domingo, 11 de setembro de 2016

Rio de Janeiro – Maior legado urbano dos Jogos Rio 2016, Linha 4 do metrô carioca une a sustentabilidade das estações com a tecnologia eficiente da tração dos trens

Assunto: Especial - Rio 2016
09.09.16
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Mobilidade eficiente
Rio de Janeiro – Maior legado urbano dos Jogos Rio 2016, Linha 4 do metrô carioca une a sustentabilidade das estações com a tecnologia eficiente da tração dos trens
Tiago Reis, para o Procel Info
Henrique Freire/Governo do Estado do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro – Quando uma cidade se candidata para ser sede dos Jogos Olímpicos, além da parte esportiva, um dos principais aspectos que devem ser apresentados é o legado que o evento vai deixar para os moradores do local. No caso do Rio, esse aspecto é visível. Nos últimos sete anos, diversas obras, em várias regiões, mudaram a cara da cidade. Da região portuária, que foi totalmente revitalizada, ganhando novo projeto urbanístico, a reurbanização do entorno do Estádio Olímpico Nilton Santos (Engenhão) e do Complexo Esportivo de Deodoro, passando pelas vias expressas, como a Transolímpica e Transoeste, os túneis Rio 450 anos e Marcello Alencar, a ampliação do Elevado do Joá, os piscinões contra enchente na região do Maracanã. Mas o grande legado que os Jogos Olímpicos e Paralímpicos vão deixar para o Rio de Janeiro é o novo sistema de transporte. Linhas de BRT (Transporte Rápido de Ônibus), o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), modernização do serviço de trens e a expansão do metrô trouxeram grandes benefícios para os moradores do Rio.

Mas de todas essas melhorias, a que teve o maior impacto no cotidiano foi a construção da Linha 4 do metrô carioca. Com 16km de extensão, a linha vai fazer a ligação entre a Barra da Tijuca e a Zona Sul do Rio, transportando cerca de 300 mil pessoas por dia, reduzindo de 1h30 para pouco mais de trinta minutos o trajeto entre as duas regiões. Somente durante a operação dos Jogos Olímpicos, a nova linha do metrô carioca transportou mais de um milhão de passageiros. Para os Jogos Paralímpicos, a expectativa é de que outras 500 mil pessoas utilizem essa nova opção de transporte.

A maior obra de mobilidade urbana do Brasil, mesmo diante da sua complexidade, manteve o compromisso de buscar soluções sustentáveis para reduzir o impacto ambiental do empreendimento. Realizada pelos consórcios Linha 4 Sul, responsável pela construção entre Ipanema e Gávea, e o Rio Barra, que fez o trecho entre a Gávea e a o Jardim Oceânico, na Barra, desenvolveram diversas ações para reduzir o consumo de água e energia no canteiro de obras, reaproveitamento de materiais e estações projetadas para valorizar a eficiência energética e sustentabilidade.
“Estações de São Conrado e Jardim Oceânico possuem sistemas que valorizam a iluminação e ventilação natural”

“O metrô é o meio de transporte de massa mais eficiente, moderno e ambientalmente correto, do ponto de vista do consumo de combustível e da emissão de gases. O projeto da Linha 4 foi minuciosamente estudado por mais de 200 especialistas, para tirar do papel, com menor impacto ao entorno e ao meio ambiente, a mesma extensão de metrô subterrâneo construída no Rio nas últimas três décadas”, informa a assessoria de imprensa do Consórcio Rio Barra.

Estações verdes priorizam iluminação natural

Projetadas para ter o menor impacto ambiental e priorizar a grande incidência solar da cidade do Rio de Janeiro, as estações de São Conrado e Jardim Oceânico (foto) se destacam na utilização de iniciativas sustentáveis integradas com o meio ambiente. Nas duas estações, boa parte da iluminação das áreas comuns e das bilheterias e roletas é de origem natural. Em São Conrado, o foco foi a iluminação natural. O local possui duas claraboias com 10,60 metros de diâmetro instaladas nos acessos da Rocinha e da Estrada da Gávea. Constituída de fechamento superior em estrutura metálica e vidro, com fechamentos laterais em tela ondulada de arame galvanizado, e instalada a uma altura de 18 metros, a claraboia do Acesso Rocinha possui ventilação e iluminação natural, enquanto a do acesso Estrada Gávea é destinada apenas à iluminação natural.

Já a estação Jardim Oceânico é o local que possui a maior quantidade de soluções sustentáveis. Com o projeto arquitetônico integrado ao novo conceito paisagístico da Avenida Armando Lombardi, o espaço, além das fendas que permitem a entrada da luz e a circulação dos ventos, possui, em sua cobertura um “telhado verde” que contribui para reduzir a temperatura no interior da estação. Instalado no canteiro central da avenida, o telhado ecológico é composto por um gramado e mudas de árvores, que proporcionam um isolamento térmico do subsolo, reduzindo a necessidade de utilização de aparelhos de ar-condicionado e ventiladores para a refrigeração do espaço. Também na cobertura, foram instalados 78 captadores de luz natural, do tipo Solatube, que possuem diâmetros que variam de 28 cm a 56 cm, e é responsável pela iluminação diurna de toda das áreas de circulação de pessoas da estação.

“Os acessos de passageiros têm vidros, tratados com película especial antirresíduo, que são laváveis com a água da chuva e favorecem a claridade. Optou-se também pelo uso de lâmpadas com tecnologia LED nas estações e na iluminação cênica da ponte estaiada que faz a ligação com a estação Jardim Oceânico”, informa o consórcio.
“Para reduzir o consumo de energia, foram projetadas leves inclinações na via permanente com o objetivo de facilitar a frenagem e a aceleração dos trens”

Segundo o Rio Barra, ainda não há um valor definitivo que quando essas ações vão proporcionar de economia de energia, já que a Linha 4 ainda não está funcionando com sua capacidade máxima, o que deve ocorrer apenas no final de setembro, após o término das Paralímpiadas, mas estima-se que, somente com a iluminação, essa redução pode chegar a cerca 50% em comparação com uma estação sem esse tipo de recurso, já que durante o dia, a iluminação natural será predominante.

Percurso vai proporcionar economia de energia

Além das estações, o percurso da Linha 4 também foi desenvolvido para reduzir o consumo de energia, que é a segunda maior despesa da MetrôRio, concessionária que opera as linhas 1, 2 e 4 do metrô carioca. E para reduzir essa demanda, vários estudos foram feitos para na Linha 4, a energia necessária para a tração das composições fosse menor que nos outros trajetos do sistema.

Uma das soluções adotadas, foi projetar na via permanente, por onde passam os trens, inclinações com o objetivo de facilitar a frenagem e a aceleração das composições antes de cada uma das seis estações da linha. “Toda vez que está chegando a uma estação, há uma leve subida para ajudar na desaceleração dos trens e ao sair das estações, uma pequena descida para auxiliar no ganho de velocidade, gerando economia de energia e do sistema de freios”, completa a concessionária Rio Barra.

Também para reduzir o consumo de energia na Linha 4, circulam pelo trecho apenas os trens da nova geração, comprados da China, que consomem até 30% menos que os veículos mais antigos, que operaram predominantemente na Linha 1. De acordo com a MetrôRio, as 15 composições que serão utilizados no trajeto entre Ipanema e a Barra possuem um sistema motriz mais moderno e eficiente, já que operam com corrente alternada, mais econômica que a corrente contínua que é usada nos trens mais antigos. Os veículos também possuem sistemas de regeneração energética, que recupera a energia gerada pelo processo de frenagem e reinjeta no sistema para que o próprio trem ou o que vier na sequência possa utilizar, aumentando os níveis de eficiência energética da operação do sistema.

sábado, 10 de setembro de 2016

Há pelo menos um caso de suicídio por hora no País, OESP



 A cada hora, pelo menos uma pessoa se mata no Brasil. Foram 10.653 vítimas no País, em 2014. Essas mortes poderiam ser evitadas, afirma o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo da Silva. Segundo ele, falta rede pública de amparo a essas pessoas. A maioria delas procurou ajuda médica no mês anterior à tentativa de suicídio e metade tentou tirar a vida novamente nos três meses seguintes ao primeiro ato.
Para tentar reduzir as estatísticas, a ABP lançou uma série de iniciativas para marcar o Setembro Amarelo - da distribuição de cartilhas para médicos ao lançamento de material informativo para jornalistas. A entidade informou ainda que buscará parceria com conselhos de engenharia e arquitetura para a criação do “selo amarelo”, que identificará construções que ajudem na prevenção ao suicídio. Hoje, o Cristo Redentor será iluminado de amarelo, com o objetivo de chamar a atenção para o problema.

No mês de prevenção do suicídio, 10 motivos para falar sobre o assunto

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De acordo com Silva, que cita a revisão de 31 artigos científicos que analisaram 15.629 casos de suicídio no mundo, em 96,8% dos suicídios as pessoas tinham algum diagnóstico de transtorno mental quando se mataram - 35,8% sofriam de transtornos de humor (depressão e transtorno bipolar são os mais comuns); 22,4% tinham histórico de abuso de álcool e drogas; 10,6% sofriam de esquizofrenia. “Quando você detecta que alguém tem aids, faz-se uma notificação compulsória e o Estado vai atrás para tratar. Não temos isso em caso de suicídio. Onde no Brasil você consegue marcar consulta com psiquiatra em menos de três meses na rede pública?”
É preciso sensibilizar ainda os médicos para perceber os sinais emitidos pelo paciente. “Cerca de 70% das pessoas avisam de alguma forma que vão tentar se matar. Elas procuram alguma ajuda médica com queixas como dor de cabeça, na coluna, dor do estômago. É preciso treinar o médico para perguntar sobre o lado emocional”, afirmou o psiquiatra João Romildo Bueno, diretor da ABP. 

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No Setembro Amarelo, grupos e ONGs com histórico de serviço social, como o CVV, buscam ainda conscientizar sobre a necessidade de se falar do assunto
Monica Manir
10 Setembro 2016 | 03h00
Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO
Suicídio
Sem explicação. Ivo participa de grupo de enlutados desde que perdeu a filha, que deixou um bilhete: ‘Gente morta não decepciona ninguém’ 
“Às vezes, tem um suicida na sua frente e você não vê.” Bilhetes derradeiros costumam marcar eternamente os familiares de quem se matou. Esse, de um motoboy de 41 anos que se jogou do alto do Fórum Trabalhista Ruy Barbosa abraçado ao filho de 4, ecoou além. Envolvia uma criança; era o segundo suicídio, em cinco meses, nesse mesmo lugar de São Paulo; e antecipava em poucos dias o Setembro Amarelo, iniciativa que tenta iluminar a sociedade para o fato de que se está falando de uma epidemia - e o silêncio sobre o assunto pode ser letal. 
“O sexo, o câncer e a aids já romperam algumas barreiras; o suicídio, ainda não”, diz Robert Paris, presidente nacional do Centro de Valorização da Vida (CVV), uma das entidades que encabeçam o Setembro Amarelo no Brasil. Para esse empresário, que há 22 anos concilia sua profissão com a de voluntário do programa, a questão é cumulativa e procriativa. “O tabu do suicídio é filhote do tabu da morte.” Ele explica. Se antes muitas famílias velavam seus entes queridos em casa e isso era visto até pelas crianças, hoje a morte está restrita à assepsia e à impessoalidade dos hospitais. Ficou distante do dia a dia, algo que não se concebe trazer à mesa do jantar. “O problema é que o suicídio é morte, mas morte autoinfligida”, diz. 
Além disso, cerca de 90% das pessoas que tentam ou chegam a se suicidar apresentam algum tipo de transtorno, seja afetivo, de personalidade, de ansiedade, que talvez implicasse tratamento. “Se você vai ao médico e tem pneumonia, tem pneumonia e pronto, mas, se está se sentindo deprimido, tem escrúpulos em falar.”
Mais que falar, o CVV se presta a ouvir, o que faz há 54 anos. Hoje é uma franquia social com 72 unidades espalhadas pelo País e 2 mil voluntários. Os turnos normais são de quatro horas e poucas unidades atendem full time. “Bem verdade que desespero não tem hora”, diz Carlos Correia, voluntário há 22 anos, como Robert. Mas também é verdade que a maior parte das ligações se concentra no período noturno, daí o “CVV, boa noite!”, bordão do atendimento.
A marca nasceu sob o signo do telefone, ainda considerado essencial para a oferta do serviço. O número 141 é clássico, porém outro foi acoplado ao sistema há um ano, desta vez gratuitamente. Pelo 188, moradores do Rio Grande do Sul podem receber apoio emocional sem se preocupar com o tempo da ligação, que pode ser longo. Robert lembra que, no Corujão, plantão que se estende pela madrugada, chegou a passar seis horas conversando com uma pessoa. O pedido do 188 foi feito ao Ministério da Saúde pelo próprio CVV depois da tragédia em 2013 da Boate Kiss, em Santa Maria, e se estuda sua extensão para todo o território nacional. Assim como passa por detalhes burocráticos e operacionais a adoção do WhatsApp, que se juntaria ao chat, ao Skype (sem imagem) e ao e-mail, já adotados pelo Centro, sob a régua, todos eles, do sigilo e da privacidade.
A ideia de incorporar novas tecnologias ao sistema vem da necessidade de se aproximar dos jovens, que têm encorpado as estatísticas de suicídio. Embora idosos ainda estejam no topo do ranking, a taxa entre aqueles entre 15 e 19 anos aumentou 33,5%. “Eu me considerava muito independente, tomar a atitude de ligar para o CVV e alguém ouvir meu problema era, tipo, ‘ridículo’”, reconhece o Youtuber Hugo Nasck, de 22 anos, que tentou o suicídio algumas vezes. “Fora isso, acho que a gente muitas vezes consegue ser mais sincero digitando do que falando.”
Oferecer o 188 depois da morte de 242 pessoas na Kiss, a maioria estudantes, vem da certeza de que os enlutados também estão em perigo. O oficial de justiça Ivo Oliveira Farias percebeu isso depois da morte por enforcamento da filha de 18 anos, em 2014. Diante do instantâneo (no almoço, a filha parecia bem, disse que ia tirar a carta de motorista e, três horas depois, a irmã a encontrou morta), recorreu a grupos de apoio a sobreviventes do suicídio. Não só pelo instantâneo, mas pelo inexplicável. “Ela deixou um bilhete dizendo ‘Gente morta não decepciona ninguém’, e até hoje não sabemos o que isso significava”, afirma Ivo, lembrando que, algum tempo depois do falecimento da filha, saiu o resultado do vestibular. Ela havia passado em Direito, a mesma profissão do pai.

No mês de prevenção do suicídio, 10 motivos para falar sobre o assunto

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Para sempre. Ivo participa de dois grupos de apoio, um no CVV e outro no Vita Alere, instituto cuja proposta é promover a prevenção e a “pós-venção” do suicídio por meio de ações de divulgação, conscientização, educação, pesquisa e tratamento. A psicóloga Karen Scavacini, uma das fundadoras, tem uma explicação para ter aumentado o número de casos entre jovens: “Eles ignoram que a morte é para sempre.” Mas obviamente junta a isso possíveis outros fatores, como abusos físicos e sexuais, abandono, baixa autoestima, bullying, excesso de cobranças, acesso fácil a meios para pôr fim à própria vida.