domingo, 7 de setembro de 2014

A força do Algoritmo, por Renato Cruz, no Estadão de 7 de setembro 14

Quem decide o que você vê na internet? Um buscador como o Google tem um algoritmo complexo para definir o que mostra em seus resultados. Tudo começou de forma relativamente simples: o chamado PageRank analisava a quantidade de links que apontavam para determinada página, para dizer se ela era importante ou não. A importância das páginas que abrigavam esses links também era levada em conta. Com isso, garantia que os resultados mais relevantes seriam mostrados em primeiro lugar.
Mas a complexidade do algoritmo tem aumentado. As pessoas começaram a criar sites que trocavam links entre si para melhorar suas posições nos resultados das buscas. O Google criou então mecanismos para evitar esse tipo de golpe. O buscador também incorporou personalização nos resultados, levando em conta coisas como a localização do usuário e o tipo de conteúdo que normalmente interessa a ele.
Em redes sociais como o Facebook, a situação era diferente. Os conteúdos relevantes eram selecionados por amigos. Mas o serviço cresceu tanto que deixou de ser possível mostrar tudo o que todos os amigos publicam, e o Facebook passou a filtrar os conteúdos mais relevantes a partir das pessoas e dos tipos de conteúdos com quem você mais interage, ao clicar, comentar e compartilhar.
Até agora, o Twitter mostrou as publicações de todas as pessoas que você segue, em ordem cronológica inversa, com o tuíte mais recente no alto da página. Na semana passada, Anthony Noto, diretor financeiro do Twitter, disse em um evento em Nova York
que essa forma “não é a experiência mais relevante para o usuário”. Como exemplo, ele disse que uma publicação importante pode ficar enterrada na lista de um usuário caso ele não esteja com o serviço aberto na hora em que ela foi publicada.
Faz todo o sentido criar maneiras automatizadas de selecionar conteúdo relevante, no atual ambiente de abundância de informação. Mas a opacidade dos critérios preocupa. Sem seleção, o serviço deixa de funcionar bem. Agora, como saber se conteúdos mais relevantes não estão deixando de ser mostrados?
O risco é que os algoritmos, muito bem treinados, mostrem somente coisas que reforcem a visão de mundo de cada um, e passem alimentar o pensamento de tribo, o isolacionismo e a intransigência. No mundo das redes sociais, com um clique é possível deixar de ver as publicações de quem pensa diferente, calar o pensamento contrário.
Uma definição clássica diz que o objetivo das notícias é tornar o importante interessante, e não o contrário. Num mundo em que algoritmos servem conteúdo personalizado, o importante pode enfraquecer diante do interessante. Com o tempo, os sistemas até serão capazes de fazer a distinção. Mas como ficamos até lá?
Regras
O algoritmo é um conjunto de regras, traduzido em comandos de programação. Antes do Google, havia diretórios de internet, como o Yahoo quando foi criado. A rede mundial era muito menor, havia bem menos sites no mundo, e o diretório do Yahoo era editado por pessoas, que classificavam cada site sugerido ao serviço em categorias. Em poucos anos, esse modelo deixou de ser possível.
Dinheiro
Na semana passada, me perguntaram: uma empresa precisa gastar dinheiro em anúncios para aparecer nas redes sociais. A resposta está no próprio modelo de negócios dessas redes, baseado em publicidade. Se fosse fácil aparecer sem gastar dinheiro, os serviços não teriam apostado nos anúncios como a sua principal fonte de receita. Sem pagar, a publicação de uma empresa atinge uma parcela muito pequena de seus fãs no Facebook.
No Estado de hoje (“A força do algoritmo“, p. B10).

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