O Globo - 10/09
A bolsa ontem despencou 3,7% em um movimento de realização. De fato, a alta acumulada nos últimos meses impressiona. Foi de 59% desde o pior momento do ano, em janeiro, e chegou na semana a romper os 60 mil pontos. A valorização reflete a aposta dos investidores de que o pior período da recessão ficou para trás. Mas existem problemas reais na economia, como desemprego, inflação e incerteza sobre os juros.
Aforte queda do índice Ibovespa foi também provocada pelo risco de alta nos juros nos Estados Unidos. Mas, para se ter uma ideia da dimensão da alta, as ações PN da Petrobras triplicaram de valor, saindo da casa de R$ 4,2, em janeiro, para R$ 13,5, agora.
Ao mesmo tempo, a inflação continua preocupando. O IBGE divulgou o IPCA de agosto e, embora a taxa tenha caído em relação a julho, ela foi a maior para o mês desde 2007. Com isso, o índice acelerou no acumulado de 12 meses para 8,97%. Com a inflação de alimentos, a taxa de 0,3% foi a menor desde setembro, indicando que o choque de preços pode estar perto do fim. Mas, em um ano, os alimentos subiram 13,93%. Esses números ainda altos colocam incertezas sobre o início e a intensidade dos cortes de juros pelo Banco Central. Na terça-feira, ao divulgar a Ata do Copom, o BC condicionou a redução da Selic à aprovação do ajuste e ao fim do choque dos alimentos.
Esses dados contrastam com a recente melhora dos indicadores de confiança, mas é sempre assim em períodos de inflexão na economia. O diretor-superintendente do Grupo Astra, que produz material de construção, Manoel Flores, conta que já houve um forte aumento nas expectativas após a saída da presidente Dilma. Ele lembra que o primeiro semestre foi de cortes de empregos e elevação na ociosidade da fábrica. Nas conversas com revendedores, hoje, já há relatos mais animadores:
— Conversei com 40 representantes comerciais do setor e me disseram que o movimento está voltando às lojas. Os consumidores voltaram a entrar, a fazer contas e a perguntar principalmente sobre as condições de financiamento.
Ele acredita que serão necessários mais sinais para que a recuperação seja mais consistente. Calcula que, nesse ritmo, levará dois anos para voltar ao nível de emprego anterior à crise:
— Agora não prevemos mais demissões. Se o PIB do ano que vem crescer 2%, nosso setor consegue crescer 6%.
O economista da Acrefi Nicolas Tingas avalia que a economia irá crescer pelo menos 1% no que vem, porque o ciclo de queda foi muito forte e está perto do fim. No cenário em que o governo Temer consegue aprovar pelo menos duas medidas do ajuste fiscal, como o teto de gastos e a reforma da Previdência, a projeção sobe para 2% em 2017 e 3,5% em 2018.
— Existe uma parcela da sociedade que continua consumindo, porque tem mais condições, e haverá um forte ingresso de investimento estrangeiro. Isso vai se somar à recuperação que acontece depois de um longo período de queda. O desafio é ter esses dois impulsos ao mesmo tempo — disse.
Ele explica que, apesar da forte recessão, os empresários reajustam preços porque tiveram aumento de custos, como por exemplo, com tarifas de energia elétrica e gasolina. Por isso, a inflação está resistente.
O sócio e diretor da iDream, pequena empresa de venda de acessórios e reparos para telefonia celular, Leandro Tomasi, diz que o faturamento no mês de julho foi melhor do que o de junho, em cerca de 15%, e no mês de agosto foi melhor do que julho em 18%. Se, por um lado, o aumento do dólar e a inflação reduziram as vendas de aparelhos e acessórios, por outro, cresceu a procura por assistência técnica:
— Acho que este ano vamos aumentar o faturamento entre 10% e 18%, e no ano que vem entre 18% e 22%.
Ele diz que cortou 20% da folha de pagamento e conseguiu reduzir o valor gasto com aluguéis. A saída para driblar o encarecimento do crédito foi a aposta na abertura de franquias. O problema é que crescer, para ele, pode ser um risco:
— A gente, que está no Simples, já está tendo dificuldade enorme porque o teto da tributação não é corrigido há vários anos, que é de R$ 3,6 milhões. Não estão corrigindo nem a inflação. Trocar de faixa inviabiliza o negócio porque o custo aumenta entre 40% e 50%.
Essas são as dificuldades do momento atual. Fazer um ajuste fiscal sem penalizar a recuperação, e cortar os juros sem comprometer a queda da inflação.
A bolsa ontem despencou 3,7% em um movimento de realização. De fato, a alta acumulada nos últimos meses impressiona. Foi de 59% desde o pior momento do ano, em janeiro, e chegou na semana a romper os 60 mil pontos. A valorização reflete a aposta dos investidores de que o pior período da recessão ficou para trás. Mas existem problemas reais na economia, como desemprego, inflação e incerteza sobre os juros.
Aforte queda do índice Ibovespa foi também provocada pelo risco de alta nos juros nos Estados Unidos. Mas, para se ter uma ideia da dimensão da alta, as ações PN da Petrobras triplicaram de valor, saindo da casa de R$ 4,2, em janeiro, para R$ 13,5, agora.
Ao mesmo tempo, a inflação continua preocupando. O IBGE divulgou o IPCA de agosto e, embora a taxa tenha caído em relação a julho, ela foi a maior para o mês desde 2007. Com isso, o índice acelerou no acumulado de 12 meses para 8,97%. Com a inflação de alimentos, a taxa de 0,3% foi a menor desde setembro, indicando que o choque de preços pode estar perto do fim. Mas, em um ano, os alimentos subiram 13,93%. Esses números ainda altos colocam incertezas sobre o início e a intensidade dos cortes de juros pelo Banco Central. Na terça-feira, ao divulgar a Ata do Copom, o BC condicionou a redução da Selic à aprovação do ajuste e ao fim do choque dos alimentos.
Esses dados contrastam com a recente melhora dos indicadores de confiança, mas é sempre assim em períodos de inflexão na economia. O diretor-superintendente do Grupo Astra, que produz material de construção, Manoel Flores, conta que já houve um forte aumento nas expectativas após a saída da presidente Dilma. Ele lembra que o primeiro semestre foi de cortes de empregos e elevação na ociosidade da fábrica. Nas conversas com revendedores, hoje, já há relatos mais animadores:
— Conversei com 40 representantes comerciais do setor e me disseram que o movimento está voltando às lojas. Os consumidores voltaram a entrar, a fazer contas e a perguntar principalmente sobre as condições de financiamento.
Ele acredita que serão necessários mais sinais para que a recuperação seja mais consistente. Calcula que, nesse ritmo, levará dois anos para voltar ao nível de emprego anterior à crise:
— Agora não prevemos mais demissões. Se o PIB do ano que vem crescer 2%, nosso setor consegue crescer 6%.
O economista da Acrefi Nicolas Tingas avalia que a economia irá crescer pelo menos 1% no que vem, porque o ciclo de queda foi muito forte e está perto do fim. No cenário em que o governo Temer consegue aprovar pelo menos duas medidas do ajuste fiscal, como o teto de gastos e a reforma da Previdência, a projeção sobe para 2% em 2017 e 3,5% em 2018.
— Existe uma parcela da sociedade que continua consumindo, porque tem mais condições, e haverá um forte ingresso de investimento estrangeiro. Isso vai se somar à recuperação que acontece depois de um longo período de queda. O desafio é ter esses dois impulsos ao mesmo tempo — disse.
Ele explica que, apesar da forte recessão, os empresários reajustam preços porque tiveram aumento de custos, como por exemplo, com tarifas de energia elétrica e gasolina. Por isso, a inflação está resistente.
O sócio e diretor da iDream, pequena empresa de venda de acessórios e reparos para telefonia celular, Leandro Tomasi, diz que o faturamento no mês de julho foi melhor do que o de junho, em cerca de 15%, e no mês de agosto foi melhor do que julho em 18%. Se, por um lado, o aumento do dólar e a inflação reduziram as vendas de aparelhos e acessórios, por outro, cresceu a procura por assistência técnica:
— Acho que este ano vamos aumentar o faturamento entre 10% e 18%, e no ano que vem entre 18% e 22%.
Ele diz que cortou 20% da folha de pagamento e conseguiu reduzir o valor gasto com aluguéis. A saída para driblar o encarecimento do crédito foi a aposta na abertura de franquias. O problema é que crescer, para ele, pode ser um risco:
— A gente, que está no Simples, já está tendo dificuldade enorme porque o teto da tributação não é corrigido há vários anos, que é de R$ 3,6 milhões. Não estão corrigindo nem a inflação. Trocar de faixa inviabiliza o negócio porque o custo aumenta entre 40% e 50%.
Essas são as dificuldades do momento atual. Fazer um ajuste fiscal sem penalizar a recuperação, e cortar os juros sem comprometer a queda da inflação.
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