segunda-feira, 3 de outubro de 2022

O Brasil amanheceu mais bolsonarista — mas Lula é o favorito, Meio Político

 Prezadas leitoras, caros leitores —

É fundamental que, no próximo dia 30 de outubro, o Brasil vá às urnas e eleja o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um terceiro mandato no Planalto.

O Brasil que foi às urnas ontem elegeu um Congresso mais bolsonarista do que o de 2018. Mais puro-sangue. Se eleito, Jair Bolsonaro terá nas mãos o poder de mexer com facilidade na Constituição. Alterar a estrutura do Supremo, aprovar o impeachment de ministros no Senado — o caminho para um regime autoritário estará aberto.

O bolsonarismo se implantou no Brasil e tem uma força maior do que nossas ferramentas nos permitiam ver. Ele só tem como mostrar seus dentes, porém, se tiver também a presidência. Lula é o favorito. Com menos de três pontos percentuais a mais, se elege. O caminho para Bolsonaro é mais árduo — o presidente precisaria, inclusive, tirar votos que Lula teve no primeiro turno. E nunca, desde que foi implantada a reeleição, o candidato que chegou em segundo virou o jogo na disputa pelo Planalto.

Mas nunca, tampouco, o jogo foi tão apertado.

Não devemos achar que está ganho. Este mês de outubro será tenso, difícil, duro e sem quaisquer distrações. Todo o eleitor preocupado com a democracia deve ter um único objetivo.

Eleger o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um terceiro mandato no Planalto.

Cá no Meio, era para estarmos em festa.

A primeiríssima edição da newsletter circulou na segunda-feira, 3 de outubro de 2016, dia seguinte à eleição municipal. Na manchete, o fracasso do PT no pleito. No texto, indicávamos como figuras que saíam mais fortes das urnas o governador Geraldo Alckmin, que elegeu seu protegido João Doria como prefeito de São Paulo, e, sim, Jair Bolsonaro.

Foi há seis anos.

Desde então, o PSDB implodiu, hoje descobrimos o quanto o bolsonarismo se enraizou e o PT foi escolhido pela sociedade brasileira como o marco de resistência democrática.

Se este é o caminho que o eleitor escolheu, não há outro para democratas. Agora é Lula.

domingo, 2 de outubro de 2022

O que esperar do 2º turno com Tarcísio e Haddad em SP: mesmo de fora, tucanos poderão ser decisivos, \\oesp

 Após 28 anos de domínio tucano, a eleição em São Paulo se dará sem a participação do PSDB. Ao menos nas urnas. Com o segundo turno definido entre os candidatos Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT), os tucanos serão cortejados por apoio e podem ser decisivos para o resultado final. Além disso, a polarização entre lulistas e bolsonaristas, segundo analistas, tende a continuar pautando a corrida paulista.

Os candidatos Fernando Haddad (PT), à esquerda, e Tarcísio de Freitas (Republicanos) se cumprimentam em debate do Estadão e da Rádio Eldorado com pool de veículos de imprensa.
Os candidatos Fernando Haddad (PT), à esquerda, e Tarcísio de Freitas (Republicanos) se cumprimentam em debate do Estadão e da Rádio Eldorado com pool de veículos de imprensa. Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

“Segundo turno entre Haddad e Tarcísio será um segundo turno nacionalizado. Devemos assistir a um adensamento dos conflitos existentes entre esquerda e direita e, neste sentido, teremos de observar o comportamento de Tarcísio para vai saber se ele seguirá mais moderado ou se vai investir em um bolsonarismo mais escancarado”, disse o cientista político Humberto Dantas.

Amplamente conhecido, Haddad, por sua vez, deverá acenar ao centro, avalia Dantas. “A exemplo de Lula, ele deverá tentar atrair o eleitor mais do centro, sobretudo o eleitorado de Rodrigo Garcia, e o que tem uma grande resistência ao PT, mas maior ainda ao bolsonarismo.”

Professor da FGV-SP, o também cientista político Marco Antonio Teixeira acrescenta que o discurso nacionalizado deve fazer com que a agenda estadual, os programas de governo, tendam a desaparecer no segundo turno, na contramão dos apoios obtidos até aqui por ambos os candidatos.

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“Não se sabe ao certo qual será a posição de Garcia e do PSDB, mas não podemos nos esquecer do trauma do ‘Bolsodoria’ para os tucanos”, afirma Teixeira, em referência à campanha feita por Garcia e seu então candidato ao governo em 2018, João Doria (PSDB), colada em Bolsonaro. O professor também ressalta que o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), desafeto de Garcia, é o verdadeiro fiador da campanha de Tarcísio, o que pode afastá-lo dos tucanos.

Diretora do Movimento Voto Consciente de São Paulo, Joyce Luz vai na contramão. Ela acredita que o perfil dos eleitores de Garcia e Tarcísio podem aproximar os dois candidatos. Depois dos ataques majoritários da campanha do PSDB ao PT, e vice-versa, uma aliança entre ambos é pouco provável, avalia “Haddad terá de ir trás dos eleitores indecisos ou que não têm motivos para votar em Tarcísio. Além disso, precisará ser bastante estratégico para incorporar bandeiras tucanas em seu plano, atraindo seus eleitores”, diz.

Otimismo

Os dois candidatos demonstraram otimismo ao votar na manhã deste domingo, 2. Tarcísio votou pela primeira vez em São José dos Campos, interior paulista. “Para um estreante de eleição, chegar numa reta final competitiva é muito gratificante”, disse. O candidato também antecipou que a linha da campanha será a mesma do primeiro turno, mas não detalhou a estratégia. Assim como no sábado, 1º, Tarcísio se vestiu de verde-amarelo e estampou na camiseta a imagem de Bolsonaro.

Extraoficialmente, Haddad já antecipou as estratégias para o segundo turno ao criticar o presidente Jair Bolsonaro (PL) em vez de falar de seus adversários na disputa paulista. Sem mencioná-lo diretamente, Haddad reclamou que “o adversário tentou barrar até o ônibus para pessoas de baixa renda” para aumentar o nível de abstenção.

Lula pode até ganhar, mas o bolsonarismo já venceu, Marcelo Godoy OESP

 O petista Luiz Inácio Lula da Silva pode até vencer a eleição presidencial, mas seu governo terá de conviver com um Congresso ainda mais bolsonarista do que o eleito quando o chefe da extrema direita se tornou presidente em 2018. Não é só o Senado que terá diversos ex-ministro do governo de Bolsonaro, muitos deles figuras carimbadas nas lives presidenciais dos últimos três anos e meio. O eleitor também escolheu nas listas do PL, do PP e do Republicanos deputados identificados com a ala mais estridente do atual governo.

Lula e Bolsonaro disputarão o segundo turno da eleição presidencial
Lula e Bolsonaro disputarão o segundo turno da eleição presidencial Foto: Gabriela Biló e André Dusek/ESTADÃO

Em São Paulo, a deputado federal Carla Zambelli está reeleita. Não só ela. O filho do presidente Eduardo Bolsonaro e o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles também garantiram cadeiras no Parlamento. Em Santa Catarina Jorge Seif, ex-secretário da Pesca, estava a um passo de ser eleito senador em Santa Catarina. No Rio de Janeiro, o general Eduardo Pazuello, o ministro da Saúde responsável pelo desastre da condução do combate à covid-19 podia se tornar um dos deputados federais mais votados do PL.

Acossado pela direita, Lula também será acossado pela esquerda. Em São Paulo, não são os candidatos de alas moderadas do PT e do PSB que estão entre os mais votados. É justamente Guilherme Boulos, do PSOL, quem liderava à esquerda entre os candidatos mais bem votados. No Rio, o fenômeno se repetia: Taliria Petrone e Tarcísio Motta estão entre os mais votados. Lindbergh Farias (PT) aparecia então em quinto entre os mais votados.

Sendo assim, um eventual governo Lula e seus planos de uma grande aliança com o centro ficaria espremido entre os dois extremos que foram as escolhas dos eleitores no Parlamento. Nos governos estaduais, a situação de Lula não é melhor. Tarcísio Freitas (Republicanos) chega ao segundo turno com uma votação enorme, e como favorito diante de Fernando Haddad (PT) - Tarcísio, porém, terá uma Assembleia com uma forte presença da esquerda se ganhar . Ou seja, uma aliança com os governadores, como procurava Lula para reformas como a tributária, também será difícil.

Por fim, a esperança de fazer um governo mais ao centro para produzir consenso e assim poder governar em razão de a esquerda ficar longe da maioria e mesmo dos 180 deputados para impedir qualquer tentativa de impeachment fica cada vez mais difícil em função do desastre colhido pelo PSDB, pelo Cidadania e pelo MDB nessa eleição. Destituído de sua principal base – São Paulo – o PSDB perde a sua relevância na cena política nacional, levando para o fundo das águas o sonho petista de reeditar no País uma Concertación, a coalizão que governou com estabilidade o Chile após o fim do governo de Augusto Pinochet.