segunda-feira, 7 de abril de 2025

Americano, sua vida nunca mais será a mesma depois das tarifas de Trump, NYT FSP

 Justin Wolfers

Professor de economia e políticas públicas na Universidade de Michigan

The New York Times

Essas tarifas vão machucar. Muito. Pelos meus cálculos, esta rodada de tarifas pode ser 50 vezes mais dolorosa do que aquelas que Donald Trump instituiu em seu primeiro mandato. Isso significa que elas vão remodelar a vida do americano de maneiras muito mais fundamentais.

Para ilustrar como, vejamos um exemplo prosaico: a máquina de lavar. Em 2018, as tarifas relativamente modestas de Trump fizeram os preços das máquinas de lavar subirem quase US$ 100 (R$ 583). Como resultado, muitas famílias optaram por manter suas máquinas antigas por mais tempo. Mas essa escolha gerou um novo conjunto de custos: barulhos da máquina com muito peso, montes de roupas amassadas ainda pingando após um lavagem e contas de energia e água mais altas.

Em outras palavras, o custo total de uma tarifa não é apenas o que sai da sua conta corrente. O tempo gasto para reorganizar as coisas na lavadora é um custo. O tempo torcendo camisetas encharcadas é um custo. Tarifas são caras não apenas porque aumentam os preços, mas porque forçam o consumidor a tomar decisões diferentes que vão extrair um tipo diferente de custo ao longo do tempo.

A imagem em preto e branco mostra uma pessoa de costas, com cabelo claro, observando outra pessoa que está escrevendo em um caderno ou documento em uma mesa. A pessoa que escreve não é totalmente visível, mas é possível ver sua mão segurando uma caneta. O ambiente parece ser um escritório ou sala de reuniões.
O presidente Donald Trump assina documentos para implementar um tarifaço mundial - 2.abr.25 - Damon Winter/NYT

Tarifas pequenas criam problemas pequenos. Tarifas grandes criam problemas enormes. Veja a tarifa de 25% sobre veículos, que deve aumentar preços em cerca de US$ 4.000 (R$ 23.320). Muitas famílias, como a minha, provavelmente decidirão não comprar um segundo carro. Isso cria problemas muito maiores do que uma lavadora envelhecida. Agora, estamos constantemente equilibrando como levar nossos filhos a todas as suas atividades e a nós mesmos ao trabalho, com apenas um carro.

E não são apenas os carros. Estas são tarifas abrangentes, então elas vão distorcer praticamente todas as compras que o americano fizer. Em cada caso, ele terá que parar cálculos rotineiros, recalibrar e encontrar uma maneira de se virar —talvez substituindo vegetais frescos por congelados, um medicamento menos eficaz por um importado mais caro, ou xarope de milho por açúcar. E em cada caso, ele sai perdendo.

A propósito, as tarifas não mudam apenas suas decisões de compra, elas também mudam o que as empresas produzem. Assim como as tarifas levam o consumidor a comprar alternativas menos desejáveis, elas levam as empresas a direcionar trabalho e capital para atividades menos desejáveis —ou seja, menos produtivas.

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As tarifas anunciadas na quarta-feira (2) são cerca de dez vezes mais altas do que a maioria dos outros países industrializados, e mais altas do que as infames tarifas Smoot-Hawley (famosas pela Grande Depressão).

As últimas tarifas de Trump levarão os americanos a repensar não apenas se devem substituir sua máquina de lavar —como fizeram em 2018— mas também suas secadoras, geladeiras, fogões, mantimentos, roupas, carros e até mesmo itens essenciais do dia a dia.

Muitas das substituições que vamos fazer vão ser bastante dolorosas. Se uma tarifa de 1% leva a trocar o guacamole real por uma alternativa à base de ervilha, então o cliente realmente não se importava tanto com guacamole. Mas se for necessária uma tarifa de 20% para fazê-lo mudar, isso é um sinal claro de que ficar sem o produto real é uma dificuldade séria.

E é por isso que tarifas mais altas geram uma quantidade muito maior de dor. Essas forças não são independentes umas das outras. Elas interagem. Ou em matemática, elas se multiplicam, o que significa que os custos aumentam ao quadrado da taxa de tarifa. Isso leva a uma aritmética bastante dolorosa.

A taxa média de tarifa era de cerca de 1,5% pouco antes da eleição de Trump em 2016. Ele posteriormente aumentou tarifas sobre aço, alumínio, máquinas de lavar, painéis solares e muitos produtos da China, mas deixou grande parte do restante da economia intocada. No total, em 2019 ele praticamente dobrou a taxa de tarifa, para cerca de 3% —e assim efetivamente quadruplicou qualquer dor que as tarifas de 2016 estavam causando. (Sim, duas vezes dois é quatro).

Joe Biden manteve algumas dessas tarifas, mas a última rodada de Trump eleva a taxa americana atual para cerca de 15 vezes o nível de 2016, e assim, ao quadrado, é 225 vezes mais dolorosa. Isso é mais de 50 vezes maior do que o custo do aumento de tarifas do primeiro mandato do Sr. Trump.

Talvez os eleitores tenham votado em Trump com boas lembranças dos bons tempos econômicos. Mas a realidade de seu primeiro mandato é que houve muito mais conversa sobre tarifas do que ação. Elas foram pouco mais do que um solavanco na estrada. Desta vez, são uma montanha.

E assim, o impacto será mais como uma colisão do que o solavanco confortável da última vez.

Projeto resgata e doa roupas de grife de lixão têxtil do deserto do Atacama, FSP

 

São Paulo

"Não compre. Resgate." Este é o slogan de um projeto batizado de Atacama Re-Commerce e que pretende enviar para todo o mundo peças de roupas hoje acumuladas no deserto do Atacama, no norte do Chile. Quem se interessar por alguma das peças paga apenas o frete para retirar a roupa do deserto.

Lançado na última segunda-feira, o projeto tem uma equipe que faz a curadoria dos itens, o que garante que estejam em boas condições para revenda. Cada peça é então higienizada, organizada e disponibilizada na plataforma digital.

A primeira leva de roupas foi toda adquirida em apenas cinco horas por pessoas de países como Brasil, França, Reino Unido e China. Outras duas toneladas de roupas já foram higienizadas e devem entrar no site em breve.

A imagem mostra duas pessoas em um terreno árido coberto por uma grande quantidade de roupas, principalmente jeans. Uma pessoa está agachada, segurando um pedaço de roupa, enquanto a outra está em pé, usando luvas e uma camiseta cinza, com um boné amarelo. O céu é azul com algumas nuvens e há uma colina ao fundo.
Projeto Re-Commerce resgata roupas do lixão têxtil do deserto do Atacama e disponibiliza as peças higienizadas numa plataforma de e-commerce; consumidor só paga o frete - Divulgação

Faz anos que parte do deserto chileno foi convertido em um cemitério de lixo têxtil composto pelo descarte sistemático tanto de roupas pós-consumo, ou seja, já usadas, como também de encalhes das mais de 50 coleções que as marcas de fast fashion produzem por ano.

O fenômeno é consequência do modelo de produção acelerado da indústria da moda. Hoje, são produzidas globalmente cerca de 100 bilhões de peças de vestuário por ano —o dobro em relação ao ano 2000. São 12 peças anuais por pessoa. Ou mais de 3.000 peças por segundo.

Tamanha escala de produção gerou custos mais baixos, o que mudou a relação das pessoas com suas roupas, muitas das quais são consideradas como se fossem quase descartáveis. Cada peça de roupa hoje é usada menos vezes do que 15 anos atrás e vai para descarte mais rápido, depois de apenas sete ou oito usos, segundo dados da consultoria McKinsey.

Com isso, o descarte de tecidos escalou, gerando desperdícios e danos ambientais e à saúde, já que 80% dos resíduos têxteis são incinerados, aterrados ou vão parar em lixões e no meio ambiente, segundo dados da Fundação Ellen MacArthur, ONG internacional dedicada à promoção da economia circular.

Estima-se que cerca de 39 mil toneladas de peças sejam despejadas na região anualmente. As montanhas de roupas que tomaram o cenário do deserto chileno viraram um problema ambiental. O projeto Atacama Re-Commerce quer transformar esse desperdício —e os problemas que ele gera— em oportunidade de dar uma segunda vida a essas peças, muitas delas de marcas renomadas como Calvin Kein, Nike, Zara e Adidas.

O projeto foi criado pela empresa de e-commerce VTEX, responsável pela plataforma digital do Re-Commerce, em parceria institucional com a Fashion Revolution, organização brasileira ligada ao ativismo da moda, e a Desierto Vestido, organização sem fins lucrativos dedicada a educar, conscientizar e incentivar a economia circular na indústria têxtil.

"Nossa missão é resgatar esses itens e dar a eles uma nova chance, promovendo um processo de conscientização sobre o consumismo exacerbado promovido pela indústria da moda atualmente", afirma Mariano Gomide de Faria, CEO da VTEX.

"Nossa iniciativa convida à reflexão sobre os impactos do nosso atual modelo de produção, consumo e descarte desenfreado", afirma Fernanda Simon, diretora executiva da Fashion Revolution Brasil. "Estamos vivendo uma emergência climática, e a indústria da moda precisa de compromissos mais robustos. Esta ação é uma forma de chamar atenção para o que está por trás das roupas e provocar novas formas de se relacionar com elas."

Com Eduardo Bolsonaro, Brasil pode ter uma recaída dinástica, Elio Gaspari, FSP

 A República tem mais de um século, e o Brasil teve uma recaída dinástica.

De um lado, Eduardo Bolsonaro pode sair como candidato a presidente caso seu pai continue inelegível.

Eduardo Bolsonaro, um homem com cabelo curto e barba está falando em um microfone. Ele usa um terno cinza escuro com uma gravata vermelha e uma camisa branca. O fundo é desfocado, mas parece ser um ambiente de conferência ou palestra.
O político brasileiro Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, discursa durante a Conferência Anual de Ação Política Conservadora (CPAC) no Gaylord National Resort & Convention Center em Oxon Hill, Maryland - Saul Loeb /AFP

Na outra ponta, a caminho do 80º aniversário e com a boca do jacaré aberta, Lula poderia desistir da disputa pela reeleição.

Nesse cenário, surgiu uma especulação delirante. Para ganhar perdendo, ele lança a candidatura de sua mulher.

Coisa parecida quem fez foi Juan Perón na Argentina de 1973. Ele ia mal de saúde e elegeu-se com Isabelita como vice. Morreu no ano seguinte e ela assumiu.

Parece delírio, e é, mas Lula já está falando do peso da idade.