terça-feira, 30 de setembro de 2014

Estre cria empresa para vender energia

NAIANA OSCAR - O ESTADO DE S.PAULO

13 Agosto 2014 | 02h 02

Gestora de aterros sanitários vai investir R$ 300 mi em parceria com grupo português Enc Energy para criar a Estre Energia Renovável

Divulgação
Renovável. Usina de Guatapará, em São Paulo, tem capacidade para abastecer 18 mil pessoas
A gestora de resíduos sólidos Estre Ambiental - fundada pelo empresário Wilson Quintela Filho e com sócios como o BTG Pactual, do banqueiro André Esteves - vai estrear na área de energia. A companhia se associou à portuguesa Enc Energy para criar a Estre Energia Renovável, empresa que vai gerar eletricidade a partir do biogás de seus aterros sanitários. Serão investidos R$ 300 milhões no novo negócio, que, em três anos, deve faturar R$ 200 milhões.
Esse já é um plano antigo de Quintela. Mas, só em maio deste ano, a primeira usina entrou em operação (em caráter experimental) no aterro de Guatapará, interior de São Paulo. Para lá, são levadas diariamente 2,2 mil toneladas de resíduos, vindos de municípios como Araraquara e Ribeirão Preto. A usina ainda aguarda autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) para se tornar comercial, mas já pode vender energia no mercado, por estar em fase de testes. Por enquanto, ela tem capacidade para gerar 4,2 megawatt (MW), quantidade suficiente para abastecer 18 mil pessoas.
"Estamos fazendo um esforço para ampliar essa iniciativa e estender o projeto a 10 dos 23 aterros da Estre", diz Alexandre Alvim, diretor de novos negócios da empresa. "A meta é, em três anos, atingir uma capacidade instalada de 100 MW e ser o maior player do setor."
A Estre não está sozinha nesse mercado, tampouco está no grupo dos pioneiros. As usinas de biogás mais antigas do País estão na capital paulista. A primeira foi instalada no aterro desativado Bandeirantes, na Zona Oeste da cidade, em 2004. A outra entrou em operação em 2007, no também desativado aterro São João. O sistema é administrado pela Biogás Energia Ambiental.
Os projetos seguintes demoraram a aparecer porque era difícil fechar a equação para ganhar dinheiro com biogás no País. O Plano Nacional de Resíduos Sólidos, sancionado em agosto de 2010, e considerado o marco regulatório do setor, impulsionou alguns projetos. Em outubro, o governo federal fará o primeiro leilão de energia para empreendimentos de biogás - oito projetos estão inscritos. "Era um investimento muito caro e o mercado não considerava as empresas de resíduo como fornecedores", diz Carlos Silva Filho, diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
Em 2011, o Grupo Solví, que atua em 171 cidades no Brasil e em 16 municípios no Peru, inaugurou uma termelétrica no aterro municipal São Cristóvão, em Salvador. A empresa investiu R$ 50 milhões no projeto, que tem capacidade de 19,7 MW, capaz de abastecer 50 mil residências.
O grupo está construindo uma nova usina no Rio Grande do Sul, prevista para entrar em operação em agosto do ano que vem, com capacidade de 8 MW. A paranaense J. Malucelli também tem usinas de biogás.
A própria parceira da Estra no negócio de energia já operava no Brasil. Com oito aterros sanitários sob gestão em Portugal, a Enc Energy fez uma parceria com a Vital Ambiental, do grupo Queiroz Galvão, em 2012, para gerar biogás no aterro de Juiz de Fora.
Parceria. A sociedade com a Estra é uma joint venture, em que a Enc Energy detém 10% do negócio. Três executivos portugueses já estão no Brasil para implementar as novas usinas. "O histórico brasileiro em biogás não é muito positivo, por isso buscamos uma empresa que já entendia desse negócio para desenvolver os projetos", dia Alvim.
A empresa não informa quanto faturou e por que preço vendeu sua energia nesses primeiros meses. Diz apenas que 80% do que foi produzido já está contratado. Os 20% restantes poderão ser comercializados futuramente no mercado à vista, onde o preço da energia superou nesta semana R$ 650 o MWh.
O negócio ainda é pequeno para Estra, que faturou no ano passado R$ 1,9 bilhão e teve prejuízo de R$ 458 milhões. A empresa busca alternativas para se tornar mais rentável. Depois de uma série de cinco aquisições, a Estra tenta equacionar uma dívida de R$ 1,8 bilhão. Desde o fim do ano passado, a companhia vem passando por uma reestruturação operacional.

Estimação de animais


Lúcia Guimarães
Na calçada, o grupo diverso espera sentado. Eles têm idades, tamanhos e temperamentos diferentes, mas aprenderam a ficar em repouso por alguns minutos. Com sua força física somada, uma reação súbita os levaria a derrubar o frágil poste de metal que sustenta o toldo da entrada do meu edifício. A cena se repete em qualquer quarteirão da cidade. Os dog walkers, pessoas que passeiam com os cachorros dos ocupados nova-iorquinos, amarram os bichos na porta de prédios enquanto vão recolher mais um para a caminhada matinal. Observando o tamanho dos grupos é fácil acreditar por que a profissão informal, frequentemente exercida por estrangeiros sem documentos, permite uma renda mensal superior, às vezes, à do cliente que contrata o serviço.
Pelo menos 83 milhões de cachorros vivem nos Estados Unidos e, desde os anos 70, eles se multiplicaram mais rápido do que a população humana. A explosão da indústria americana de animais de estimação, com receita estimada este ano em US$ 60 bilhões haveria, é claro, de ser importada no surto de emergência consumista brasileiro, onde não basta imitar estilos de vida, é preciso desfrutá-los em inglês. Deixei um país com animais domésticos e bicicletas e o reencontro cheio de pets e bikes. Mas importamos também o lado nefasto da indústria: os canis inescrupulosos, em que a ganância resulta na reprodução de animais com defeitos genéticos, e a falta de critério para trazer um animal para casa. Nos Estados Unidos, mais de 60% das pessoas que moram sozinhas têm animais domésticos.
Além de ótimo companheiro, os médicos confirmam que a presença de um cachorro faz bem à saúde do dono: Contribui para baixar a pressão, combater a melancolia e força idosos a fazer mais caminhadas. Há grupos de voluntários que levam cachorros para alegrar crianças hospitalizadas. Há todo tipo de grupo de apoio e até uma associação de combate à obesidade canina, que só aumenta, pelos mesmos motivos que fazem aumentar a humana.
Se você notar alguém num restaurante nova-iorquino acompanhado de um cachorro usando um colete como um uniforme, pode concluir que a exceção à proibição habitual de entrada de qualquer bicho se deve ao fato de se tratar de mais do que um animal de estimação: ele é um acompanhante terapêutico, assim designado porque um médico comprovou que um paciente sofredor de, digamos, síndrome de pânico, se beneficia da companhia constante de um cachorro. Os americanos na verdade têm mais gatos do que cachorros, mas, além de afeto de felino pelo dono ser mais comedido, seu cuidado requer muito menos atenção e esforço físico.
Só no meu edifício, conto uns três cães que gostaria de ter denunciado a um juizado de menores para bichos. Há a recém-divorciada com dois filhos, um imenso Golden Retriever e sem a menor paciência para os três. Mas os meninos ao menos gastam energia na escola fazendo esportes, enquanto o animal, que precisa de exercício, vai ficando cada vez mais neurastênico, isolado no apartamento, e já mordeu uma diarista. Há um homem com evidente distúrbio mental, notório por brigar com porteiros e vizinhos, que decidiu adotar um pitbull de um abrigo - combinação explosiva. E há, tristemente, uma idosa, que tanto precisa da companhia, mas mal consegue exercitar seu adorável vira-lata porque caminha com dificuldade.
No ano de 1997, milhares de dálmatas foram encontrados vagando por ruas e estradas americanas ou abandonados em abrigos. Tinham sido comprados ainda filhotes por famílias que não aguentaram a trabalheira que dá esta raça de cão. Mas seus filhos os acharam uma gracinha na tela quando assistiram ao filme 101 Dálmatas. Episódios como este ilustram uma forma de negligência que não discrimina por classe ou pressão econômica.
Os Estados Unidos conseguiram diminuir drasticamente a eutanásia de cachorros com campanhas pela adoção nos abrigos. O casal Obama foi bastante criticado em 2009 quando adquiriu sua primeira cadela da raça cão d'água português de um canil e não deu o exemplo da adoção.
A medicina estende a vida, nem sempre com qualidade de vida. Ouvi de um veterinário nova-iorquino um desabafo que soava meio culpado: "Graças a cirurgias e remédios, os cachorros doentes estão vivendo mais e seus donos não aguentam tomar conta deles nos anos de velhice prolongada". Está aí uma indústria cujo crescimento, sem educação do consumidor, a longo prazo, incentiva a crueldade.

sábado, 27 de setembro de 2014

A água do Sistema Cantareira pode acabar? , por Fernando Reinach

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Fernando Reinach
Você já deve saber que nossa água está acabando. Assim, quando me deparei com o secretário de recursos hídricos do Estado, Mauro Arce, e o presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, em um mesmo palco, dispostos a responder perguntas, não resisti: “Se nos próximos 12 meses as chuvas forem semelhantes às que ocorreram nos últimos 12 meses, os 6 milhões de paulistanos que dependem exclusivamente do Sistema Cantareira terão água em 2015?” A pergunta é simples e não exige adivinhação, pois não questiona se vai chover. Simplesmente solicita a construção de um cenário a partir de dados já conhecidos. O sr. Andreu respondeu: “Se nós tivermos um ano parecido com esse, não teremos uma resposta satisfatórias na região metropolitana no ano de 2015”. O sr. Arce divagou sobre o que ocorreria se nunca mais chovesse. Fiquei sem resposta. Afinal, a água do Cantareira pode acabar?
Se os responsáveis pela ANA e pela Sabesp se recusam a nos contar o que pode acontecer em 2015, só me resta uma opção: tentar construir com você, caro leitor, os cenários mais prováveis. Isso é possível porque os dados necessários são atualizados diariamente em uma série de tabelas e gráficos publicados no site da ANA.
Convido a olhar com cuidado o gráfico acima. Ele mostra a quantidade de água estocada no Sistema Cantareira ao longo de cada ano, de 1982 até o presente. No eixo horizontal estão as datas. Cada linha vertical marca o início de um ano. No eixo vertical está o volume de água acumulada nos reservatórios do Cantareira em milhões de metros cúbicos (hm³). Este número vai de zero (reservatório seco) a 1.460, reservatório transbordando, totalmente cheio. Você também pode ver uma linha horizontal no valor 486, que separa o volume “vivo”, que pode ser retirado sem uso de bombas (entre 1.460 e 486) e o volume “morto” (entre 486 e 0), que só pode ser retirado por bombeamento.
É fácil verificar que todos os anos o nível do reservatório sobe e desce. Ele enche logo após o ano-novo (período de chuvas), se estabiliza antes da metade do ano, e esvazia na segunda metade do ano (período de secas). Mas o quanto ele enche e esvazia varia de ano para ano, dependendo de quanto chove e de quanta água é retirada. Veja o ano de 1999: ele iniciou com aproximadamente 1.050 hm³, subiu até 1.430 e desceu para 1.030. Em 1999, a água que entrou foi quase igual a água que saiu. Já em 1987, o reservatório começou com 860, subiu para 1.420 e só baixou para 1.200. Naquele ano entrou mais água do que saiu.
Acompanhe agora o que aconteceu a partir de 2010. Em 2010 o reservatório chegou ao seu máximo, 1.460, e caiu para 1.200, no ano seguinte (2011) ele subiu para 1.400 e terminou em 1.150. Em 2012, ele subiu muito pouco e terminou o ano em 950. O ano de 2013 já foi trágico, a subida foi pequena e a queda foi grande, e acabamos 2013 já com um pouco mais de 700 hm³, um dos menores níveis históricos. Foram quatro anos em que os níveis registrados em dezembro sofreram quedas grandes e sucessivas. E aí veio 2014, um ano em que ocorreu um fenômeno nunca antes observado. O ano de 2014 foi o único em que o reservatório nem sequer encheu, a quantidade de água armazenada caiu continuamente. Iniciou o ano com 700 hm³ e agora em setembro estamos com somente 370 hm³. Veja que em setembro de 2013 estávamos com 870 hm³. A queda nos últimos 12 meses foi de 500 hm³.
Agora, caro leitor, eu pergunto, você é capaz de responder a pergunta que a Sabesp e a ANA se recusaram a responder? Se os próximos 12 meses (setembro de 2014 a setembro de 2015) forem iguais aos 12 meses anteriores (setembro de 2013 a setembro de 2014), qual cenário enfrentaremos em setembro de 2015? É fácil, mas trágico. Se nos próximos 12 meses o nível cair 500 hm³ (como caiu nos últimos 12 meses), chegaremos muito antes de setembro ao nível zero, pois hoje só temos, 370 hm³ no Cantareira. Esta é a resposta simples e objetiva. Se tudo se repetir, milhões de pessoas vão ficar sem uma gota de água. Simples assim.
Mas talvez não seja correto ser tão pessimista, vamos imaginar que as chuvas do fim do ano acrescentem 200 hm³ ao reservatório, como aconteceu em 1985, 1988 e 2011. O nível vai passar de 370 para 570. Mas se continuarmos a tirar água como tiramos neste ano, vai cair para quase zero novamente, e as pessoas vão ficar sem água.
Mas o melhor seria se São Pedro ajudasse e repetíssemos em 2015 o que ocorreu em 1987, o reservatório subisse 650 hm³ em um único ano (o recorde). Aí passaríamos de 370 para 920 e se retirássemos os mesmos 500 acabaríamos o ano com 420 hm³, um pouco abaixo do limite do volume morto. Melhor, mas ainda preocupante.
É claro que estes cenários são os mais crus que um leigo educado pode deduzir a partir dos dados disponíveis. Eles assumem que a Sabesp não vai mudar a maneira como está retirando água do Cantareira e assumem que é possível retirar até a última gota do reservatório, o que não é verdade. O fato é que muito antes de o volume acumulado nos reservatórios chegar a zero não haverá água sequer para organizar um rodízio ou racionamento forçado.
Senhor secretário, senhor presidente da ANA, não fiquem acanhados em mostrar o que está errado nesses cenários criados por um simples biólogo. Todos gostaríamos de saber com que cenários a Sabesp e a ANA trabalham. Quais são seus cenários? Sei que devo estar errado nos detalhes, mas todos gostaríamos de saber o que teremos de enfrentar em 2015. Afirmar que teremos água até março não é suficiente. Afinal, é a vida cotidiana de milhões de pessoas que está em jogo.
Se outros cenários não forem descritos e justificados, só me resta acreditar que estes cenários, simples, mas lógicos, representam em grande parte o que nos espera em 2015.
*É BIÓLOGO

Governo fecha porta para 'PJ assalariado'




Regra que amplia Supersimples deixa explícito que pessoas jurídicas não podem ter vínculo com empresa contratante
Em 2012 e 2013, a Receita Federal identificou sonegação de quase R$ 30 bi por meio dessa manobra
SOFIA FERNANDESDE BRASÍLIA
Em uma tentativa de conter a sonegação de impostos na contratação de mão de obra, o governo proibiu expressamente que pessoas jurídicas inscritas no Supersimples tenham vínculo de emprego com a empresa contratante. O veto está na regulamentação da lei que universalizou o Supersimples para todos os setores da economia, publicada no início do mês.
Em 2012 e 2013, a Receita identificou que empresas sonegaram, por meio dessa manobra, quase R$ 30 bilhões em contribuições à Previdência Social. A arrecadação total da Previdência somou R$ 313,7 bilhões em 2013.
Para quem contrata essas pessoas jurídicas, a vantagem é que os custos são muito inferiores aos embutidos na contratação de um funcionário. Essas contratações configuram uma relação comercial, sem custos trabalhistas para quem contrata.
O texto diz que será excluído do regime simplificado de tributação a empresa que guardar com o contratante do serviço relação de "pessoalidade, subordinação e habitualidade". A contratante está sujeita a multa e pagamento da contribuição previdenciária em atraso.
Apesar de considerada irregular e fiscalizada pelo governo, essa prática não era expressamente proibida. Com o uso crescente de pessoas jurídicas como disfarce para situação de emprego, o governo considerou oportuno explicitar a proibição.
"Membro de uma empresa do Simples não pode ser empregado de quem a contrata. Queremos evitar o fenômeno da pejotização' dos empregados", afirmou o ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos.
IRREGULARIDADES
A Receita afirma que tem detectado irregularidades dessa natureza em vários setores da economia, como indústria de calçados e de materiais cerâmicos.
Em 2012, o fisco identificou irregularidades desse tipo em 5.500 fiscalizações, o que resultou na cobrança de R$ 13,6 bilhões em pagamentos em atraso para a Previdência e multas. Em 2013, foram 5.800 casos, com a cobrança de R$ 15,7 bilhões de contribuição previdenciária.
Segundo a Receita, a maioria das empresas flagradas recorre do processo ou tenta impugná-lo. "Enquanto o julgamento está pendente, suspenso, elas podem obter certidão positiva de débito", informou o órgão.
Pelo Supersimples, pequenas e médias empresas têm a cobrança de oito impostos federais, estaduais e municipais reunida num só boleto. Para a maioria dos casos, a carga de impostos é menor do que no regime tributário convencional.
Dentre as empresas que podem declarar pelo Simples, está o MEI (Micro Empreendedor Individual), que abarca empresários individuais com faturamento anual de até R$ 60 mil. Segundo a Receita, os MEIs são os maiores responsáveis pelas contratações irregular

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Cidade dos EUA vai multar quem desperdiçar comida


Nova lei foi aprovada por unanimidade em Seattle

Publicado por Poderes Revista - 1 dia atrás
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A cidade de Seattle, no noroeste dos Estados Unidos, criou uma lei para multar moradores e estabelecimentos comerciais por desperdiçar comida.
Segundo as novas regras, casas serão multadas em US$ 1 (aproximadamente R$ 2,40) se suas latas de lixo contiverem mais de 10% de restos de comida, enquanto que estabelecimentos comerciais e prédios residenciais pagarão US$ 50 (R$ 120).
Seattle, no Estado americano de Washington, é a segunda cidade americana depois de São Francisco a tornar obrigatória a compostagem como forma de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. A compostagem é o processo de decomposição do lixo em materiais orgânicos utilizáveis na agricultura.
Até 40% da comida nos Estados Unidos é desperdiçada, segundo um relatório do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais. Apenas 5% dos restos de alimentos são submetidos à compostagem, segundo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês).
A cidade vai começar a emitir avisos a partir do dia 1º de janeiro de 2015 e a multar clientes após 1º de julho, prevê a lei, que foi aprovada por unanimidade na segunda-feira (22).
Segundo as novas determinações, quando os garis de Seattle constatarem excesso de restos de comida em um lixo, vão contabilizá-lo em um sistema de computadores e a multa será acrescentada à conta de lixo que todos têm de pagar.
Prédios residenciais e estabelecimentos comerciais também serão obrigados a limitar a quantidade de comida desperdiçada, mas vão receber dois avisos antes de ser multados, segundo o jornal The Seattle Times.
Informações do G1. Fonte: Poderes em Revista

Apoio integral à estruturação das cooperativas , no Boletim Cempre jul -ago 2014



A partir do diagnóstico das necessidades de cada cooperativa, o programa “Cooperar Reciclando Reciclar Cooperando” procura reescrever a sua história.
Criado no final de 2005, o programa “Cooperar Reciclando Reciclar Cooperando” já apoiou o desenvolvimento completo de 142 cooperativas em 69 cidades de 14 estados do país, com mais de 4.200 catadores diretamente beneficiados. A participação tem início com uma visita de diagnóstico feita pela equipe do Cempre para checagem da documentação e infraestrutura. “A partir desse primeiro contato, identificamos as carências da cooperativa em termos de equipamentos, capacitações, documentação... Enfim, analisamos as oportunidades que podemos oferecer para melhorar as condições de trabalho dos catadores e os resultados econômicos da cooperativa”, conta Aline Paschoalino, analista de projetos do Cempre.
Pelos resultados alcançados em prol do respeito e da dignidade humana, o programa recebeu, em agosto, o prêmio “Betinho de Democracia e Cidadania”, entregue pela Câmara Municipal de São Paulo, que veio se somar a outros reconhecimentos como o Top de Ecologia da Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil (ADVB). “O trabalho com os catadores é um dos principais focos do Cempre e temos procurado intensificá-lo, como demonstra o salto dado em 2014, visando contribuir para a profissionalização das cooperativas a fim de que possam atender melhor à demanda crescente por seus serviços em função do fechamento dos lixões e dos acordos setoriais, resultado dos avanços da Política Nacional de Resíduos Sólidos”, ressalta Victor Bicca, presidente do Cempre.

Desde o início do programa, 16 associadas do Cempre jáparticiparam diretamente do apoio às cooperativas. Entre os
equipamentos fornecidos que contribuem para o aumento de sua eficiência, segurança e produtividade, estão prensas, esteiras, elevadores de fardos, fragmentadores de papel, empilhadeiras, trituradores de vidro, bags, carrinhos elétricos, EPIs, uniformes e computadores, entre outros itens.
Além da doação de equipamentos, o programa tem como diferencial a capacitação dos catadores por meio de um kit composto por Manual do Instrutor, Guia da Cooperativa, cartilhas para os catadores e DVD. Entre os temas abordados, estão estrutura e funcionamento das cooperativas, saúde, segurança, relações humanas, gestão contábil-financeira, direitos e deveres dos associados, procedimentos para constituição e registro das cooperativas, além de modelos de Estatuto e outros documentos. A capacitação é feita conforme as necessidades identificadas pela equipe do Cempre. Os kits foram desenvolvidos para serem usados também de modo autodidático: até hoje, mais de 6 mil kits foram distribuídos e contribuíram para a formação de 500 novas cooperativas, com geração de cerca de 20 mil postos de trabalho diretos.
Cooperativas diretamente apoiadas

 
 
Um retrato de 20 anos da coleta seletiva no país
Pesquisa Ciclosoft chega à sua nona edição e completa duas décadas como uma referência no acompanhamento da coleta seletiva em todo o Brasil.
O Brasil ensaiava os primeiros passos para a implantação de seu modelo de gestão de resíduos sólidos urbanos quando o Cempre realizou a primeira edição de sua pesquisa Ciclosoft, em 1994. Apenas 81 municípios promoviam a coleta seletiva, o destino do material recolhido parecia incerto, a indústria recicladora ainda era incipiente e a população pouco sabia do assunto.

De lá para cá, muita coisa mudou como mostra a última edição da pesquisa que acaba de ser divulgada pelo Cempre. “A implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, em 2010, trouxe o impulso necessário para que o sistema buscasse se estruturar de maneira mais profissional, incentivando a responsabilidade compartilhada e a articulação entre a indústria, o Governo a sociedade que já vem se concretizando por meio dos acordos setoriais e das discussões sobre a desoneração
da cadeia”, comenta Victor Bicca, presidente do Cempre.

O estímulo dado pela PNRS pode ser comprovado pelo número de municípios com coleta seletiva em todo o país que saltou de 443, em 2010, para 927, em 2014 – uma evolução de quase 110%! O crescimento ocorreu em todas as regiões, mas o maior desenvolvimento proporcional se deu no Centro-Oeste que passou de 18 para 62 municípios
operando sistemas próprios.

Para acompanhar esse movimento, a Ciclosoft reúne informações sobre os programas de coleta seletiva das prefeituras, apresentando dados sobre composição do lixo, custos de operação, participação de cooperativas de catadores e parcela da população atendida. A pesquisa tem abrangência nacional e é atualizada a cada dois anos. Os dados são obtidos por meio de questionários enviados às prefeituras e visitas técnicas. A participação é aberta e voluntária. “Nosso objetivo não é comparar, mas descobrir quais são os municípios que desenvolvem programas de coleta seletiva”, explica a pesquisadora do Cempre, Talita Ribeiro. “Dessa forma, podemos entender como o sistema está estruturado em termos geográficos, quais são seus agentes, os materiais mais coletados e os custos envolvidos, entre outros dados que contribuam para a busca de soluções que permitam expandir os modelos de sucesso.” Confira, agora, algumas das descobertas da Ciclosoft 2014.



 
 
Delegação tailandesa conhece modelo brasileiro de perto
De 18 a 22 de agosto, o Brasil recebeu uma delegação vinda da Tailândia para conhecer de perto seu sistema de gestão integrada de resíduos sólidos. Organizada pelo Cempre e o Timpse (par do Cempre naquele país), a visita é um dos resultados práticos da Aliança Global para a Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável (Garsd) que conta com a participação da Colômbia, Uruguai, Peru, México, Tailândia, África do Sul e Argentina. “Há hoje um interesse crescente pelo modelo incentivado pelo Cempre que busca desenvolver a coleta seletiva com a inclusão e valorização dos catadores”, destaca André Vilhena, diretor da associação.

O último encontro do Garsd aconteceu em Washington, em outubro de 2013, com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Na ocasião, representantes do Brasil e da Tailândia resolveram conhecer melhor seus sistemas para que pudessem identificar benchmarks em busca de oportunidades de intercâmbio. Esse compromisso resultou na visita técnica da delegação tailandesa ao Brasil que será seguida de uma visita brasileira àquele país, prevista para novembro.

A comitiva esteve em Brasília, onde se encontrou com representantes do governo federal e pôde aprender mais sobre o modelo desenvolvido no país. “Trocamos experiências e conhecimentos que podem ser mutuamente úteis. Foi o primeiro passo para uma aproximação na qual reconhecemos alguns pontos para um acordo que poderá evoluir futuramente”, comenta Fabrício Araújo Prado, chefe da Assessoria Internacional do Palácio do
Planalto.

A agenda dos membros da delegação incluiu também visitas a cooperativas de catadores em Brasília e São Paulo, encontros com representantes das companhias municipais de saneamento de São Paulo (Amlurb) e do Rio de Janeiro (Comlurb) e reuniões na sede do Cempre. Na análise dos visitantes, o modelo brasileiro se ajusta bem à realidade tailandesa e de outros países emergentes da Ásia. Segundo Pusadee Tamthai, vice-governadora de Bangkok, “seria interessante adaptar a legislação brasileira às nossas necessidades, pois ela agrega aspectos socioeconômicos relevantes às questões ambientais relacionadas à reciclagem”.
Para saber mais: http://www.garsd.org/

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Obrigação - MARTHA MEDEIROS (pauta reforma politica)

Uma pesquisa revelou que 61% dos eleitores rejeitam a obrigatoriedade do voto. A desilusão com a política é apontada como um dos motivos. Sendo o voto um instrumento de transformação, eu jamais abriria mão dele, mesmo que fosse opcional, mas concordo: quem dera todos votassem por consciência em vez de fazerem uni-duni-tê em frente à urna apenas por dever cívico. Obrigação é uma palavra que me arrepia. Desde garota. Passei a infância desejando crescer porque intuía que a espontaneidade vivia no lado maduro da existência. 

Sei que cada criança processa os ensinamentos que recebe através de um código muito particular, mas o fato é que eu me sentia numa camisa de força. Horário de ir para cama, ter que raspar o prato mesmo estando sem fome, a televisão racionada, o dever de só tirar notas boas. Obrigações que resultaram numa mulher responsável e bem-criada, ao contrário de tantas outras crianças que fazem o que bem entendem e viram adultos mimados e despreparados para lidar com frustrações. Só que, aos oito anos de idade, eu não sabia nada sobre pedagogia. A teoria sobre criação de filhos não fazia parte do meu repertório. Eu só sabia das minhas vontades. Eu queria ser livre porque me parecia o único jeito de ser honesta com meus sentimentos e pensamentos. 

Não queria fazer nada por obrigação. Nem comer, nem dormir, nem ser feliz por obrigação. Considerava uma violência quando, ao perguntar aos adultos “por que desse jeito?”, ouvia como resposta “porque sim e pronto” ou “porque é assim que tem que ser”. 

Obedecia militarmente “a hora certa” de fazer as coisas como se houvesse um relógio universal regendo uma orquestra de bons moços a serviço do andamento do espetáculo. Não que me fosse custoso cumprir. Só era custoso entender. 

Pior do que me comportar como “todo mundo” era viver uma afetividade também regida por regras. Não parecia que as pessoas se encontravam por saudades, por afinidades ou para repartir calor humano. Parecia obrigação também. A obrigação das datas festivas. A obrigação dos domingos. A obrigação dos parentescos. 

Ai de mim se gostasse mais de uma avó do que de outra. Ou se não quisesse sair do quarto para jantar. Ou se me recusasse a ir à missa. Ao colégio eu sabia que tinha que ir, não questionava. Só questionava o que me parecia facultativo. 

Apesar dos meus “facultativos” não baterem com os dos meus pais, optei por não dar trabalho, segui a cartilha da boa menina. Fiz minha parte e eles a deles – benfeita, diga-se, ou não seria quem sou. 

Mas quem eu sou mesmo? Cumpridora, pontual, educada, porém, hoje, profundamente intolerante a tudo o que não for espontâneo, ao teatro das convenções, às blindagens contra a intimidade, ao que serve apenas para manter a orquestra tocando.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Em vez de por no chão, ousar!





Essa estrutura vermelha, em ação, é um segmento da linha vermelha no Rio de Janeiro- exatamente sobre a avenida Brasil, a mais movimentada da capital fluminense.
Imagine essa mesma estrutura sendo a parte debaixo um metrô elevado e a de cima, uma ciclovia num jardim suspenso.

minhocomaldito

Os nós da USP,e editorial da Folha

Greve termina, mas crise da universidade é mais grave; problemas administrativos devem ser enfrentados durante reforma do estatuto
Após quatro meses, os funcionários e professores da USP que estavam de braços cruzados enfim voltaram ao trabalho. Foi a mais longa greve da história da universidade.
O movimento aceitou, na sexta-feira passada (19), o acordo proposto pelo Tribunal Regional do Trabalho: reajuste salarial de 5,2%, além de abono de 28,6%. Em contrapartida, os paredistas deverão repor uma hora de trabalho por dia, por no máximo 70 dias.
O fim da paralisação, no entanto, não encerra a crise da USP --e nunca será demais insistir nesse ponto, ao menos não até que a principal universidade do Brasil, sustentada com recursos do contribuinte e imprescindível para o avanço do ensino e da pesquisa de ponta no país, consiga se reestruturar acadêmica e financeiramente.
Não será fácil. Só a folha de pagamento da USP supera em 5% seu orçamento. Considerando-se outros gastos, como manutenção, obras e benefícios, a instituição deve terminar o ano com despesas 35% acima das receitas (cerca de R$ 5 bilhões, quase inteiramente advindos da arrecadação do ICMS). A situação é insustentável.
O reitor, Marco Antonio Zago, acredita ser possível equilibrar as contas transferindo dois hospitais da USP para a administração estadual e estimulando adesões a um plano de demissões voluntárias.
Pode até dar certo de um ponto de vista contábil, mas nem por isso melhorará a natureza dos dispêndios. E se, por exemplo, entre os 17,6 mil servidores não docentes, apenas os mais qualificados decidirem se demitir? É do interesse da universidade manter somente funcionários com menos experiência e menor nível hierárquico?
A discussão precisa se aprofundar. Por que, de 2009 a 2013, a comunidade acadêmica aceitou que a parcela do orçamento destinada ao salário dos funcionários tenha aumentado de 55% para 62%, enquanto diminuiu de 45% para 38% a parte que cabe aos professores? Trata-se de distribuição apropriada para os objetivos da entidade?
Se estiverem de fato empenhados em resolver esses gargalos institucionais --e é o que a sociedade espera--, os docentes, que constituem o corpo central da universidade, deveriam assumir a linha de frente do debate sobre a reforma do estatuto da USP. Ocorre hoje (23) uma reunião acerca do assunto.
Trata-se de boa ocasião para tentar desatar alguns nós evidenciados pela crise. Para começar, a USP carece de mecanismos adequados de transparência e de prestação de contas, bem como de meios para profissionalizar sua gestão.
Surpreende que a melhor universidade do país precise avançar em temas tão básicos, mas, como ficou claro nos últimos meses, é justamente por aí que a revisão administrativa deveria começar.

Será que Deus existe?, Por João Pereira Coutinho na Folha


Deus não existe, afirmou o cientista Stephen Hawking, de passagem pela Espanha. Em entrevista a um jornal de "nuestros hermanos", Hawking repetiu a tese de que o Universo se criou a partir do nada e que o ser humano acabará por saber tudo sobre tudo no futuro sem precisar de uma ajuda celestial.
Longe de mim contestar Hawking: o homem é um gênio, dizem, e com os gênios não se brinca. Embora me pareça bizarra a declaração de um cientista –repito: de um cientista, não de um vulgar mortal– de que o futuro será assim ou assado em matéria de conhecimento humano.
Karl Popper (1902-1994), um dos mais importantes filósofos da ciência do século 20, mostrou como essa crença é ridícula (e até anticientífica). Motivo óbvio: o conhecimento é uma aventura em aberto. O que significa que aquilo que saberemos amanhã é algo que desconhecemos hoje; e esse "algo" pode mudar as verdades de ontem. Como?
Derrubando velhos dogmas e inaugurando novas perplexidades. Sempre foi assim –o imprevisto é um dos atores principais na história da ciência. É razoável presumir –presumir, não afirmar categoricamente– que sempre assim será.
Um cientista que diga como vai ser o futuro, sem obviamente conhecer todos os fatores que irão moldar esse futuro, não é um cientista. É um charlatão.
Como Karl Marx (1818-1883), por exemplo, um dos alvos preferidos de Popper e da sua crítica ao "historicismo". Marx pretendia fornecer aos homens as "leis científicas da história": um processo de luta entre classes que acabaria por derrubar o sistema capitalista, conduzindo à "ditadura do proletariado" e a uma sociedade comunista.
Como é evidente, as leis "científicas" de Marx nada tinham de ciência. Eram meras profecias, marcadas por uma radical indeterminação, que nem como profecias se cumpriram: a revolução não emergiu "inexoravelmente" em países capitalistas (como a Inglaterra); ela foi violentamente imposta em antros de pobreza e atraso industrial, como na Rússia campesina e analfabeta de 1917.
Mas voltemos a Deus: será que Ele existe? Ou devemos curvar-nos perante a sapiência do prof. Hawking e abandonar essas ilusões primitivas?
Uma boa forma de responder à pergunta encontra-se na entrevista notável que o filósofo Keith DeRose, professor na Universidade Yale e um declarado agnóstico, concedeu ao "New York Times".
É impossível resumir aqui a complexidade da conversa. Mas é possível chegar ao ponto capital dela: quando existe uma imensa maioria de pessoas que acredita na existência de Deus, é preciso um argumento poderoso (e definitivo) para demonstrar o seu contrário.
DeRose nunca encontrou esse argumento, apesar de conhecer o mais clássico de todos eles: como conciliar a existência de Deus com a presença do Mal no mundo? O filósofo não perde tempo com a resposta, claro. Mas um conhecimento vago da discussão teológica através dos séculos mostra como a existência de Deus não anula necessariamente o livre arbítrio das suas criaturas.
Isso não significa, logicamente, que DeRose recusa a posição ateia e aceite a posição teísta. Pelo contrário: os argumentos cosmológicos avançados racionalmente pelos teístas –tudo tem uma causa; Deus é a causa das causas etc.– também não convencem o autor pela sua fraqueza, digamos, circular.
Em que ficamos, então?
Simples: em lado nenhum. Ou, dito de outra forma, Deus não é uma questão rigorosamente filosófica. E discutir a sua existência (ou inexistência) em termos filosóficos (leia-se: "racionais") é um diálogo de surdos, que tentam falar racionalmente sobre um assunto do qual não possuem qualquer prova.
Ou então é um diálogo de cegos, que insistem em descrever a paisagem que imaginam ter à frente.
Deus é uma questão de fé –esse mistério e, para muitos, essa graça. E a "fé" é um assunto ligeiramente diferente de equações matemáticas ou observações de telescópio.
Um cientista que não entende isso não é apenas um ignorante em matéria religiosa. É sobretudo um ignorante em matéria científica. 
joão pereira coutinho
João Pereira Coutinho, escritor português, é doutor em Ciência Política. É colunista do 'Correio da Manhã', o maior diário português. Reuniu seus artigos para o Brasil no livro 'Avenida Paulista' (Record) e é também autor do ensaio 'As Ideias Conservadoras Explicadas a Revolucionários e Reacionários' (3 Estrelas). Escreve às terças na versão impressa e a cada duas semanas, às segundas, no site.

    Minhocão: derruba ou faz um parque?


    O Minhocão tem os dias contados. Tanto que na sociedade civil já se discute se ele deve ser derrubado ou virar jardim suspenso.
    Como você vai pagar a conta, é bom formar opinião.
    Na semana passada estiveram em São Paulo os responsáveis pelo parque High Line, em Nova York, que, sobre uma via elevada, tem servido de inspiração para os que sonham ver um jardim construído sobre o horrível viaduto.
    Robert Hammond, coautor do livro "High Line: A História do Parque Suspenso de Nova York" (BEÎ Editora), ficou fascinado com o Minhocão: "Ele é muito maior do que o High Line. Lá não havia residências dando para o elevado, só depósitos e empresas. Os nova-iorquinos não conheciam a via que deu origem ao parque. Aqui, pessoas passeiam por ela aos domingos".
    Hammond diz que se o elevado for derrubado, deixará em seu lugar apenas uma avenida movimentada, mas se virar um jardim, a cidade ganha um cartão postal.
    Herança podre da ditadura militar, o Minhocão sobreviveu intocado à democracia. A ligação leste-oeste atravessando o centro de São Paulo foi construída a toque de caixa por um prefeito biônico (Paulo Maluf), nomeado pelo ditador marechal Costa e Silva. Pronta, em 1970, a obra recebeu o nome do tirano, que assim segue torturando a cidade.
    Ao longo desses seus 43 anos, a via elevada acabou por se tornar uma unanimidade negativa (só a voz anasalada de seu criador às vezes o defende). O que o mantém aberto é a insegurança dos governantes quanto ao impacto de seu fechamento para o trânsito.
    Na última eleição, os principais candidatos (Haddad, vencedor, e Serra, segundo) disseram que gostariam de eliminá-lo se houvesse alternativa.
    A alternativa já existe, prevista na Operação Urbana Lapa-Brás.
    Também aparece em planos recém apresentados à prefeitura para o projeto Arco do Tietê: trata-se de uma avenida paralela e mais longa que o Minhocão, construída no leito por onde correm várias linhas de trem no sentido leste-oeste.
    Há um debate entre urbanistas: essa via deve ficar ao nível do trilho dos trens ou as vias férreas devem ser enterradas, abrindo espaço para quadras urbanizadas e parques, com a avenida correndo pela superfície?
    O professor emérito de Arquitetura Cândido Malta, da FAU-USP, secretário de Planejamento da prefeitura entre 1976-1981, defende a avenida ao lado dos trilhos: "O custo e o prazo de realização são menores. Mais cedo se poderá fechar o Minhocão".
    Miguel Bucalem, professor da Poli-USP, secretário de Desenvolvimento Urbano da prefeitura entre 2009-2012, defende o enterramento dos trilhos e a urbanização das áreas liberadas: "Essa solução leva mais tempo, mas cria um eixo de desenvolvimento urbano que beneficiará a cidade ao longo dos próximos 100 anos".
    Não há orçamentos precisos para cada uma. Cálculos chutados por pessoas experientes em obras públicas apontam algo em torno de R$ 700 milhões para a solução ao nível do chão, com inauguração em quatro anos; R$ 3,5 bilhões custaria a obra que enterra os trilhos, com prazo em torno de 15 anos.
    Uma vez escolhida a solução para a nova ligação leste-oeste, junto às linhas férreas que passam pela Luz, você deverá decidir o que fazer com o Minhocão: derrubar ou transformá-lo em parque? 
    leão serva
    Leão Serva, ex-secretário de Redação da Folha, é jornalista, escritor e coautor de 'Como Viver em SP sem Carro'.

    Trens regionais, Opinião OESP


    O ESTADO DE S.PAULO
    23 Setembro 2014 | 02h 05

    Estudos que indicam para breve a saturação das Rodovias Bandeirantes e Anhanguera levaram o governo do Estado a apressar a construção do sistema de trens regionais ligando a capital ao interior. Ela começará com uma linha entre São Paulo e Americana, com 135 km de extensão. O edital para esse primeiro trecho do sistema deve ser lançado no ano que vem e a conclusão da obra está prevista para 2020. É de esperar que dessa vez o governo cumpra a promessa, feita pela primeira vez no ano passado, de começar a tirar do papel esse projeto, que é da maior importância para o Estado.
    A Secretaria Estadual de Logística e Transportes dispõe de dados que indicam estarem aquelas duas rodovias caminhando rapidamente para uma situação insustentável, que só poderá ser evitada oferecendo-se aos que por ela circulam diariamente a alternativa de viajar em trens confortáveis, rápidos e com tarifas acessíveis. Prevê-se que a saturação começa em 2020 e que em 2030 a Anhanguera atingirá o nível máximo de esgotamento entre os quilômetros 25 e 38, durante um longo período, das 6 às 19 horas.
    Em 2012, isso só ocorria no horário de pico da manhã, entre 6 e 9 horas - e num único sentido -, no trecho entre os quilômetros 49 e 52, o que mostra como a situação está se deteriorando rapidamente.
    Começar a implantação do sistema de trens regionais por essa linha é, portanto, decisão ditada por uma necessidade urgente. Ela tem a vantagem de sua construção ser relativamente fácil. Não será preciso construir túneis e outras obras de porte, porque se aproveitará - devidamente recuperada e modernizada - a velha malha das antigas São Paulo Railways e Companhia Paulista de Estradas de Ferro, hoje operada por serviços de carga. Essa linha, cujo custo estimado é de R$ 5 bilhões, poderá transportar 68,5 mil passageiros por dia.
    O tempo de viagem até Campinas, partindo da Estação Água Branca, na Lapa, será de 1 hora e 4 minutos e até Americana, de 1 hora e 29 minutos. Com isso, dada a saturação das duas rodovias e tarifas que, segundo o presidente da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, Mário Manuel Bandeira, deverão ser "atrativas", o governo espera conquistar boa parte dos que hoje fazem aqueles percursos de carro.
    O modelo para a construção da linha São Paulo-Americana é o de Parceria Público-Privada (PPP), já adotado na Linha 6 - Laranja do Metrô. Em 2012, uma manifestação de interesse público (MIP) por esse projeto foi apresentada ao governo do Estado por consórcio formado pelas empresas Estação da Luz Participações (EDLP) e BTG Pactual, o que é visto como uma indicação de que não será difícil de encontrar parceiros privados para tocá-lo.
    Os trens regionais - o próximo, de acordo com plano anunciado pelo governo no ano passado, vai ligar São Paulo a Sorocaba, São Roque, São José dos Campos, Taubaté e Pindamonhangaba - são um elemento essencial para enfrentar os desafios criados pela formação da chamada Macrópole Paulista, que congrega os municípios localizados no raio de 200 quilômetros de São Paulo. Esse processo de conurbação é um dos mais importantes em curso no mundo.
    Seus números são impressionantes. Essa macrópole engloba três regiões metropolitanas - as de São Paulo, Baixada Santista e Campinas, além de aglomerados urbanos como São José dos Campos, Jundiaí, Sorocaba e Piracicaba - e reúne 153 dos 645 municípios do Estado, com 30 milhões de habitantes. Eles produzem 80% de toda a riqueza de São Paulo e representam 27% do PIB do País. Cerca de 2 milhões de pessoas saem diariamente de seus municípios para trabalhar ou estudar em outros. Metade delas vem para a região metropolitana de São Paulo.
    Está evidente que um novo sistema de transporte coletivo é um dos maiores desafios criados por essa realidade. Outro é criar estruturas administrativas capazes de enfrentar um grande número de problemas que transcendem as fronteiras municipais. Essa necessidade, que já existia nas regiões metropolitanas, foi multiplicada várias vezes.