sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Energia e a competitividade


O custo da energia influencia diretamente no desempenho da competitividade da indústria, que vem diminuindo sua participação relativa no PIB.
Em 2012, a indústria de transformação representou apenas 14,6% do PIB. Patamar menor só foi registrado em 1956, quando a indústria respondeu por 13,8% da nossa economia.
 A energia exerce tal pressão no preço final das mercadorias que empresas do setor  eletrointensivo, especificamente do alumínio, como a Alcoa, estuda a transferência de sua planta industrial para país com menor custo do insumo.
O baixo desempenho da indústria nacional não só retrata a crise em que o mundo mergulhou desde 2008, mas dificuldades internas para mantermos a competitividade dos produtos brasileiros com maior valor agregado (investimentos insuficientes em P&D, falta de incentivo contínuo à inovação tecnológica para ficarmos apenas neste aspecto.
O Brasil tem a quarta tarifa mais cara de energia do planeta para o setor industrial, de acordo com a AIE (Agência Internacional de Energia). Estudo da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) mostra que comparado aos Brics, o país tem uma tarifa 134% maior do que a média da Rússia, Índia e China. Na América Latina, somos 67% mais caros do que a média dos países. O custo da energia para o segmento industrial no Brasil é de R$ 329 por megawatt-hora.
Com o entrave do custo da energia, vital para a manutenção do desenvolvimento econômico, aprofunda-se o processo de desindustrialização.
A ação governamental caminhou até agora no sentido oposto. Em 2009, apostou na prorrogação da CCC (Conta de Consumo de Combustíveis), medida aprovada pelo Congresso Nacional, com voto contrário meu, e que implicou aumento de 76,4% do encargo, elevando a tarifa de energia em 10% para os chamados grandes consumidores, como é o caso da indústria.
O governo perdeu um tempo precioso e só agora caiu na real ao reconhecer que a CCC não tem mais sentido, assim como poderia ter sido com a RGR, que deveria ser extinta em janeiro de 2011 e foi prorrogada por meio de medida provisória por mais 25 anos. O fim da RGR poderia diminuir em cerca de 3% o custo da energia, e foi por isso que votei pela sua extinção na Câmara dos Deputados.
O fim de parte dos 13 encargos do setor elétrico associado à redução do PIS-Cofins e de outros impostos, como o ICMS – diálogo que tem de ser travado entre o governo federal com os estaduais – teriam de ser feitos como parte de uma visão estratégica de médio e longo prazo para impulsionar a indústria, ajudando na recuperação da sua competitividade frente à concorrência internacional.
Uma das alternativas viáveis para aumentarmos a competitividade da indústria é a diminuição do preço da energia pela extinção de encargos do setor elétrico, dentre eles a RGR, CCC e CDE (Conta de Desenvolvimento Energético) e ainda de impostos como o PIS-Cofins. Deve ser tratada, e pactuada, com os estados uma diminuição do ICMS. 
Nas contas do Ministério de Minas e Energia, os três encargos juntos (RGR, CCC e CDE) representam, em média, cerca de 7% da conta de luz. Mas só o corte de encargos, proposta que tem sido defendida por integrantes do governo federal, ainda é insuficiente para que o custo da energia seja mais acessível à atividade produtiva.
O governo age com atraso extraordinário na questão da renovação das concessões do setor elétrico. A renovação por 20 anos das concessões acenada pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, tem de perseguir, exclusivamente, a modicidade tarifária.
Nunca é demais lembrar que perdemos um tempo valioso desde 2008 quando se constituiu um grupo de trabalho no âmbito do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), e até agora o Executivo não apresentou sua proposta sobre as concessões que vencem concentradamente em 2015. 
O Parlamento tem feito a sua parte e dado contribuições para solucionar esta questão crucial ao desenvolvimento que é o custo da energia. O Comitê de Mobilização por Energia mais Barata da Câmara dos Deputados, do qual sou um dos coordenadores, pretende estabelecer uma pauta de votação, em regime de urgência, de projetos que tratam diretamente de custos menores para a tarifa de energia, prioritariamente os que preveem a queda da incidência de PIS-Cofins, de encargos e do ICMS.
O alerta sobre a necessidade da diminuição do custo da eletricidade no Brasil foi dado há quatros anos pelo Parlamento e cobrada pela sociedade. Agora é a vez de o governo fazer a sua parte.
 

Deputado Arnaldo Jardim – membro da Comissão de Minas e Energia e presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Infraestrutura Nacional.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Condomínios descartam água de lençol freático na rua


m condomínio de luxo de São Paulo e um prédio de escritórios vizinho jogam fora, todos os dias, a água retirada de um lençol freático que fica sob os empreendimentos.
O filete de água sai quase continuamente de tubulações dos prédios e escorre pela sarjeta até chegar a uma boca de lobo. Os imóveis ficam na rua Frei Caneca (região central).
O problema ocorre porque, ao erguer a garagem subterrânea, a construção atingiu o lençol freático -um fenômeno comum na cidade, dizem especialistas, e que gera um desperdício não calculado de água.
O que mina do subsolo das edificações está sendo canalizado para a rua. Segundo a Toledo Ferrari, construtora responsável pelo condomínio e pelo prédio de escritórios, o ideal seria jogar essa água em uma galeria pluvial, mas não havia nenhuma ali. A solução foi levá-la até a sarjeta.
A prática não é ilegal, porém: não há lei que impeça o construtor de descartar a água.
Aproveitá-la exige autorização do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), órgão estadual que decide sobre a retirada de água subterrânea.
Outro empecilho, segundo especialistas, é o custo, que encareceria o empreendimento.
Como a água é limpa, seria possível reaproveitá-la para descarga, para regar jardins ou limpar o quintal, diz.
Essa prática é cada vez mais comum, por exemplo, em prédios comerciais.
"É um absurdo esse desperdício. Nunca vi coisa igual", afirma a aposentada Neusa Viana, 73, moradora do condomínio Paulista Home Resort, entregue em 2011, com três torres de 28 andares.
Diretora de outorga de recursos hídricos do Daee, Leila de Carvalho Gomes afirma que "jogar fora" é impreciso, uma vez que a água vai parar no rio e, assim, cumprir seu ciclo hidrológico.
O que falta, diz, é conscientização para reaproveitar essa água de maneira correta.
No caso da Grande São Paulo, porém, toda a água que vai parar nas ruas é levada, por meio das bocas de lobo, até o rio Tietê, que é poluído -com isso, seu uso é inviabilizado.
Editoria de Arte/Folhapress
SAIBA MAIS
No Estado de São Paulo, quase 75% dos municípios são abastecidos, pelo menos em parte, por águas retiradas de seu subsolo. Isso representa o abastecimento de uma população de aproximadamente 5,5 milhões de pessoas.
Em todo o Brasil, 2.153 cidades (39% do total de municípios) estão nessa mesma situação, de acordo com ANA (Agência Nacional de Águas), órgão vinculado ao governo federal para gestão dos recursos hídricos brasileiros.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Songdo, a cidade global do futuro


RODRIGO BRANCATELLI - O Estado de S.Paulo
O que faz uma metrópole ser... uma metrópole? Suas ruas, avenidas e vielinhas? Os bancos, o comércio, as igrejas? Os prédios? Va lá, o trânsito? Mais importante ainda, as pessoas, seus moradores? São justamente essas conexões sem muita explicação aparente entre cidadãos e construções, entre dinheiro e oportunidades, entre forma, função e sensação, que fizeram lugares como Londres, Nova York, Tóquio, Sydney, São Paulo e tantos outros florescerem de pequenas vilas em cidades globais - um processo de centenas de anos, que no fundo nunca tem fim.
Será que, além de definir os conceitos de uma metrópole ideal, é possível construir uma do zero, de uma hora para outra, no meio do nada?
Com um investimento de quase R$ 80 bilhões, o governo coreano está tentando responder a todas essas perguntas em um terreno de seis quilômetros quadrados à beira do Mar Amarelo. Ali, a 65 quilômetros de Seul, está sendo erguida a cidade global do futuro, uma metrópole com o que há de mais moderno em tecnologia e noções de urbanismo, onde tudo é planejado para facilitar a vida do cidadão. Trata-se do maior investimento imobiliário privado já realizado. A ideia é criar um novo centro financeiro da Ásia, uma mistura de Paris, Nova York e Dubai, que deve ficar pronta em 2015 com 80 mil apartamentos residenciais, 4,6 km² de escritórios e um parque com 41 hectares.
Songdo quer ser pioneira em absolutamente todos os aspectos. Será uma cidade "verde", com 40% de sua área destinada a parques e praças. Será a cidade sem trânsito, com todo o sistema viário planejado para aumentar a fluidez, além de altos investimentos em metrô, bondes elétricos e até táxis aquáticos elétricos. As ruas têm sensores no asfalto, que ajudam a entender em tempo real os deslocamentos, aumentar o tempo dos sinais em caso de congestionamentos e até diminuir a iluminação das vias quando ninguém estiver passando, para economizar energia.
Também será uma cidade "wireless", totalmente conectada - para se ter ideia, até as garrafas de refrigerante vendidas no supermercado terão uma etiqueta eletrônica; depois de usadas, se as garrafas forem jogadas no cesto de lixo correto para reciclagem, o morador ganhará descontos nos impostos.
Mimos. Outras inovações são invisíveis, mas igualmente surpreendentes. A água das residências, por exemplo, será reutilizada na irrigação. Já o lixo, tanto o orgânico quanto o reciclável, será transportado por meio de canos pressurizados, dispensando a necessidade de coleta. A nova metrópole ainda terá outros "mimos", como uma universidade totalmente tecnológica onde as aulas serão em inglês; uma ponte de 21 quilômetros que liga o centro ao aeroporto; um prédio de 68 andares, o mais alto da Coreia do Sul; um centro de artes que inclui salas de concerto, museus e uma escola de design; um dos maiores clubes de golfe do mundo; e até um hospital que teve o planejamento de empresas como 3M e Microsoft.
Songdianos. "A ideia é ter uma metrópole digital, com o que há de melhor nas outras cidades como Nova York, Dubai ou Londres, mas juntando com o que a tecnologia oferece hoje", diz o inglês David Moore, um dos diretores de incorporação do projeto. "Songdo será uma cidade global da Ásia, a poucas horas da grandes cidades da região, e não apenas um parque de diversões."
Apesar da megalomania do projeto, ele já está saindo do papel - algo em torno de 40% da estrutura da cidade de Songdo está pronta e operante. Cem prédios já foram erguidos, ao custo de R$ 10 bilhões. E interessados em virar "songdianos" não faltam: no início da venda dos primeiros 2.600 apartamentos, apareceram quase 21 mil compradores. Já na segunda leva de apartamentos, 25 mil unidades, que somavam R$ 2 bilhões, foram vendidas em apenas um dia.
Resta saber, no entanto, se todas essas inovações e construções vão de fato se conectar para transformar Songdo de uma ótima ideia em uma metrópole de verdade.
ARQUITETURA MODERNA
Seul, capital da Coreia do Sul, é um dos principais polos da arquitetura moderna no Sudeste Asiático. O Museu Leeum Samsung, projetado pelo holandês Rem Koolhaas em 2004, é um exemplo.