Segundo maior produtor de etanol e cana no País, região atrai investimentos
10 de outubro de 2013 | 16h 44
Chico Siqueira - Especial para o Estado
A indústria da cana-de-açúcar continua em expansão na Região Centro-Oeste, apesar da crise que atinge o setor. A previsão para a safra de 2013/2014 é de crescimento de 14% no volume de cana processada em Goiás e 10% no Mato Grosso do Sul. Mas poderia ser de 20%, não fosse a ocorrência de geada que prejudicou a produção da safra atual e da próxima safra.
O Centro-Oeste é hoje o segundo maior produtor brasileiro de cana e etanol, atrás apenas do Estado de São Paulo. Em 1999, era apenas o sexto.
A expansão num momento de aumento de custos de produção, baixa remuneração e indefinição política para o setor, ocorre porque, mesmo com a crise, as companhias continuam investindo na formação e manutenção dos canaviais e na instalação de novas unidades.
A Odebrecht Agroindustrial, por exemplo, anuncia investimentos de R$ 1 bilhão nas áreas agrícola e industrial para aumentar a produção. Ao mesmo tempo, a SJC Bionergia coloca em funcionamento uma usina de etanol, que segundo a companhia, será a mais moderna do País, num investimento de R$ 500 milhões, em Cachoeira Dourada (GO).
Com 13 mil funcionários e sete unidades industriais no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, a Odebrecht produz e comercializa etanol, açúcar e energia elétrica a partir do bagaço da cana. De acordo com o presidente da companhia, Luiz de Mendonça, o investimento de R$ 1 bilhão será usado no plantio de 100 mil hectares de cana-de-açúcar e para concluir a expansão da indústria.
A previsão é de que na próxima safra, de 2014/2015, a companhia tenha um crescimento 17,6% no volume de processamento de cana, passando de 25 milhões para 29,4 milhões de toneladas. Desse total, 21,1 milhões de toneladas serão moídas nas sete unidades da companhia no Centro-Oeste.
Na região, o incremento do volume de cana deverá ficar em 12,2%. A produção de etanol deve subir 20%, de 1,5 bilhão de litros na safra atual para 1,8 bilhão de litros na próxima safra. A produção de energia deverá aumentar 14% e a de açúcar 7% no mesmo período.
De acordo com Mendonça, a Odebrecht pretende atingir a capacidade de 40 milhões de toneladas de cana por safra - 31 milhões no Centro-Oeste - dentro de quatro anos.
Quando isso ocorrer, a companhia, que tem a colheita 100% mecanizada, estará produzindo 3 bilhões de litros de etanol, com os quais serão fabricadas 700 mil toneladas de açúcar e cogerados 3,1 mil gigawatts/hora (GWh) por safra.
Desde 2007, quando foi inaugurada, a companhia investiu mais de R$ 9 bilhões em instalação e compra de unidades industriais e no plantio de cana. A empresa começou a atuar no Centro-Oeste em 2008, mas o retorno dos investimentos só deve ocorrer, segundo Mendonça, em oito ou nove anos.
"Sabemos que o momento não é acolhedor, mas não podemos deixar o etanol passar. Precisamos fazer com que a indústria do etanol volte a ser pujante", diz Mendonça. Mas, para isso, segundo o presidente da Odebrecht Agroindustrial, o governo precisa estabelecer regras para o setor, cujo cenário ele considera complicado.
"O setor não tem uma política de longo prazo, falta um marco regulatório. Estamos esperando que seja estabelecido o papel do etanol na matriz energética do País e isso não ocorre e também não há uma política de preços para a energia", comenta. "O setor requer um investimento de alto capital. Estamos investindo porque temos uma visão de longo prazo e nosso desafio é manter esta nova fronteira de crescimento nesta região, que apresenta excelente logística, climatologia e tradição agrícola".
Usina. Com investimentos de R$ 500 milhões, a SJC Bionergia - joint venture formada pela Cargill e pelo grupo sucroenergético USJ - inaugurou no começo de outubro a usina Rio Dourado, instalada no município de Cachoeira Dourada (GO). Segundo Marcelo Andrade, diretor da unidade de negócios de açúcar e etanol da Cargill, a nova unidade é a mais moderna usina de etanol no Brasil e irá ajudar a SJC Bioenergia a ampliar sua presença no mercado sucroenergético, obtendo a escala necessária para o aumento de sua eficiência.
De acordo com Andrade, além da colheita 100% mecanizada, todos os processos produtivos da usina são automatizados e controlados 24 horas por dia por um centro de operações. Com isso, todas as etapas de produção industrial poderão ser acompanhadas e operadas em tempo real, permitindo ajustes necessários em curto prazo de tempo. "Com essa usina, a SJC Bioenergia consolida a estratégia do Grupo USJ, de criar um polo de desenvolvimento de projetos industriais com escala competitiva e potencial de crescimento", disse a presidente do Grupo USJ, Maria Carolina Fontanari.
A usina, que vai se dedicar exclusivamente à produção de etanol e energia, terá capacidade de produzir 220 milhões de litros de etanol por ano. A produção de etanol anidro, por exemplo, será feita por meio de um sofisticado sistema de desidratação via peneira molecular. Além disso, a usina vai cogerar 230 mil megawatts/hora (MWh) por ano, dos quais 150 mil MWh, excedentes, serão comercializados.
"O empreendimento traz desenvolvimento e trabalho para a região. Estamos concretizando a integração campo-indústria, que fortalecerá o município de Cachoeira Dourada. A chegada da cana-de-açúcar na região ocupou importante área de cultivo, trazendo assim grande desenvolvimento e mantendo a produção de outras culturas na região", comenta o diretor responsável pela SJC Bioenergia, Ingo Kalder.
Safra de cana. A previsão da Conab é de que a safra de cana na região Centro-Oeste cresça 10% em área plantada, de 1,5 milhão de hectares na safra 2012/2013 para 1,7 milhão na safra 2013/2014.
A produção de cana para processamento da indústria deve crescer 14%, de 106 milhões de toneladas para 121 milhões de toneladas no mesmo período. Desse total, Mato Grosso do Sul e Goiás vão produzir 105 milhões de toneladas na safra 2013/2014 ante aos 90 milhões de toneladas da safra de 2012/2013, um crescimento 17%. A produção de etanol na região será a segunda maior do País, com 7 bilhões de litros ao final dessa safra.
Atratividade. "Goiás vem batendo recordes de produção passando a ser o segundo maior processador de cana e produtor de etanol do País, ficando atrás apenas de São Paulo. Passamos o Paraná, o Nordeste e Minas Gerais, nas últimas safras", festeja o presidente do Sindicato das Indústrias de Fabricação de Açúcar e Etanol de Goiás (Sifaeg), André Luiz Baptista Lins Rocha.
Segundo ele, a qualidades das terras, planas e com preços atrativos; as boas condições climáticas, que garantem boa produtividade; e um programa de forte incentivo fiscal atraíram os investimentos. "Goiás tinha apenas 11 usinas na safra 1999/2000; hoje são 37", diz.
Nem mesmo a crise de 2008, que se propagou para os anos seguintes, afastou o crescimento. Na safra de 2009/2010, com 33 usinas, Goiás processou 40 milhões de toneladas de cana, subiu para 52,7 milhões na safra de 2012/13 e vai para 61,2 milhões de toneladas na safra 2013/2014.
"Temos expectativa de crescimento maior nas próximas safras com o uso de variedades de cana adaptadas para o cerrado, e as usinas que se instalaram nos últimos anos só agora estão entrando no pico de produção. A cana não afastou a diversidade de outras culturas agrícolas e ainda levou desenvolvimento ao campo, onde também houve um melhor desempenho das commodities. O resultado deste crescimento, a gente observa no interior do Estado, onde as condições de vida melhoraram, a renda foi mais distribuída e o IDH cresceu acima da média", completa.
Fábricas transformam Três Lagoas na ‘Rainha da Celulose’
Polo é responsável por mais da metade do volume de exportação industrial do Mato Grosso do Sul
10 de outubro de 2013 | 17h 03
Chico Siqueira - Especial para o Estado
Um dos principais parques fabris do Centro-Oeste o polo de indústrias de Três Lagoas é responsável por mais da metade do volume de exportação industrial do Mato Grosso do Sul.
De US$ 1,2 bilhão em produtos industriais exportados pelo Estado entre janeiro e agosto deste ano, as empresas da região exportaram US$ 715 milhões, 10% mais que os US$ 645 milhões exportados nos 12 meses do ano passado. Dos US$ 715 milhões exportados neste ano, o setor de papel e celulose respondeu por US$ 646 milhões (94,5%).
Não é à toa que Três Lagoas passou a ser chamada de Rainha da Celulose. Em seus domínios estão instaladas três gigantes do setor: a multinacional International Paper, fabricante de papel; a Fíbria, dona de fábricas em São Paulo, Bahia e Espírito Santo e maior produtora do mundo de celulose de eucaliptos; e a Eldorado Brasil, dona da maior planta contínua de produção de celulose do planeta.
Nos últimos 13 anos, Três Lagoas recebeu R$ 24 bilhões de investimentos na instalação de novas unidades e na expansão das indústrias locais. Até o fim dos anos 90, o município era dono do maior plantel de bovinos de corte do País e tinha na pecuária sua principal atividade econômica.
Mas, a partir dos anos 2000, passou a conviver com florestas de eucaliptos, que substituíram os pastos, e com grandes indústrias dos setores de alimentos, calçados, têxtil, papel e celulose, siderurgia e de metalomecânica, atraídas pela oferta de matéria-prima, facilidades logísticas e política de incentivos fiscais.
O município doa a área, isenta o pagamento de IPTU por cinco anos e dá isenção de ISS durante o período de construção da indústria.
O secretário de Desenvolvimento Econômico de Três Lagoas, Luciano Dutra, diz que a mudança da matriz econômica melhorou as condições de vida da população. "O poder público fez, e continua fazendo, investimentos em obras de infraestrutura, como saneamento, asfalto, habitação, saúde e educação. A mudança também aumentou a geração de emprego e melhorou a renda da nossa população."
Melhora. Entre 2000 e 2012, o número de habitantes aumentou 39%, de 79 mil para 110 mil moradores em 2012. A renda média do trabalhador local deu um salto de 185% em sete anos, de R$ 650 em 2005 para R$ 1.850 em 2012; e a renda per capita subiu 270%, de R$ 750 em 2005 para R$ 2.774 em 2012.
O município conta hoje com 54 grandes empresas instaladas em três distritos industriais. Num deles está sendo instalada a unidade de fertilizantes nitrogenados da Petrobrás, que será a maior da América Latina, num investimento de US$ 2,5 bilhões, prevista para se entregue até o fim de 2014.
"Ela vai produzir ureia e amônia num volume suficiente para suprir 35% do consumo interno brasileiro, reduzindo a dependência de importações neste setor", diz Dutra.
Mas, além da Petrobrás, um grande investimento vem sendo feito pela Eldorado Brasil Celulose, que está fechando o pacote para captação de R$ 7 bilhões para instalação de uma segunda linha de produção.
A companhia, que pertence ao grupo financeiro J&F Investimentos, controlador da JBS, já é dona da maior linha única de celulose do planeta, instalada em Três Lagoas. Inaugurada em novembro de 2012 com investimentos de R$ 6,2 bilhões, ela atingiu em julho a capacidade de produção, de 1,5 milhão de toneladas/ano.
"Os recursos serão investidos na instalação da nossa segunda linha de produção, com capacidade de 2 milhões de toneladas. Nossa expectativa é de atingir, em 2017/2018, a capacidade de 4 milhões de toneladas anuais. Seremos o maior complexo industrial de produção de celulose do mundo", afirma o presidente da Eldorado, José Carlos Grubisich.
Para bancar o projeto, a Eldorado pleiteia recursos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste (FDCO) e em agências de crédito, além estudar aumento de capital.
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