15 de maio de 2011 | 0h 00
Alberto Tamer - O Estado de S.Paulo
A produção agrícola vai bater mais um recorde. Tendo em vista a área plantada e o que já está sendo colhido, o IBGE estimou esta semana que deve chegar a 159,5 milhões de toneladas, 6,9% mais que a safa anterior. Pode ser mais. As colheitas de grãos, principalmente milho e soja, já estão na reta final, mas há ainda as lavouras de inverno. Vão depender das condições climáticas
Os números revelam uma agricultura vigorosa e dinâmica que situa o Brasil como o segundo maior exportador de alimentos do mundo. O agricultor foi beneficiado pelos preços externos, sim, mas ele plantou e sempre atendeu à demanda interna mesmo nos anos em que as cotações recuaram ou pararam de aumentar.
Merece um destaque especial nem sempre ressaltado, talvez porque o cultivo no campo e a luta contra o clima se fazem em silêncio. Não dá manchete. Por exemplo, é bom ressaltar que a agricultura cria mais de 27 milhões de empregos e representa mais de 25% do PIB, além de manter 32 milhões de pessoas no meio rural. Tudo isso impulsionado pelo setor privado. Há o apoio da política de preços mínimos do governo, sim, ajuda muito, mas sozinha não explica o dinamismo da agricultura brasileira. Tudo isso não é fruto de uma ação recente, mas de anos de empenho e confiança.
Liderança mundial. Hoje, o Brasil lidera a produção mundial de açúcar, café, suco de laranja, fumo, celulose e papel, etanol e carne bovina. E é o segundo em produção de soja, frangos; terceiro em carne suína; e quarto em milho. O País tem condições únicas no mundo para plantar, produzir ampliar ainda mais sua liderança. Terra, capital, mão de obra, água, clima diversificado numa área continental e acima de tudo, um Instituto de Agronomia que vem surpreendendo o mundo com sucessivas inovações tecnológicas.
Há produção, mas... Sei que o leitor deve estar perguntando, "mas se há tanta produção de alimentos, por que os preços aumentaram?" Arroz, feijão, carne... A pergunta é oportuna.
Vamos ao início. A produção agropecuária aumentou não só porque o consumo interno cresceu, mas também porque os preços das commodities aumentaram muito mais no mercado internacional. E isso foi provocado não só pela demanda mundial, puxada por China e Índia, mas principalmente pela especulação no mercado de futuros das commodities. Assim, para o agricultor brasileiro, é mais rentável exportar uma parte da safra ou buscar aqui os mesmos preços elevados que existem lá fora.
E por que não impedir? Não se pode nem deve evitá-lo, por dois motivos: se não obtiverem preços razoáveis em um ano, deixam de plantar no próximo. Está acontecendo isso, no caso do trigo, na Rússia, que bloqueou exportações sem compensar o produtor. O segundo motivo é mais importante ainda. As exportações agropecuárias estão salvando há anos a balança comercial brasileira. Sem ela, o déficit em conta corrente seria ainda maior. No acumulado dos últimos 12 meses, em maio, totalizaram US$ 81 bilhões. Há ainda o fator da sazonalidade das safras. Os preços sempre recuam no período de safra, principalmente de grãos, que ocorreu agora, e aumentam na entressafra, a partir dos últimos meses do ano. Uma questão de oferta e demanda.
Esta é uma espécie de explicação elementar, que simplifica os fatos, mas, no fundo, é isso mesmo: uma contaminação interna dos preços internacionais e disponibilidade de produtos entre o plantio e a colheita.
Qual a saída? O governo precisa fazer estoques estratégicos, comprar do produtor a preços semelhantes ao do mercado externo, para colocar no mercado na fase da entressafra, quando eles faltarem. A velha política da formiguinha que guardou na primavera para comercializar no inverno. Não parece que essa política de estoques tenha sido eficiente no ano passado. O governo não colocou no mercado interno o produto estocado de forma suficiente.
Agora, com a entrada da nova safra, os preços tendem a recuar - no caso do etanol já dá sinais disso. Cabe ao governo agir em tempo para formar estoques reguladores e evitar pressões futuras.
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