quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Salvem as mulheres, Mariliz Pereira Jorge, FSP

 A semana ficou tomada pelo "salvem o planeta", mas começou com um respiro raro na saúde feminina: a FDA removeu a "caixa-preta" —o aviso mais severo da agência americana— das bulas da terapia hormonal para a menopausa.

Vale lembrar como chegamos aqui. Em 2003, um megaestudo conduzido sem critérios adequados virou uma sentença: hormônios aumentariam riscos de ataques cardíacos, derrame, trombose e câncer de mama. Agora, o eixo muda: iniciada até dez anos após a menopausa, a terapia pode trazer benefícios de longo prazo —com contraindicações bem definidas e sem prometer milagre. É uma revisão importante de rótulo e de abordagem.

A imagem apresenta uma ilustração de uma mulher dividida ao meio. O lado esquerdo é em tons de rosa, enquanto o lado direito é em preto. A mulher tem uma expressão neutra e olhos grandes. Ao redor dela, há vários curativos adesivos em um fundo amarelo. No canto inferior direito, está a assinatura 'Fido Nesti'.
Ilustração de Fido Nesti

Durante 15 anos, como jornalista da área de saúde, vi a menopausa ser tratada como nota de rodapé. O gesto americano joga luz no Brasil, onde a reposição enfrenta duas questões importantes: a falta de informação e de formação específica para a classe médica. Não é raro ouvir relatos de peregrinação por consultórios até que se encontre um profissional capacitado. Mulheres precisam de avaliação que vá além do histórico pessoal e familiar, feita por especialistas que vasculhem sono, humor, ossos, coração, pele, vagina, trabalho, vida.

Nem tudo é para todas. A boa notícia é que o debate deu mais um passo para sair do "tudo ou nada". O planeta continua pedindo socorro, mas hoje celebro um pequeno degelo no climatério —e isso começa com três palavras: informação, autonomia e escolha. Faço aqui minha nota de rodapé pessoal: entro oficialmente na menopausa em dois meses. Nos dias piores, me sinto um pano de chão velho, o que é inviável para qualquer uma que segue na ativa.

Terapia hormonal não é vilã nem milagre. Quando a menopausa é tratada a sério, ganha todo mundo: a mulher, a família, o trabalho, a economia, a sociedade. Não adianta salvar as cidades, as baleias e as árvores se não salvamos as mulheres.

O golpe do voto distrital misto, Elio Gaspari, FSP

 O presidente da Câmara, deputado Hugo Motta, decidiu articular, com o apoio do centrão, a adoção do modelo de voto distrital misto a partir da eleição de 2030. Ele traria a vantagem de barrar candidatos ligados a organizações criminosas.

Trata-se de uma patranha. O voto distrital, simples ou misto, teria a mesma influência que os anéis de Saturno para conter o avanço do crime organizado na política. O que ele pretende, na proposta atual, é eleger candidatos sem voto, patrocinados pelas caciquias partidárias ou por quem quer que seja.

A imagem mostra o plenário da Câmara dos Deputados do Brasil, com várias pessoas em trajes formais interagindo. No fundo, há uma mesa com deputados e bandeiras do Brasil. As paredes são decoradas com painéis e telas que exibem informações. O ambiente é bem iluminado e moderno, com assentos dispostos em fileiras
Sessão no plenário da Câmara; centrão se articula para mudar sistema eleitoral - Gabriela Biló -17.jun.25/Folhapress

professor Delfim Netto ensinava que aquilo que não foi conseguido na vigência do Ato Institucional nº 5 (1968-1978) jamais acontecerá. Por exemplo, a cobrança de anuidades nas universidades públicas ou o voto distrital. Ele ronda a política há mais de meio século.

À primeira vista, essa modalidade de voto aproxima os eleitos de seus eleitores. Ela divide os estados em distritos, e cada um deles elege um deputado. Beleza, o sistema funciona na Inglaterra e nos Estados Unidos, mas fica uma pergunta: quem desenhará os distritos? Tomando-se o mapa eleitoral do Rio, pode-se criar um distrito no qual a Rocinha seria engolida pela Barra da Tijuca. Com outro desenho, a Barra seria engolida pelo eleitorado de Cidade de Deus.

Essa é a dificuldade do voto distrital simples, como o americano, mas o pessoal do centrão quer um sistema misto no qual surge a figura da lista fechada, que elege parte da bancada a partir de escolhas feitas pelas caciquias.

Se o crime organizado consegue se infiltrar no sistema atual, salta aos olhos que sua vida será facilitada com a novidade. A questão da segurança pública virou um terreno baldio no qual jogam-se ideias malucas. Afinal quando se chama uma matança de "megaoperação", tudo pode acontecer.

O voto distrital simples é coisa séria e merece ser discutido. Já o modelo misto carrega perigosas vulnerabilidades, pois com as listas seriam eleitos candidatos sem votos. Na teoria, elas elegeriam personalidades que têm muito valor e pouco voto. Na prática, poderão eleger consiglieri de facções criminosas, sem valor nem voto.

Hoje, os senadores têm suplentes, muitas vezes escolhidos entre os financiadores de campanhas. Em julho passado, o empresário Breno Barbosa Chaves Pinto, segundo suplente do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), sofreu o constrangimento de ver-se envolvido numa investigação da Polícia Federal. Em 2018 foi preso o empresário Joel Malucelli, ex-suplente do senador Álvaro Dias. Se a farra das suplências ensinou alguma coisa, serviu para expor o perigo de se eleger quem assina cheques.

O projeto que cria o sistema distrital misto foi aprovado no Senado em 2017 e dorme desde então numa comissão da Câmara. Trata-se de acordá-lo, pautando-o para uma eventual aprovação. Tudo no escurinho de Brasília, com o poder de fogo do centrão.

O projeto aprovado em 2017 teve a autoria do então senador José Serra. Candidato a deputado na eleição de 2022, ele teve 89 mil votos, mas não se elegeu.

terça-feira, 11 de novembro de 2025

CPI da Habitação investiga fraude em apartamentos populares no Brooklin, FSP

 

CPI da Habitação Social da Câmara Municipal de São Paulo fará uma diligência no edifício Helbor B LIV, no Brooklin, zona sul da capital. O objetivo é investigar suspeitas de fraude na destinação de unidades de habitação popular (HIS).

O pedido foi feito pela covereadora Silvia Ferraro, da Bancada Feminista do PSOL. A comissão descobriu indícios de que investidores compraram imóveis destinados à população de baixa renda. Há suspeita de que os apartamentos estejam sendo alugados para curta temporada, o que é proibido pela lei municipal.

Procurada, a incorporadora Helbor não quis se manifestar.

Prédio Helbor B Liv, no Brooklin - Reprodução/Google Maps

Os apartamentos vão de 24 a 40 m² e, nos sites de imobiliárias, a média das negociações é de R$ 306 mil para compra e aluguel de R$ 2.674.

O mandato coletivo apurou que prédio possui ao menos 171 unidades que foram compradas por investidores. Onze pessoas adquiriram mais de um imóvel, e um investidor comprou quatro.

"A principal fraude descoberta até agora é a compra de moradia popular por investidores com objetivo de lucro. Isso fere a lei e prejudica quem mais precisa de moradia", diz Silvia Ferraro.

O requerimento foi aprovado no dia 6 de novembro. A diligência ainda será agendada pelo presidente da comissão.