José Roberto de Toledo - O Estado de S.Paulo
As eleições municipais demoram mais e mais para fisgar o eleitor. A dois meses de irem às urnas, só 27% dos paulistanos têm o nome de um candidato a prefeito de São Paulo na ponta da língua, segundo o Ibope. Os últimos três meses de campanha não somaram nem 10 pontos a esse mínimo grau de interesse. Ficou tudo para os 45 dias da propaganda de TV. Salvem os santos marqueteiros. Fim à mobilização política e partidária.
O repórter Daniel Bramatti publicou uma descoberta assombrosa no Estado de ontem: os candidatos a prefeito de capital com mais de 100 inserções semanais de 30 segundos na TV em 2008 tiveram 69 vezes mais sucesso - se elegeram de cara ou chegaram ao segundo turno - do que um adversário com menos de 50 inserções por semana. Repare: 69 vezes. Vivam os deuses marqueteiros. Morte à mobilização política.
A eleição não se resume a uma simples correlação estatística, mas o palanque eletrônico é uma variável cada vez mais importante. A despolitização se espalha a cada pleito, e nada é capaz de promover tanta desigualdade entre candidatos quanto a propaganda eleitoral compulsória no rádio e na TV. Nem a militância partidária, nem a internet (por ora), muito menos recursos paleozoicos como comícios e corpo a corpo com o eleitor.
É um processo que, além de não ter volta, tende a se agravar. Que fazer? Criar ainda mais regras, juízos e arbítrios? Ressuscitar a Lei Falcão e seus enfadonhos currículos lidos pela voz monocórdia de um narrador oficial? Vade retro Censurabrás.
Os EUA esticaram o tempo de campanha e liberaram quase tudo, até tiro ao candidato. O ciclo eleitoral da gringolândia dura quase dois anos. Desde as prévias, os candidatos debatem dezenas de vezes, por meses. E vão caindo pelo caminho, porque a maioria dos bonecos de ventríloquo não resiste ao excesso de uso. Só perduram os mais resistentes e caros.
O sistema norte-americano - com suas máquinas mecânicas de votar e regras diferentes em cada um dos 50 Estados - está longe da perfeição. Criou a indústria eleitoral mais perdulária do mundo. Um presidenciável precisa de dólares aos bilhões para ter chances. É o preço superfaturado de a eleição e o debate político fazerem parte do noticiário cotidiano, dos programas de variedades, da vida.
Lá como cá, sempre haverá eleitor confundindo Russomanno com Muçulmano. A diferença é que, no Brasil, ele é obrigado a votar.
A despolitização favorece celebridades eleitorais. Quem tem mais presença na memória do eleitor tende a dominar as pesquisas de intenção de voto antes de a propaganda começar na TV. É o caso do apresentador Celso Russomanno (PRB) em São Paulo. Ele está superando todos os limites previstos, porém. Parou de apresentar seu programa em junho, mas segue em alta. Empatou com José Serra (PSDB) na cidade e lidera em redutos petistas.
Russomanno tem sido uma tampa para o candidato do PT, Fernando Haddad, dificultando o seu crescimento e, nas últimas semanas, passou a tirar eleitores de Serra também. O eleitorado (não o eleitor) de Russomanno, hoje, é ambidestro: 42% vive em áreas petistas e 49% em regiões antipetistas da cidade. Não deve permanecer assim por muito tempo. Na melhor das hipóteses para o PRB, ele deve ficar com uma dessas metades e perder a outra. Na pior, perde ambas.
O problema de Russomanno é estatístico. Serra e Haddad terão quatro vezes mais exposição na TV do que ele a partir de 21 de agosto. Em 2008, só 1 de 93 candidatos a prefeito de capitais com menos de 50 inserções semanais passou do primeiro turno: Camilo Capiberibe, filho de governador e deputada, que, mesmo assim, perdeu o turno final em Macapá. Para virar exceção à regra, Russomanno tem que bater os adversários, o retrospecto e a politização da eleição. No fim, é a política.
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