sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Assassinato cultural, FSP

O mercado talvez consiga silenciar Woody Allen, mas o cinema nunca poderá fingir que ele não existiu

O novo filme de Woody Allen, “A Rainy Day in New York”, pronto há um ano, continua engavetado. Seu lançamento, previsto para este mês, foi suspenso “provisoriamente”. A Amazon, que o produziu, não quer se indispor com os exibidores, os quais temem manifestações contra o diretor na porta de seus cinemas e possíveis depredações. O filme, talvez o derradeiro de Woody, trata do relacionamento de um homem de 44 anos com uma jovem de 15.
Allen, um dos cineastas mais queridos do século 20, pode ser obrigado a encerrar a carreira, por ter sido acusado de abusar sexualmente de sua filha Dylan em 1992, quando ela tinha sete anos. A acusação foi feita por Mia Farrow, algum tempo depois de Allen romper seu relacionamento com Mia para ficar com outra filha dela, Soon-Yi, com quem está até hoje. Allen foi julgado duas vezes, em ações diferentes, e nunca se encontraram provas contra ele. Nos últimos anos, sem novas provas, passou a ser acusado pela própria Dylan e, agora, pelo irmão dela, Ronan, colaborador da revista The New Yorker e especialista em reportagens sobre assédio sexual. 
Se Woody Allen não puder lançar este filme e nunca mais voltar a filmar, estaremos diante de um assassinato cultural. Ele terá sido profissionalmente linchado por uma acusação nunca provada. Aos 83 anos, já poderia estar há muito aposentado. E por que continua a fazer filmes? Porque esta é a sua vida. 
Desde sua estreia, em 1969, com “Um Assaltante Bem Trapalhão”, há 49 anos, ele lançou exatamente 49 filmes como diretor. Todos tiveram grandes mulheres no elenco. Nenhuma delas jamais o acusou de nada 
—incluindo Mariel Hemingway, que tinha de 16 para 17 anos quando fez com ele “Manhattan”, lançado em 1979. Allen não é HarveyWeinstein, acusado de assédio por 80 mulheres. 
O mercado talvez consiga silenciar Woody Allen. Mas o cinema nunca poderá fingir que ele não existiu.

Vamos jogar fora o Banco dos Brics?, Rodrigo Zeidan FSP

Ano que vem o Brasil será sede da cúpula dos Brics e assume a presidência do bloco. Em 2020, o país indica o presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, antigo Banco dos Brics), que guiará a instituição pelos próximos cinco anos. Grande parte da nova ordem mundial está voltada para o Oriente e temos um assento na janela por causa de um relatório do banco Goldman Sachs, em 2001.
Fazer parte desse processo tem custo. No caso do NDB, os cinco países fundadores devem aportar recursos até totalizar US$ 2 bilhões (R$ 8,29 bilhões).
A próxima parcela, de US$ 300 milhões (R$ 1,24 bilhão), deve ser depositada até o dia 3 de janeiro. O problema é que o aporte não consta da proposta orçamentária brasileira para 2019.
Reunião dos país que compõem o Bric, que este ano foi na África do Sul - AFP
Recentemente o NDB conseguiu rating de longo prazo AA+ das agências de classificação de risco Fitch e S&P, um degrau abaixo da classificação máxima AAA e acima do normal para bancos (AA). O BNDES tem rating BB-, 11 degraus abaixo.
O NDB consegue captar recursos de forma mais barata do que qualquer dos países-membros e já tem quase US$ 1 bilhão (R$ 4,15 bilhões) em projetos no Brasil. Há três opções na mesa em relação à participação do Brasil no bloco dos Brics e no NDB: sair do bloco e/ou do banco, honrar seus compromissos, ou atrasar o pagamento da sua participação.
Sair do NDB é uma opção, se o que queremos é assistir de longe às mudanças geopolíticas do mundo. Mas se queremos participar da ordem mundial não faz sentido deixar de colocar os recursos no banco.
Não só colocaríamos em risco a capacidade da instituição de fazer empréstimos para projetos no Brasil com juros abaixo do que o Tesouro brasileiro consegue captar, mas enfraqueceríamos a nossa atuação no bloco. Não podemos ajudar a construir uma instituição como o Brics e ao mesmo tempo dar sinais de que não somos sérios. É amadorismo.
*
A UFRJ, minha alma mater, é mal gerenciada há décadas.
O desastre com o Museu Nacional, causado em última instância pela péssima governança da instituição, é o último de uma série de descalabros de gestões partidárias, amadoras e ruins, combinados com uma estrutura inflexível. Precisamos liberar o museu do descaso com o qual é tratado pela UFRJ.
Para quem acha que o problema é falta de dinheiro: mais recursos para a UFRJ é como dar cachaça para bêbado.
Precisamos modernizar a governança do museu e diversas instituições, como a Biblioteca Nacional e o Observatório Nacional, autarquias federais independentes, mas também inflexíveis, para algo próximo do Impa, uma organização social e o maior exemplo de sucesso da área acadêmica brasileira.
Não é privatizar (seria um absurdo): é profissionalizar.
Para completar, só no Brasil divulga-se um "orçamento" sem incluir despesas correntes e salários dos profissionais.
O fato de o Tesouro pagar o salário de pesquisadores do museu não significa que eles não deveriam entrar na conta do orçamento da instituição. Orçamento sem despesas obrigatórias: mais uma jabuticaba que só se encontra no Brasil.

No dia 17 de setembro ocorre o lançamento de "Apelo à Razão: a reconciliação com a lógica econômica", livro que escrevi com Fabio Giambiagi, o maior especialista brasileiro em Previdência. A ideia do livro é apresentar um roteiro de propostas para tirar o Brasil da armadilha da renda média.
Não participarei do lançamento na Livraria da Travessa, no Rio de Janeiro, por estar fora do país, mas lá estarei em espírito.


Rodrigo Zeidan
Professor da New York University Shangai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

Agressor de Bolsonaro foi indiciado na Lei de Segurança Nacional, OESP

O homem que esfaqueou o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL), Adelio Bispo de Oliveira, foi indiciado na Lei de Segurança Nacional, segundo a Polícia Federal. Adelio Bispo de Oliveira, de 40 anos, foi transferido na manhã desta sexta-feira, 7, da sede da Polícia Federal em Juiz de Fora para o Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (CERESP), também no município mineiro.
Após o ataque, Adelio, de 40 anos, foi preso por agentes da Polícia Federal e levado para a delegacia, onde assumiu o crime e disse que teria agido por contra própria e "em nome de Deus". 
Em seu artigo 20, a Lei 7.170, que define os crimes contra a segurança nacional, a ordem política e social, inclui os crimes pela "prática de atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas".
A pena para esse tipo de crime é de reclusão de 3 a 10 anos, podendo ser aumentada em até o dobro, se o fato resultar em lesão corporal grave; e até o triplo se resultar em morte.
Ainda nesta manhã, a Polícia Federal liberou um segundo suspeito do atentado, que, sem ligação direta com o ato, teria incitado a violência. Ele foi "detido, ouvido e liberado, mas segue na condição de investigado", informou a PF. Ao todo, segundo o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, três pessoas são investigadas. 
Suspeito de esfaquear Bolsonaro
Em depoimento à polícia, Adélio Bispo de Oliveira, que atacou o presidenciável, afirmou que agiu motivado por 'questões pessoais'. Foto: EFE
Golpeado na região do abdome na tarde desta quinta-feira, 6, enquanto fazia campanha em Juiz de Fora, Bolsonaro foi atendido na Santa Casa da cidade, onde passou por uma cirurgia. Ele foi transferido nesta manhã para São Paulo, onde ficará internado no Hospital Israelista Albert Einstein, no Morumbi. O estado de saúde dele é considerado grave, mas estável. 
Segundo o presidente da Santa Casa, Renato Loures, um eventual atraso na cirurgia "provavelmente" podia ter causado a morte do paciente. "A transferência dele para São Paulo foi devido a um pedido da família. Foi transferido em condições muito boas: lúcido, falando, se comunicando", disse. 

Loures ressaltou que "não se pode permitir" o vazamento da foto de Bolsonaro na maca do hospital, que circulou via redes sociais assim que o presidenciável chegou à unidade. "Não sabemos se foi um médico ou um colaborador, mas podemos afastar um médico se tiver sido um", afirmou.