, filme ou álbum tão competentemente bem feito como os títulos que Rob Reiner nos deixou.
Não é fácil. Por razões misteriosas, o mundo continua produzindo obras-primas, revolucionárias, sublimes, magistrais, transcendentes, definitivas. Boas é que não há.

