Já
se pode entender a atitude sinuosa de Lula desde que acelerada, há dois anos, a
guerra aberta contra ele, contra o PT e contra Dilma. A cada ataque mais
infeccioso, Lula falava de uma próxima mobilização petista, do breve início de
viagens suas "por este país todo", da ocupação manifestante das ruas.
Essas reviravoltas foram propaladas tantas vezes quantas descumpridas por
marasmo inexplicado. Seu e do partido a reboque. É, porém, em mais uma
sinuosidade que se encontra o esclarecimento.
Diz
Lula que pode ser candidato para salvar os programas sociais, mas
está trabalhando pela candidatura de alguém mais moço. Ou seja, é possível
candidato nas palavras, mas na intenção não é. Não quer ser. Já não queria,
vê-se, quando o conservadorismo se organizava para montar a barragem contra sua
assustadora candidatura. A vontade negativa prevalece, invalidando as
sucessivas promessas de ação. E agora entra, de leve ainda, no tempo de
admitir-se.
Para
quem goste das especulações infrutíferas, que têm tantos adeptos na imprensa,
uma indagação se oferece: se Lula houvesse deixado clara e firme, bem lá atrás,
a desistência à candidatura em 2018, a oposição partidária, o grande
empresariado e a imprensa fariam a mesma campanha para liquidá-lo? Ou antes
achariam mais útil gerar, para os seus interesses, as candidaturas promissoras
que até hoje não têm?
Sem
Lula na corrida, a situação do PT é dramática. Mas a da oposição não é melhor.
Temer assegurou-a publicamente de que não será candidato em 2018, e isso deu
maior ânimo aos pretendentes peessedebistas para impulsionar o impeachment que
é, na forma, anti-Dilma, e no objetivo, anti-Lula. Mas quem no PSDB imagina que
o bando mercantilista do PMDB abrirá mão das bocas riquíssimas, vai aprender o
que Dilma demorou, mas aprendeu.
Aécio,
Serra, Alckmim, e quem mais sonhe com candidatura no PSDB, estão dependentes do
governo Temer. Se o arremedo de administração fracassa, nem passarem de
governistas a oposicionistas lhes servirá: vão ser responsabilizados, perante o
eleitorado, como criadores gananciosos da aventura que deu em desastre maior
que o anterior. E estar dependente da competência e seriedade de Moreira
Franco, Geddel Vieira Lima e congêneres é, no mínimo, beira de abismo. Mesmo o
mais badalado, Henrique Meirelles, é experiente em área financeira, mas uma
incógnita em direção econômica, além de sua visão ilusória da política
brasileira.
Na
oposição, o PT pode até não se beneficiar em grande escala do fracasso do
governo. Mas prejudicado não será, por certo ganha alguma coisa. O PT hoje está
como a Rede de Marina Silva, são partidos que dependem só de si mesmos. Se
souber aproveitar as circunstâncias, o PT pode mesmo fazer e ter surpresas. Em
seguida ao golpe de 64, o PCB recebeu adesões espontâneas no país todo. Era a
reação natural dos indignados, que hoje são multidões. Caso o PT encontre
alguma criatividade, com campanhas que busquem adesões à restauração da
democracia, à defesa de direitos e à conquista de novos, pode dar-se sua tão
falada e nunca iniciada refundação.
Muita
coisa gira, já, em torno de 2018. O PSDB não tem muito a fazer, por mais que a
imprensa faça pelos pretendidos pré-candidatos do partido. Assim como a Rede e
o PSOL, os petistas têm escolha entre aproveitar ou não as circunstâncias: com
ou sem candidatura de Lula, o futuro do PT não está no futuro, está no
presente.
Jogadas
Nenhum
interesse carreia mais dinheiro, nem com maior constância, para congressistas e
determinados integrantes de governo do que a reabertura dos cassinos. É assim
há dezenas de anos. Durante o governo Sarney, viagens de congressistas eram
patrocinadas por donos de cassinos de Las Vegas, para se animarem com o jogo lá
e, na volta, o promoverem aqui. Amaral Netto, que liderava a bancada do jogo,
organizou numerosas caravanas. Em tempos recentes, o destino passou a ser o
jogo no Uruguai.
As
torneiras dos já donos de cassinos e dos desejosos de o serem, brasileiros e
estrangeiros, não secam.
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