sexta-feira, 20 de maio de 2011

Censo: 127 mil imóveis vagos foram ocupados



Publicado em 09/05/2011 - 0 comentários 
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Proporcionalmente, o centro foi a região onde mais habitações sem uso tiveram algum tipo de destinação

Em dez anos, um total de 127.706 imóveis vagos foram ocupados, segundo dados do Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Na contagem anterior, em 2000, eram 420.327 nessa situação. 

A capital conta com 293.621 imóveis vagos, quase o mesmo que as edificações existentes em São Bernardo do Campo (Grande SP). 

Desse total, 90.110 estão na zona leste (30,68%). Na outra ponta está o centro, que corresponde a 7,52% do montante (22.087). 

No comparativo entre os dois Censos, é possível afirmar que a quantidade de imóveis vagos caiu 30%, assim como sua participação no total de habitações existentes. Entretanto, o deficit habitacional atual é duas vezes e meia maior do que era há dez anos. 

Isso porque, em 2000, a capital contava com 3.554.820 imóveis, 11,8% deles não tinham uso (420.327), e a quantidade de pessoas que precisavam de casa para morar era de 203 mil famílias. Ou seja, a quantidade de imóveis não ocupados cobriria duas vezes a demanda por moradia da época. 

Hoje, apesar de o índice de ocupação ser maior - a participação dos vagos caiu para 7,4% (293.621) do total de 3.935.645 edificações -, existem 712 mil famílias sem moradia adequada, inclusos no cálculo os moradores de favelas, cortiços e habitações irregulares. 

Ou seja, a oferta atual teria de ser uma vez e meia maior para atender todos aqueles que buscam moradia ou que não moram em locais adequados na capital. 

Centro 

Proporcionalmente, a região que experimentou maior ocupação dos imóveis vagos foi a do centro. Em 2000 havia 38.604 edificações nessa situação (9,18% do total dos não usados à época). Hoje são 22.087 (7,52%). 

Não por coincidência, o Censo 2010 também apontou que a região foi a que mais recebeu moradores na última década. Em 2000, 413.896 pessoas habitavam ali, número que saltou para 477.670 em 2010, num acréscimo de 15% (63.774 a mais).

quinta-feira, 19 de maio de 2011

É hora de estocar


15 de maio de 2011 | 0h 00
Alberto Tamer - O Estado de S.Paulo
A produção agrícola vai bater mais um recorde. Tendo em vista a área plantada e o que já está sendo colhido, o IBGE estimou esta semana que deve chegar a 159,5 milhões de toneladas, 6,9% mais que a safa anterior. Pode ser mais. As colheitas de grãos, principalmente milho e soja, já estão na reta final, mas há ainda as lavouras de inverno. Vão depender das condições climáticas
Os números revelam uma agricultura vigorosa e dinâmica que situa o Brasil como o segundo maior exportador de alimentos do mundo. O agricultor foi beneficiado pelos preços externos, sim, mas ele plantou e sempre atendeu à demanda interna mesmo nos anos em que as cotações recuaram ou pararam de aumentar.
Merece um destaque especial nem sempre ressaltado, talvez porque o cultivo no campo e a luta contra o clima se fazem em silêncio. Não dá manchete. Por exemplo, é bom ressaltar que a agricultura cria mais de 27 milhões de empregos e representa mais de 25% do PIB, além de manter 32 milhões de pessoas no meio rural. Tudo isso impulsionado pelo setor privado. Há o apoio da política de preços mínimos do governo, sim, ajuda muito, mas sozinha não explica o dinamismo da agricultura brasileira. Tudo isso não é fruto de uma ação recente, mas de anos de empenho e confiança.
Liderança mundial. Hoje, o Brasil lidera a produção mundial de açúcar, café, suco de laranja, fumo, celulose e papel, etanol e carne bovina. E é o segundo em produção de soja, frangos; terceiro em carne suína; e quarto em milho. O País tem condições únicas no mundo para plantar, produzir ampliar ainda mais sua liderança. Terra, capital, mão de obra, água, clima diversificado numa área continental e acima de tudo, um Instituto de Agronomia que vem surpreendendo o mundo com sucessivas inovações tecnológicas.
Há produção, mas... Sei que o leitor deve estar perguntando, "mas se há tanta produção de alimentos, por que os preços aumentaram?" Arroz, feijão, carne... A pergunta é oportuna.
Vamos ao início. A produção agropecuária aumentou não só porque o consumo interno cresceu, mas também porque os preços das commodities aumentaram muito mais no mercado internacional. E isso foi provocado não só pela demanda mundial, puxada por China e Índia, mas principalmente pela especulação no mercado de futuros das commodities. Assim, para o agricultor brasileiro, é mais rentável exportar uma parte da safra ou buscar aqui os mesmos preços elevados que existem lá fora.
E por que não impedir? Não se pode nem deve evitá-lo, por dois motivos: se não obtiverem preços razoáveis em um ano, deixam de plantar no próximo. Está acontecendo isso, no caso do trigo, na Rússia, que bloqueou exportações sem compensar o produtor. O segundo motivo é mais importante ainda. As exportações agropecuárias estão salvando há anos a balança comercial brasileira. Sem ela, o déficit em conta corrente seria ainda maior. No acumulado dos últimos 12 meses, em maio, totalizaram US$ 81 bilhões. Há ainda o fator da sazonalidade das safras. Os preços sempre recuam no período de safra, principalmente de grãos, que ocorreu agora, e aumentam na entressafra, a partir dos últimos meses do ano. Uma questão de oferta e demanda.
Esta é uma espécie de explicação elementar, que simplifica os fatos, mas, no fundo, é isso mesmo: uma contaminação interna dos preços internacionais e disponibilidade de produtos entre o plantio e a colheita.
Qual a saída? O governo precisa fazer estoques estratégicos, comprar do produtor a preços semelhantes ao do mercado externo, para colocar no mercado na fase da entressafra, quando eles faltarem. A velha política da formiguinha que guardou na primavera para comercializar no inverno. Não parece que essa política de estoques tenha sido eficiente no ano passado. O governo não colocou no mercado interno o produto estocado de forma suficiente.
Agora, com a entrada da nova safra, os preços tendem a recuar - no caso do etanol já dá sinais disso. Cabe ao governo agir em tempo para formar estoques reguladores e evitar pressões futuras. 

''Acabou a era da abundância de água''


15 de maio de 2011 | 0h 00
- O Estado de S.Paulo
Charles Fishman, jornalista e escritor
O jornalista americano Charles Fishman lança The Big Thirst, um novo livro sobre a água. Sua obra anterior, The Wal-Mart Effect, foi eleito o "livro do ano" pela The Economist em 2006 e um dos finalistas do prêmio Financial Times para o melhor livro de economia. Ele aborda o tema da água nesta entrevista.
O sr. diz que não teremos mais água que tenha ao mesmo tempo três qualidades: ilimitada, barata e segura. Por que não?
Fomos mimados. No mundo desenvolvido foram construídos, há cem anos, os sistemas de abastecimento mais bem projetados e realizados. Funcionaram tão bem que fizeram das nossas cidades centros urbanos viáveis, criativos, saudáveis e vibrantes do ponto de vista econômico. Esses sistemas se tornaram tão perfeitos que permaneceram - até hoje - invisíveis.
Quando abrimos a torneira, pressupomos que a água esteja ali, pronta, e que a rede de abastecimento enterrada no solo esteja funcionando. Ambos os pressupostos estão ultrapassados. O crescimento populacional, o desenvolvimento econômico e as mudanças climáticas sobrecarregam o fornecimento.
Portanto, teremos de nos despedir do consumo despreocupado e ingressar numa era de utilização racional da água. Por que regamos as plantas ou damos descarga nos banheiros com água tratada e potável?
Sua posição sobre os inconvenientes do emprego da água potável me lembram da questão do estacionamento. Achamos que o estacionamento gratuito é ótimo, mas ele causa problemas - como esperar para encontrar uma vaga e trânsito pesado. De que maneira o sr. tentaria convencer alguém de que a água gratuita é na realidade uma coisa ruim?
A água não é de graça. As pessoas dirão: "Eu pago a conta d"água, US$ 30 por mês, não tem nada de graça!" Bem, é quase. Meio litro de água engarrafada custa US$ 0,99. A conta média da água de uma família, nos EUA é de US$ 34. Portanto, temos água em casa todos os dias para tudo, do banho ao preparo de alimentos, por US$ 1 por dia.
A água de graça - tão barata que nunca paramos para pensar no seu custo - é um desastre. Quando alguma coisa é de graça, o conceito é de que ela é ilimitada. A água gratuita leva a desperdício. Produtores rurais e gerentes de fábricas e hotéis nunca se preocupam com a quantidade de água que usam e com seu uso inteligente. Água barata significa também que as empresas das quais dependemos para o seu fornecimento nunca têm dinheiro para se modernizar ou encontrar reservas.
Se fosse possível mudar alguma coisa para resolver o problema da água - uma melhor gestão do meio ambiente ou o fornecimento a quem não tem -, seria o preço. Nós podemos pagar um pouco mais com o nosso notável sistema. Mas teremos problemas se deixarmos que ele se torne obsoleto.
Suponho que cobrar mais pela água não resolveria os problemas do mundo em desenvolvimento. Aumentar o acesso à água potável não exigiria uma outra mudança?
O fundamental na questão do custo da água é o seguinte: as pessoas pagarão pelo fornecimento de água segura, acessível e que as liberte da escravidão de terem de caminhar ou de fazer fila para consegui-la.
Visitei um bairro de Nova Délhi chamado Rangpuri Pahadi. Seus 3,5 mil habitantes vivem com US$ 100 por mês. Estavam tão desanimados por ter de ficar na fila horas a fio todos os dias que criaram sua própria rede em miniatura. Fizeram uma campanha para angariar contribuições - um gasto enorme para pessoas cuja renda diária é US$ 3 -, perfuraram poços e instalaram canos que saem de um tanque de armazenamento até a choupana de cada família.
Os que querem água pagam por ela cerca de um dia de salário por mês. A água fornecida pela empresa recém-criada é melhor que a da rede pública e está disponível na hora certa. Eles pagam o equivalente aos US$ 150 por mês que uma família americana pagaria.
O dinheiro não é a única solução - o custo da guerra no Iraque seria suficiente para criar redes de abastecimento para todas as pessoas da Terra. O problema real é humano: ajudar as pessoas a dispor de um sistema confiável é mais difícil do que parece. O problema não está na tecnologia ou nos recursos, mas na vontade política e no conhecimento da cultura.
No nosso país, alguma comunidade descobriu como usar a água de modo mais econômico?Os produtores agrícolas usam 15% a menos de água que há 30 anos e plantam 70% a mais. A produtividade da água dobrou desde 1980. As usinas hidrelétricas usam menos água que há 30 anos e geram mais eletricidade.
Visitei uma fábrica de semicondutores da IBM que, em dez anos, reduziu em 29% o uso da água ao mesmo tempo que aumentou a produção em 33%.
Orange County, na Flórida, há 25 anos tornou obrigatório o emprego da água de reúso nas novas construções. Hoje, a quantidade de água de reúso bombeada diariamente é quase igual à de água potável. O condado dobrou de tamanho, mas não precisou dobrar a quantidade de água potável. / NYT. TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA