sábado, 10 de setembro de 2016

Número de suicídios aumenta em todo o estado, diz pesquisa, Veja


Estimativa ainda é menor que a de estados como o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Homens de 15 a 64 anos são maioria entre as vítimas

Por: Estadão Conteúdo - Atualizado em 


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(Foto: Shutterstock)
O número de suicídios do estado de São Paulo cresceu de 4,6 por 100 000 habitantes, no período de 2007 a 2008, para 5,6 por 100 000 habitantes no biênio 2013/2014, segundo levantamento da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) divulgado nesta quinta (8).
Os homens são as principais vítimas e correspondem a 80% das pessoas que se suicidaram. Mais de 70% deles tinham entre 15 e 64 anos. "Uma particularidade do estado de São Paulo é que as vítimas estão na faixa etária mais produtiva. Em outros estados, no Sul, atinge mais a população idosa", explica Paulo Borlina Maia, demógrafo da Fundação Seade.
Segundo Maia, o fato de o sexo masculino ter maior mortalidade acompanha a tendência internacional. "O que a literatura sugere é que as mulheres têm um comportamento diferente, com menor consumo de álcool, maior percepção de risco de depressão e de problemas de saúde mental, maior religiosidade e elas procuram ajuda em momentos de crise. Os homens têm maior impulsividade, competitividade e seriam mais sensíveis às instabilidades econômicas."
Apesar de a pesquisa apontar um aumento de suicídios no estado, o demógrafo associa o crescimento a um aprofundamento da análise de dados, a partir de um convênio firmado entre a fundação e a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo no ano passado. Os pesquisadores passaram a analisar os históricos de boletins de ocorrência de mortes classificadas como indeterminadas.
O número registrado em São Paulo ainda é menor do que de estados como o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que têm taxa superior a dez mortes por 100 000 habitantes. No Brasil, o indicador foi de 5,8 casos por 100 000 habitantes, também abaixo de países como a Rússia, o Japão e a Coreia do Sul, onde os índices variam de vinte a quarenta mortes por 100 000 habitantes.
Prevenção
Maia diz que o perfil das pessoas que se suicidaram pode ajudar a evitar novos casos. "Verificamos que, na maioria de casos de suicídio, as testemunhas falaram que as pessoas apresentavam quadros de depressão, consumo excessivo de drogas e de álcool, histórico de desemprego, briga com parentes. Existe um certo tabu e as pessoas evitam falar sobre o assunto, mas a população precisa ter um maior esclarecimento.
"O levantamento inclui os períodos do ano e da semana com mais registros de casos. Setembro, mês em que é celebrado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, teve mais casos, assim como os meses mais quentes do ano. Domingo e segunda-feira também contabilizam mais registros e há mais ocorrências durante a parte da manhã, entre as 9 horas e o meio-dia. 

O fundo do poço - MÍRIAM LEITÃO - IDEB


O Globo - 09/09

O Brasil piorou onde não pode, de maneira alguma, piorar: na educação. Retrocedeu em matemática, não cumpriu a meta, não melhora há quatro anos. Os resultados divulgados ontem tiram todo o país da zona de conforto, se é que alguém estava confortável nesse tema. “No ensino médio, chegamos ao fundo do poço”, diz o educador Mozart Neves Ramos, do Instituto Ayrton Senna.

A recessão é grave, a crise fiscal é grave, o conflito político é grave. Nada é tão perigoso quanto o risco de continuar perdendo na educação e deixar escapar uma geração inteira. Mozart, que foi secretário de Educação de Pernambuco, um dos destaques positivos no ensino médio, dá números a essa tragédia:

— Por ano, 700 mil alunos abandonam o ensino médio. Como o custo por aluno é R$ 5,5 mil por ano, o Brasil está perdendo R$ 3,7 bilhões por ano, mas o pior é perder uma geração. Nosso bônus demográfico está acabando e se não educarmos esses jovens vamos perder a batalha. Espero que esses dados deem ao Brasil o senso de urgência.

O país tem exemplos de que as medidas certas têm resultados em pouco tempo. No Rio de Janeiro, o ex-secretário Wilson Risolia conseguiu em quatro anos levar o estado do 26º lugar para 4º no Ideb. Ontem, foi para o 5º lugar, mas a nota não melhorou, e o estado não atingiu a meta. O Rio tem que analisar o que andou perdendo depois do grande salto recente. Minas Gerais, que tem tido bom resultado, teve queda da nota. No Sudeste, os únicos a melhorar foram Espírito Santo e São Paulo:

— A notícia é muito ruim, três ciclos seguidos com resultados negativos. Quando os dados são abertos, há surpresas boas. Política consistente leva a avanços. Mas o que os números contam é que nos primeiros anos do fundamental o país tem tido bons resultados. O desempenho piora nos últimos anos do fundamental. No ensino médio, a situação fica terrível. É uma seleção adversa, os alunos vão se perdendo. À medida que crescem, o resultado cai — diz Wilson Risolia, hoje no Instituto Falconi.

Os casos de sucesso mostram que há um caminho se o país decidir replicar as experiências bem sucedidas. Pernambuco se saiu muito bem atingindo sua meta e ficando em primeiro lugar junto com São Paulo. E isso porque o estado tem feito investimento constante em educação, ampliando a instalação de escolas de regime integral.

— Em Pernambuco, em 2004, começamos a migrar para escola em tempo integral. Hoje elas são metade das escolas. Por 40% a mais de custo, se consegue um resultado extraordinário — diz Mozart.

Um consenso entre especialistas é que o Brasil precisa de mais do que apenas quatro horas em sala de aula. Como ainda tem que descontar tempo de atraso, recreio, esse horário escolar é insuficiente para as necessidades do tempo atual. O ponto que recebe críticas quase unânimes é a grade escolar do ensino médio com 13 disciplinas obrigatórias. Todo ensino é necessário, mas estamos recuando em português e matemática que são a base de todo o conhecimento. Portanto, essas têm que ser as prioridades.

— É fundamental passar para o horário integral e precisamos de uma grade mais concentrada em algumas disciplinas. Além disso, o ensino médio precisa ser interessante. Se a escola não fizer sentido para o aluno, ele sai — diz Wilson Risolia.

Há dados assustadores de retrocesso nos últimos anos. A matrícula está caindo em todos os níveis. Em alguns estados, aumentou o percentual de analfabetos. Piorou até um indicador que não é educacional, mas tem relação: a Pnad mostrou recentemente que em 2014 aumentou o trabalho infantil.

Os bons exemplos, mesmo localizados, mostram que é preciso encontrar o caminho e persistir nele. Há sempre um padrão nos estados que têm melhora: boa gestão, o foco em desempenho, educação como prioridade de governo. Em Pernambuco, o grande esforço foi feito no ensino médio. Ele é o primeiro no ensino médio, mas é o 19º na 5ª série. O Ceará vai muito bem e tem cidades que são referência, como Sobral, mas o desempenho cai no ensino médio. É preciso ter uma política para todos os níveis do ensino básico. Os dados do Ideb divulgados ontem, do ano de 2015, mostram que o Brasil é uma pátria que não está educando.

O necessário pente-fino - EDITORIAL ESTADÃO


ESTADÃO - 09/09

Precisando urgentemente diminuir despesas, o governo de Michel Temer esperava economizar R$ 6 bilhões com a suspensão de benefícios previdenciários por incapacidade concedidos irregularmente. Um projeto-piloto realizado em Jundiaí revela, porém, que a estimativa talvez seja muito conservadora e haja a possibilidade de economizar muito mais. Os resultados da experiência no interior de São Paulo indicam uma alta frequência de irregularidades – bem maior que a inicialmente prevista – nos benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Dessa forma, confirma-se uma vez mais que o caminho do reequilíbrio das contas públicas passa também por uma maior eficiência administrativa.

Implementado na cidade de Jundiaí há cinco anos, o programa de revisão dos auxílios previdenciários por doença e invalidez resultou na suspensão de metade dos benefícios pagos. Trata-se de uma taxa bem maior do que previa o governo federal, cujos parâmetros de reversão eram de 20% dos auxílios-doença acima de dois anos e de 5% das aposentadorias por invalidez.

Agora, em setembro, se inicia a primeira fase do pente-fino em âmbito nacional e o governo já começou a convocar os segurados do INSS que deverão passar pela revisão dos benefícios. A primeira leva é de 534 mil pessoas que recebem o auxílio-doença, sendo 530 mil decorrentes de decisões judiciais. Depois, no segundo grupo, será convocado o 1,1 milhão de aposentados por invalidez com menos de 60 anos. A estimativa inicial era de que a economia com o primeiro público fosse de R$ 1,5 bilhão aos cofres públicos por ano, mas a experiência de Jundiaí mostrou que esse valor pode ser bem maior.

“É um efeito colateral muito positivo ter uma reversão de benefícios que vinham sendo pagos de maneira imprópria”, disse Leonardo Gadelha, presidente do INSS, ao Estado. O objetivo da revisão, segundo Gadelha, é dar segurança ao grande número de beneficiários que fazem jus ao auxílio previdenciário.

Longe de ser uma simples medida de corte de gastos, a revisão da concessão dos benefícios é um imperativo do bom uso dos recursos públicos, que deve se ater estritamente às condições previstas na legislação. Além de ser uma flagrante irregularidade, a concessão de benefício a quem não tem direito abre perigoso espaço para a discricionariedade. O abandono – ou, ao menos, o abandono parcial, como foi detectado em Jundiaí – dos critérios definidos em lei para a avaliação sobre a concessão dos benefícios previdenciários significa que outros critérios são usados na decisão sobre os auxílios por doença e invalidez. O afrouxamento das condições na hora de avaliar a concessão do benefício pode ter, por exemplo, uma perigosa finalidade eleitoral.

Como era previsível, a anunciada revisão de benefícios vem gerando críticas. Há quem sustente, por exemplo, que ela provocará uma multiplicação de processos judiciais questionando a suspensão dos auxílios. Obviamente, quem se sentir prejudicado pode recorrer da decisão, seja nas instâncias administrativas, seja na esfera judicial. O que não pode acontecer é que, temeroso com eventuais reações contrárias, o poder público se omita. É sua responsabilidade zelar pelo uso dos recursos públicos dentro da mais estrita observância da lei. Aqui, não cabe qualquer tipo de transigência.

É preocupante, sem dúvida, a descoberta feita em Jundiaí, de frequência tão alta de irregularidades em benefícios previdenciários, especialmente num país ainda em desenvolvimento, com baixa produtividade e grandes desafios sociais, que exigem uma ação estatal mais extensa. Basta pensar nos investimentos necessários em saúde e educação. A economia que agora se apregoa é, na verdade, dinheiro que nunca deveria ter sido gasto no pagamento de benefícios irregulares. De todo modo, deve-se reconhecer o aspecto positivo da ineficiência constatada em Jundiaí – há espaço para uma melhora fiscal imediata.