RODRIGO BRANCATELLI - O Estado de S.Paulo
O que faz uma metrópole ser... uma metrópole? Suas ruas, avenidas e vielinhas? Os bancos, o comércio, as igrejas? Os prédios? Va lá, o trânsito? Mais importante ainda, as pessoas, seus moradores? São justamente essas conexões sem muita explicação aparente entre cidadãos e construções, entre dinheiro e oportunidades, entre forma, função e sensação, que fizeram lugares como Londres, Nova York, Tóquio, Sydney, São Paulo e tantos outros florescerem de pequenas vilas em cidades globais - um processo de centenas de anos, que no fundo nunca tem fim.
Será que, além de definir os conceitos de uma metrópole ideal, é possível construir uma do zero, de uma hora para outra, no meio do nada?
Com um investimento de quase R$ 80 bilhões, o governo coreano está tentando responder a todas essas perguntas em um terreno de seis quilômetros quadrados à beira do Mar Amarelo. Ali, a 65 quilômetros de Seul, está sendo erguida a cidade global do futuro, uma metrópole com o que há de mais moderno em tecnologia e noções de urbanismo, onde tudo é planejado para facilitar a vida do cidadão. Trata-se do maior investimento imobiliário privado já realizado. A ideia é criar um novo centro financeiro da Ásia, uma mistura de Paris, Nova York e Dubai, que deve ficar pronta em 2015 com 80 mil apartamentos residenciais, 4,6 km² de escritórios e um parque com 41 hectares.
Songdo quer ser pioneira em absolutamente todos os aspectos. Será uma cidade "verde", com 40% de sua área destinada a parques e praças. Será a cidade sem trânsito, com todo o sistema viário planejado para aumentar a fluidez, além de altos investimentos em metrô, bondes elétricos e até táxis aquáticos elétricos. As ruas têm sensores no asfalto, que ajudam a entender em tempo real os deslocamentos, aumentar o tempo dos sinais em caso de congestionamentos e até diminuir a iluminação das vias quando ninguém estiver passando, para economizar energia.
Também será uma cidade "wireless", totalmente conectada - para se ter ideia, até as garrafas de refrigerante vendidas no supermercado terão uma etiqueta eletrônica; depois de usadas, se as garrafas forem jogadas no cesto de lixo correto para reciclagem, o morador ganhará descontos nos impostos.
Mimos. Outras inovações são invisíveis, mas igualmente surpreendentes. A água das residências, por exemplo, será reutilizada na irrigação. Já o lixo, tanto o orgânico quanto o reciclável, será transportado por meio de canos pressurizados, dispensando a necessidade de coleta. A nova metrópole ainda terá outros "mimos", como uma universidade totalmente tecnológica onde as aulas serão em inglês; uma ponte de 21 quilômetros que liga o centro ao aeroporto; um prédio de 68 andares, o mais alto da Coreia do Sul; um centro de artes que inclui salas de concerto, museus e uma escola de design; um dos maiores clubes de golfe do mundo; e até um hospital que teve o planejamento de empresas como 3M e Microsoft.
Songdianos. "A ideia é ter uma metrópole digital, com o que há de melhor nas outras cidades como Nova York, Dubai ou Londres, mas juntando com o que a tecnologia oferece hoje", diz o inglês David Moore, um dos diretores de incorporação do projeto. "Songdo será uma cidade global da Ásia, a poucas horas da grandes cidades da região, e não apenas um parque de diversões."
Apesar da megalomania do projeto, ele já está saindo do papel - algo em torno de 40% da estrutura da cidade de Songdo está pronta e operante. Cem prédios já foram erguidos, ao custo de R$ 10 bilhões. E interessados em virar "songdianos" não faltam: no início da venda dos primeiros 2.600 apartamentos, apareceram quase 21 mil compradores. Já na segunda leva de apartamentos, 25 mil unidades, que somavam R$ 2 bilhões, foram vendidas em apenas um dia.
Resta saber, no entanto, se todas essas inovações e construções vão de fato se conectar para transformar Songdo de uma ótima ideia em uma metrópole de verdade.
ARQUITETURA MODERNA
Seul, capital da Coreia do Sul, é um dos principais polos da arquitetura moderna no Sudeste Asiático. O Museu Leeum Samsung, projetado pelo holandês Rem Koolhaas em 2004, é um exemplo.
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