quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Fato e fake, Delfim Netto, FSP


É fato, não fake, que 2016 encerrou uma das piores décadas de crescimento do PIB per capita do último século! 
Tivemos um robusto crescimento com inflação relativamente moderada até a década dos 80 do século passado. 
A crise do petróleo (o Brasil importava 80% do seu consumo) produziu uma grave deterioração das condições internas. O crescimento decenal per capita despencou de quase 7% no final dos anos 70 para menos de 2% (sob uma ameaça de hiperinflação) até o sucesso extraordinário do Plano Real (1995). 
É importante lembrar que o Brasil foi o primeiro país a resolver seu problema de balanço de pagamentos, em 1984, graças a uma grande recessão, e o último a renegociar a sua dívida, dez anos após um estúpido “default”, já no excelente governo Itamar Franco (1992-1994).
É fato, também, que o sucesso do Plano Real foi melhor para reeleger FHC do que para retornar ao crescimento decenal. Este andou sempre às voltas de 1,2% ao ano, até um pequeno surto no governo Lula, ajudado pela boa administração da economia e um presente externo (a melhoria das relações de troca). 
Lula soube aproveitá-los e distribuir (um misto de fato e de fake), que é a principal razão do “sebastianismo” que hoje o cerca.
De qualquer forma, não é possível ignorar que o governo Lula adquiriu outro caráter quando Dilma Rousseff, então na Casa Civil, sabotou o desejo de seu chefe. 
Ele havia manifestado ao ministro Palocci (e há testemunha viva) que queria criar as condições para o estabelecimento do equilíbrio fiscal sólido, com uma relação dívida/PIB que possibilitasse uma ação fiscal enérgica se, e quando, a demanda privada esmorecesse.
“Esse programa é rudimentar”, disse ela furiosa à imprensa. E definiu a sua filosofia: “gasto é vida”, da qual, seja reconhecido, nunca se afastou a partir de 2012 quando dispôs livremente do poder para fazê-lo.
Não é sem motivo, portanto, que o decênio terminado em 2016, todo ele dominado pelo PT, registra um dos menores crescimentos do século. O curioso é que um “fake” produzido pela “esquerda desvairada”, de que se queixava Darcy Ribeiro, se transformou em um quase “fato”. 
Atribui-se ao presidente Temer toda a desgraça de 2012 a 2016! Temer começou muito bem. Foi desconstruído pela armadilha “JBSgate”, mas continuou a tentar as reformas imprescindíveis para a recuperação do protagonismo do Executivo, sem o qual a volta do crescimento é ilusão. 
Ainda agora, apesar de todas as resistências, tenta aprovar um conjunto de medidas que aliviarão o trabalho de seu sucessor, seja ele quem for. O deplorável é que o “incógnito” revela uma comprometedora falta de coragem...
Antonio Delfim Netto
Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.
TÓPICOS

Agora é cinza, Ruy Castro, FSP


No domingo, enquanto o fogo devorava 200 anos de história com o incêndio do Museu Nacional, eu me perguntava. O que estariam pensando os ministros do Planejamento, da Educação e da Cultura que serviram aos 17 presidentes da República que sucederam Juscelino quando este, em 1960, levou a capital do Brasil para a lunar Brasília e virou as costas ao patrimônio histórico e artístico brasileiro, em grande parte sediado no Rio? 
Eu gostaria de perguntar também a cada um desses presidentes (há seis vivos, inclusive —parece— o atual) por que, em algum momento de sua administração, eles nunca puseram os pés no museu. Que Collor, Lula, Dilma e Temer nunca tivessem aparecido, entende-se —são ignorantaços, devem achar que um museu desses só serve a fins turísticos. Mas a mesma restrição se pode fazer a um que sempre se apresentou como um intelectual, sociólogo, amigo de vários daqueles antropólogos e historiadores —Fernando Henrique Cardoso. 
Quando se sabe que o orçamento anual do museu em 2013 era de míseros R$ 515 mil e, desde então, só fez diminuir, é de se perguntar em que país estamos. Um valor de R$ 515 mil é visto como troco nas grandes investigações escusas levantadas pela Lava Jato —pois é isto que cabia ao museu e o governo ainda conseguiu diminuir. Naquele ano, o museu ganhou da Câmara carioca uma verba de R$ 20 milhões, que poderia ter resolvido seus problemas: cupim, poeira, infiltrações, ligações clandestinas e fios desencapados. Este dinheiro, no entanto, foi “contingenciado”, engavetado pelo governo federal, e nunca chegou ao museu. A presidente avara chamava-se Dilma Rousseff.
No dia do bicentenário do museu, em abril último, seus diretores armaram uma pequena festa. Nenhum dos ministros de Temer, nem o da Educação nem o da Cultura, compareceu.
Só deixaram para aparecer nas cinzas. 
Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.

Preço de imóvel acumula queda real de 18% em menos de quatro anos, OESP

Douglas Gavras, O Estado de S.Paulo
05 Setembro 2018 | 04h00
Com a economia andando de lado e o consumidor evitando fazer dívidas, o preço dos imóveis residenciais tem variado abaixo da inflação há mais de três anos e meio, segundo a pesquisa FipeZap. Desde dezembro de 2014, a variação do preço de compra da casa própria, em 20 cidades, perde da inflação, considerando a variação em 12 meses.
A queda real dos preços dos residenciais entre o começo de 2015 e agosto deste ano é de 18,2%. Assim, um imóvel que era vendido por R$ 500 mil em janeiro de 2015 seria ofertado hoje por cerca de R$ 408,8 mil. Neste ano, até agosto, houve uma queda real de 3,14% nos preços dos imóveis prontos.
Doria desiste de corrigir valor venal de imóveis e anuncia alta de 3% no IPTU
Queda real dos preços dos residenciais entre o começo de 2015 e agosto deste ano é de 18,2%. Foto: Jefferson Pancieri/Prefeitura de São Paulo
A reversão de expectativas quanto ao crescimento do País este ano e as incertezas eleitorais em outubro devem postergar a retomada do mercado imobiliário em todo o País, na visão do economista Bruno Oliva, da Fipe. “O impacto das incertezas no mercado imobiliário é duradouro, porque o consumidor vai pensar muito bem antes de se aventurar em uma dívida que pode durar até 30 anos.”
O pesquisador do Núcleo de Real Estate da Poli-USP João da Rocha Lima Júnior lembra que o mercado imobiliário, após uma onda de otimismo antes da crise, amargou uma desaceleração forte nos últimos anos. “O setor teve de se adequar, segurar preços e rever lançamentos para reduzir as perdas.”
Na virada de 2014 para 2015, a deterioração da economia começou a se refletir na alta dos distratos – como é chamada a desistência da compra de imóveis novos. Um levantamento da Fitch, feito com nove empresas do setor, apontava que de cada 100 imóveis vendidos em 2015, 41 foram devolvidos.
Para o diretor de vendas da Lello, Igor Freire, os preços de imóveis variam abaixo da inflação porque vinham de uma sobrevalorização dos anos anteriores à crise. “Na média, hoje, o vendedor tem concordado em dar descontos de 7% a 10% para não perder a venda.”
Matheus Fabricio, diretor executivo da rede de imobiliárias Lopes conta que, nas últimas 150 vendas feitas pelo grupo em São Paulo, a média de descontos que o comprador conseguiu foi de 9%. “Nos imóveis de alto padrão, chegou a 15%.”
Com o desaquecimento do mercado, o proprietário foi obrigado a ceder e fazer uma avaliação realista do preço do imóvel, diz. Ele lembra de uma propriedade na zona sul de São Paulo que ficou mais de dois anos à venda, até que o dono aceitasse baixar o preço em 39%.
Na avaliação dos especialistas ouvidos pelo Estado, a tendência é que os preços dos imóveis não tenham uma variação significativa no começo de 2019, devendo voltar a registrar aumentos reais entre o fim do ano que vem e 2020.

NOTÍCIAS RELACIONADAS