domingo, 25 de setembro de 2016

Populismo eleitoral é benéfico para quem? ANTP

22/09/2016 00:01 - ANTP


Basta uma leitura rápida pelas matérias de jornais para descobrirmos estarrecidos que o caos na mobilidade urbana não chegou sequer perto da maioria das propostas eleitorais.
Os tenazes adversários da fiscalização no trânsito continuam tentando justificar o injustificável: sob o argumento egoísta de que multas engordam os cofres públicos, jogam na conta do inevitável as mortes e sequelas causadas pelo excesso de velocidade, pelo uso do celular ao volante, pelo abuso do álcool. O estrago que o infrator causa no trânsito das cidades não é precificado; candidatos falam em aumentar a velocidade nas ruas e avenidas com uma irresponsabilidade criminosa, como se estivessem, por decreto, liberando o porte de armas sem limites, nem regras. 
Há uma indisfarçada leniência que contribui e compactua (e até estimula) com o aumento da criminalidade no trânsito. Um levantamento encomendado pela Arteris, uma das maiores companhias de concessões rodoviárias do país, demonstrou que as tragédias provocadas por acidentes são uma realidade presente na vida de 1 em cada 5 pessoas, com histórico de mortes na família. Talvez por isso mesmo cerca de 70% percebe o trânsito como perigoso.  
Apesar disso, chega a ser incompreensível que a mistura de álcool e excesso de velocidade, altamente perigosa e letal, seja aceita com candura por muitos brasileiros, como se o risco de acidente não estivesse diretamente relacionado à conduta do motorista, mas a fatores externos (a culpa é sempre do outro). A mesma pesquisa da Arteris aponta que cerca de 31% de motoristas homens admitem beber e dirigir em seguida; quase 50% dos motoristas de ambos os sexos afirmam não respeitar os limites de velocidade (de forma consciente).
Mas o que revolta a muitos e à maioria dos candidatos a prefeito país afora é a lentidão no trânsito, e não as mortes e as graves sequelas que a velocidade e o álcool causam. Ser fiscalizado incomoda mais o brasileiro do que as graves consequências produzidas pelas infrações às regras mais comezinhas do Código de Trânsito Brasileiro.
No Rio de Janeiro, conta o jornal O Globo, dois candidatos prometem “reduzir os equipamentos de controle de velocidade e de avanço de sinais”. Como observa bem o coordenador regional da ANTP no Rio de Janeiro, Willian de Aquino, “em lugar de retirar, os candidatos deveriam falar em adequar o que já existe para que atendam à segurança de trânsito. Inclusive acho que deveriam aumentar o número de equipamentos. Pergunta para um pai que perdeu o filho em acidente de trânsito para ver se ele concorda em reduzir os pardais”, ele diz.

No Recife, o problema da injusta distribuição do espaço viário – situação que se repete em todas as cidades do país – é lembrado pelo arquiteto Francisco Cunha: “Se um terço da população usa o transporte individual motorizado e tem a sua disposição 80% das vias, nós temos um desbalanceamento”, explica. Desbalanceamento que é o grande responsável pelo congestionamento, pelo aumento nos tempos de trajeto casa-trabalho, pela crescente perda de qualidade de vida nas cidades.
Que o uso irresponsável do carro é o grande responsável pela maioria dos problemas de mobilidade nas cidades é uma verdade inconveniente que muitos candidatos insistem em ignorar. O populismo, que geralmente vence eleições em que o debate não se realiza – e quando acontece, é superficial –, beneficia sempre as minorias. Atende à mesquinhez de poucos à custa da destruição de um patrimônio de muitos. 

Campanha que será lançada no Dia Mundial Sem Carro pela ONG Cidade Ativa 

Como outras organizações que atuam em prol da melhoria urbana, a ANTP continua contribuindo para elevar o debate eleitoral. Como já o fizéramos em 1996, lançamos há algumas semanas uma Cartilha com os principais desafios no mundo da mobilidade urbana que deverão ser enfrentados pelos futuros prefeitos e vereadores a partir de janeiro de 2017.
Clique no link para fazer o download gratuito da Cartilha Mobilidade Humana para um Brasil Urbano

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A mais recente edição da Revista dos Transportes Públicos, de número 143 (2º quadrimestre / 2016), já está disponível para leitura em nosso site. 

 

ANTP lança cartilha para ampliar debate sobre mobilidade urbana nas eleições municipais. Faça aqui o download

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