sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Brasil reinaugura o Novo Mundo


26 de novembro de 2010 | 0h 00
    Marcos de Sá Corrêa - O Estado de S.Paulo
O Brasil estreou nesta semana, em Madri, o modelo 2011 do Novo Mundo. Foi o primeiro país convidado a participar do Congresso Nacional de Meio Ambiente, uma bienal que, como seu nome está dizendo, desde sua primeira edição, lá vão quase 20 anos, foi um acontecimento estritamente "nacional". Ou seja, espanhol.
Chegar lá antes de todos os outros países latino-americanos, que falam a mesma língua dos anfitriões, não é pouca coisa. E a delegação brasileira fez o possível para valorizar seus trunfos, do pré-sal ao pós-Lula. Ouviu mais de uma vez dos espanhóis que seus recursos naturais dão "inveja". Em troca, um porta-voz da delegação brasileira declarou, modestamente, que seu país não tem a pretensão de resolver todos os problemas do mundo.
O congresso é, antes de mais nada, um foro de "negócios ambientais", embora corra em seus auditórios o ambientalismo puro-sangue dos colégios de físicos e de monastérios budistas.
Ali, só dá para vender autoconfiança com cautela. Ficou claro que a Amazônia terá de se render de uma vez por todas ao avanço das hidrelétricas, por exemplo. Mas as novas barragens serão construídas sobre plataformas fluviais, que prometem levar consigo os canteiros de obra quando a usina estiver pronta e deixar na retaguarda florestas recompostas.
Em suma, o Brasil conseguiu falar de crescimento numa Europa cada vez mais conformada com a ideia de que, queiram ou não, até os países ricos terão de aprender a viver com menos. E, se possível, viver melhor com menos.
O Palácio Municipal de Congressos ficou, durante os quatro dias de debates, inundado de folhetos sobre o futuro possível com a desordem climática. Só na Espanha, 7,5 mil quilômetros de ferrovias já viraram Vias Verdes, exclusivas para andarilhos e ciclistas. Entraram também nos roteiros turísticos as Vias Pecuárias, que são 4,2 mil quilômetros de caminhos milenares, traçados por pastores entre vales e montanhas.
Parques e bosques se multiplicam ultimamente, partindo quase do centro de Madri até os confins mais ásperos da Espanha. Na capital, cinco depósitos de entulho ferroviário foram reflorestados e ajardinados. E, no país inteiro, 300 administrações locais aderiram formalmente a um vasto protocolo de adaptação ao clima.
Com tantas prefeituras amarradas a metas estritas para o tratamento do lixo, o aproveitamento do metano como eletricidade, a devolução do esgoto ao estado de água potável ou ao fomento de energias alternativas, da eólica à geotérmica, o mercado não poderia ficar imune à mudança. Hoje, gravita ao redor dessa Rede Espanhola de Cidades para o Clima o comércio de soluções privadas para problemas públicos. Oferece desde casas que poupam eletricidade ou uma nova encarnação como "vidro ecológico" e cerâmicas finas a tubos de imagem de TVs e computadores obsoletos.
Foi nessa moldura de austeridade compulsória que o Brasil mostrou a fartura de seus recursos naturais. E nem era preciso percorrer os outros estandes. Bastava descer na estação de metrô mais próxima e reemergir a esmo em qualquer canto de Madri para dar de cara com uma capital europeia que, em nome do aperto, parecia mais dourada neste outono.
Porque plantou 15 milhões de árvores, encheu de flores suas alamedas, abriu na terra batida 286 quilômetros de passeios, tirou das ruas 385 mil carros particulares, embarcou mais 2,5 milhões de madrilenhos por dia no transportes públicos eletrificados e passou a tratar sua paisagem como um direito inalienável de todo cidadão.
Basta uma volta por Madri para sentir que no Brasil está faltando alguma coisa. Ou seja, a suspeita de que certas coisas podem faltar um dia. E é melhor que não façam falta. 

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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Cientistas fecham rachaduras em concreto usando superbactérias criadas em laboratório

Notícias - Infraestrutura/ Instituto de Engenharia

GizModo
Publicado em 19 de Novembro de 2010
Consertar danos no cocreto geralmente requer colocar mais concreto, ou tirar tudo e começar de novo. Mas graças a especialistas em germes da Universidade de Newcastle, bactérias personalizadas - "BacillaFilla" - podem ser o futuro dos reparos em concreto. 



As bactérias, uma vez lançadas em uma área com danos, se procriam e se espalham pelas rachaduras, e então morrem. Elas deixam para trás uma mistura de carbonato de cálcio, "cola bacterial" e seus próprios corpos filamentosos, mistura essa tão resistente quanto o concreto original. E não se preocupe: os pesqusiadores foram espertos o suficiente para criar dois mecanismos de reprodução nas bactérias. Um permite que elas se reproduzam apenas no concreto, porque só se dividem no pH específico dele. O outro mecanismo avisa quando o trabalho delas está feito, para não se rebelarem e cobrirem o mundo em carbonato de cálcio: 

As bactérias também contêm um gene autodestrutivo que evita que elas se proliferem para longe de seu alvo no concreto, porque um conjunto descontrolado de concreto bacterial que continuasse a crescer, apesar de todos os esforços para interompê-las, seria de certa forma incômodo. 

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Horto para plantar favela


19 de novembro de 2010 | 0h 00
    Marcos Sá Correa - O Estado de S. Paulo
Veterano de lutas contra o patrimônio público no Rio, o deputado Edson Santos (PT) presenteou a cidade nessa antevéspera de Natal com um texto irrefutável. Não dá para refutá-lo porque cada palavra do texto colide com a seguinte, o que é admirável mesmo em numa época na qual os políticos brasileiros conquistaram a prerrogativa de dizer qualquer coisa.
A primeira frase de Edson Santos vai diretamente ao ponto final. Ela declara que "é perfeitamente possível conciliar a permanência dos moradores do Horto Florestal com a expansão da área de visitação do Parque Jardim Botânico, também conhecida como arboreto". Pode-se parar por aí. Para começo de conversa, ele junta "moradores" com "Horto Florestal", como se não houvesse o menor atrito entre essas palavras.
E o pior é que, até aí, tudo bem. O oxímoro retrata a realidade, porque a realidade ali é absurda. Aquilo se chama Horto porque abrigou até meados do século passado talhões de mudas para reflorestamento. Eles constam de mapas do Ministério da Agricultura até meados da década de 1940. Suas alamedas tinham nomes de árvores.
Era, então, um Horto ao pé da letra. A cidade o perdeu. Ele foi surrupiado por administrações pródigas e funcionários espertos; depois, por descendentes e colaterais de funcionários espertos; enfim por amigos e locatários de funcionários espertos. Qualquer um aproveitou a bagunça para se aboletar no jardim.
O Jardim Botânico sequer fez a conta das casas que semeava. Seu número ainda varia entre 550 e 621. Há entre elas residências funcionais que guardam os traços da arquitetura oficial. E também biroscas, garagens, oficinas e puxadinhos para acomodar famílias que procriam, parentes que chegam de longe e carros que não param de se multiplicar.
Favelizou-se, portanto, um jardim bicentenário do Rio de Janeiro. Com pretextos tão frágeis que bastou a teimosia de um procurador para desmontá-los. Ele se chama Luiz Cláudio Pereira Leivas. Disparou sobre cada imóvel do Jardim Botânico um petardo jurídico de longo alcance e mira telescópica. Seus processos tramitaram sozinhos por quase duas décadas, sem que qualquer diretor do Jardim Botânico movesse um dedo para empurrá-los. Vingaram pela força de seus próprios argumentos. E as sentenças para reintegração da posse começaram a despontar em série, uma a uma, nas mais altas instâncias judiciais.
Aí, com o caso julgado, a Secretaria do Patrimônio da União resolveu descumprir as sentenças. O deputado Edson Santos, recém-desembarcado do governo federal, onde foi ministro da Integração Racial, defende essa nova, militante e omissa SPU contra o tradicional Serviço do Patrimônio da União. Ele aprecia invasões. Elege-se em parte com o apoio delas. Defende-as por princípio e por afinidade política. Apoia até a invasão que desfigurou na zona oeste a Colônia Juliano Moreira. Nela, só restam sintomas de sanidade ambiental e administrativa no pavilhão dos dementes. O resto, a loucura fundiária e urbanística do Rio de Janeiro contagiou.
Isso faz do deputado Edson Santos um especialista no assunto? Quem dera. A especialização é artigo em baixa na política brasileira. Ao advogar a invasão do Horto, ele errou feio. Definiu de cara o arboreto como "área de visitação do Parque Jardim Botânico". Ainda nem percebeu que o arboreto é, oficialmente, o laboratório a céu aberto de um instituto de pesquisas chamado Jardim Botânico do Rio de Janeiro, cuja Escola Nacional de Botânica Tropical está, por sinal, separada dos laboratórios e bibliotecas pela favela do tal "Parque Jardim Botânico". Isso só ele sabe o que é e onde fica.