segunda-feira, 4 de abril de 2022

Com águas de até 250 mil anos, aquífero Guarani ganha peso no abastecimento de cidades. FSP

 João Fellet

SÃO PAULO | BBC NEWS BRASIL

A forte estiagem que atingiu o Estado de São Paulo em 2021 baixou os níveis de rios e reservatórios, forçando várias cidades a restringir a oferta de água.

Mas os efeitos da seca não foram sentidos por todos: municípios abastecidos exclusivamente pelo aquífero Guarani, uma das maiores reservas de água doce do mundo, não impuseram racionamentos.

Diante de crises hídricas cada vez mais frequentes no Estado, o aquífero tem ganhado peso no abastecimento público e se revelado uma fonte estável em tempos de mudanças climáticas.

Poço capaz de extrair águas do aquífero Guarani a mais de mil metros de profundidade em São José do Rio Preto (SP).
Poço capaz de extrair águas do aquífero Guarani a mais de mil metros de profundidade em São José do Rio Preto (SP). - SEMAE/Divulgação

Dados do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) do Estado de São Paulo repassados à BBC mostram que 2021 foi o ano com a maior concessão de outorgas para a instalação de poços que extraem água do Guarani: 564.

Hoje, segundo o DAEE, há 3.200 poços autorizados a operar na porção paulista do aquífero, além de 224 processos em tramitação.

Dentre todas as licenças, 71% foram concedidas a partir de 2014, quando São Paulo enfrentou uma das maiores crises hídricas de sua história. Desde aquele ano, o número de outorgas vem crescendo anualmente.

Poço que extrai água do aquífero Guarani é testado em Dourados (MS).
Poço que extrai água do aquífero Guarani é testado em Dourados (MS). - SANESUL/Divulgação

Municípios como Ribeirão Preto, Sertãozinho e Matão hoje dependem 100% do aquífero Guarani para seu consumo de água.

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Outros, como São José do Rio Preto, São Carlos, Bauru e Franca, têm o Guarani entre suas principais fontes hídricas.

Um estudo de 2020 estimou que, em toda sua extensão, o aquífero já abastece mais de 15 milhões de pessoas - a maioria delas no Estado de São Paulo.

O Estado ocupa 13% da extensão do aquífero, mas responde por 70% de toda água extraída da reserva, segundo a OEA (Organização dos Estados Americanos).

Embora especialistas vejam espaço para um uso ainda maior, há locais em que a exploração do aquífero tem gerado preocupações - ou pelo bombeamento intenso, ou pela contaminação das águas (leia mais abaixo).

Mapa mostra os aquíferos Guarani e Grande Amazônia, os dois maiores do país
Mapa mostra os aquíferos Guarani e Grande Amazônia, os dois maiores do país - BBC

UM DOS MAIORES AQUÍFEROS DO MUNDO

O Sistema Aquífero Guarani é uma das maiores reservas subterrâneas de água doce do mundo, ocupando 1,2 milhão de quilômetros quadrados - área duas vezes maior que a França.

O aquífero se estende por partes de oito Estados brasileiros (GO, MT, MS, MG, SP, PR, SC e RS), além de porções da Argentina, Paraguai e Uruguai.

Ele regula os rios da bacia do Paraná, que o sobrepõe em grande parte, e tem águas majoritariamente potáveis - quase todas confinadas por rochas basálticas que chegam a mais de mil metros de espessura.

A maior parte de suas águas provém de chuvas que infiltraram ao longo de vários milênios em lençóis freáticos nos trechos em que o aquífero está mais perto da superfície, as chamadas zonas de afloramento.

Nessas áreas, o aquífero não está confinado por rochas basálticas, e a instalação de poços costuma ser mais simples. A tecnologia atual, porém, permite que mesmo as áreas confinadas e mais profundas do aquífero sejam acessadas.

As águas nos trechos confinados chegam aos 250 mil anos de idade, tempo percorrido desde sua infiltração nas zonas de afloramento. No trajeto até as zonas confinadas, o líquido se desloca bem lentamente, avançando milímetros ou centímetros a cada ano.

Técnico examina água retirada do aquífero Guarani em Olímpia (SP)
Técnico examina água retirada do aquífero Guarani em Olímpia (SP) - Prefeitura de Olímpia

São José do Rio Preto é uma das cidades paulistas onde essas águas antiquíssimas, também conhecidas como "águas fósseis", jorram nas torneiras.

Mas há vários outros poços no Estado que operam em condições semelhantes, extraindo águas a mais de um quilômetro de profundidade, diz à BBC Ricardo Hirata, diretor do Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas da Universidade de São Paulo (Cepas-USP).

Também professor titular do Instituto de Geociências da USP, Hirata é autor de vários estudos sobre o aquífero Guarani e um dos maiores especialistas em águas subterrâneas no Brasil, tendo assessorado organizações internacionais como a Unesco, o Banco Mundial e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

RESERVA ESTRATÉGICA

Em 2015, ele foi coautor de um artigo na Revista da USP que classificou o aquífero Guarani como "o manancial subterrâneo mais promissor e estratégico para o abastecimento público no Estado de São Paulo".

Na época, o governo estadual considerava usar o aquífero para aliviar a pressão sobre os sistemas de abastecimento de Campinas e da Região Metropolitana de São Paulo, quando as duas regiões ainda se recuperavam da grave crise hídrica de 2014.

O plano era instalar 24 poços tubulares (popularmente chamados de artesianos) no município de Itirapina, que fica na zona de afloramento do aquífero, a cerca de 200 km da capital.

De lá, a água seria transportada por adutoras até municípios nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Como esses municípios usam fontes que também abastecem Campinas e a Grande São Paulo, esperava-se que sobrasse mais água para as duas regiões.

Mas Hirata afirma que a ideia não prosperou porque voltou a chover nos anos seguintes e porque ficaria muito caro levar a água de Itirapina até os municípios-alvos.

O caso mostra que, apesar de sua grande extensão, o aquífero não é uma alternativa para todas as partes do Estado - incluindo a capital, que fica fora de seus domínios.

Outro ponto a se considerar é a oferta de fontes superficiais no local, como rios e represas. Normalmente, é necessário escavar vários poços em um aquífero para extrair uma quantidade de água comparável à que se obtém de um único ponto de captação superficial.

Mapa mostra as diferentes formações do aquífero Guarani em SP; a "área alvo" sinaliza a região onde se cogitou construir um sistema para levar água do aquífero até as proximidades de Campinas e da Grande São Paulo.
Mapa mostra as diferentes formações do aquífero Guarani em SP; a "área alvo" sinaliza a região onde se cogitou construir um sistema para levar água do aquífero até as proximidades de Campinas e da Grande São Paulo. - USP

Além disso, Hirata diz que a exploração dos trechos onde o aquífero está confinado pelos basaltos deve ser feita com parcimônia, já que a reposição dessas águas é bem mais lenta que nas áreas de afloramento.

RESILIÊNCIA NA SECA

Uma das maiores cidades abastecidas pelo Guarani é Ribeirão Preto, que tem 711 mil habitantes e hoje depende exclusivamente do aquífero para o consumo dos moradores.

A cidade conta com 118 poços tubulares, que extraem água de profundidades superiores a 200 metros e os bombeiam para reservatórios.

Vários poços foram escavados na última década em resposta a secas que fizeram faltar água na cidade. Hoje suspensões na oferta são pontuais e se devem principalmente a trabalhos de manutenção, segundo a companhia municipal que gere o sistema.

No entanto, o uso intenso do aquífero em Ribeirão Preto gerou problemas: o nível de água em vários poços caiu, provocando perdas de rendimento ou a desativação de alguns.

A prefeitura passou então passou a controlar a abertura de novos poços e delimitou zonas onde é proibido escavar.

Mesmo com as restrições, Ribeirão Preto não teve de racionar água em 2021, ao contrário de vários municípios vizinhos que dependem de fontes superficiais.

Hirata diz que uma grande vantagem dos aquíferos em relação às fontes superficiais é sua capacidade de armazenar um grande volume de água inclusive na estiagem, quando outras fontes se exaurem.

FENÔMENO NACIONAL

Segundo Hirata, as crises hídricas que o Brasil enfrentou nas últimas décadas provocaram um grande aumento na perfuração de poços - e não só na região do aquífero Guarani.

Em 2010, a Agência Nacional de Águas (ANA) divulgou um relatório apontando que 52% dos municípios do país eram abastecidos total ou parcialmente por águas subterrâneas. Em São Paulo, o índice chega a 70% dos municípios.

Segundo um estudo liderado por Hirata, há cerca de 2,5 milhões de poços tubulares em todo o país. Juntos, eles bombeiam mais de 557 metros cúbicos de água por segundo - vazão suficiente para abastecer toda a população brasileira.

Hirata afirma que não só prefeituras têm recorrido às águas subterrâneas, mas também entidades privadas como indústrias, fazendas e condomínios residenciais.

Mapa dos principais aquíferos brasileiros; reservas subterrâneas abastecem mais da metade das cidades do país.
Mapa dos principais aquíferos brasileiros; reservas subterrâneas abastecem mais da metade das cidades do país. - Serviço Geológico do Brasil

O aeroporto internacional de Guarulhos, por exemplo, é totalmente abastecido por poços, segundo o pesquisador, assim como vários edifícios na avenida Paulista, a mais famosa de São Paulo.

Hirata diz que a perfuração de poços com até 200 metros costuma levar menos de um mês e custar entre R$ 250 mil e R$ 300 mil.

Como não há cobrança pelo uso de fontes subterrâneas no Brasil, a economia gerada pelo não pagamento da conta de água faz com que grandes usuários possam recuperar o investimento da perfuração em menos de um ano - além de ficarem menos sujeitos a oscilações da rede pública.

USO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA AGRICULTURA

As águas subterrâneas têm participação central no abastecimento de zonas rurais brasileiras. Segundo o último Censo Agropecuário do IBGE, de 2017, 1,03 milhão de propriedades rurais dispõem de pelo menos um poço tubular.

Poço tubular em São Lourenço do Oeste (SC); secas na região Sul também têm estimulando investimentos em águas subterrâneas
Poço tubular em São Lourenço do Oeste (SC); secas na região Sul também têm estimulando investimentos em águas subterrâneas - Prefeitura de São Lourenço do Oeste

Nesses locais, as águas podem servir tanto para o consumo dos moradores quanto para a criação de animais ou a irrigação de lavouras.

Considerando-se o consumo per capita de águas subterrâneas, a irrigação responde pela maior parcela no país, com 48,7 metros cúbicos/hora de vazão, segundo a ANA.

Em seguida vêm o uso industrial (20,9) e o abastecimento de zonas urbanas e rurais (17,9).

O uso exacerbado de aquíferos para a irrigação é um tema de grande preocupação em países desenvolvidos.

O caso mais célebre é o do aquífero Ogallala, usado intensamente para a irrigação de plantações na região das Grandes Planícies, nos Estados Unidos.

Irrigação lidera o consumo per capita de águas subterrâneas no Brasil.
Irrigação lidera o consumo per capita de águas subterrâneas no Brasil. - THINKSTOCK

Pesquisas apontaram que, em boa parte de sua extensão, o aquífero tem perdido muito mais água do que consegue absorver, o que coloca em risco o abastecimento de vários Estados e o fluxo de rios da região.

Outro tema que tem recebido atenção de pesquisadores no exterior é a contaminação de aquíferos por fertilizantes agrícolas - "um problema extensivo na Europa e América do Norte", segundo Hirata.

O Brasil é um dos maiores consumidores globais de fertilizantes. Aqui, porém, o professor diz que o tema ainda não foi estudado em profundidade, pois faltam dados e redes de monitoramento.

"Não sabemos nada praticamente sobre a contaminação de aquíferos pela atividade agrícola no Brasil", afirma.

"Acredito que possa haver contaminações, mas faltam estudos sistematizados que nos permitam generalizar se temos um grande problema ou não. A experiência internacional nos mostra que sim", diz.

Hoje os estudos disponíveis apontam que esgotos não coletados e tratados são uma das principais fontes de contaminação de aquíferos no Brasil - fenômeno que já se observou em capitais como Manaus, Belém, Natal e Maceió.

Porém, mesmo em cidades com redes de esgoto mais antigas e com baixa manutenção têm sido observados problemas de contaminação por causa de vazamentos nesses sistemas.

Mapa dos poços registrados que exploram águas subterrâneas no Estado de São Paulo.
Mapa dos poços registrados que exploram águas subterrâneas no Estado de São Paulo. - Siagas

Também são conhecidos casos de contaminação de aquíferos por rejeitos industriais - é o que ocorreu no bairro de Jurubatuba, na zona sul de São Paulo, onde autoridades tiveram que proibir a escavação de poços e interditar os existentes.

Só no Estado de São Paulo, a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo) estima que haja entre 3 mil e 4 mil pontos de contaminação de aquíferos.

E, num relatório de 2020, a companhia afirmou que 23,9% das amostras coletadas no Aquífero Guarani apresentaram índices acima dos parâmetros para itens como alumínio, bário, selênio e coliformes.

Hirata, porém, diz que os dados devem ser analisados com cautela. Segundo ele, é possível que parte das discrepâncias se explique por poços mal construídos ou com baixa manutenção.

Por outro lado, diz o pesquisador, como só uma ínfima porção do aquífero é monitorada, o número de áreas contaminadas é provavelmente muito maior do que apontam os dados oficiais da Cetesb.

APAGÃO DE DADOS

A falta de dados, aliás, é um grande problema para o estudo das águas subterrâneas e a boa gestão desses recursos no Brasil, afirma Hirata.

Ele diz que só 10% dos poços tubulares em operação no país são cadastrados - o que não significa que todos esses estejam regularizados.

Para que operem legalmente, é necessário uma outorga dos órgãos públicos que gerenciam as águas subterrâneas, mas só uma pequena parcela dos usuários cumpre essa etapa.

A BBC questionou o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) do Estado de São Paulo sobre quais ações estavam sendo tomadas para coibir o uso irregular de poços.

Em nota, o departamento afirmou que, ao tomar ciência de poços não outorgados, notifica os usuários para que as instalações sejam regularizadas.

O órgão diz ainda que é possível denunciar poços irregulares pelo site do departamento e que implantou um Sistema de Outorga Eletrônica para facilitar os registros.

Só uma pequena parcela dos poços tubulares funcionam regularmente no Brasil.
Só uma pequena parcela dos poços tubulares funcionam regularmente no Brasil. - Prefeitura de São Lourenço do Oeste

Segundo o órgão, todos os poços outorgados "devem enviar anualmente ao DAEE um relatório onde constam o volume extraído mensalmente, assim como as medidas dos níveis estático e dinâmico dos poços".

"Estes dados possibilitam ao órgão gestor verificar em quais locais é preciso um controle maior da utilização do aquífero, e eventualmente criar áreas de restrição ao uso das águas subterrâneas", diz o departamento.

Em relação ao Guarani, o DAEE afirma que, "como o volume extraído deste aquífero é muito grande, torna-se necessário o acompanhamento de sua exploração para garantir uma exploração sustentável".

MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Embora ainda haja muito a avançar no monitoramento do Guarani e das demais águas subterrâneas no Brasil, Hirata diz que essas reservas podem ser muito úteis num cenário de grande irregularidade na oferta hídrica no país.

Para ele, tomando os cuidados para evitar a contaminação e exploração exagerada, "as águas subterrâneas podem ser a solução para muitos problemas sociais, permitindo a oferta de água de baixo custo e excelente qualidade".

Hirata cita ainda a possibilidade - já adotada em alguns países - de injetar nos aquíferos sobras de água de rios e represas nos períodos chuvosos, acelerando a recarga das reservas subterrâneas e deixando os sistemas mais equilibrados.

"Com as mudanças climáticas, o mundo inteiro tem despertado para isso", afirma.


Como falar sobre os 'vencidinhos' sem romantizar a pobreza?, FSP

 Halitane Rocha

COTIA | AGÊNCIA MURAL

Eu sou mãe de gêmeas e periférica, sempre atrás de boas promoções para (tentar) encher a minha geladeira todo mês.

Com R$ 50, eu consigo ir ao "vencidinho" Bem Barato, em Cotia, na Grande São Paulo, e comprar nugget de peixe, lula e hambúrguer vegetal, por exemplo, para complementar minha dieta sem carne durante a Quaresma.

Quando foi inaugurado este mercado próximo da minha casa, em fevereiro deste ano, pensei em fazer uma reportagem, também com o objetivo de compartilhar uma informação que seria útil para o bolso da nossa audiência.

"Vencidinho" é um nome popular entre os próprios clientes, que assim denominam os mercados que vendem apenas produtos próximos da data de validade. O prazo do vencimento pode variar de 2 dias a alguns meses. Quanto mais próximo da data, maior o desconto, que pode chegar a 90% em produtos como o iogurte.

Lucas atua no Mercado Pestana, focado em produtos perto da data de vencimento com promessa de mercadorias mais baratas. (Foto: Zanone Fraissat/Folhapress)

reportagem ​, publicada na Folha no dia 24 de março, rapidamente se espalhou pelas redes sociais, e começaram a aparecer muitos comentários preconceituosos em relação a este segmento de mercado.

"Amenizando a precariedade alimentar… comida estragada ganhou até apelido carinhoso" e "Gourmetizando a miséria. Não me surpreende."

Quem conhece esses mercados faz propaganda para amigos e familiares, porque sabe que pode ajudar no orçamento do mês. Na internet, parte da audiência também deixou comentários positivos.

"Compro muito desses lugares, faz muito tempo que não compro carne de boi num açougue!" e "Os próximos ao vencimento são sucesso em todas as redes, ao menos pra mim".

Por isso, não foi tão difícil encontrar pessoas que aceitaram dar entrevistas para falar da mudança de hábito nas compras de casa. Eu procurei nas minhas redes e logo apareceu gente topando que queria dar depoimento e outras perguntando endereços para poderem ir nesses lugares.

Difícil foi encontrar um comerciante que topasse falar e desmistificar o significado do termo"vencidinho". Precisei falar com vários mercados até que um aceitasse o convite.

O Lucas Jesus de Souza, dono do mercado Pestana e gerente do mercado Lessa, entende que isso pode ter relação com comentários negativos nas redes sociais.

"Muitas pessoas acham que esses mercados surgiram agora na pandemia, como um oportunismo pra gente ganhar dinheiro, mas não é verdade. O Lessa existe há mais de 20 anos. O meu mercado abriu na pandemia, mas foi um caso à parte".

Mesmo com o olhar preconceituoso de algumas pessoas com relação aos mercados, Lucas prefere focar no lado bom da reportagem: "Pra mim foi bom, ganhamos muitos seguidores. Preço baixo e produto bom o pessoal vai atrás."

Em dois dias foram 350 seguidores e a cada dia, chegam cerca de 10 seguidores novos na página. O Pestana agora prioriza mais a divulgação no Instagram por causa dessa movimentação, do que o WhatsApp, como era feito antes.

Em Vargem Grande Paulista, o mercado O Barato da Vargem compartilhou no grupo deles do WhatsApp a alegria de terem sido citados na reportagem.

Ao compartilhar a informação sobre os "vencidinhos", não quero deixar de lado o debate sobre a fome, quero mostrar que em meio a essa dificuldade, a crise econômica, o desemprego, pode haver uma solução próxima da sua casa para ajudar a não faltar comida na mesa das famílias.


Unicamp e Shell firmam parceria para pesquisas em biogás, site Unicamp

 A Unicamp e a Shell firmaram nesta quinta-feira (31/3) uma parceria para pesquisas na área de biocombustíveis e biogás. A empresa irá investir cerca de R$ 6,1 milhões na instalação de uma planta piloto para processamento de biomassa e produção de biohitano, um biogás enriquecido com hidrogênio, o que lhe confere maior potencial energético. As pesquisas serão conduzidas pelo Laboratório de Genômica e bioEnergia (LGE), do Instituto de Biologia (IB), e pela Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp. 

A parceria foi assinada pelo reitor da Unicamp, professor Antonio José de Almeida Meirelles, e por Alexandre Breda, gerente de tecnologias de baixo carbono da Shell. Participaram do evento os líderes do projeto, professores Gonçalo Pereira, coordenador do LGE, e Gustavo Mockaitis, docente da Feagri. Também estiveram presentes os diretores das faculdades, professores André Freitas (IB) e Angel Garcia (Feagri), e o diretor executivo da Agência de Inovação da Unicamp (Inova), Renato Lopes. 

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Alexandre Breda: "Voltar à Unicamp me dá a certeza de estar em um lugar que tem a inovação no sangue" (foto: Antonio Scarpinetti)

Por determinação da Agência Nacional do Petróleo (ANP), as empresas do setor devem investir parte de seus recursos em pesquisas de desenvolvimento tecnológico realizadas por universidades. Segundo Alexandre Breda, a Shell tem como meta zerar suas emissões de carbono até 2050, o que depende de tecnologias voltadas ao uso de biocombustíveis. "Uma empresa não consegue atingir esse objetivo sem a contribuição da academia e dos governos. A parceria com a universidade é fundamental para trazer soluções tecnológicas e para nos ajudar a dialogar com a sociedade", comenta. 

Formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp, Alexandre reconhece a vocação da Universidade para desenvolver tecnologias que atendam demandas do mercado e contribuam com o meio ambiente. "Voltar à Unicamp me dá a certeza de estar em um lugar que tem a inovação no sangue. Desde que entrei na graduação, há cerca de 25 anos, a Unicamp sempre teve essa vocação. Foi o que me fez escolhê-la então para cursar  engenharia, e hoje para parceira de pesquisa". 

Do metano ao biohitano

As pesquisas realizadas com investimentos da Shell irão se concentrar em duas frentes: a instalação de uma planta piloto de processamento de biomassa para produção do biohitano e a exploração da biomassa do Agave para obtenção de biocombustíveis e biogás. O biohitano é um biogás obtido a partir de processos de digestão anaeróbia em que há uma concentração maior de hidrogênio em comparação com o metano. 

foto mostra gonçalo apontando para uma tela
Gonçalo Pereira destaca o potencial do biohitano para a indústria petroquímica (foto: Antonio Scarpinetti)

"Por conter cerca de 30% a mais de hidrogênio, o biohitano tem o dobro do potencial energético. Um litro dele tem quase o dobro de energia do biometano. Quando enriquecido pelo hidrogênio, é um gás extremamente energético", explica Gonçalo Pereira. O produto tem grande valor para a indústria petroquímica mas pesquisas na área são recentes: "Ainda não existe produção industrial de biohitano. Por isso a Shell se mostrou interessada". 

Os pesquisadores também pretendem investigar o potencial da biomassa do Agave para produção de biocombustíveis. A planta é utilizada para produção de fibras de sisal e de tequila, mas ainda pouco explorada do ponto de vista energético. São necessários estudos a respeito dos processos bioquímicos envolvidos em sua digestão por microorganismos e da forma como sua biomassa pode ser processada para obtenção de energia. "Queremos estudar esses processos em escala micro no Laboratório de Genômica e bioEnergia e elevar a escala disso na Feagri. Ou seja, desenvolver uma forma de transformar o conhecimento sobre a biomassa de Agave e sobre os microorganismos que irão transformá-la em um processo piloto, depois em escala semi-industrial e, então, em escala industrial", detalha Gustavo Mockaitis. 

foto mostra gustavo bockaitis apontando para uma tela
Gustavo Mockaitis vai liderar as pesquisas que serão desenvolvidas na Feagri (foto: Antonio Scarpinetti)

Por ser uma espécie adaptada a regiões semi-áridas, o Agave é uma opção para o desenvolvimento de áreas como o sertão nordestino. "Para sermos competitivos economicamente, precisamos de biomassa barata. O Agave é uma planta com produtividade semelhante à da cana-de-açúcar, e cujo cultivo pode gerar empregos, renda e manter as pessoas do campo", defende Gonçalo. 

foto mostra mão com luvas segurando muda de agave
Pesquisadores vão explorar potencial da biomassa de Agave para produção de biocombustíveis (foto: Antonio Scarpinetti)

 

O reitor da Unicamp elogiou o caráter inovador do projeto e a sua conexão com as demandas do país. "O futuro da transição energética está em disputa hoje e precisamos entrar nessa corrida. Se tivermos a capacidade de criar tecnologias e ciência, vinculando nosso potencial às demandas sociais, poderemos ter uma grande relevância global", pontua Antonio Meirelles.