sábado, 2 de fevereiro de 2019

Condomínio sem manutenção e com estrutura sucateada é barril de pólvora, FSP

Moradores devem ser conscientizados de que rateios para melhorar instalações são necessários

Sempre que acontece uma grande tragédia, como o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), penso no barril de pólvora em que se transformaram milhares de condomínios por todo o país.
Prédios enormes sem qualquer plano de manutenção, com estruturas e equipamentos sucateados, extintores vencidos, mangueiras furadas, quadros elétricos em madeira, tubulações de gás danificadas, aquecedores sem manutenção, botijões no interior dos imóveis, entre outros problemas graves.
Há ainda o AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros) vencido e a inexistência de brigada de incêndio. O zelador de um grande condomínio nessas condições me disse: “Aqui nada acontece, Deus protege”.
Em muitos lugares, o condomínio já custa uma fortuna, e o dinheiro arrecadado mensalmente mal cobre o pagamento das despesas elementares. Além disso há a inadimplência, que atrapalha qualquer planejamento financeiro.
Diante desse cenário, as manutenções preventivas e corretivas, bem como os investimentos em segurança, vão sendo perigosamente adiados. Os síndicos ficam de mãos atadas e não sabem que responderão, civil e criminalmente, se alguma tragédia ocorrer.
Há que se fazer um grande trabalho de conscientização dos moradores, porque qualquer rateio extra para melhorar as instalações e a segurança costuma gerar intermináveis discussões nas assembleias.
Não raramente, obras necessárias e emergenciais são reprovadas.
Pensando na segurança da família, quase ninguém deixa de trocar os pneus carecas do carro. Porém, essas mesmas pessoas se arriscam ao viver em prédios que podem pegar fogo ou explodir. 
Tomar o primeiro passo não é fácil, sobretudo nos edifícios mais antigos e sem caixa, mas existe um roteiro para que, a médio prazo,  um bom nível de segurança seja atingido:
1) Criar, em assembleia, uma comissão de manutenção e segurança para apoiar o síndico e nortear ações futuras;
2) Contratar um engenheiro para a confecção de um laudo de inspeção predial, de forma a apontar as manutenções emergenciais que precisam ser feitas;
3) Averiguar como estão as obrigações legais essenciais, especialmente AVCB, brigada de incêndio, laudo de para-raios, recarga de extintores e manutenção de mangueiras;
4)Aprovar, em assembleia, um fundo de manutenção a ser investido conforme prioridades definidas pela comissão;
5) Realizar, de forma programada, inspeção nos equipamentos instalados nos apartamentos —principalmente nos aquecedores de passagem;
6) Fazer campanhas de conscientização com os proprietários, focando também na valorização do patrimônio, para que tudo seja encarado como investimento e não apenas gasto.
Márcio Rachkorsky
Advogado, é membro da Comissão de Direito Urbanístico da OAB-SP.

    ‘Não vou criar rede de TV para ser chapa branca’, FSP

    Empresário, que está montando uma operação da rede CNN no Brasil, diz que público da TV paga é muito elitista

    Entrevista com
    Rubens Menin, empresário
    Circe Bonatelli, O Estado de S.Paulo
    02 Fevereiro 2019 | 04h00
    O cofundador da construtora MRV, Rubens Menin, um dos homens mais ricos do País, acha que o brasileiro precisa colocar a cabeça pra fora e participar mais da vida nacional. “Nenhum país se tornou uma grande nação sem união nacional”, afirma. Menin já é um personagem ativo nesse cenário. Participa de associações empresariais e é um dos maiores doadores de campanhas eleitorais.
    Agora, se prepara para uma nova empreitada: a criação de um canal de notícias na TV, a CNN Brasil, uma parceria com a rede americana CNN, com início das operações previsto para o segundo semestre. Segundo ele, não será uma rede de “direita ou esquerda”. “Queremos fazer uma boa imprensa.” A seguir, os principais trechos da entrevista:

    O sr. lidera associações empresariais com trânsito no governo, é um dos maiores doadores de campanhas eleitorais, além de ser um dos empresários mais populares nas redes sociais. Agora pretende ter um canal próprio de TV. Por que esse movimento?

    É uma obrigação nossa. Tem de mudar a cultura do brasileiro. O brasileiro é muito pra dentro, muito introspectivo. Parece que tem vergonha de participar, de dar opinião. “Ah, o problema é do governo.” Mas não é, não. Temos de botar a cabeça para fora e participar mais. Precisamos de uma união nacional. O Brasil está esfacelado, cheio de grupos, de divisão depois das eleições. Nenhum país se tornou uma grande nação sem união nacional. Lógico que tem de ter diversidade, mas é importante um projeto de nação. As associações de classe e as pessoas físicas têm a obrigação de participar, não podem abrir mão.

    A criação da CNN Brasil vem nesse contexto de influenciar a pauta nacional?

    É, nesse contexto, eu acho que sim.

    Qual Brasil a CNN local vai mostrar?

    Começaram a rotular o projeto como de direita ou de esquerda. Não é nada disso. Queremos fazer uma boa imprensa. A imprensa pode ser opinativa, não tem nada de errado nisso. Mas não se pode distorcer os fatos. Infelizmente, no Brasil, existem distorções de fatos. Isso é ruim para a sociedade. Vamos ter uma grade igual à da CNN americana, mas tropicalizada. Queremos ser construtivos dentro dos bons princípios éticos morais. Aí dizem: “vai ser chapa branca”. Mas que chapa branca, o quê! Vou fazer um esforço desse para ser chapa branca?

    Qual público o sr. quer atingir?

    Nós queremos penetrar ao máximo a sociedade. Hoje, o público das TVs por assinatura é muito elitista. Mas as plataformas alternativas são outras. Vamos distribuir a notícia, democratizar e atingir todas as classes sociais. Também vamos trabalhar com conteúdo aberto.

    O sr. confirma o plano de contratar 400 jornalistas?

    Para notícia, precisamos de gente. Vamos ter um número bom. Não pode ser raquítico na largada: vai sair encorpado num primeiro momento.

    Como foi a reunião de apresentação da CNN ao presidente Jair Bolsonaro?

    É uma obrigação cívica. Se vai trazer uma emissora ao Brasil, tem a obrigação de informar ao presidente. Foi uma reunião muito cordial, fui muito bem recebido. O Bolsonaro é uma pessoa simples, não é uma pessoa muito complicada. Então, a conversa foi boa.

    Como o sr. avalia os primeiros 30 dias de governo?

    Tem duas coisas que eu achei bacana. Primeiro, as nomeações sem o toma lá dá cá, que foram uma inovação. Gostei muito disso. Conheço alguns membros da equipe econômica, como o Salim (Mattar, fundador da Localiza e atual secretário de Privatizações do Ministério da Economia) e outros mais. O Salim é uma pessoa de muito nível, um patriota. A turma está bem. A outra coisa que gostei foi que no relatório Doing Business, do Banco Mundial, somos o 109.º melhor país para se realizar negócios. É uma vergonha para a oitava maior economia do mundo. O Bolsonaro quer nos levar para a posição 50. Está na cabeça deles a ideia de melhorar o ambiente de negócios em bases sustentáveis.

    Em uma entrevista recente o sr. elogiou os filhos do Bolsonaro, falando que eles têm um compromisso 100% ético. O sr. ainda pensa assim, após as suspeitas envolvendo pessoas próximas ao senador Flávio Bolsonaro?

    Eu tenho três filhos que trabalham comigo, o que é uma sorte para qualquer pai. O que eu quero dizer é que, em vez de achar nepotismo os filhos trabalharem ao lado dele, na verdade isso é bom. A família é muito importante. Achei bacana a participação da mulher dele, a Michelle, fazendo um discurso inusitado na posse. Ele quer passar para todo mundo a importância da família, e isso é bom. Só conheço um dos filhos, o Eduardo. Tenho excelente impressão do Eduardo, como um cara preparado, preocupado com a imagem do Brasil lá fora. Os outros não conheço. E não vou julgar o Flávio pelo que se está falando. Não consegui ver consistência a favor nem contra. Espero que os fatos sejam elucidados.

    O sr. ficou em sexto lugar entre os maiores doadores da última campanha eleitoral. Qual seu critério para selecionar quem vai receber os recursos?

    Quando falo que as elites não podem ser omissas, isso vale também nas campanhas políticas. Se a legislação permite que doações, então doe dentro das regras. É a segunda eleição na qual doo como pessoa física. Mas é preciso ter seletividade. Os candidatos tinham de passar por um crivo: serem desprendidos politicamente, para fazer um País melhor.
    NOTÍCIAS

    Por privatização, governo intervirá na Ceagesp, FSP

    Ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM), tomou a decisão após receber uma série de denúncias dos permissionários

    Catia Seabra
    RIO DE JANEIRO
    O governo federal decidiu intervir no comando da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) com vistas à sua privatização.
    A ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM), tomou a decisão após receber dos permissionários do entreposto uma série de denúncias, incluindo superfaturamento de contratos e falta de transparência na prestação de contas.
    O governo ainda não decidiu quando vai intervir no órgão.
    Ministra da Agricultura, Tereza Cristina
    Ministra da Agricultura, Tereza Cristina; ela recebeu uma série de denúncias dos permissionários - Ueslei Marcelino/Reuters
    Segundo demonstrativo financeiro de 2018, a Ceagesp encerrou o ano com um rombo de R$ 35,2 milhões —um gasto de R$ 141,5 milhões ante uma receita de pouco mais de R$ 111 milhões.
    De acordo com dados do Sincaesp (Sindicato dos Permissionários em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo) e da Apesp (Associação dos Permissionários do Entreposto de São Paulo), o custo por metro quadrado é de R$ 51,80, o dobro do Rio (R$ 23,40) e o quíntuplo do de Belo Horizonte (R$ 12,02).
    Para os autores do pedido de intervenção encaminhado ao governo, os números se devem à partidarização do comando da Ceagesp, hoje sob ascendência do deputado federal Fausto Pinato (PP).
    Pai do deputado, o advogado Edilberto Donizete Pinato é o coordenador de Governança Cooperativa e Ouvidoria, com salário de R$ 19,5 mil mensais.
    O presidente da companhia, Johnni Hunter Nogueira, foi assessor parlamentar do tucano Carlão Pignatari, da mesma região de Pinato.
    Segundo os permissionários, há ainda no comando da Ceagesp indicados de outros parlamentares do PP.
    A intenção da ministra é destituir a atual diretoria para colocar um nome de sua confiança no comando na companhia. Pinato já chegou a ser informado por ela da decisão.
    Segundo números das associações dos permissionários, os indicados políticos consomem 23% do orçamento da folha de pagamento. No ano passado, os gastos com pessoal superaram R$ 51 milhões.
    Os permissionários reclamam do alto custo para exploração do espaço --cerca de R$ 16 mil mensais pagos em locação e condomínio por um box de pouco menos de 120 metros quadrados-- sem a prestação de serviços.
    Queixando-se da precarização do entreposto, o presidente da Apesp, Onivaldo Comin, lembra que esse custo vai para o preço final dos produtos.
    Em 2018, os gastos com limpeza somaram R$ 30 milhões e o custo com segurança chegou a R$ 1,7 milhão mensal.
    "A função do entreposto está deteriorada. Não temos mais um grande entreposto. O consumidor está bancando esse custo", diz Comin.
    O entreposto de São Paulo é a maior central de abastecimento de frutas, legumes, verduras, flores e pescados da América Latina. Por lá, circulam diariamente cerca de 50 mil pessoas e 12 mil veículos.
    Pinato afirmou que os autores das denúncias representam 5% dos permissionários do entreposto. Segundo o deputado, eles resistem a uma mudança no modelo de cobrança do condomínio. Esse novo modelo atenderia a um apontamento do TCU (Tribunal de Contas da União).
    "Eles [os autores da denúncia] querem afundar o Ceagesp para privatizar", disse o deputado federal.
    Segundo nota encaminhada por Nogueira, o inconformismo de um grupo de permissionários se deve à reprovação de um projeto em que pleiteavam a gestão direta dos serviços de segurança e portaria.
    Sobre os custos com manutenção, a atual administração afirma ter herdado contratos de gestões anteriores. Em nota, o presidente afirma ainda que o ingresso de diretores segue rigorosamente critérios fixados por lei.
    Segundo a nota, "essas reclamações são pontuais".