quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Rússia ultrapassa EUA e se torna maior fornecedor de diesel do Brasil em 2023, FSP

  

RIO DE JANEIRO

Quarto maior produtor global de diesel, a Rússia encontrou no Brasil o destino ideal para escoar sua produção diante dos embargos impostos por países europeus após a invasão da Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.

Em 2023, a Rússia desbancou os Estados Unidos como maior fornecedor de diesel importado ao Brasil. O movimento levou o mercado brasileiro a fechar o ano como o segundo maior cliente do diesel russo, atrás apenas da Turquia.

Posto de gasolina na avenida Sumaré, em São Paulo. - Folhapress

Para especialistas, o cenário reflete os elevados descontos oferecidos por refinarias russas e a maior dependência europeia das refinarias americanas, que passaram a direcionar suas vendas aos parceiros do Atlântico Norte.

Segundo dados da balança comercial compilados pela consultoria Argus, a Rússia foi a origem de 50,5% do diesel importado no país em 2023. Desbancado da liderança, os Estados Unidos foram responsáveis por 24,5% das importações brasileiras do combustível.

Após um breve período de restrição a exportações no início do segundo semestre, o avanço do diesel russo sobre o mercado brasileiro se intensificou nos últimos meses de 2023.

Em dezembro, a Rússia respondeu por 86,7% das importações brasileiras. Os Estados Unidos ficaram apenas com 13%.

O especialista em combustíveis da Argus, Amance Boutin, acredita que o volume remanescente de diesel americano reflete as compras da Petrobras, que não importa da Rússia, e contratos de longo prazo firmados por outras importadoras.

O suprimento russo ajudou a baratear o preço médio do diesel no Brasil, já que o produto vendido por aquele país tem desconto em relação ao americano. Boutin calcula que, atualmente, o diesel russo esteja sendo vendido com desconto de R$ 0,15 por litro em relação ao concorrente.

Os negócios com o Brasil também ajudaram a Rússia a encontrar mercado para sua produção em um momento em que convive com sanções na Europa. Em 2023, segundo dados da Argus, a Rússia exportou 50 milhões de toneladas de diesel, alta de 8,7% em relação ao ano anterior.

Na média do ano, o Brasil foi o segundo principal destino, com 13% do total vendido pelo país. A líder Turquia ficou com 31%.

Mas dados da consultoria Kpler publicados pelo "Financial Times" indicam que, já no fim do ano, a fatia brasileira superou a turca.

Depois de alguma resistência, as maiores distribuidoras do país se renderam e decidiram importar diesel da Rússia. A Vibra, por exemplo, anunciou em agosto que passaria a considerar o país em suas fontes de suprimento.

Em dezembro, mais de cem autorizações de importação de diesel russo foram concedidas pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) —o que não significa, porém, que todas essas operações tenham sido realizadas.

A Nimofast, uma das maiores importadoras, diz que já distribui o produto russo para mais de 80 clientes no Brasil. A empresa traz, em média, cerca de 200 milhões de litros por mês. Negocia outros cerca de cem milhões para que terceiros tragam ao país.

"O Brasil precisa de diesel. E vai precisar ainda mais, se a economia crescer 3% ao ano", diz o presidente da companhia, Ramon Reis.

Ele vê um movimento de diversificação das fontes de suprimento do país, que passou nos últimos anos a buscar também mais combustíveis na Índia e no Oriente Médio, diante do foco das refinarias americanas no mercado europeu.

De fato, os dados da ANP mostram que o terceiro maior exportador de diesel ao Brasil em 2023 foram os Emirados Árabes Unidos. A Índia foi o quarto e a Arábia Saudita, o quinto. Juntos, esses três países foram responsáveis por cerca de 20% das importações brasileiras do combustível.

Em 2019, último ano antes da pandemia, os Estados Unidos foram responsáveis por 82% das importações brasileiras de diesel. Reis afirma, porém, que o Brasil seguirá precisando de diesel dos Estados Unidos para garantir o abastecimento.

Atualmente, cerca de um quarto do mercado interno desse combustível é suprido por importações. A dependência já foi maior —chegou a bater 27% em 2022—, mas a Petrobras decidiu este ano aumentar a utilização de suas refinarias.

A estatal já anunciou também planos para ampliar a produção nacional do combustível com obras de ampliação e modernização de refinarias. No último dia 18, celebrou a retomada das obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que foi projetada com foco nesse segmento.

Arezzo e Grupo Soma, dono da Farm e Hering, negociam fusão para formar gigante de moda, OESP

 

Foto do author Aramis Merki II
Foto do author Altamiro Silva Junior
Por Aramis Merki II e Altamiro Silva Junior
Atualização: 

Arezzo e o Grupo Soma, dono das marcas FarmAnimale e Hering, voltaram à mesa de negociações no fim da semana passada. A ideia é criar um grupo gigante de moda, com estimativa de ganhos operacionais com a junção em torno de R$ 4,5 bilhões para todas as marcas envolvidas.

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As conversas sobre a fusão começaram em 2021, segundo pessoas familiarizadas com as negociações, mas travaram e voltaram a ganhar força nas últimas semanas por iniciativa da Arezzo. Até o momento, não há bancos de investimentos envolvidos.

O Soma confirmou em comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que há conversas em andamento. Segundo o documento, a possível associação pode ser “mediante a junção de suas operações e bases acionárias, envolvendo as ações das respectivas companhias e a governança compartilhada do negócio combinado”.

Alexandre Birman seria o presidente da companhia combinada, enquanto Roberto Jatahy continuaria à frente do comando das marcas sob atual gestão do Soma. A informação foi inicialmente noticiada pelo Neofeed.

Loja da Arezzo; empresa pode realizar fusão com o grupo Soma
Loja da Arezzo; empresa pode realizar fusão com o grupo Soma Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADÃO

A Arezzo também emitiu comunicado sobre o assunto. “A companhia está em entendimentos com o Grupo Soma em que ambos avaliam uma possível associação que poderá envolver a unificação das bases acionárias em uma única companhia com governança compartilhada.”

As empresas ressaltam que não há qualquer documento vinculante celebrado até o momento e deixam claro que a operação pode não ser confirmada.

Segundo uma fonte, a transação seria 100% em ações, sem prêmio sobre a cotação dos papéis. Pelos termos, a Arezzo ficaria com pouco mais de 50% da empresa combinada, e o Soma, com o restante.

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A nova holding chegaria a aproximadamente R$ 11,8 bilhões em valor de mercado, de acordo com projeção da Ativa Investimentos. Para comparação, a Lojas Renner tem R$ 15,2 bilhões. Após a veiculação de notícias sobre a fusão, as ações do Soma subiram mais de 16%, e as da Arezzo, mais de 12%.

Para Eduardo Yamashita, diretor de operações da Gouvêa Ecosystem, consultoria especializada em varejo, a potencial fusão apresenta oportunidades de sinergia que podem ser captadas no curto, médio e longo prazo.

“O segmento de moda passa por um momento de reestruturação em âmbito global, motivado pela profunda mudança no comportamento dos consumidores, entrada de players asiáticos e aumento generalizado dos custos de operação e do capital”, afirma.

Birman disse nesta semana, em evento promovido pelo UBS BB, que o setor de vestuário vive um momento de consolidação. Ele afirmou que o grupo Arezzo detém 12% de participação no mercado de vestuário masculino, e busca ganhar espaço no segmento feminino.

Nos últimos anos, a empresa de Birman comprou a Reserva e a Baw. Além disso, em 2019 passou a ter o licenciamento da marca Vans no Brasil. Do lado do Soma, o movimento mais relevante foi a compra da Hering, em 2021.

No terceiro trimestre do ano passado, o Soma registrou R$ 1,5 bilhão em receitas e um lucro líquido de R$ 96 milhões. Já a Arezzo teve receita líquida de R$ 1,6 bilhão no mesmo período, e um lucro líquido recorrente foi de R$ 107 milhões.

Secretária de Lewandowski se formou pelo Prouni e trabalhou em call center antes de chegar à Justiça, fsp

 Nomeada por Ricardo Lewandowski para comandar a Secretaria Nacional de Acesso à Justiça, a advogada Sheila de Carvalho chega ao segundo escalão do Ministério da Justiça e da Segurança Pública nesta quinta-feira (1º) amadrinhada pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, e carregando uma trajetória díspar de muitos de seus colegas de Esplanada.

Nascida e criada no bairro periférico do Campo Limpo, na zona sul da capital paulista, Carvalho frequentou escolas públicas em sua infância e juventude e se formou em direito por meio do Prouni (Programa Universidade Para Todos).

A nova secretária de Acesso à Justiça do Ministério da Justiça, Sheila de Carvalho - Divulgação

"Uma das coisas que meu pai sempre incentivou muito era o estudo. A gente morava no Campo Limpo, mas sempre estudei em escolas públicas dos bairros de elite de São Paulo, que tinham um ensino um pouco melhor. Ele dormia na fila para conseguir vaga", afirma a nova secretária à coluna.

Na Universidade Presbiteriana Mackenzie, onde iniciou a graduação em 2008, foi uma das primeiras bolsistas do Prouni da história da instituição. No início da faculdade, conciliou as aulas do bacharelado com um estágio em direito e um trabalho de meio período em um call center.

"Pela minha trajetória, pelos lugares que passei, consigo enxergar coisas que nem sempre as pessoas que estão em lugares de poder enxergam", diz a secretária. "Não trabalho na agenda humanitária à toa. A nossa preocupação na vida tem que ser melhorar um pouquinho o mundo."

A indicação de Carvalho para a secretaria foi apoiada por nomes como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o advogado-geral da União, Jorge Messias.

O apoio mais crucial, contudo, teria vindo de Janja, que tem insistido pela presença de mais mulheres em cargos de comando do governo. Na cerimônia em que anunciou Lewandowski, no mês passado, Lula (PT) afirmou que a primeira-dama tinha a expectativa de que muitas mulheres fossem nomeadas para a pasta.

A nova secretária de Acesso à Justiça tem uma carreira dedicada à agenda de direitos humanos e aos movimentos negro e social. Ela integrou a Uneafro Brasil e participou da fundação da Coalizão Negra por Direitos, articulação que reúne mais de 200 entidades.

Em 2020, foi agraciada pela ONU com um prêmio que reconheceu as cem pessoas negras mais influentes do mundo na defesa e na promoção dos direitos humanos.

Nos anos da Lava Jato, fez oposição à operação e à prisão de Lula enquanto integrante do grupo Prerrogativas, que reúne juristas, advogados e defensores, e da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).

A pasta que passará a comandar a partir desta quinta-feira tem as digitais da advogada: Carvalho foi uma das que mais reivindicaram sua criação durante os trabalhos de transição do atual governo Lula, no final de 2022.

Na gestão de Flávio Dino no Ministério da Justiça, atuou como assessora especial e foi alçada à presidência do Comitê Nacional para Refugiados (Conare), cargo que ainda mantém.

Sobre o novo posto, diz estar agradecida pela confiança depositada por Lula e Janja e ter expectativas de fazer um trabalho significativo ao lado do novo ministro da Justiça.

"Estou honrada por ter sido escolhida pelo professor e ministro Lewandowski e pelo secretário-executivo Manoel Carlos de Almeida Neto para estar com eles nesse desafio que é liderar a agenda da Justiça e da Segurança Pública na Esplanada", afirma.

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS MANOELLA SMITH