quarta-feira, 27 de abril de 2011

Mídia adora o mafuá partidário




por Alberto Dines, do Observatório da Imprensa
1271 287x300 Mídia adora o mafuá partidárioUm país sem partidos, sem convicções, sem debates, fragmentado pelas ambições pessoais. Neste cenário desolador foi criada no início do ano, no Senado, uma Comissão Especial de Reforma Política que num prazo recorde (45 dias, encerrados em 7 de abril) apresentou 12 propostas que serão convertidas em projetos de lei, emendas constitucionais e encaminhadas à tramitação.
A imprensa acompanhou os trabalhos. Sem grande entusiasmo, diga-se, ainda entregue à modorra do verão, às revoltas no mundo árabe e, em seguida, à catástrofe japonesa.
Como é óbvio, a questão que mais absorveu a atenção dos doutos senadores relacionou-se com o fortalecimento dos partidos: decidiu-se pelo sistema de votação proporcional com listas fechadas e o fim das coligações, exceto para cargos majoritários, financiamento público e fidelidade partidária.
Mais atenção mereceu o mafuá partidário instalado simultaneamente pelo prefeito paulistano Gilberto Kassab (DEM). O burgomestre da Paulicéia Desvairada – que na melhor das hipóteses poderia ser classificado como vagamente liberal em matéria econômica – primeiro tentou uma aproximação com o esquerdista PSB. Não poderia dar certo: o mais antigo e mais coerente partido brasileiro, fundado em seguida à redemocratização (em 1945, primeiro com o nome de Esquerda Democrática, depois com a atual designação), não trocaria a sua história por uma alquimia oportunista.
Cobertura acrítica
Kassab partiu para um novo mix: ouviu falar que a sigla PSD estava livre, malandramente abocanhou-a e criou um arremedo de social-democracia “que não será de esquerda, de direita ou de centro”.
A criatura será a cara do criador – coisa nenhuma. Fará estragos no DEM, na direita dos tucanos, nos hiper-fisiológicos do PMDB e servirá, sobretudo, para reforçar o clima de micareta partidária.
O mais recente lance da palhaçada ocorreu na Semana Santa, quando o vice-presidente da República em pessoa, Michel Temer (que há pouco liderava o PMDB dito “liberal” e agora chefia o dito “progressista”), formalizou o convite para que Gabriel Chalita (PSB-SP) seja o candidato governista à sucessão de Kassab dividindo a chapa com o PT.
Chalita sempre esteve à direita da direita do PSDB, mudou-se para o PSB, porém manteve suas intensas devoções aos carismáticos católicos e à Opus Dei navarrista. As duas confissões não são apenas religiosas, são ideológicas, sobretudo esta última, que na Espanha apóia ostensivamente os setores mais reacionários do Partido Popular.
Como é que a imprensa acompanha estas burlas partidárias justo no momento em que a classe política cria vergonha na cara e toma providências regeneradoras?
Entediada e acrítica.
Opções eleitorais
Nossos perspicazes analistas políticos sabem que nossa metástase política origina-se na fragilidade da vida partidária. Mas nossa imprensa enquanto grupo de pressão não esconde o seu sonho de consumo – um partido conservador, assumido, forte, sem medo de ser tachado de direitista, capaz de enfrentar a voracidade do Estado.
Foi assim que esta imprensa organicamente conservadora aceitou a transmutação do PFL em DEM (a sigla mais absurda e canhestra que já apareceu nas vitrines eleitorais), é assim que está aceitando a folia kassabiana.
Partidos coesos, ideologicamente nítidos, facilitariam as opções eleitorais dos grandes veículos. E poderiam libertar-se da tutela da imprensa.
Isso já é ir longe demais na reforma política.

Mídia adora o mafuá partidário



por Alberto Dines, do Observatório da Imprensa
1271 287x300 Mídia adora o mafuá partidárioUm país sem partidos, sem convicções, sem debates, fragmentado pelas ambições pessoais. Neste cenário desolador foi criada no início do ano, no Senado, uma Comissão Especial de Reforma Política que num prazo recorde (45 dias, encerrados em 7 de abril) apresentou 12 propostas que serão convertidas em projetos de lei, emendas constitucionais e encaminhadas à tramitação.
A imprensa acompanhou os trabalhos. Sem grande entusiasmo, diga-se, ainda entregue à modorra do verão, às revoltas no mundo árabe e, em seguida, à catástrofe japonesa.
Como é óbvio, a questão que mais absorveu a atenção dos doutos senadores relacionou-se com o fortalecimento dos partidos: decidiu-se pelo sistema de votação proporcional com listas fechadas e o fim das coligações, exceto para cargos majoritários, financiamento público e fidelidade partidária.
Mais atenção mereceu o mafuá partidário instalado simultaneamente pelo prefeito paulistano Gilberto Kassab (DEM). O burgomestre da Paulicéia Desvairada – que na melhor das hipóteses poderia ser classificado como vagamente liberal em matéria econômica – primeiro tentou uma aproximação com o esquerdista PSB. Não poderia dar certo: o mais antigo e mais coerente partido brasileiro, fundado em seguida à redemocratização (em 1945, primeiro com o nome de Esquerda Democrática, depois com a atual designação), não trocaria a sua história por uma alquimia oportunista.
Cobertura acrítica
Kassab partiu para um novo mix: ouviu falar que a sigla PSD estava livre, malandramente abocanhou-a e criou um arremedo de social-democracia “que não será de esquerda, de direita ou de centro”.
A criatura será a cara do criador – coisa nenhuma. Fará estragos no DEM, na direita dos tucanos, nos hiper-fisiológicos do PMDB e servirá, sobretudo, para reforçar o clima de micareta partidária.
O mais recente lance da palhaçada ocorreu na Semana Santa, quando o vice-presidente da República em pessoa, Michel Temer (que há pouco liderava o PMDB dito “liberal” e agora chefia o dito “progressista”), formalizou o convite para que Gabriel Chalita (PSB-SP) seja o candidato governista à sucessão de Kassab dividindo a chapa com o PT.
Chalita sempre esteve à direita da direita do PSDB, mudou-se para o PSB, porém manteve suas intensas devoções aos carismáticos católicos e à Opus Dei navarrista. As duas confissões não são apenas religiosas, são ideológicas, sobretudo esta última, que na Espanha apóia ostensivamente os setores mais reacionários do Partido Popular.
Como é que a imprensa acompanha estas burlas partidárias justo no momento em que a classe política cria vergonha na cara e toma providências regeneradoras?
Entediada e acrítica.
Opções eleitorais
Nossos perspicazes analistas políticos sabem que nossa metástase política origina-se na fragilidade da vida partidária. Mas nossa imprensa enquanto grupo de pressão não esconde o seu sonho de consumo – um partido conservador, assumido, forte, sem medo de ser tachado de direitista, capaz de enfrentar a voracidade do Estado.
Foi assim que esta imprensa organicamente conservadora aceitou a transmutação do PFL em DEM (a sigla mais absurda e canhestra que já apareceu nas vitrines eleitorais), é assim que está aceitando a folia kassabiana.
Partidos coesos, ideologicamente nítidos, facilitariam as opções eleitorais dos grandes veículos. E poderiam libertar-se da tutela da imprensa.
Isso já é ir longe demais na reforma política.

TERRAMÉRICA – Algas: combustível, alimento e plástico

A pesquisa das algas ganha força no setor privado e acadêmico, na medida em que revela seu potencial, afirma neste artigo exclusivo o jornalista Mark Sommer.
IlustrAlgasEnergia TERRAMÉRICA   Algas: combustível, alimento e plásticoFabricio Vanden Broeck
Trinidad, Califórnia, Estados Unidos, 25 de abril de 2011 (Terramérica).- Enquanto os combustíveis tradicionais projetam cada vez mais consequências indesejáveis, as algas, essa sujeira dos reservatórios, oferecem uma alternativa simples, de curto prazo e com muito pouco dos custos escondidos de fontes de energia mais complexas. A primeira e mais simples forma de vida, as algas, promete se converter em um recurso fundamental para o futuro do planeta como base de um biodiesel de grande qualidade que – ao contrário do milho – não desvia alimentos dos humanos.
E não são apenas combustíveis. São alimento animal e humano – pensemos na proteica e vitamínica spirulina – e o componente essencial de uma ampla gama de plásticos biodegradáveis para substituir os produzidos a partir do petróleo. As algas fazem tudo isso enquanto crescem absorvendo prodigiosas quantidades de dióxido de carbono, o gás-estufa que mais precisamos reduzir na atmosfera para frear a mudança climática.
No momento não são uma prioridade na pesquisa e no desenvolvimento dos países nem das grandes empresas, mas estão ganhando força no setor privado e acadêmico, na medida em que se revela seu potencial. Já há gigantes da energia pesquisando sobre elas como subprodutos do desenvolvimento do chamado “carvão limpo”, já que absorvem o dióxido de carbono gerado pela queima desse mineral. E o carvão não é mais do que algas de 500 milhões de anos de idade.
Então, por que não deixar de buscar carvão escavando montanhas e dedicar-se, por outro lado, a cultivar algas de rápido crescimento e grande adsorção de dióxido de carbono? Não é um sonho distante. Um fator que coloca as algas acima de quase todas as opções energéticas, convencionais ou alternativas, é sua simplicidade, onipresença e disponibilidade. Os pesquisadores afirmam que, embora existam obstáculos técnicos para uma produção em grande escala de baixo custo em vários de seus usos, nenhum parece intransponível.
Graças à sua capacidade de rápido crescimento, as algas em cultivo não exigem controle rígido. Seu florescimento é natural, e pode ser induzido com a contaminação química e agrícola. A eutrofização asfixia rios e riachos e afeta a vida aquática e marinha, pois bloqueia o fluxo de oxigênio, um processo conhecido como hipoxia. É um problema grave, que deve ser considerado nos cultivos de algas em espaço aberto, em lugar de ambientes controlados como os biodigestores, onde se produz biodiesel. Ao contrário de uma reação nuclear em cadeia, mesmo se a proliferação de algas se tornar excessiva, suas consequências sequer se aproximariam da gravidade de uma fusão atômica.
Em uma visita ao ENN Group, firma chinesa de energia que fica a uma hora de carro de Pequim, este correspondente percorreu um laboratório onde os cientistas desenvolvem microalgas para uma variedade de usos, como parte de um projeto de risco compartilhado entre o ENN e a Duke Energy, uma das maiores prestadoras de serviços públicos dos Estados Unidos.
Em uma ensolarada estufa com paredes cobertas por tubulações de vidro pelas quais circula um lodo verde, o chefe da equipe de algas da ENN, Liu Minsung, apontou para uma fileira de tubos transparentes contendo substâncias de diferentes cores e consistências e levantou uma por uma. “Esta é uma microalga em forma pura. Experimentamos com diferentes formas de microalgas e criando novas variedades para desenvolver aquelas que mais facilmente se adaptam aos nossos propósitos”, explicou.
Então, Liu levantou outro tubo. “Isto é óleo vegetal, muito puro, sem sabor, muito bom para você.” O deixou e pegou outro. “Isto é alimento animal, muito nutritivo”, disse. “Isto é biodiesel. Pode-se usar como combustível de veículos automotores, barcos e jatos”, prosseguiu. As “óleo-algas”, como as chamam alguns, são refinadas em um processo muito barato e já estabelecido.
Liu continuou. “E estas são a base dos bioplásicos. Poderiam substituir todos os plásticos que hoje obtemos do petróleo”, disse. E são biodegradáveis. Quantos anos são necessários para que tudo isto seja viável comercialmente?, perguntei. Pensou um momento, como se consultasse sua agenda. “Consulte-nos no próximo ano”, respondeu.
De fato, em 2012 a Marinha de guerra dos Estados Unidos lançará o que chama Grupo de Combate Verde, uma flotilha de barcos que funcionarão com uma mistura chamada diesel hidroprocessado renovável: metade algas e metade combustível naval destilado Otan F-76. Para 2016, a Marinha prevê lançar a Grande Frota Verde, um grupo de combate de porta-aviões formado por navios híbridos elétricos, aviões movidos a biocombustíveis, inclusive algas, e – já não tão verdes – navios nucleares.
As algas constituem um círculo completo de inovação porque servem a vários usos simultâneos, seguindo uma dinâmica mais bio-lógica do que tecno-lógica. As soluções técnicas se tornaram complexas e caras que, como ocorre com os telefones inteligentes, uma série de aplicações não essenciais acaba esgotando a capacidade básica. Como toda “solução”, as algas têm indubitavelmente lados obscuros que devemos descobrir. Contudo, o maior risco, como o do automóvel elétrico, é não desenvolvê-las.
Você pode criar suas próprias algas, já que crescem por todo lado, menos no Ártico. Se a ciência se dedicar não apenas à grande escala, mas à pequena, as comunidades locais poderão cultivar suas próprias fazendas municipais de algas e obter novas fontes de renda e combustível para suas máquinas e seus motores. A vida na Terra começou com as algas. Elas poderão nos ajudar a resgatar nosso dilema energético?
* Mark Sommer é jornalista norte-americano e dirige o premiado programa de rádio A World of Possibilities (www.aworldofpossibilities.org). Direitos Reservados IPS.