Em seus 15 anos de vida, o Google instilou em nós a sensação de que nada que não possa ser acessado importa, abrindo caminho para computadorizar nossa inteligência emocional
28 de setembro de 2013 | 16h 05
Lee Siegel
Stephen Lam/Reuters
Fiquei surpreso ao saber que na sexta-feira foi o 15º aniversário do Google. A impressão é que o gigante do mecanismo de busca existe há décadas. Esse foi o tempo que levou para rádio e televisão transformarem nosso modo de vida. E um par de séculos se passou até a imprensa escrita ter seu efeito pleno. Mas, no lapso de meros 15 anos, o Google causou uma metamorfose na maneira como sabemos das coisas, como pensamos e nos comunicamos, como trabalhamos e amamos.
Entre o último parágrafo e esta sentença eu “googlei” um artigo que havia acabado de publicar, para ver o que outras pessoas poderiam estar dizendo sobre ele. Provavelmente voltarei ao Google antes de terminar este parágrafo, seja para checar aquele artigo de novo, seja para fazer alguma pesquisa rápida sobre um fato para este ensaio. Mal consigo me lembrar de como era a vida antes da revolução do Google. Se fizer um esforço intenso, proustiano, talvez possa reconstruir um dia de trabalho pré-Google.
Quinze anos atrás, eu estaria sentado diante do computador escrevendo, distraído somente pelo telefone, cuja campainha teria desligado, ou pela campainha da porta. Se precisasse verificar alguma coisa, me levantaria da cadeira e buscaria uma fonte apropriada entre minhas fileiras de livros. Na eventualidade de não encontrar o que procurava, daria uma caminhada de 20 minutos até a biblioteca, durante a qual ou descansaria um pouco do texto estressante ou continuaria a desenvolver meus pensamentos.
Nessa época, não teria ideia do que outras pessoas poderiam estar falando de mim, do que haveria na mente da maioria, qual era a tendência cultural dominante, o que rolava de novo – a não ser pelo que leria no jornal ou eventualmente veria no noticiário noturno da televisão. Quando procurava um romance, uma peça de teatro ou um concerto, recorria a um punhado de jornais e revistas, ou consultava meus amigos cultos. Recorria a algumas vozes fidedignas – com as quais concordava ou não – para saber o que valia a pena na cultura do momento.
Que diferença 15 anos fazem! Como o Google existe, eu uso o Google, e quando busco uma coisa sou inundado por incontáveis tendências, pedaços de informação, centros difusos de autoridade.
Uma consequência ainda maior é minha relação pessoal com esse universo impessoal que, no entanto, está sendo adaptado a minhas “preferências”. No minuto em que algo que escrevi aparece impresso, sou objeto – ou vítima - de algumas opiniões instantâneas, a maioria de pessoas de quem nunca ouvi falar e nunca ouvirei de novo. Sei disso porque, por uma mistura tóxica de vaidade, ambição, ansiedade e curiosidade, associei um Google Alert a meu nome. Tão logo sou mencionado em algum lugar do mundo, assim parece, surge uma pequena mensagem em meu e-mail dizendo isso.
Às vezes, sou mencionado por pessoas cujos nomes conheço, ou conheço pessoalmente. Essas pessoas em geral também são escritores, por vezes editores, que 15 anos atrás teriam mantido suas opiniões para si mesmas por prudência profissional e natural recato. Não mais. Seja porque seus chefes lhes pediram para tuitar, ou porque sentem que precisam fazê-lo para se manter antenadas, elas se sentem obrigadas a dar sua opinião sobre meu trabalho, sem se importar que os comentários pareçam competitivos ou obsequiosos.
Muita coisa foi escrita neste país, onde o Google é mais bem-sucedido que em qualquer outro lugar, sobre o efeito da empresa na cultura. Pessoas têm dito corretamente que o Google privilegia mais a informação que o conhecimento ao facilitar um domínio instantâneo, superficial, de algo sem captar sua natureza mais profunda, suas relações mais intensas com outras coisas. E tem havido muitas críticas sobre a maneira como o Google degradou o sistema de valores da pessoa. Antes, a popularidade era só uma das medidas de qualidade. Agora, graças à sacralização das consultas ao Google, parece ser a única.
São críticas até certo ponto justificadas. Mas também é verdade que, à medida que a vida moderna nos tornava mais ocupados e acelerados, os modos de cognição mudaram. Em seu tempo, o breve verbete de enciclopédia também era considerado uma mutilação vulgar de temas que requeriam tratamento mais aprofundado. E, antes de haver a consagração das páginas mais visitadas, havia a proliferação das listas de “dez mais”, ou do “melhor de”. O que o Google fez foi acelerar as tendências mecanizadoras inevitáveis da vida moderna.
Ainda se pode, no entanto, pegar um livro e aprofundar o conhecimento de um tema sobre o qual o Google forneceu só as informações mais superficiais. E não é preciso acreditar na história contada pelas páginas mais visitadas – embora, se a pessoa for proprietária de uma pequena empresa, ou editora de uma revista ou jornal, as visitas possam ser questão de vida ou morte. Também muitas das mudanças que o Google promoveu na cultura teriam ocorrido sem ele, de uma forma ou outra..
A mudança mais profunda causada pelo Google é uma que talvez seja igualmente inevitável, mas da qual nunca se falou. Em vez de cumprir a promessa da vida moderna de domínio e controle do mundo que nos cerca, o Google nos dá a ilusão desse domínio e controle, apesar de o mundo ter se tornado mais incontrolável e caótico.
Nós um dia esperamos que a ciência, como expressou Francis Bacon sadicamente, “extraísse por tortura os segredos da natureza”. A ciência representava disciplina, a cultura, liberdade. Assim como escreveu Schopenhauer que a música consistia de desejo, realização do desejo, e renovação do desejo, a cultura consistia de curiosidade, satisfação da curiosidade e ressurgimento da curiosidade. A ciência tinha o mundo sob controle; a cultura, quanto mais nos ensinava sobre o mundo, mais mostrava seu mistério.
Ao implodir o conhecimento em informação e fazer da informação uma ferramenta para controlar o mundo, o Google nos roubou a capacidade da cultura de nos encantar. O poderoso “mecanismo de busca” nos permite clicar em “Ilíada de Homero” e receber instantaneamente milhares de referências a ela – e, de algum modo, essa transfiguração do livro em ferramenta rouba sua mística. Ainda podemos lê-lo, é claro, e o fazemos. Mas a próxima geração poderá se contentar com as referências, e com o espetáculo de uma referência se ligando a outra, e com a conversa subsequente que isso cria. A “aura sagrada do livro”, como Walter Benjamin descreveu a autoridade de uma obra de arte, terá sido esmagada numa poeira de interminável interconectividade superficial.
É curioso como a tecnologia, mesmo enquanto desencanta nosso mundo, substitui seu próprio mistério. Voamos em aviões, mas a maioria de nós não tem ideia de como um avião funciona. Dirigimos, mas a maioria não tem ideia do que faz um carro rodar. Acionamos um interruptor e as luzes se acendem – como explicar? O mistério do Google reside em seus algoritmos – a maneira como ele pega nossas palavras-chave e imagina quais dos quase 200 milhões de sites do mundo são apropriados naquele momento para nossa busca. Compreender algoritmos do Google é ouro para várias empresas, mas os algoritmos são quase impossíveis de manipular. Isso, porém, foge do assunto. O fato é que os mistérios reinantes no mundo atual não são nascimento, amor, morte, Deus, mas o buscar e encontrar do Google. E sabemos tanto como o Google realiza suas funções como sabemos o que somos na Terra. A ignorância não importa quando estamos voando num avião ou acendendo uma luz. Mas quando nossas relações sociais mais íntimas são moldadas por forças misteriosas que nos são incompreensíveis nos tornamos impotentes diante delas.
Tendo se arrogado uma autoridade religiosa sobre as primeiras e últimas coisas, tendo conferido às pessoas a ilusão de que o mundo da cultura – de como nós, como conjunto, pensamos e sentimos – está muito mais sobre nosso controle agora do que o mundo físico, o Google entrou agora no negócio da imortalidade. Eric Schmidt, o CEO do Google, previu publicamente que nos próximos cinco a dez anos o Google terá a capacidade de criar inteligência artificial que será indistinguível da inteligência humana. Schmidt está despejando uma fortuna nesse projeto.
Para mim, essa é a transformação mais fundamental do Google, para a qual seu mecanismo de busca veio assentando as bases nos últimos 15 anos. O Google nos instilou o sentimento dominante de que nada que não possa ser acessado importa. Com isso, começou a quantificar nossa vida interior; começou a preparar o caminho para nossa inteligência emocional ser computadorizada.
Talvez seja por essa razão que as conversas sobre arte neste país têm sido substituídas por conversas sobre doença, envelhecimento e morte. O americano está mais obcecado que nunca por comentários explícitos sobre esses temas. Existe até a tendência de algo chamado “jantares de morte”, nos quais os convidados ficam conversando sobre como morrer. Isso é menos Epíteto que Google, pois a conversa seguramente deve ser sobre desejos, tratamentos, diagnósticos e prognósticos – todos temas que, diferentemente de uma exploração de pensamento e sentimento diante da morte, podem ser buscados online.
Em 10 ou 15 anos, os escritores neste espaço poderão perfeitamente argumentar não sobre ideias sociais, culturais e políticas, mas sobre quanto uma pessoa deve ser artificial. Alguns anos depois disso, o debate poderá perfeitamente tratar de quanto do cérebro de uma pessoa – isto é, sua mente – deve ser computadorizado. A pergunta quente do dia será não quem nós realmente somos, mas se devemos ser alguém em particular. Talvez seja assim que a história termine. A resposta ao enigma de Édipo era o próprio Édipo. O estágio final da cultura humana será a conquista da mortalidade em si, o que tornará a cultura irrelevante ou desnecessária. Isso tudo está começando agora, com a redução da experiência a qualquer coisa que possa ser quantificada pelo mecanismo de busca titânico baseado em Mountain View, Califórnia.
Não tenho dúvida, porém, de que aqueles de vocês que são céticos quanto a minhas conclusões sobre a onipotência do Google estão, neste exato momento, me “googlando” para descobrir exatamente quem sou eu. Por enquanto, ao menos, acredito que sei a reposta disso.
*Tradução de Celso Paciornik
Entre o último parágrafo e esta sentença eu “googlei” um artigo que havia acabado de publicar, para ver o que outras pessoas poderiam estar dizendo sobre ele. Provavelmente voltarei ao Google antes de terminar este parágrafo, seja para checar aquele artigo de novo, seja para fazer alguma pesquisa rápida sobre um fato para este ensaio. Mal consigo me lembrar de como era a vida antes da revolução do Google. Se fizer um esforço intenso, proustiano, talvez possa reconstruir um dia de trabalho pré-Google.
Quinze anos atrás, eu estaria sentado diante do computador escrevendo, distraído somente pelo telefone, cuja campainha teria desligado, ou pela campainha da porta. Se precisasse verificar alguma coisa, me levantaria da cadeira e buscaria uma fonte apropriada entre minhas fileiras de livros. Na eventualidade de não encontrar o que procurava, daria uma caminhada de 20 minutos até a biblioteca, durante a qual ou descansaria um pouco do texto estressante ou continuaria a desenvolver meus pensamentos.
Nessa época, não teria ideia do que outras pessoas poderiam estar falando de mim, do que haveria na mente da maioria, qual era a tendência cultural dominante, o que rolava de novo – a não ser pelo que leria no jornal ou eventualmente veria no noticiário noturno da televisão. Quando procurava um romance, uma peça de teatro ou um concerto, recorria a um punhado de jornais e revistas, ou consultava meus amigos cultos. Recorria a algumas vozes fidedignas – com as quais concordava ou não – para saber o que valia a pena na cultura do momento.
Que diferença 15 anos fazem! Como o Google existe, eu uso o Google, e quando busco uma coisa sou inundado por incontáveis tendências, pedaços de informação, centros difusos de autoridade.
Uma consequência ainda maior é minha relação pessoal com esse universo impessoal que, no entanto, está sendo adaptado a minhas “preferências”. No minuto em que algo que escrevi aparece impresso, sou objeto – ou vítima - de algumas opiniões instantâneas, a maioria de pessoas de quem nunca ouvi falar e nunca ouvirei de novo. Sei disso porque, por uma mistura tóxica de vaidade, ambição, ansiedade e curiosidade, associei um Google Alert a meu nome. Tão logo sou mencionado em algum lugar do mundo, assim parece, surge uma pequena mensagem em meu e-mail dizendo isso.
Às vezes, sou mencionado por pessoas cujos nomes conheço, ou conheço pessoalmente. Essas pessoas em geral também são escritores, por vezes editores, que 15 anos atrás teriam mantido suas opiniões para si mesmas por prudência profissional e natural recato. Não mais. Seja porque seus chefes lhes pediram para tuitar, ou porque sentem que precisam fazê-lo para se manter antenadas, elas se sentem obrigadas a dar sua opinião sobre meu trabalho, sem se importar que os comentários pareçam competitivos ou obsequiosos.
Muita coisa foi escrita neste país, onde o Google é mais bem-sucedido que em qualquer outro lugar, sobre o efeito da empresa na cultura. Pessoas têm dito corretamente que o Google privilegia mais a informação que o conhecimento ao facilitar um domínio instantâneo, superficial, de algo sem captar sua natureza mais profunda, suas relações mais intensas com outras coisas. E tem havido muitas críticas sobre a maneira como o Google degradou o sistema de valores da pessoa. Antes, a popularidade era só uma das medidas de qualidade. Agora, graças à sacralização das consultas ao Google, parece ser a única.
São críticas até certo ponto justificadas. Mas também é verdade que, à medida que a vida moderna nos tornava mais ocupados e acelerados, os modos de cognição mudaram. Em seu tempo, o breve verbete de enciclopédia também era considerado uma mutilação vulgar de temas que requeriam tratamento mais aprofundado. E, antes de haver a consagração das páginas mais visitadas, havia a proliferação das listas de “dez mais”, ou do “melhor de”. O que o Google fez foi acelerar as tendências mecanizadoras inevitáveis da vida moderna.
Ainda se pode, no entanto, pegar um livro e aprofundar o conhecimento de um tema sobre o qual o Google forneceu só as informações mais superficiais. E não é preciso acreditar na história contada pelas páginas mais visitadas – embora, se a pessoa for proprietária de uma pequena empresa, ou editora de uma revista ou jornal, as visitas possam ser questão de vida ou morte. Também muitas das mudanças que o Google promoveu na cultura teriam ocorrido sem ele, de uma forma ou outra..
A mudança mais profunda causada pelo Google é uma que talvez seja igualmente inevitável, mas da qual nunca se falou. Em vez de cumprir a promessa da vida moderna de domínio e controle do mundo que nos cerca, o Google nos dá a ilusão desse domínio e controle, apesar de o mundo ter se tornado mais incontrolável e caótico.
Nós um dia esperamos que a ciência, como expressou Francis Bacon sadicamente, “extraísse por tortura os segredos da natureza”. A ciência representava disciplina, a cultura, liberdade. Assim como escreveu Schopenhauer que a música consistia de desejo, realização do desejo, e renovação do desejo, a cultura consistia de curiosidade, satisfação da curiosidade e ressurgimento da curiosidade. A ciência tinha o mundo sob controle; a cultura, quanto mais nos ensinava sobre o mundo, mais mostrava seu mistério.
Ao implodir o conhecimento em informação e fazer da informação uma ferramenta para controlar o mundo, o Google nos roubou a capacidade da cultura de nos encantar. O poderoso “mecanismo de busca” nos permite clicar em “Ilíada de Homero” e receber instantaneamente milhares de referências a ela – e, de algum modo, essa transfiguração do livro em ferramenta rouba sua mística. Ainda podemos lê-lo, é claro, e o fazemos. Mas a próxima geração poderá se contentar com as referências, e com o espetáculo de uma referência se ligando a outra, e com a conversa subsequente que isso cria. A “aura sagrada do livro”, como Walter Benjamin descreveu a autoridade de uma obra de arte, terá sido esmagada numa poeira de interminável interconectividade superficial.
É curioso como a tecnologia, mesmo enquanto desencanta nosso mundo, substitui seu próprio mistério. Voamos em aviões, mas a maioria de nós não tem ideia de como um avião funciona. Dirigimos, mas a maioria não tem ideia do que faz um carro rodar. Acionamos um interruptor e as luzes se acendem – como explicar? O mistério do Google reside em seus algoritmos – a maneira como ele pega nossas palavras-chave e imagina quais dos quase 200 milhões de sites do mundo são apropriados naquele momento para nossa busca. Compreender algoritmos do Google é ouro para várias empresas, mas os algoritmos são quase impossíveis de manipular. Isso, porém, foge do assunto. O fato é que os mistérios reinantes no mundo atual não são nascimento, amor, morte, Deus, mas o buscar e encontrar do Google. E sabemos tanto como o Google realiza suas funções como sabemos o que somos na Terra. A ignorância não importa quando estamos voando num avião ou acendendo uma luz. Mas quando nossas relações sociais mais íntimas são moldadas por forças misteriosas que nos são incompreensíveis nos tornamos impotentes diante delas.
Tendo se arrogado uma autoridade religiosa sobre as primeiras e últimas coisas, tendo conferido às pessoas a ilusão de que o mundo da cultura – de como nós, como conjunto, pensamos e sentimos – está muito mais sobre nosso controle agora do que o mundo físico, o Google entrou agora no negócio da imortalidade. Eric Schmidt, o CEO do Google, previu publicamente que nos próximos cinco a dez anos o Google terá a capacidade de criar inteligência artificial que será indistinguível da inteligência humana. Schmidt está despejando uma fortuna nesse projeto.
Para mim, essa é a transformação mais fundamental do Google, para a qual seu mecanismo de busca veio assentando as bases nos últimos 15 anos. O Google nos instilou o sentimento dominante de que nada que não possa ser acessado importa. Com isso, começou a quantificar nossa vida interior; começou a preparar o caminho para nossa inteligência emocional ser computadorizada.
Talvez seja por essa razão que as conversas sobre arte neste país têm sido substituídas por conversas sobre doença, envelhecimento e morte. O americano está mais obcecado que nunca por comentários explícitos sobre esses temas. Existe até a tendência de algo chamado “jantares de morte”, nos quais os convidados ficam conversando sobre como morrer. Isso é menos Epíteto que Google, pois a conversa seguramente deve ser sobre desejos, tratamentos, diagnósticos e prognósticos – todos temas que, diferentemente de uma exploração de pensamento e sentimento diante da morte, podem ser buscados online.
Em 10 ou 15 anos, os escritores neste espaço poderão perfeitamente argumentar não sobre ideias sociais, culturais e políticas, mas sobre quanto uma pessoa deve ser artificial. Alguns anos depois disso, o debate poderá perfeitamente tratar de quanto do cérebro de uma pessoa – isto é, sua mente – deve ser computadorizado. A pergunta quente do dia será não quem nós realmente somos, mas se devemos ser alguém em particular. Talvez seja assim que a história termine. A resposta ao enigma de Édipo era o próprio Édipo. O estágio final da cultura humana será a conquista da mortalidade em si, o que tornará a cultura irrelevante ou desnecessária. Isso tudo está começando agora, com a redução da experiência a qualquer coisa que possa ser quantificada pelo mecanismo de busca titânico baseado em Mountain View, Califórnia.
Não tenho dúvida, porém, de que aqueles de vocês que são céticos quanto a minhas conclusões sobre a onipotência do Google estão, neste exato momento, me “googlando” para descobrir exatamente quem sou eu. Por enquanto, ao menos, acredito que sei a reposta disso.
*Tradução de Celso Paciornik
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