sábado, 1 de abril de 2023

Tostão - Quem não conhece, nem sabe observar futebol, agarra-se aos números,FSP

 Os sete times brasileiros, como tem sido habitual, são candidatos ao título da Libertadores. Palmeiras e Flamengo são os mais fortes, independentemente dos resultados deste fim de semana pelos estaduais. O Flamengo possui um elenco melhor, mas a equipe titular do Palmeiras tem mais conjunto, joga cada partida como se fosse a última, além de ter a melhor defesa e o melhor goleiro da América do Sul. Do meio para a frente, quase todos os jogadores do Palmeiras estão entre os melhores da posição.

Gabriel Menino tem evoluído. Penso apenas que ele avança demais antes de a bola chegar ao ataque. Na sua posição é essencial marcar, construir as jogadas e trocar passes. O futebol brasileiro precisa libertar-se do chavão de que a troca de passes e o domínio da bola no meio-campo atrasa a transição rápida para chegar ao gol. A sabedoria é ter a bola e acelerar no momento certo.

Corinthians, pela qualidade do elenco, pode jogar de maneira melhor e com mais regularidade. Para isso, necessita resolver o problema da carência afetiva que tem dos torcedores quando joga fora de casa. O time, como é comum no Brasil, deixa muitos espaços entre a defesa e o meio. Os meio-campistas avançam, e os zagueiros ficam colados à grande área. Além disso, eles se acostumaram durante décadas a jogar protegidos pelos volantes.

O Corinthians, de Yuri Alberto, pode jogar mais - Ronaldo Barreto/TheNews2/Ag. O Globo

Independentemente da atuação deste sábado (1º) contra o América, o Atlético-MG também precisa evoluir. A dupla de atacantes com Hulk e Paulinho tem sido o destaque da equipe. Os três meias são mais atacantes que armadores, o que deixa o meio-campo pouco preenchido, com o volante (Allan ou Otávio) sozinho para marcar pelo centro e fazer a transição da bola da defesa para o ataque.

O Fluminense é um time definido na maneira de jogar, com muitos bons jogadores, que prioriza a aproximação no meio-campo para trocar passes, diferentemente de quase todas as outras equipes brasileiras. O time pode ficar ainda melhor com Marcelo, desde que não se crie uma expectativa muito acima da realidade, como ocorreu com Daniel Alves no São Paulo. O esplendor técnico de Marcelo já aconteceu, há bastante tempo, e está na nossa memória.

O Inter, apesar de não estar na final do Campeonato Gaúcho, fez ótima campanha no Brasileirão e pode repeti-la na Libertadores. Existem bons jogadores, uma estratégia definida e um treinador bom e experiente, Mano Menezes.

O Athletico-PR, que já é um dos grandes do futebol brasileiro, planeja e sonha alto há muito tempo ser campeão da Libertadores. É possível, mas muito pouco provável, pois a qualidade do elenco é ainda bastante inferior à das principais equipes.

Os times brasileiros precisam evoluir, não se contentar com a superioridade na América do Sul. Não há mais lugar para os goleiros que não sabem jogar fora do gol, os zagueiros colados à grande área, os grandes espaços deixados entre os setores, os exagerados cruzamentos para a área, para contar com a sorte, e a pouca troca de passes, sem domínio da bola no meio-campo. Não há lugar também para violência, atos racistas e homofóbicos e assédios morais e sexuais nos estádios de futebol.

Não há lugar ainda para a grande valorização das comparações baseadas em estatísticas com pequenas amostragens. As estatísticas são importantíssimas quando bem utilizadas. Além disso, o jogo tem inúmeros detalhes, compreensões e fatores inesperados. Quem não conhece, nem sabe observar, agarra-se aos números.

Mapa de calor de Neymar na Copa do mundo do Qatar 2022
Os "mapas de calor", com os setores ocupados pelos jogadores no campo, têm sido uma das estatísticas mais utilizadas na análise de desempenho - Opta

THE NEW YORK TIMES Imagem rara mostra para-raios em ação em São José dos Campos (SP), FSP

 

Nicholas Bakalar
THE NEW YORK TIMES

Benjamin Franklin inventou os para-raios no século 18, e desde então os dispositivos protegem edifícios e pessoas das forças destrutivas dos raios. Mas os detalhes de como eles funcionam ainda são objeto de pesquisa científica.

Embora os modernos sistemas de proteção contra raios envolvam equipamentos extras que os tornam mais eficientes, o para-raios em si é bastante simples: uma haste de cobre ou alumínio colocada acima do ponto mais alto de um edifício, com fios conectados ao solo. Quando um raio atinge um prédio, ele preferencialmente passa pela haste —o percurso de menor resistência— e depois segue pelos fios até o solo, protegendo o prédio e seu conteúdo das correntes e tensões extremamente altas produzidas pelo raio.

Momento em que os raios vindos das nuvens estão quase tocando os que sobem dos para-raios nos prédios
Momento em que os raios vindos das nuvens estão quase tocando os que sobem dos para-raios nos prédios - Marcelo Saba/Inpe

Mas uma haste não espera que o raio caia. Menos de 1 milissegundo antes de a descarga tocá-la, a haste, provocada pela presença da descarga negativa do raio, envia uma descarga positiva para cima, para conectar-se a ela.

Recentemente, pesquisadores brasileiros tiveram a sorte de fotografar esse evento com câmeras de vídeo de alta velocidade e altíssima resolução. Eles captaram a ação elétrica em São José dos Campos, na região nordeste do estado de São Paulo.

Os cientistas estavam no lugar certo, na hora certa e com o equipamento certo para captar 31 dessas descargas ascendentes conforme elas aconteciam. Com sua localização, a cerca de 150 metros dos raios, e sua câmera que registra 40 mil imagens por segundo, eles conseguiram tirar fotos nítidas e fazer um vídeo em câmera lenta do que acontece no instante antes que a carga da haste encontre a carga do raio. O estudo e as fotos dos cientistas foram publicados na Geophysical Research Letters em dezembro.


VÍDEO MOSTRA COMO FUNCIONAM OS PARA-RAIOS


Não eram apenas os para-raios que produziam essas descargas, mas também vários cantos dos edifícios e outros pontos elevados. De fato, "qualquer pessoa que esteja numa área aberta pode lançar uma descarga de conexão para cima, de sua cabeça ou ombros, e ser ferida por um raio, mesmo que não seja diretamente atingida por ele", disse Marcelo Saba, pesquisador sênior do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e autor do estudo.

Um tipo de para-raios oferece melhor proteção do que outro?

"Alguns vendedores dizem que seus para-raios são melhores que os outros", disse Saba, "mas isso é apenas conversa. Não há nenhuma pesquisa sólida sobre isso. Existem normas que devem ser seguidas por quem instala para-raios. É o melhor que podemos fazer por enquanto."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

Luís Francisco Carvalho Filho - No território da política e mentira, mente menos quem mente melhor, FSP

 

O Supremo parece propenso a revogar ou reescrever dispositivo supostamente inconstitucional do Marco Civil da Internet para responsabilizar as plataformas pelo pensamento tóxico externado por terceiros.

O impacto das redes na vida cotidiana é desmesurado. Milícias digitais devem ser reprimidas em nome da segurança das escolas, da integridade das instituições democráticas e do combate ao discurso de ódio.

Os valores eram outros, mas a controvérsia é antiga. Desde que a imprensa se instala no Brasil, é desafio permanente regular o alcance e a pureza da informação.

Antes da Independência, já se proibia o anonimato e se alertava para o perigo das "doutrinas incendiárias". Em 1830, vigora o regime da responsabilidade sucessiva: respondem pelos abusos escritos, que se espalham como rastilho de pólvora, o impressor, o editor, o autor e o vendedor ou distribuidor da notícia.

Na época, o que se protegia, com prisão ou degredo, eram "as verdades fundamentais da existência de Deus e da imortalidade da alma", os bons costumes, o "sistema monárquico" e a honra do imperador e de sua "augusta esposa".

Em 1923, muda a ordem da responsabilidade sucessiva: autor, editor, impressor e vendedor. Na República, bancas de jornal entrariam para a linha sucessória (responsabilidade por atos de terceiro) no caso de desaparecer o ofensor verdadeiro.

Getúlio Vargas, em 1934, persegue "notícias falsas" capazes de "provocar alarma social". A Constituição de 1946 não admite propaganda de processos violentos para subversão da ordem pública e social nem de preconceito de raça ou de classe.

Além de proibirem publicações de caráter obsceno, as leis de imprensa de 1953 e de 1967 (esta, editada na ditadura militar, sobrevive até 2009, quando o STF percebe sua incompatibilidade com a Constituição de 1988) punem a divulgação de "notícias falsas" ou de "fatos verdadeiros truncados" que causam perturbação da ordem ou desconfiança no sistema bancário.

Em 1969, auge do autoritarismo, a Junta Militar que governa o país estabelece pena de dois a cinco anos de prisão para a publicação de "notícia falsa" ou "tendenciosa", ou de "fato verdadeiro truncado ou deturpado", de modo a indispor "o povo com as autoridades".

O ambiente atual é propício à tentação autoritária: a desinformação na pandemia, o ataque às urnas eletrônicas, a reputação do Supremo em xeque, seus ministros ameaçados e esculachados nas redes e nos restaurantes, os palácios destruídos. O império incontrolável das fake news causa indignação de todos, ainda que poucos sejam capazes de explicar o significado preciso de fake news.

Se, para o repugnante ex-presidente Jair Bolsonaro, o chamado Foro de São Paulo, organização que reúne o PT e outros partidos de esquerda da América Latina, é financiado pelo tráfico de drogas, para o presidente Lula a Lava Jato é fruto do conluio entre Ministério Público e Departamento de Estado dos EUA para destruir as empreiteiras do Brasil.

Redes sociais viabilizam a mobilização de golpistas, racistas e assassinos e a difusão infinita de mentiras e de notícias falsas, em meio ao vendaval saudável das notícias verdadeiras e da crítica política.

Algo precisa ser feito, mas não parece fácil arquitetar a responsabilização por conteúdo gerado por terceiros sem corroer alicerces do "Estado Democrático". No território da política e da mentira, mente menos quem mente melhor.