domingo, 31 de março de 2013

Sindicato participa de lançamento de novo Ford no ABC


CLEIDE SILVA - Agencia Estado
SÃO PAULO - Num fato inédito em São Paulo, a Ford apresentou neste domingo a cerca de 35 mil pessoas o novo Fiesta, compacto premium global que a marca começa a produzir no ABC paulista. Com show da cantora Claudia Leitte no Paço Municipal de São Bernardo do Campo, o público viu o carro antes mesmo de seu lançamento oficial, que ocorre nesta segunda-feira (25) na fábrica com a presença de autoridades como o governador Geraldo Alckmin e o prefeito local, Luiz Marinho.
Pouco antes do show, quem apareceu no palco para um breve discurso não foi o presidente da Ford do Brasil, Steven Armstrong, que permaneceu na área para convidados. Foi o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, em mais um sinal da evolução das relações entre capital e trabalho na região considerada berço do sindicalismo brasileiro.
Marques afirmou que o novo produto - o carro global (feito em vários países) - chegou após 15 anos de negociações com a empresa e garante o futuro da fábrica no ABC. "A fábrica agora faz parte definitivamente da estratégia global da Ford". Boa parte do público era formada por funcionários e seus familiares.
Há 23 anos, Marques estava no grupo de trabalhadores demitidos durante a chamada "greve dos golas vermelhas", que reivindicava aumento salarial. Foi deflagrada no setor da ferramentaria, onde trabalhadores usavam macacões com golas vermelhas.
Após as demissões, trabalhadores ocuparam a fábrica e destruíram vários carros, alguns deixados de rodas para cima no pátio. A greve durou 51 dias e, após acordo, Marques foi reintegrado. Até hoje é funcionário da montadora, embora afastado há vários anos para exercer funções sindicais. Outra grande greve, de 50 dias, ocorreu em 1998, quando a Ford enviou cartas de demissão a 2,8 mil trabalhadores às vésperas do Natal. Na época, muitos analistas acreditavam que a fábrica seria fechada.
"Desde então, houve um amadurecimento de ambas as partes, trabalhadores e empresas viram que era possível encontrar alternativas viáveis", disse Marques ao Estado. "E o novo Fiesta, primeiro carro global a ser fabricado em São Bernardo, é resultado desse processo". Nos anos 90 a fábrica tinha 7 mil funcionários e hoje tem 4,2 mil.
Retrato desse novo comportamento aparece na capa da edição de quinta-feira da Tribuna Metalúrgica, publicação do sindicato distribuída diariamente. A publicação parece folheto de propaganda da montadora. Com a foto do Fiesta e letras garrafais num quadrado vermelho, anuncia: "Ford lança novo carro com festa no Paço Municipal". A página interna traz depoimentos de trabalhadores, sindicalistas e do próprio Marques ressaltando que o lançamento de um produto global trará mais tranquilidade aos funcionários, garantirá salários e empregos à indústria do ABC.
"Todos nós evoluímos", desse Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford, minutos antes do show. "Aprendemos muito com eles e eles com agente". Segundo o executivo, a vinda do Fiesta coloca a fábrica do ABC no contexto mundial do grupo de ter toda sua linha com carros globais até 2015 e foi facilitada pela parceria. "Foi um trabalho integrado e o sindicato sabe como é importante o sucesso desse produto".
Hoje, a fábrica do ABC produz o Ka basicamente para o mercado brasileiro e a picape Courier. "Um acordo fechado em 2011 selou a produção do Fiesta no ABC", disse Marques. Entre as medidas acertadas está a criação de uma nova jornada na estamparia, com sete turmas se revezando no trabalho nos sete dias da semana. Segundo o sindicalista, a medida gerou "aumento de eficiência que ajudou a compor a equação de custo para a produção do novo carro". O próximo passo, disse, é negociar uma substituta para a Courier. "Já mostramos que o ABC é viável". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. 

'O crime contra a mulher está mais cruel', diz Eleonora Menicucci


Thais Arbex - O Estado de S.Paulo
"A sociedade civil tem um histórico de discussão sobre o aborto" - Paulo Giandalia/AE
Paulo Giandalia/AE
"A sociedade civil tem um histórico de discussão sobre o aborto"
As convicções de Eleonora Menicucci são conhecidas. Mas, desde que assumiu a Secretaria de Políticas para as Mulheres, em fevereiro de 2012, passou a evitar temas polêmicos e a afirmar que sua opinião pessoal não importa. Principalmente quando o assunto é aborto: "Sigo as diretrizes do governo".

A ministra, que é amiga da presidente Dilma Rousseff desde a década de 1960, recebeu a coluna em seu apartamento em São Paulo, na véspera de o Conselho Federal de Medicina colocar o tema novamente em pauta, ao defender o direito de a mulher abortar até a 12ª semana de gravidez. Questionada sobre se o Brasil está preparado para o debate, preferiu uma saída política. 

A questão do aborto marcou a disputa entre Dilma e o ex-governador José Serra na eleição presidencial de 2010. À época, a então candidata petista se comprometeu a não adotar nenhuma medida, durante seu governo, para mudar a legislação atual, que só permite a interrupção da gestação quando a vida da mulher está em risco ou quando a gravidez é resultante de estupro.

Torturada durante a ditadura militar e companheira de prisão da presidente na Torre das Donzelas, a ala feminina do presídio Tiradentes, em São Paulo, Eleonora diz que é preciso dar "tempo" à Comissão da Verdade. "Resolver em dois anos problemas de 40 anos atrás é muito difícil."

Com o orçamento de R$ 188 milhões - mais que o dobro de quando assumiu a pasta -, a ministra diz estar empenhada em combater a violência contra a mulher. "Nosso objetivo é acabar com o tráfico de pessoas - principalmente porque mais de 47% das pessoas traficadas são mulheres para exploração sexual - e implementar a Lei Maria da Penha em todo o País."

Embora a meta pareça ousada, a ministra diz que as condenações do ex-goleiro Bruno (pela morte de Eliza Samudio) e do ex-policial militar Mizael Bispo (pelo assassinato de Mércia Nakashima) foram "excepcionais" para "fazer com que as mulheres mudem de atitude e denunciem seus agressores". "Apesar de, na minha concepção, as condenações terem sido baixas, elas foram muito simbólicas."

Confira, a seguir, os principais trechos da conversa.

A senhora acredita que o Brasil já está preparado para a discussão sobre o aborto?
Eleonora Menicucci - 
Temos um histórico de discussão sobre isso no âmbito da sociedade civil, sem dúvida nenhuma. 

E no âmbito do governo?
Eleonora Menicucci - 
Como cidadã, tenho minhas convicções. Agora, desde que entrei no governo, sigo as diretrizes do governo.

O combate à violência contra as mulheres é prioridade do governo Dilma? 
Eleonora Menicucci - 
Temos dois grandes programas na área da violência. Um deles, em parceria com o Ministério da Justiça, é o de enfrentamento ao tráfico de pessoas. Mais de 47% das pessoas traficadas são mulheres - e para exploração sexual. Estamos determinados a acabar com isso até o fim do governo Dilma. Para isso, fortalecemos a campanha de denúncias. Já temos o Ligue 180 e agora estamos investindo nos núcleos especializados nas fronteiras. Queremos ampliar e qualificar esses espaços para amparar as mulheres e identificar agressores e traficantes. 

O problema ganhou visibilidade com a novela Salve Jorge? 
Eleonora Menicucci - 
Claro que ela incentiva, sim. Uma das últimas denúncias - que acabou com a quadrilha desbaratada pela Polícia Federal em Salamanca - foi feita por uma mãe depois de ver a novela. Ela acreditou que sua filha vivia situação semelhante à das personagens. Mas não é só isso. De janeiro a dezembro de 2012, tivemos 80 ligações para o Ligue 180 - a maior parte de Espanha, Portugal e Itália. A partir do momento em que fomos para a televisão falar sobre a importância da denúncia, o número de ligações subiu absurdamente. Foram 72 em três dias. 

A denúncia é fundamental? 
Eleonora Menicucci - 
Sim, porque só a partir dela pode existir um processo e um desbaratamento. Do contrário, não podemos fazer absolutamente nada. O tráfico é um crime silencioso e muito covarde. As mulheres são aliciadas, com promessas de empregos, de vida melhor. Mas chegam a seus locais de destino sem documentos, ficam confinadas e muito ameaçadas. E é importante lembrar que existe a denúncia anônima. É constitucional, está na Lei Maria da Penha. 

A Lei Maria da Penha é eficaz em todo o País? 
Eleonora Menicucci - 
Uma das nossas mais importantes preocupações é a consolidação e a implementação da Lei Maria da Penha em todo o Brasil. Para lançar o programa Mulher, Viver Sem Violência, fizemos parcerias com o sistema judiciário. Fomos eu e o ministro José Eduardo Cardozo negociar com o ministro Joaquim Barbosa e com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Tivemos adesão imediata. 

Como se dará essa parceria? 
Eleonora Menicucci - 
O plano prevê investimento de R$ 265 milhões em dois anos. Parte desses recursos será para a construção da Casa da Mulher Brasileira nas 26 capitais e no Distrito Federal, onde concentraremos todos os serviços para amparar as mulheres vítimas de violência: delegacias especializadas, juizados, defensorias, promotorias e atendimento psicossocial. Mas, com algumas novidades: incluímos a central de transportes - que leva e busca a mulher em casa, nos hospitais ou nas delegacias onde deram entrada -, os serviços de orientação para emprego e espaços para recreação das crianças dessas mulheres.

O que mudará? 
Eleonora Menicucci - 
Sei bem como funciona a ponta do problema, porque, durante anos, coordenei, em São Paulo, um serviço de atendimento às mulheres vítimas de violência sexual. A mulher estuprada precisa de atendimento respeitoso, digno, de alguém que acredite na palavra dela. Além disso, há um elemento essencial: a coleta da prova do estupro. Ela tem de ser coletada por um especialista, e essa prova precisa ser guardada em lugar adequado e seguro. 

É uma meta possível?
Eleonora Menicucci - 
Tenho absoluta convicção de que, com essa parceria, conseguiremos capilarizar o combate à violência contra as mulheres para os municípios pequenos. A violência não acontece só nas capitais. Criar as varas especializadas em municípios pobres é fundamental. É o que salva as mulheres. Essas mulheres só são salvas quando vão às delegacias, às varas, e encontram uma estrutura preparada para recebê-las e auxiliá-las. É aí que está o desafio, o gargalo. A delegacia tem de estar preparada para pedir a medida protetiva ao juiz. E o juiz precisa expedir essa medida o mais rápido possível. Porque, quando a mulher toma a iniciativa de procurar ajuda, quer dizer que ela pode ser morta a qualquer momento. 

Porque muitas mulheres sofrem caladas durante anos.
Eleonora Menicucci - 
Mais grave do que sofrer calada é ir à delegacia e ouvir do delegado: "Vou pedir a medida protetiva. Pode voltar para casa". Ela volta para casa e a medida nunca é expedida. É esse processo que queremos mudar. Trabalhamos em parceria com o Conselho Nacional de Justiça na capacitação de juízes para desempenhar essa função. 

Muitas mulheres têm medo de denunciar seus agressores?
Eleonora Menicucci - 
Mais do que medo, têm vergonha. Vergonha de assumir que estão sendo violentadas. Seja violência doméstica ou estupro. E sabe qual a maior vergonha? Denunciar o homem que ela escolheu para ser pai de seus filhos. É quando ela expõe a privacidade em seu nível mais alto. E isso eu falo de cátedra. 

É difícil assumir um erro...
Eleonora Menicucci - 
Exato. E assumir na lata: "Eu errei. Ele me bate, meus filhos veem". Essa mulher pode não ter nenhum hematoma, mas está com corpo e alma inteiramente roxos. Tenho sentido que as mulheres estão acreditando mais nas políticas públicas. As condenações do ex-goleiro Bruno e do Mizael Bispo são excepcionais para fazer com que as mulheres mudem de atitude e denunciem seus agressores. 

A senhora acha que as penas (22 anos para o Bruno e 20 para o Mizael) foram baixas? 
Eleonora Menicucci - 
Na minha concepção, as penas foram baixas. Por outro lado, também foram muito simbólicas. Só o fato de eles terem sido condenados e expostos publicamente já é uma vitória. Porque os crimes contra as mulheres têm se tornado cada vez mais cruéis. Matar já é cruel, mas afogar, decepar, dar para o cachorro, não achar o corpo. Isso é de uma crueldade incrível.

Crê que o fato de o Brasil ter uma presidente mulher mudou a visão da sociedade? 
Eleonora Menicucci - 
Sempre digo que o século XXI é o século das mulheres. As mulheres podem e sabem fazer. Até as crianças estão vendo isso. Ter uma presidente mulher tem um impacto muito grande. E nós, na secretaria, temos um papel importantíssimo. Estamos trabalhando para incentivar as mulheres a entrarem na política. Hoje, no Congresso Nacional, apenas 8% são mulheres - entre senadoras e deputadas. É muito pouco. Dos 5.570 municípios, apenas 657 são comandados por prefeitas. E elas estão, em grande parte, nas cidades pequenas. Temos uma única prefeita de capital: a Teresa Surita, em Boa Vista. E duas governadoras, a Rosalba Ciarlini (Rio Grande do Norte) e a Roseana Sarney (Maranhão). 

Existem políticas para as mulheres homossexuais? 
Eleonora Menicucci - 
Temos uma coordenadoria da diversidade. Sou defensora dos direitos GLBT. São pessoas, seres humanos iguais a todos. Não há diferença nenhuma. A homofobia é um preconceito, uma violência. 

Como a senhora viu a nomeação do pastor Marco Feliciano para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara? 
Eleonora Menicucci - 
É uma questão do Congresso Nacional. Como ministra de Estado, não posso, não quero e não vou me meter nisso. Acho que a sociedade tem de se mobilizar para dar a resposta necessária à questão. Não se pode simplesmente acabar com a Comissão de Direitos Humanos. Tenho real esperança de que o Congresso vai resolver isso.

O que acha da atuação da Comissão da Verdade?
Eleonora Menicucci - 
Historicamente, foi fundamental a criação da Comissão da Verdade. E nós, do Executivo, não nos intrometemos em seu funcionamento. Ela é autônoma. Para mim, como ex-presa política, a instalação da comissão foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida. 

Há críticas em relação ao trabalho da comissão. 
Eleonora Menicucci - 
A comissão tem de ter seu tempo para trabalhar. Precisa de tempo. Resolver em dois anos problemas de 40 anos atrás é muito difícil. A comissão tem dado resultados muito bons. Vimos a entrega do novo atestado de óbito de Vladimir Herzog à família do jornalista, assassinado em 1975; a descoberta dos documentos que mostram que Rubens Paiva foi morto sob tortura. E tantos outros virão à tona. Tenho certeza de que a comissão entregará um relatório exitoso.


Falta de armazéns agrava caos logístico


Capacidade do Brasil é de apenas 80% da safra agrícola. Para atender 100% da demanda, seria necessário investir R$ 15 bilhões

31 de março de 2013 | 2h 09

RENÉE PEREIRA - O Estado de S.Paulo
O caos logístico verificado neste início da safra agrícola poderia ser amenizado se o Brasil tivesse mais armazéns para estocar os grãos. Na média, a capacidade do País é suficiente para apenas 80% da safra. Pior: representa só 67% do nível recomendado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) - que é de 1,2 vez a produção anual.
Especialistas calculam que, para atender 100% da safra, seria necessário investir cerca de R$ 15 bilhões - bem abaixo dos R$ 133 bilhões previstos para ferrovias e rodovias.
Sem armazéns, a colheita rapidamente é transferida para os caminhões que seguem, ao mesmo tempo, para os portos do Sul e Sudeste. O problema é que a infraestrutura rodoviária e ferroviária - sabidamente precária - não suporta o aumento do fluxo de veículos. O problema ficou ainda mais grave com a supersafra agrícola. Na falta de armazéns, os caminhões viram silos ambulantes e comprometem a competitividade do País.
Especialistas avaliam que, sozinhos, os armazéns não resolvem todos os problemas logísticos, mas aliviam - no curto e médio prazos - a situação caótica instalada no País. Os investimentos em ferrovias, rodovias e portos, essenciais para elevar a capacidade de escoamento de grãos, vão levar no mínimo de três a quatro safras para começar a surtir algum efeito positivo.
O governo federal tem sido alertado para os benefícios de apostar no aumento da capacidade dos armazéns, mas só agora parece ter acordado para o problema. A expectativa é de que, nos próximos dias, seja lançado um pacote para financiar a construção de armazéns em todo o Brasil. A linha deve englobar todas as fases da construção, desde a obra civil até a compra de equipamentos. Procurado, o Ministério da Agricultura não quis se pronunciar sobre o assunto.
"Esse era um pleito antigo dos produtores", afirma o gerente de Planejamento da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), Cid Sanches. Na avaliação dele, com mais armazéns, a produção poderá ficar um tempo a mais nas mãos dos agricultores ou das cooperativas.
Além disso, vai evitar prejuízos com a padronização da qualidade do produto, que precisa obedecer requisitos estabelecidos pelas tradings. "Se o grão não estiver na condição estipulada pelos compradores, eles descontam do produtor."
Embora, na média, a capacidade de armazenamento do País seja de 80%, a distribuição entre as regiões é desigual. No Centro-Oeste, principal área de produção de soja, a capacidade de armazenamento é de 67% da safra. Em Mato Grosso, maior produtor do Brasil, o nível é ainda menor: de 65%.
O sócio da Agroconsult André Debastiani explica que parte significativa dos armazéns está localizada nos portos e zonas urbanas. Segundo ele, aqui apenas 14% da capacidade está na fazenda, enquanto nos EUA o porcentual é da ordem de 40%.
O consultor explica que os produtores sempre entenderam a importância de construir armazéns em suas fazendas, mas havia outras prioridades. Os investimentos eram destinados à ampliação da área plantada, compra de sementes, defensivos e fertilizantes, máquinas e equipamentos. "Esses itens sempre vieram antes até porque as linhas de crédito eram mais acessíveis. Para armazenagem, o crédito era mais complexo."
Na opinião dele, de todos os investimentos necessários para eliminar o caos logístico, o único que surtiria algum efeito na próxima safra é a construção de armazéns. "Com mais silos, o produtor pode sequenciar melhor o escoamento dos grãos e organizar a exportação dos produtos. Além disso, vai gastar menos com o custo dos congestionamentos dos caminhões."
O professor da Fundação Dom Cabral Paulo Resende vai além. Na avaliação dele, com mais capacidade de armazenamento, o produtor ganhará mais poder na formação de preço. "Há um efeito positivo na cadeia de suprimento, uma vez que não é necessário desovar rapidamente a produção." Ele conta que, nos EUA, a armazenagem de grãos é tratada de forma estratégica, já que eles regulam o preço no mercado mundial.
Resende atribui o problema à falta de informação conceitual dos planejadores e órgãos públicos. Até hoje, as linhas de crédito criadas para elevar a capacidade de armazenamento eram limitadas e poucos olhavam com mais cuidado para toda a cadeia. Nos EUA, China e Europa, diz ele, a indústria trabalha com logística integrada há anos. Aqui esse conceito praticamente não existe.


Infraestrutura precária pode dar prejuízo de R$ 4 bi a exportadores

31 de março de 2013 | 2h 10

O Estado de S.Paulo
A falta de infraestrutura logística poderá representar prejuízo de R$ 4 bilhões para os produtores nacionais que exportam seus produtos, calcula a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Essa é a conta dos custos adicionais comparados a Estados Unidos e Argentina, principais concorrentes do Brasil no fornecimento de grãos para o mundo, afirma o diretor-geral da associação, Sérgio Mendes. "Estamos bobeando há muito tempo", afirma.
Segundo ele, a capacidade da infraestrutura já estava no limite para as quantidades que o setor movimentava há 4 ou 5 anos. "Com uma safra recorde, era evidente ter sobressaltos." Para Mendes, o Brasil não pode mais se dar ao luxo de ignorar o potencial hidroviário, que permitiria ampliar a saída da safra pela região Norte, além de reduzir a dependência dos caminhões.
O executivo destaca que, para encher um navio graneleiro, são necessárias 2 mil carretas. O Porto de Santos, por exemplo, tem capacidade para oito navios simultaneamente. Se as vias de acesso não estiverem preparadas, o resultado continuará sendo os congestionamentos gigantes como os verificados nas últimas semanas.
O especialista em agronegócio e energia Marcos Jank, ex-presidente da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), defende, além de mais armazéns, investimentos em novos portos. Ele também acredita que a situação de caos vai se repetir todos os anos se não houver mais oferta no sistema portuário. "Faltam novos berços de atracação."
Mas também há falta de capacidade das ferrovias. Em Santos, só metade da soja exportada chega pelos trilhos. No açúcar, a participação é de 35%, e na carga em contêiner, irrisório 1,95%. /R.P.