sexta-feira, 13 de março de 2015

Em Berlim, fazenda urbana e sustentável produz vegetais e peixes em larga escala, do EcoD




fazenda1-ecod.jpg
Aquaponia alia a criação de peixes com a agricultura
Fotos: Clarissa Neher
Desenvolver um meio de produção de alimentos em larga escala sustentável, que não necessitasse de tantos recursos e fosse menos poluente do que a agricultura tradicional. Este foi o principal objetivo da criação do sistema de fazendas ECT, que inaugurou na sexta-feira, 6 de março, em Berlim (Alemanha), uma das maiores fazendas aquapônicas urbanas do mundo.
"A aquaponia, que combina a criação de peixes e a agricultura, é sistema antigo usado pelos astecas e chineses. O que nós fizemos foi profissionalizar a técnica para a produção comercial", destacou à BBC Brasil Nicolas Leschke, um dos criadores do sistema de fazendas ECT.
A partir de maio, os moradores de Berlim poderão comprar os primeiros legumes produzidos por esse sistema, relata a reportagem de Clarissa Neher. Os peixes criados no local, no entanto, estarão à venda a partir de outubro. A estufa de 1,8 mil metros quadrados construída no bairro de Schöneberg, ao sul da capital alemã, tem capacidade de produzir anualmente cerca de 35 toneladas de vegetais e 25 toneladas de peixe.
Água da chuva
Um dos diferenciais da fazenda ECT o é aproveitamento da água da chuva, que corresponde a cerca de 70% do total desse recurso utilizado no sistema. Além disso, esse uso é totalmente sustentável.
 fazenda2-ecod.jpg
Caixa com legumes e verduras custa 15 euros e é entregue no mercado
A água da criação de peixes é enriquecida naturalmente pelos resíduos produzidos pelos animais. Essa água rica em nutrientes, por sua vez, é usada na irrigação das plantas. O CO2 gerado na criação dos peixes também é "reciclado". Ao ser direcionado para a estufa, ele age com um fertilizante adicional para os legumes e vegetais.
Os produtos comercializados são orgânicos, inclusive os peixes que são alimentados apenas com ração orgânica. Além disso, não são utilizados pesticidas e fertilizantes químicos na produção dos vegetais.
Outra grande vantagem da fazenda urbana é a proximidade do consumidor.
"Por estarmos no meio da cidade não temos mais custos com transporte e nossos alimentos chegam mais frescos aos clientes", diz Robert Dietrich, um dos "farmerboys", como são chamados os funcionários do local.
Cerca de cinco funcionários são necessários para tocar a fazenda, que combina o uso de um sistema computadorizado para irrigação e controle de temperatura com a plantação manual das mudas.
Atualmente estão sendo produzidos no local tomate, pepino, pimentão, berinjela, diversos tipos de salada, temperos e os chamados microgreens – pequenos vegetais ricos em nutrientes. O sistema, no entanto, pode produzir cerca de 400 espécies de plantas.
Inauguração lotada
A fazenda e o mercado foram inaugurados na última semana. O evento atraiu pessoas de todas as idades e potenciais clientes. Os produtos, no entanto, não serão comercializados avulsos como nos mercados e feiras tradicionais. Os consumidores precisam fazer uma assinatura para receber semanalmente uma caixa com diversos legumes e vegetais colhidos no local. Sua composição varia conforme a colheita.
Cada caixa custa 15 euros (pouco mais de R$ 50) e é entregue no mercado ao lado da estufa. A fazenda tem capacidade de produção inicial de 300 caixas por semana. Já os peixes serão retirados dos tanques de acordo com a demanda.
Kathrin Hoffmann que foi conhecer o projeto aprovou essa forma de agricultura e criação de peixes e pretende apoiar a iniciativa. "Os alimentos produzidos aqui são relativamente caros, mas de vez enquanto, para ocasiões especiais, dá para comprar a caixa de legumes e verduras", afirma.
 fazenda3-ecod.jpg
Mercado fica situado ao lado da estufa
Os produtos comercializados são orgânicos, inclusive os peixes que são alimentados apenas com ração orgânica. Além disso, não são utilizados pesticidas e fertilizantes químicos na produção dos vegetais.
A empresa ECT foi criada em 2012 e usou um container como protótipo para desenvolver a técnica aplicada na fazenda. A construção da estufa levou seis meses e custou mais de 1 milhão de euros (cerca de R$ 3,3 milhões). O projeto foi financiado por um fundo de capitais e um investidor privado.
Uma segunda fazenda ECT já está sendo construída na Suíça.
Será que ideias semelhantes dariam certo aqui no Brasil?
COMENTÁRIOS
Deixe sua opinião sobre este assunto.

terça-feira, 10 de março de 2015

Proibidas há mais de 6 meses, revistas vexatórias nas cadeias de SP continuam


FELIPE RESK - O ESTADO DE S. PAULO
10 Março 2015 | 03h 00

Lei determina fim do procedimento, que deveria ser substituído por scanners corporais; prazo de regulamentação venceu em fevereiro, mas licitação só começou na semana passada

Mais de seis meses após a proibição, as revistas vexatórias continuam a ser praticadas em unidades prisionais de São Paulo. Sancionada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) em agosto, a Lei 15.552 determina o fim do procedimento, que deveria ser substituído por scanners corporais capazes de detectar objetos proibidos em presídios e centros de detenção. O prazo para a regulamentação da lei venceu no mês passado. Mas só na quinta-feira o governo definiu o primeiro pregão eletrônico, para a capital. 
Na prática, antes de entrar na unidade, o visitante ainda precisa se despir, fazer agachamentos ou até mesmo dar saltos ou ser submetido a exames clínicos. “Várias mulheres ficam enfileiradas em cima de uma bancada de cimento. A gente tem de esperar a porta fechar e a agente penitenciária dar a ordem para tirar a roupa”, conta Solange Rodrigues (nome fictício), que há um ano e meio visita o filho de 25 anos, preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
Pregão para o novo equipamento eletrônico será feito no dia 18 e o contrato terá duração de 30 meses
Pregão para o novo equipamento eletrônico será feito no dia 18 e o contrato terá duração de 30 meses
O sofrimento começa antes mesmo da revista, com longas filas que podem durar até cinco horas. “A gente enfrenta sol, chuva, frio, passa por tanta humilhação, e continua lá dentro. É constrangedor. Se a revista garantisse que não entraria drogas no presídio, eu até entenderia. Mas é falha”, diz Solange que, por causa de uma cirurgia no estômago, tem dificuldade para se abaixar. “Tem de ficar pelada, se agachar e levantar três vezes. A gente nunca se acostuma, mas fazer o quê?”
Gradual. Depois de sancionar a lei que proibia a revista íntima, em agosto, o governador Geraldo Alckmin admitiu que a mudança seria gradual. “Enquanto a gente não tiver os scanners, tem de manter (a revista). Por isso, o prazo de seis meses que a própria lei estabeleceu”, disse, à época. Expirado o prazo, nenhuma das 161 unidades prisionais de São Paulo recebeu o equipamento.
“A lei já deveria estar sendo cumprida, mas não é pelo próprio poder que a sancionou. É uma contradição muito grande”, afirma Vivian Calderoni, advogada da ONG Conectas. Na sua visão, o fim da revista vexatória não deveria estar condicionado à instalação dos scanners corporais.
Para isso, cita os exemplos de Goiás, onde as revistas foram definitivamente proibidas, e a cidade de Joinville, em Santa Catarina, onde o procedimento chegou a ser suspenso por cinco meses. “Estudos apontam que a cada 10 mil revistas, três artigos proibidos são encontrados. Estamos falando de um universo muito reduzido.” Segundo Vivian, a medida também ajuda a “acalmar” os presídios, uma vez que diminui a revolta dos detidos diante das humilhações sofridas pelos parentes.
Apesar de não se opor ao fim da revista, o presidente do Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária do Estado de São Paulo (Sindasp), Daniel Grandolfo, afirma que o procedimento é necessário enquanto os scanners corporais não são instalados. “Caso contrário, a segurança estaria completamente comprometida. Os atuais equipamentos de raio X não são capazes de detectar explosivos nem armas de plástico. Seria o caos.”
Exemplo. Para Grandolfo, um episódio ocorrido em setembro, na Penitenciária de Valparaíso, no interior de São Paulo, seria a prova de que as revistas íntimas devem ser feitas. Um agente penitenciário ficou gravemente ferido depois de um artefato explodir no momento em que vistoriava a quadra esportiva da unidade.
Segundo o sindicato, o explosivo entrou no presídio no terceiro fim de semana de agosto - período em que as revistas foram suspensas pela Secretaria da Administração Penitenciária (SAP).
Scanners em teste. A Secretaria da Administração Penitenciária afirmou que vai testar os scanners corporais nos CDPs de Pinheiros 1, 2, 3 e 4, na capital paulista. Um pregão eletrônico para alugar cinco equipamentos foi publicado na quinta. Essas unidades representam apenas 2,5% de todo o sistema carcerário de São Paulo. A sessão vai ser realizada no dia 18, e o contrato terá duração de 30 meses.
A secretaria não informou, no entanto, se há cronograma de instalação para as demais unidades. “Trata-se de um projeto-piloto que avaliará a eficiência do emprego desses equipamentos”, afirmou, em nota. “Todas as 161 unidades prisionais dispõem de raio X de menor e maior porte, além de detectores de metal de alta sensibilidade, como determina a Lei 15.552.” 

domingo, 8 de março de 2015

Depois da lista, chega a hora das provas - ELIO GASPARI


FOLHA DE SP - 08/03

Qualquer lista sem Renan Calheiros e Eduardo Cunha será uma coroa sem brilhantes. Por mais que esse tipo de revelação estimule sentimentos e satisfações, listas sem provas valem nada. O processo dos marqueses do foro especial será confuso e demorado. Já o do juiz Sérgio Moro, em Curitiba, será rápido e até simples. Nele há 15 cidadãos colaborando com a Viúva na exposição das propinas passadas por empreiteiras a burocratas e políticos. Essa ponta da questão parece elucidada. Foram rastreadas transferências de dinheiro para o círculo de relações do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Ele diz que foi um empréstimo amigo. A ver. No caso dos marqueses do foro especial, ainda não se conhecem as trilhas do ervanário. Sem elas, pode-se caçar bruxas, mas não se pode levá-las ao fogo.

Percebe-se a essência da tarefa do ministro Teori Zavascki recuando-se para 2007. O senador Renan Calheiros tivera uma filha fora do casamento, e a namorada tinha contas pagas pela empreiteira Mendes Júnior. Sustentando que dispunha de meios para ajudar a senhora, Renan apresentou notas fiscais referentes a venda de bois de sua fazenda em Alagoas. Em 2007, como hoje, ele se dizia vítima de uma perseguição política. (O vice-presidente da Mendes Júnior está na carceragem de Curitiba, por outras empreitadas.)

Ainda não se sabe o que o procurador-geral, Rodrigo Janot, botou dentro daquilo que o ministro Marco Aurélio Mello chamou de “o embrulho”. Há provas de que o dinheiro saiu das empreiteiras e chegou aos políticos, mas falta a última milha da maratona, com a demonstração de que a mala chegou ao patrimônio dos marqueses. No lance da namorada, Renan contou que vendeu bois. Caberá a Teori Zavascki acreditar, ou não.


Há trinta anos, em três livros

No próximo domingo completam-se 30 anos do dia em que a democracia voltou ao Brasil e do início da agonia de Tancredo Neves, que morreria na noite de 21 de abril. Poucas vezes a vida política nacional teve tanta alegria, ansiedade e tristeza.

Quem quiser revisitar a construção da catedral arquitetada por Tancredo Neves, o melhor que tem a fazer é ir a um sebo em busca do livro O Complô que Elegeu Tancredo, dos jornalistas Gilberto Dimenstein, Roberto Fernandes, Roberto Lopes, José Negreiros e Ricardo Noblat. Poucas vezes os bastidores de uma trama política foram contados com tamanha precisão. Como bonificação, o livro mostra um governo em decomposição, com o presidente João Figueiredo sem rumo.

Quem quiser especular como seria a presidência de Tancredo dispõe de Diário de Bordo, do embaixador Rubens Ricupero. Ele estava na equipe do presidente eleito em sua viagem à Europa e aos Estados Unidos. No capítulo O Choque da Viagem, há oito páginas que podem ser lidas de joelhos. Ricupero conta a conversa de Tancredo com o secretário de Estado George Shultz, num dos momentos críticos da negociação da dívida externa brasileira. Shultz foi a Tancredo para dar-lhe um tranco. Tomou outro, monumental. A suavidade de Tancredo era da alma. Ele jamais latiu. Quando mordia, a vítima só sentia a dentada horas depois.

Passada a comemoração do retorno à democracia, começará a lembrança da agonia do grande homem. Tancredo foi para o Hospital de Base de Brasília na véspera da posse e morreu no das Clínicas, em São Paulo, 38 dias e sete cirurgias depois. Desde a primeira hora os médicos mentiram como mercadores de camelos. Essa história está completamente documentada no livro O Paciente – O Caso Tancredo Neves, do jornalista Luís Mir. Ele inclui 137 páginas com os registros hospitalares do presidente que só entrou no Planalto depois de morto.

Sinal de alerta

A cena em que o procurador-geral, Rodrigo Janot, deixou-se fotografar empunhando um cartaz que dizia “Janot você é a esperança do Brasil” leva desesperança aos brasileiros que confiam na sobriedade do Ministério Público.
Procurador-geral com adereço de mão é uma real novidade.

Três momentos

Primeiro tempo: Em 2005, quando a Polícia Federal varejou a sede da Daslu, templo do consumo do andar de cima, um dos grão-duques da Camargo Corrêa fazia pequenos comícios contra o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Dizia que ele traía “sua gente”.
Segundo tempo: Quatro anos depois, quando a Polícia Federal começou a Operação Castelo de Areia e varejou os escritórios da Camargo Corrêa, o grão-duque contratou Márcio Thomaz Bastos para defendê-la.
Terceiro tempo: O presidente da Camargo Corrêa está na carceragem de Curitiba e seu sonho de consumo é uma tornozeleira da grife que o “amigo Paulinho” usa em casa.

Maus modos

O senador Renan Calheiros recusou-se a atender dois telefonemas da doutora Dilma.
Faz tempo, o poderoso presidente da Câmara dos Estados Unidos, Newt Gingrich, recusou-se a atender uma chamada do presidente Bill Clinton. Por essa e por outras acabou definhando politicamente, deixou o Congresso e tornou-se uma celebridade periférica.

Taxa petista

Quando o PT estava na oposição, Lula dizia que o Congresso tinha 300 picaretas.
Depois de 12 anos de governos petistas, o ministro Cid Gomes diz que os achacadores são 400. Donde, a taxa de picaretagem aumentou em mais de 30%.

Falta de rumo

De um parlamentar oposicionista pra lá de light:
“O problema não é o que tratar com o governo, mas com quem tratar, seja lá o que for.”

Varejo

Se a doutora Dilma fizer a sua parte do serviço, as coisas melhoram.
No ano passado ela deixou 28 embaixadores estrangeiros esperando uma brecha em sua agenda para que lhe entregassem as credenciais.
Pura descortesia, pois resolveria o problema em duas manhãs.
Agora ela levou a pancada da PEC da Bengala, que lhe confisca cinco nomeações de ministros do Supremo Tribunal Federal.
Essa emenda constitucional eleva a idade limite dos ministros para 75 anos. É casuística, mas a tese tem argumentos favoráveis e contrários.
Passaram-se sete meses da aposentadoria de Joaquim Barbosa e a doutora não escolheu seu substituto. Se ela não tem tempo para escolher ministros do STF, a PEC tem a virtude de tirar esse fardo de suas costas.

O Fed e o Copom

No mesmo dia em que o Comitê de Política Monetária do Banco Central elevou os juros para 12,75% ao ano, o Federal Reserve americano liberou as gravações de suas reuniões de 2009.
Enquanto o Copom brasileiro trabalha com o sigilo dos conclaves papalinos, o americano preserva os debates por cinco anos. Evita que sua divulgação seja operada pelo mercado, mas preserva a memória histórica.
O Banco Central jamais quis discutir a divulgação das reuniões do Copom. Não se trata de preservar sigilo. O que os sábios do BC querem é se livrar da responsabilidade pelo que dizem.