Se o que vimos no Senado é 'o novo', estamos mesmo mal das pernas
Quarenta anos de carreira política, quatro mandatos de presidente do Senado, escândalos pra dar, vender e financiar, se há alguém com a cara da “velha política”, esse é José Renan Vasconcelos Calheiros.
Pergunto-me, porém: o que representa esse grupo difuso e histriônico que barrou o quinto mandato do alagoano e instalou no lugar o obscuro Davi Alcolumbre (DEM-AP)?
Se isso é o que chamam de a nova política e se eles irão se portar como nessas inesquecíveis sessões de eleição do novo presidente do Senado, estamos mesmo mal das pernas.
A “nova política” começou a sexta (1) tentando aplicar um golpe digno de Renans, Jaders e Sarneys: pregou Davi na cadeira de presidente e sacou da cartola a defesa do voto aberto. A eleição para a chefia das casas legislativas é secreta, sempre foi, e por razões sólidas: entre elas, a de reduzir o poder dos governos de cabrestear o voto dos parlamentares.
Há, mesmo assim, argumentos razoáveis em prol do voto aberto. Mas, para isso, é preciso aprovar um projeto nesse sentido, tudo dentro de normas chatas, chatíssimas, mas essenciais no chamado Estado democrático de Direito. Passar por cima desse rito em nome do combate ao Renan, ao Godzilla, a quem quer que seja, é colocar um tijolinho a mais no castelo da republiqueta de banana que muitos querem construir.
Barrada a tosca manobra, o que pregaram alguns dos 81 senadores da nova política que de boca escancarada e braço erguido juraram horas antes respeitar a Constituição? Que fosse ignorada a decisão do órgão máximo da Justiça brasileira, segundo a Constituição que eles juraram defender. Tudo em nome de instituições mais ilustres, como o citado “tribunal dos aeroportos”.
Ao fim, promoveram uma “Blitzkrieg” pelo voto aberto, mostrando cédulas e constrangendo outros a mostrar. Renan foi derrotado, comemore-se! Bimbalhem as panelas!
Mesmo que boa parte da turma vencedora seja formada —com cabelos a mais e anos a menos— pelos mesmos Renans de sempre.
Ranier Bragon
Repórter especial em Brasília, está na Folha desde 1998. Foi correspondente em Belo Horizonte e São Luís e editor-adjunto de Poder.
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